Mensagem aos accionistas do BES

Disclaimer: indo contra o meu princípio de não investir dinheiro em acções de bancos, fiz uma pequena aposta especulativa no BES na passada sexta-feira, portanto também sou um pequeno(íssimo) accionista do BES

Um banco não é uma empresa privada normal

Um banco não é uma empresa qualquer. Um banco faz parte de um sistema monetário disfuncional. Todas as empresas estão susceptiveis à arbitrariedade da actividade legislativa e regulatória do estado, mas em nenhum outro sector isso é tão evidente, e formalizado, como na banca. Já falei disso aqui em mais detalhe, mas um banco, mesmo para os standards de uma economia mista social-democrata, está muito longe do perfil de uma empresa privada. Pode ter financiadores (incluindo accionistas) privados, mas será sempre uma sucursal autorizada do Banco Central. Não é de hoje que isso é assim.

A situação

Com a elevação das provisões a resultados apresentada por Vítor Bento, o BES estava numa situação complicada. As regras da casa-mãe ditavam que com aquele nível de capital não pudesse receber injecções de liquidez do BCE. O que isto quer dizer é que, a partir de ontem, poderia ter ocorrido a qualquer momento que as contas dos clientes ficassem congeladas, tornado difícil a existência do BES como instituição bancária devido à perda de confiança. Era essa a situação em que se encontrava o banco na sexta-feira.

As alternativas

A melhor alternativa seria dar aos accionistas e a outros potenciais interessados a oportunidade de aumentar o capital de forma a voltar a receber injecções de liquidez do BCE. O problema seria o tempo: um processo destes demoraria algum tempo, especialmente depois do que aconteceu no último aumento de capital. Seria necessária uma auditoria detalhada. Provavelmente antes do processo estar concluido já se teriam congelado levantamentos bancários por falta de liquidez, o que por si só tornaria impossível a manutenção do banco a funcionar. Partir-se-ia então para a liquidação dos activos. Depositantes, obrigacionistas e accionistas receberiam as respectivas parte à medida que o activo fosse liquidado. Apesar destes riscos, esta seria a solução que eu, como liberal, teria desejado. Mas não é esse o enquadramento político que temos. A defesa da confiança no actual sistema monetário é, pouco surpreendentemente, uma prioridade para o Banco Central. foi então necessário injectar dinheiro e, não existindo dinheiro privado disponibilizado voluntariamente, restavam as outras soluções. De entre as outras soluções possíveis, colocar as outras filiais do Banco Central, leia-se os outros bancos, a pagar pela estabilidade do sistema monetário parece-me a menos má. Colocar barreiras, embora sem proteger totalmente, à possibilidade de os contribuintes perderem (muito) dinheiro também foi menos mau do que se esperaria.

A “alegria” dos liberais

A solução apresentada não é uma solução liberal (nunca poderia ser no actual sistema), mas é menos iliberal do que se temia. Não sei ao certo a quem se refere o Nuno Garoupa no comentário que a Maria João referiu aqui. No entanto diria que é preciso muito cuidado para não confundir alegria com alívio por a solução apresentada expôr menos os contribuintes a perdas no BES do que se esperava. É preciso não confundir alegria por entre as alternativas possíveis no contexto político português, esta não ter sido das piores. Os accionistas do BES, que relembro nunca passou de uma empresa pública com capitais privados, têm muito por onde se queixarem. Foram enganados, resta saber se dolosamente, na altura do último aumento de capital e pelas mensagens do Banco de Portugal durante o mês de julho. Foram anteriormente enganados por uma administração mais preocupada em salvaguardar os interesses fora do banco do que dentro dele. Mas, por muito que se sintam enganados e injustiçados, isso não torna legítimo que sejam os contribuintes (que não teriam ganho nada se a coisa tivesse corrido bem) a pagar ou sequer a partilhar o esforço.

A expropriação

Um outro motivo de queixa dos accionistas, e de obrigacionistas subordinados, é o de não terem mantido qualquer parte no Banco Bom. É uma queixa legítima. Se o balanço do Bad Bank vier a ser de qualidade abaixo das expectativas, será de esperar algum conflito jurídico, principalmente por parte de obrigacionistas subordinados. No entanto convém notar que, neste momento, a grande dúvida é saber se o Novo Banco valerá os 4,9 mil milhões nele investido. Se não for esse o caso, qualquer posição accionista que tivesse sido mantida no Novo Banco valeria zero. Se o Novo Banco valer mais do que 4,9 mil milhões, então a situação é diferente e os accionistas poderão de facto, apontar a perda de valor accionista na secretaria. Mas se, como diz o Observador, o Bad Bank vier a beneficiar de qualquer mais-valia na alienação do good bank, então os accionistas não têm por onde se queixar. Antes pelo contrário: se a coisa correr mal beneficiam do valor do bad bank sem o downside do investimento no good bank. Se correr bem, ficam com o valor do bad bank mais o upside do good bank. Ou seja, beneficiam das mais valias do Good bank sem correrem o risco do aumento de capital. Tenho dúvidas que a informação do Observador esteja correcta ou que não venha a haver strings attached, mas se for esse o caso, o fundo de resolução está a tomar riscos, cujo benefício será retirado pelos accionistas.

Conclusão

Ainda não se conhece o efeito real da separação nos accionistas. O valor accionista estará algures entre 0 e 3 mil milhões de Euros (comparado com os 600 milhões de valor de mercado na sexta-feira), dependendo da qualidade do balanço do Bad Bank, que se desconhece, e do destino das eventuais mais valias na alienação do Good Bank. Os accionistas têm motivos de queixa em relação ao que lhes foi feito. Mas uma coisa é certa: os culpados da situação ou estão insolventes ou não têm por onde pagar o valor perdido. Entre os “não-culpados”, é legítimo que os accionistas estejam à frente de contribuintes e obrigacionistas para suportar os custos. Um banco, mesmo os ditos privados, é uma filial do Banco Central, que como todas as filiais está exposta às decisões e competência da casa-mãe. É este o risco de quem investe em bancos que fazem parte de um sistema monetário deficiente e um sistema político socialista. E não, não me dá nenhuma alegria assumi-lo.

48 pensamentos sobre “Mensagem aos accionistas do BES

  1. Ricciardi

    « Partir-se-ia então para a liquidação dos activos: depositantes, obrigacionistas e accionistas receberiam as respectivas parte à medida que o activo fosse liquidado.»
    .
    A liquidação dos activos de um banco não compreende ‘depositantes nem obrigacionistas’. Isso é Passivo do banco.
    .
    A liquidação de Activos de um banco compreende a execução de ‘Empréstimos’ e restantes devedores do banco para solver compromissos junto dos credores do banco: os depositantes e restantes credores.
    .
    Rb

  2. PG

    Espero que esta frase seja uma pergunta e não uma afirmação e que o Carlos apenas se tenha enganado na pontuação…

    «Entre os “não-culpados”, é legítimo que os accionistas estejam à frente de contribuintes e obrigacionistas para suportar os custos.»

  3. Carlos Guimarães Pinto

    Ricciardi, acho que estamos a dizer a mesma coisa. Liquidava-se os activos para pagar a credores: depositantes e obrigacionistas e o que sobrava ficava com accionistas

  4. Carlos Guimarães Pinto

    É uma afirmação. Porque deveriam os contribuintes pagar em vez dos accionistas?

  5. Ricciardi

    Certo. Mas a liquidação dos activos de um banco com o peso de um BES é processo, na prática, impossivel de fazer sem que isso cause dano irreparavel à economia. Nem me parece exiquivel faze-lo.
    .
    Isso quereria dizer que ou se exigia que os devedores do banco (creditos habitação, livranças, mutuos etc) que cosntituem boa parte do activo do banco pagassem o que devem de supeton para liquidar as responsabilidades prioritários do banco: os depositantes e sucessivamente os menos prioritários do passivo do banco.
    .
    Entraria o país em geral em colapso, como é bom de ver, e os depositantes do banco em particular, já que o problema devém do facto de parte dos activos serem ‘toxicos’ e portanto iliquidaveis.
    .
    Não serviria os interesses de ninguém.
    .
    O cerne da questão, para evitar situações futuras semelhantes, está em levar a tribunal as empresas de AUDITORIA que aprovaram as contas do banco sem reservas. Anos a fio. Essas e as instuições de controlo: o BP e a CMVM.
    ,
    Se os agentes economicos não tiverem confiança em quem tem obrigação de fiscalizar as contas então está o próprio capitalismo em causa.
    .
    A haver justiça a mesma decve centrar os seus esforços sobre os controladores e auditores. Banqueiros, empresários, canalizadores e electricistas desonestos sempre houveram e haverão.
    .
    Rb

  6. PG

    Tem toda a razão Carlos, eu é que tenho que voltar à escola primária e aprender a interpretar textos. 😛
    Peço desculpa pelo reparo.

  7. Carlos Guimarães Pinto

    “Isso quereria dizer que ou se exigia que os devedores do banco (creditos habitação, livranças, mutuos etc) que cosntituem boa parte do activo do banco pagassem o que devem”

    Não, de todo. Isso implicaria que bancos como o BPI comprassem essas dívidas. Por exemplo, se o BES tiver 4 mil milhões em créditos à habitação, o BPI pagaria 3,5 mil milhões para os passar para o seu activo.

  8. Pedro C

    Como contribuinte ninguem quer perder. Mas, por incrivel que pareca, essa nao e a questao principal deste tema.

    Ou bem que vivemos num estado de direito ou bem que vivemos noutra coisa qualquer. Tal como o Nuno Garoupa chama a atencao, e bem, nao cabe na cabeca de ninguem investir achando que se esta a comprar uma parte boa e uma parte ma para, mais tarde, vir o estado dizer que quer a parte boa e que os outros e que tem de arcar com a parte ma.

    Um accionista, por definicao, tem direito ao valor dos activos depois de liquidados os passivos. No BES seria 0? Nunca saberemos. O que sabemos e que o estado expropriou os accionistas de um potencial direito. E chamem-lhe o que quiserem, mas isso nao e liberal nem democratico.

  9. Carlos Guimarães Pinto

    Eu estou de acordo com isso, e acho que accionistas poderiam meter recurso em tribunal. No entanto, se a notícia do observador for verdade, os accionistas até ficaram melhor. Ficaram com todo o valor do bad bank (o nome é um pouco misleading porque até pode valer mais que o good bank) e ainda podem beneficiar de upside, se houver, no good bank. Veremos.

  10. who.really.cares?!

    Parte-se do pressuposto que o valor do Novo Banco é da quantia que lá foi injetada, mas muito mal.

    1º- A quantia não foi certamente doada, e terá de sair do bolso de alguém. Serão uns queridos e não vão pedir juros? Pois, também não me parece.

    2º- Para além dos “activos”, carteira de clientes, etc… que mais passa para o Novo Banco? Os créditos habitação ou não estejam bem ou mal parados? É que só aí temos uma gigantesca parcela de activos.

    Agora, mais do que nunca, gostaria de ver o black book do Novo Banco…. mostrem lá os números a registar 🙂

  11. Bernardo Trigueira

    Na verdade, com a injecção de capital, o equity value do banco bom aumenta, ceteris paribus, em 4,9 mil milhões. O Fundo de Resolução terá de ser compensado pelo valor capitalizado à data de liquidação desse montante, com uma taxa de juro adequada para o risco de equity a que está exposto. O valor realizado acima desse montante, se se vier a concretizar, será entao entregue aos accionistas do BES (banco mau). É verdade que isto favorece os accionistas do banco mau pois no mínimo o valor que retiraram do banco bom será sempre zero e não negativo, o que poderia não se verificar num cenário consolidado de banco bom e mau (na verdade o valor da equity combinada nunca podera ser inferior a zero, pois existe sempre o cenário de bankruptcy integral e o valor da opçao subjacente a um activo de equity – ie mesmo a possibilidade infima de uma recuperacao tem um valor acima de zero) mas parece-me aceitável tendo em conta a “expropriação” temporária da possibilidade de liquidarem em mercado a sua posição (mesmo que fosse a 2 ou 3 centimos por acção).

  12. k.

    Vejamos a coisa em perspectiva:
    Por falhas que a solução actual tenha, há alternativas melhores?

    Ainda não vi nada melhor, portanto fico razoavelmente feliz com esta solução – tenho apenas receio relativo a eventuais riscos legais da operação (alguém pode impedir o que foi feito?).
    Existe também um risco (bastante improvavel, creio eu) de se o Novo Banco não valer 4.4 mil milhões, mas significativamente menos, os restantes bancos arderem – mas creio que no seu conjunto conseguirão suportar perdas.

  13. Carlos Miguel Sousa

    Numa economia 100% liberalizada o BES tinha falido pura e simplesmente. E o processo de liquidação teria obviamente comportado a transferência de ACTIVOS/PASSIVOS entre o banco falido e outros bancos da praça.

    Defender uma situação como a que a actual é não acreditar nos mecanismos e formas do mercado se auto-regular. Defender a intervenção do estado sob qualquer pretexto, é um erro, porque expõe os contribuintes a um risco que só os accionistas devem correr de forma deliberada.

    O BES deveria ter entrado em processo de insolvência. Qualquer solução alternativa, incluindo a escolhida, trará à economia a médio longo prazo um custo muito superior.

    Somos uma geração de irresponsáveis & cobardes, e os nossos filhos e netos irão pagar por isso.

  14. “Existe também um risco (bastante improvavel, creio eu) de se o Novo Banco não valer 4.4 mil milhões, mas significativamente menos, os restantes bancos arderem”

    Não sei se já está bem esclarecido se, no caso de prejuizos no “Novo Banco”, os outros bancos terão que fazer uma contribuição extraordinária para o Fundo de Resolução, ou se o FR irá pagar a sua dívida aos poucos, há medida que os bancos integrantes irem pagando as suas contribuições regulares

  15. Pedro Cruz

    Posso estar a ver mal as coisas, mas acho que se a história da mais valia for mesmo verdadeira então os accionistas são os únicos(!) que ficam sempre igual ao melhor comparativamente com a ‘solução liberal’.

  16. who.really.cares?!

    Não me parece ser possível comparar soluções, visto só podermos aplicar uma, e conhecer os resultados da mesma.

    Se a opção fosse a insolvência, poderia vender-se a parte boa sem 4.900 milhões às costas, que ninguém sabe onde vão ser queimados, e que certamente seriam desnecessários na quase totalidade para um eventual comprador (certamente outro banco). No entanto vão gritar e bufar que não havia interessados privados para o fazer num curto espaço de tempo. Será?

    Ou simplesmente esta ideia de seprar os activos dos passivos só pode ser exercida a favor do BdP e do seu Fundo? Pois…

    A outra parte do negócio é, porque haveriam os bancos portugueses (mais interessados no assunto) de comprar o Novo Banco? Se ele desaparecer, vem gratuitamente ser distribuido pelos restantes bancos no mercado.

    Ah, porque querem garantir que ficam com um banco avaliado em…X… (não me atrevo a dar palpites) por 4.900 milhões mais milhares de trabalhadores e agências para despedir e fechar.
    Pois… assim ninguém o quer…

    Mas se os obrigar-mos a pagar quer eles queiram, quer não, mais vale pagar e ficar com ele do que pagar e ficar sem ele, não é?

    Problema resolvido…

    Viva! Viva! Já temos democracia!

  17. JoaoMiranda

    Não há grande diferença entre um processo de falência do banco e o que está a ser feito agora. A única diferença é que se optou por um processo de falência com injecção de fundos públicos, o que permite recuperar um valor maior de activos. De resto, pouca diferença faz separar um good bank e depois vendê-lo ou vender carteiras de créditos e de clientes. Como é óbvio, accionistas teriam menos hipóteses de recuperar alguma coisa se não fossem metidos 4900 milhões no banco e se a liquidação tivesse que ser feita em fatias mais pequenas que o good bank.

  18. Os acionistas só saberão o que podem recuperar quando for publicado o detalhe do balanço do bad bank e desde o início esse é o verdadeiro problema neste processo, a falta de transparência quer da administração, do Banco de Portugal e agora até das queixas ou impugnações.
    Depois vemos tanto movimentos associativos a serem criadas mas nada ainda para esta situação que lesou tanta gente, de qualquer forma organizações deste tipo apenas funcionam se os associados estiverem em sintonia! Acho que os acionistas ganhariam ao associar-se, cruzar os braços não ajuda.

  19. Independentemente da forma que foi adoptada para resolver a situação, todo o problema está na falta de transparência com que foi gerido abrangendo a anterior administração do BES, do Banco de Portugal, dos activos incluidos do Bad Bank e até da visibilidade sobre as queixas apresentadas ou impugnações do processo. Isto lembra contabilidade criativa em que se fazem movimentos por bolo sem se saber exatamente o que lá está!
    Depois vemos movimentos associativos a serem criadas para defender todas as causas mas não neste caso em que tanta gente foi lesada. Uma vez mais nós Portugueses somos muito bons a resignar-nos, parece o fado.
    E sim sou um pequeno acionista do BES

  20. who.really.cares?!

    Atenção à navegação: O objectivo não é os acionistas recuperarem seja o que for. Simplesmente não é possível. Quando se tem uma instituição que funciona com base em “investir” (em grande parte, gastar) 90% dos depósitos, só pode correr bem.

    Porque correndo mal, já só lá costuma estar 5%, se tanto. Isso tem de chegar para muita gente, e os ‘acionistas’ simplesmente já lá não deviam estar.

    Um pouco à imagem das fundações, para tirar proveito, só por via de salário e prémios…

    (Ou vender por um preço mais elevado, mas não é preciso evidenciar tal facto).

    A questão aqui seria, sem ‘roubar’ os acionistas, como poderíamos encontrar a melhor solução para o mercado.

    Não me parece que a soluçao encontrada seja de todo legal, mas aguardemos para ver como o Governador do BdP e dirigentes envolvidos se aguentam com base no RGICSF. Há-de ser muito interessante…

  21. Luís Lavoura

    Parece que o Ambrose Evans-pritchard não concorda com o Carlos: a solução escolhida para o BES não foi a correta. Porque todos os detentores de obrigações do BES deveriam ter sido chamados à pedra. E porque todos os depósitos para além de 100.000 euros também deveriam ter sido perdidos. E porque os contribuintes, não agora mas potencialmente daqui a 6 meses, estão em risco de perderem 4500 milhões de euros.

  22. Ricciardi

    «De resto, pouca diferença faz separar um good bank e depois vendê-lo ou vender carteiras de créditos e de clientes.» JM
    .
    A diferença reside no tempo. A 1ª solução é de rápida execução. A 2ª é demoradissima e incerta. O tempo faz toda a diferença. Imagine-se o que seria vender os activos do banco e ter de avaliar a carteira de crédito do mesmo. Ninguém que tenha juizo fica compra activos sem os avaliar devidamente. Quando isso aconteceu devido à globalização dos mercados e produtos financeiros deu-se o subprime.
    .
    Rb
    .

  23. Ricciardi

    Isto quer dizer, JM, que a 2ª solução – vender carteiras -, sendo a mais , digamos, agradável e ‘purista’, acabaria por colocar os depositantes em stand by por um Tempo incerto. Ora, as pessoas (depositantes) não vivem de ar e vento e precisam hoje do dinheiro que tem nas suas contas bancárias.
    .
    E sim, um banco não é uma empresa normal. Se a PT fosse à falência os clientes passavam para outro operador concorrente, mas não ficavam sem as suas massas.
    .
    Rb

  24. Acerca do artigo do AEP:

    “Portugal’s decision to protect senior bondholders is incendiary in a country already near austerity fatigue. ” Duvido que isso seja minimamente incendiário, já que tem a ver com um ponto completamente obscuro para a maior parte das pessoas (mesmo o conceito de “obrigacionistas” não é lá muito conhecido, ainda mais esses detalhes de “senior” vs. “subordinada”)

  25. Carlos Guimarães Pinto

    Eu concordo que todos os obrigacionistas deveriam ter side chamados. Eu nunca disse qu esta era a solução “correcta”, apenas que podia ter sido pior.

  26. who.really.cares?!

    Eu compreendo perfeitamente a importância do espaço temporal.
    Mas compreendo da mesma forma as garantias (direitos e deveres) impostas pela lei. Atropelou-se tudo e todos para proteger um sector, que com esta 2ª solução não estaria tão afectado de todo.
    As avaliações demoram tempo, principalmente quando falamos de uma instituição fraudulenta e a entrar em insolvência, mas há parcelas claras.

    A carteira de clientes, mesmo que não fidelizados, tem um valor calculado.
    O valor em crédito para cobrança está quantificado.

    As reais dificuldades nas avaliações são o que está escondido em obrigações do Banco e dívidas, que permaneceriam na esfera do BES, e por essa razão não careciam de avaliação.

    Não basta dizer que iria demorar, há que tentar explicar o porquê, e não me parece claro de todo. Parece-me só mais uma justificação do BdP porque assim apeteceu.
    —-
    Para mim é claro que os acionistas representados pelos seus administradores podem vender a parte boa do seu banco. Que alguém o faça por eles ultrapassa qualquer índice de razoabilidade que pudesse ter.

    ps: compreendo e respeito de todo a sua opinião. Só não avalio da mesma forma a situação em cada um dos seus parametros, quer falando do nível de urgência (sendo sempre urgente, e sabendo que a cmvm já tinha suspendido as acções), quer falando da legislação atropelada, quer das dificuldades para encontrar comprador, entre outras…

  27. JS

    Qual é a diferença entre perder num (arriscado) investimento porque o Banco faliu, ou perder num (arriscado) investimento porque o BCE (não o BdeP, nem o governo que apenas “legalizou” a directiva) decidiu, de acordo com as Leis Comunitárias em vigor, “fracionar” o Banco?.
    Ps. Investimentos “arriscados” são todos os investimentos, em bolsa, em afectos, etc. ….

  28. Andre

    Finalmente um post repleto de bom senso…

    Não foi a solução ideal mas dado o timing apertado, pode ter sido a menos má.

    E pode dar trunfos politicos.

    Obrigado

  29. dervich

    6ª feira passada os acionistas do banco tinham perdido 100% do seu capital, tal como os respetivos depositantes e obrigacionistas, os contribuintes não tinham perdido nada.

    Ontem, os depositantes e obrigacionistas viram garantidas a maioria das suas aplicações, os acionistas têm a esperança de reaver pelo menos parte uma pequena parte dos seus investimentos, enquanto os contribuintes têm a possibilidade de ganhar 10% de juros sobre 5 mil milhões, mas o mais provável é ficarem na mesma ou perderem uma “pipa de massa”…

    É fácil ver quem ganhou e quem perdeu no meio desta história, mas foi uma solução que não agradou a muita gente.
    Não agradou para já a quem pensa que a regulação, seja pública ou privada, não deve existir porque não funciona. Se a regulação não funciona, é como se não existisse e como se não atuasse: Nesse caso, o que teríamos seria um resultado igual ou pior ao que tivemos…mas essas pessoas continuam a não estar satisfeitas (Na prática, “Eu quero o meu dinheiro” = “Eu quero os meus direitos adquiridos”)

    Estamos a assistir a um incrível processo de “history in the making”, no qual os acontecimentos se sucedem a um ritmo tão rápido como a mudança de mentalidades, por isso Carlos G. Pinto, eu tenho dificuldades em comentar os seus post da forma completa e abrangente como gostaria.

    Repare como o “PG” lê uma frase sua clara e objetiva, com a qual até parece concordar, mas não resiste a que o seu (dele) cérebro a deturpe com pontuação de forma a torná-la coerente com as suas (dele) ideias pré-concebidas!…

    Repare como o “Ricciardi” já está em parafuso porque

    “Se os agentes económicos não tiverem confiança em quem tem obrigação de fiscalizar as contas então está o próprio capitalismo em causa.“

    ou seja, voltamos ao mesmo, não queremos contas fiscalizadas mas não podemos viver sem fiscalizar as contas…

    A relação entre o capitalismo e o estado parece a relação entre os homens e as mulheres: Em ambos os casos, os primeiros não podem viver com os segundos, nem podem viver sem eles.

    Quando era (mais) jovem assisti a outro momento marcante, o colapso do comunismo. Na época (e ainda hoje) havia quem dissesse que o “modelo soviético” não representava o “verdadeiro socialismo”, que era um desvirtuamento do conceito inicial a partir do qual não se poderiam retirar conclusões sobre a sua viabilidade. É óbvio que o mesmo se veio a dizer sobre a China, sobre a Coreia, sobre Cuba, sobre a Albânia, etc, etc, uma vez que quem investiu carreiras e vidas inteiras na defesa e convicção de um sistema não está em condições de alterar os seus dogmas “só” porque a realidade teima em demonstrar o contrário, isto é, que o comunismo é uma teoria idealista à qual a natureza humana impede a sua aplicabilidade prática.

    Hoje em dia também dizemos que o BES não era, em rigor, uma empresa privada, que funcionava mais como uma parceria do estado, ouvimos dizer que tudo correu mal porque quem devia regular não o fez, que afinal a culpa é de sermos um estado “social-democrata”, etc…(nem sei como este país sobreviveu contando apenas com empresas públicas ou corporativas entre 1928 e 1986).

    Nunca tive tradicionalmente grande simpatia pelo movimento comunista: Na época revolucionária, o meu pai esteve prestes a ser “saneado” porque ocupava um cargo de chefia e era encarado como “fascista”.
    Sempre pensei que cada país devia ter um banco público forte, sendo a atividade complementada por um número ilimitado de bancos privados determinado pelas necessidades de mercado de cada sociedade. Hoje em dia não penso assim, penso simplesmente que os bancos privados não servem para nada, servem apenas para dar chatice quando dão para o torto (Barings, Lehmann, Barclays, HSBC, BPN, BCP, BES, etc, etc)

    Há alguns anos a Espanha tinha uma dívida pública de 100% do PIB e juros sobre a mesma de 10%. Hoje tem uma dívida pública maior e paga juros sobre ela que são menores que os dos EUA, porquê? Porque houve injeções de liquidez nos seus bancos. Então, onde estava o verdadeiro problema?…

    Os irlandeses, os gregos e os portugueses não tiveram a mesma sorte: Foram os primeiros a sentir problemas numa época em que ainda não se podia pôr em causa a idoneidade dos bancos mas podia-se pôr em causa esse “modo de vida preguiçoso” dos povos do sul.

    Deste modo, todos os irlandeses pagaram os desvarios do Irish Bank, os gregos pagaram e pagam o estoiro de um banco seu há uns 2 meses atrás e, em Portugal, é o que se sabe…

    Esta é a história das dívidas soberanas e de como alguns povos aguentaram e aguentam sobre si o peso de um dominó de bancos podres a nível mundial.

    Todas as consultoras, todas as auditoras (as Deloitte, as Ernest & Young, as Kpmg, etc), todos os “Phd of Economics”, todas as belas teorias do Adam Smith e quejandos, valem tanto ou menos do que a tumba do Karl Marx em Londres, elas servem apenas para uns meninos vestirem uns fatos e mascararem-se de yuppies, enquanto os lordes que lhes pagam os ordenados, e que alguns deles deviam controlar, vivem “La Dolce Vita”.

    Hoje em dia, em função da realidade que vejo à minha volta, posso dizer que nunca na vida me senti tão comunista, mas apenas por oposição a outros que se recusam a ver o óbvio.

    O comunismo (socialismo) é uma teoria idealista à qual a natureza humana impede a sua aplicabilidade prática e o capitalismo “puro e duro” é uma teoria idealista, otimista e ingénua que a ganância da natureza humana e a limitação de recursos naturais impede que alguma vez venha a ser bem sucedida.

  30. gr0uch0marx

    “Porque todos os detentores de obrigações do BES deveriam ter sido chamados à pedra. E porque todos os depósitos para além de 100.000 euros também deveriam ter sido perdidos. E porque os contribuintes, não agora mas potencialmente daqui a 6 meses, estão em risco de perderem 4500 milhões de euros.”
    — Luis Lavoura

    Exacto, Luis Lavoura, eu nao percebo como se faz o bailout a obrigacionistas senior e se exige aos restantes bancos pagarem a diferença entre um valor agora definido de forma +/- administrativa (parece que ninguem faz a minima ideia se o fundo de resolucao está a entrar a um valor adequado ou nao), para mais se o eventuais lucros do banco “bom” sejam passados para o banco “mau”…

    Este novo caracter mutualista da banca europeia é muito foleiro…

  31. HO

    “6ª feira passada os acionistas do banco tinham perdido 100% do seu capital, tal como os respetivos depositantes e obrigacionistas, os contribuintes não tinham perdido nada.”

    Absurdo. Se a situação fosse tão tremendamente desesperada que nem depositantes nem obrigacionistas seniores conseguissem recuperar partes substanciais do capital não teria sido possível criar o novo banco.

    “enquanto os contribuintes têm a possibilidade de ganhar 10% de juros sobre 5 mil milhões, mas o mais provável é ficarem na mesma ou perderem uma “pipa de massa”… ”

    A taxa de juro é muito mais baixa e o risco dos contribuintes perderem dinheiro, não sendo nulo, está longe de ser tão significativo como sugere, especialmente para uma “pipa de massa” – como a que perderam no BPN. Mais risco correm os accionistas dos outros bancos, mas se a história de soluções similares noutras jurisdições for um bom indicador, uns e outros não terão assim tanto com que se preocupar.

    “Não agradou para já a quem pensa que a regulação, seja pública ou privada, não deve existir porque não funciona. Se a regulação não funciona, é como se não existisse e como se não atuasse: Nesse caso, o que teríamos seria um resultado igual ou pior ao que tivemos…mas essas pessoas continuam a não estar satisfeitas ”

    A regulação nunca impedirá falências de bancos, mesmo nesta modalidade de colapso. Et por cause não faz sentido a existência de regulação pública onerosa, com um custo económico elevado, assente na procura de uma utópica infalibilidade.

    “O comunismo (socialismo) é uma teoria idealista à qual a natureza humana impede a sua aplicabilidade prática e o capitalismo “puro e duro” é uma teoria idealista, otimista e ingénua que a ganância da natureza humana e a limitação de recursos naturais impede que alguma vez venha a ser bem sucedida.”

    O comunismo e o capitalismo têm conceitos diferentes de sucesso. A analogia entre a falência de um banco minúsculo à escala global com a implosão da União Soviética é divertida de tão surreal; a falência de empresas, bancárias ou não, faz parte do capitalismo: it’s a feature, not a bug. Se reparar, com a atenção que lhe reste depois de escrever essas coisas, o nível de vida dos portugueses, mesmo depois desta catástrofe inenarrável, é incomensuravelmente superior ao de quaisquer cidadãos de países com regimes comunistas; para lá de outros benefícios adicionais: não serem vítimas de chacinas genocidas por parte do estado ou o simples prazer de poder pensar, falar e agir mais ou menos livremente sem receio do cadafalso.

  32. Luís Lavoura

    gr0uch0marx

    Eu, que sou cliente do Montepio e do Crédito Agrícola, bancos que nunca tiveram problemas, tenho dificuldade em entender como é que esses bancos vão ficar fragilizados – e por isso, indiretamente, oferecer-me menos rendimento – enquanto que os compradores de obrigações do BES se vão safar. Ao fim e ao cabo, eu vou ser prejudicado para esses se ficarem a rir.

  33. Comunista

    “É este o risco de quem investe em bancos que fazem parte de um sistema monetário deficiente e um sistema político socialista. E não, não me dá nenhuma alegria assumi-lo.”

    Como é que você explica que o mesmo tenha ocorrido em escala muito maior em Wall Street? Wall Street também é socialista?

  34. lucklucky

    “No entanto convém notar que, neste momento, a grande dúvida é saber se o Novo Banco valerá os 4,9 mil milhões nele investido. Se não for esse o caso, qualquer posição accionista que tivesse sido mantida no Novo Banco valeria zero. Se o Novo Banco valer mais do que 4,9 mil milhões.”

    Está a partir do princípio que o banco só sobrevive com os 4,9 mil milhões de euros e que na sua dissolução e venda de património nada remanesce.

  35. RR

    Basicamente o que vai acontecer aos pequenos accionistas? A responsabilidade limita-se unicamente às ações adquiridas em que podem não ter qualquer retorno, ou existem outras implicações?

  36. Miguel Madeira,

    “Entretanto, segundo o Público, parece ser ao contrário do que o Observador diz: os eventuais lucros do banco “mau” é que irão para o “novo banco””

    Não há necessariamente contradição entre as duas. O que acontece é que lucros com a venda do Good Bank transitam para o Bad Bank e lucros com a liquidação do Bad Bank transitam para o Good Bank.

    Na prática, funciona como um sistema de seguro, que garante que i) nem os bancos que compõem o Fundo de Resolução lucram com a operação enquanto houver obrigacionistas e accionistas ‘a arder’ (caso o preço de venda seja superior aos 4,9 m Milhões); ii) nem os accionistas e obrigacionistas lucram enquanto o FR não tiver reembolsado o valor emprestado (caso os activos ‘maus’ sejam, afinal, menos maus do que se pensa).

  37. dervich

    “A analogia entre a falência de um banco minúsculo à escala global com a implosão da União Soviética é divertida de tão surreal”

    Divertida não sei se é mas surreal não será certamente:

    http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=24&did=155298

    mas vamos esperar pelo próximo “too big to fail” num país de maiores dimensões.

    “A regulação nunca impedirá falências de bancos, mesmo nesta modalidade de colapso. Et por cause não faz sentido a existência de regulação pública onerosa, com um custo económico elevado, assente na procura de uma utópica infalibilidade.”

    Não faz sentido a existência de regulação pública ou a existência de regulação tout-court? Bom, de qualquer forma, já falei sobre essa matéria, é difícil não querer querendo ao mesmo tempo.

    “Se a situação fosse tão tremendamente desesperada que nem depositantes nem obrigacionistas seniores conseguissem recuperar partes substanciais do capital não teria sido possível criar o novo banco. “

    Sendo assim, não sei para que raio precisaram de 4,4 mil milhões do fundo da troika e porque desapareceram os investidores “interessados”.

    “o risco dos contribuintes perderem dinheiro, não sendo nulo, está longe de ser tão significativo como sugere”

    Daqui a 2 ou 3 anos já teremos uma ideia mais nítida sobre isso…se calhar, tão nítida que nos entrará pelos olhos dentro, se nos próximos meses neste país começarem também a disparar falências como nascem cogumelos.

  38. RR

    Afinal qual é a responsabilidade dos pequenos accionistas? Fala-se muito em os accionistas terem que assumir as perdas, mas que perdas? As perdas é perder o dinheiro investido nas acções, ou existe qualquer outro tipo de implicações?

  39. Carlos Guimarães Pinto

    Os accionistas têm responsabilidade limitada. O máximo que podem perder é o valor das acções.

  40. meira fernandes

    Olá, Gostei da “sua mensagem”. Em síntese foca muito bem que o problema de liquidez é (mais) fundamental para a sobrevivência/sustentabilidade da sua actividade. E levanta o problema de tempo que demora a um aumento de capital. Como consequência, ….
    Deixe-me que lhe diga que se esqueceu de referir um instrumento fundamental,disponível via BdP, que permite solucionar este ‘impasse’ que referiu.
    O instrumento chama-se “ELA – emergency liquidity assistance” e pode ser invocado para situações como as que sustenta no seu texto.
    “Zita” poveira

  41. HO

    “Divertida não sei se é mas surreal não será certamente:

    http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=24&did=155298

    O Dow Jones fechou ontem a subir e uma das razões apontadas pelos analistas foi precisamente a solução encontrada para o BES.

    Não me oponho por princípio à existência de regulação pública no sector bancário mas desde que passe um apertado crivo custo/benefício.

    Para que o banco continue a funcionar. Isso foi abordado no post e noutros comentários, há questões de timing e de repercussões no tecido económico que tornariam um processo de falência pouco prático, para utilizar um eufemismo ligeiro.

  42. mario

    Montepio parece estar na mesma, meteu-se no bes e agora chapéu, não agradam nada noticias que de forma disfarçada meios de comunicação social vao dando, auditorias, comunicados, tangas etc

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