Criptomania

A criptomoeda Bitcoin já tem uma capitalização superior a 1 trilião de dólares (escala curta). Alguns que nela investiram têm a expectativa que substitua o ouro como reserva natural de valor (por enquanto nenhum banco central decidiu fazê-lo, mantendo reservas em divisas, títulos de dívida pública e… ouro). Muitos outros investidores apenas especulam que a Bitcoin terá crescimento exponencial, o que tem acontecido.

Mas considerem um dos argumentos defendidos para o uso da Bitcoin como reserva de valor: a sua escassez, dado que o número de Bitcoins está limitado a 21 milhões de unidades. No entanto, cada uma pode ser subdivida em 100 milhões de “satoshi”.No total vão existir cerca de 2.100.000.000.000.000 satoshi (2,1 quadrilhões). E, sendo baseada em software, poderá ser implementado um “fork” que permita maior subdivisão…. ou ser usada diferente criptomoeda, dado que não são difíceis de criar (no momento que escrevo este post existem 14.101 criptomoedas).

Se não há escassez de criptomoedas porque, então, tanto dinheiro tem sido canalizado para estes “investimentos”? Porque enquanto houver mais compradores do que vendedores, o preço continuará a subir. Até ao dia em que essa crença inverter. Foi o que aconteceu nos Países Baixos, no século XVII, no que veio a ser conhecido como Tulipa Mania (versão em português).

Como nota final, deixo-vos algo que pensar: se a Bitcoin é a “moeda” do futuro, então porque há quem ainda acredite que outras “moedas” têm valor? No ranking abaixo, retirado do CoinMarketCap, as 19 criptomoedas a seguir à Bitcoin têm capitalização acumulada igual à “moeda” líder. Claro que cada uma delas tem usabilidade diferente da Bitcoin. Duas delas, Dogecoin e Shiba Inu, criadas por brincadeira (com imagem de uma raça canina japonesa) , têm nelas “investidos” um total de quase 62 biliões de dólares (escala longa, 54,1 mil milhões de euros, cerca de 20% da dívida pública portuguesa).

Mania? Sem dúvida, sim!
Sobreviverá alguma? Talvez.
Mas à custa das poupanças de quantas pessoas?

RANKINGCRIPTOSIMBOLOCAPITALIZAÇÃO
1BitcoinBTC1 209 132 599 390 $
2EthereumETH550 330 683 230 $
3Binance CoinBNB104 086 906 841 $
4TetherUSDT73 833 475 798 $
5SolanaSOL69 368 130 280 $
6CardanoADA68 646 211 913 $
7XRPXRP56 270 920 249 $
8PolkadotDOT45 278 982 304 $
9USD CoinUSDC34 400 792 121 $
10DogecoinDOGE34 277 995 772 $
11SHIBA INUSHIB28 717 330 533 $
12TerraLUNA23 044 693 858 $
13AvalancheAVAX18 696 161 401 $
14LitecoinLTC17 430 835 471 $
15ChainlinkLINK15 977 534 665 $
16UniswapUNI15 428 945 254 $
17Wrapped BitcoinWBTC15 340 262 021 $
18Binance USDBUSD13 533 877 754 $
19AlgorandALGO13 423 379 706 $
20Bitcoin CashBCH12 637 118 189 $

13 pensamentos sobre “Criptomania

  1. bordalix

    A subdivisão do Bitcoin não é importante. Aliás, em Lightning Network (uma solução de layer 2 do Bitcoin) usa-se milisatoshis (1000 milisatoshis = 1 satoshi).
    O que é importante é que no total serão 21 milhões de bitcoins e que este número esteja fixo em pedra. No dia em que se faça um fork para alterar o número total de bitcoins, o Bitcoin morre.
    O Bitcoin acaba por ser um sistema muito simples, o que traz como vantagem torná-lo mais seguro e descentralizado, mas à custa de funcionalidades. Daí o aparecimento de outras criptomoedas.
    O Ethereum é uma máquina de estados a nível mundial. Permite a programação de smart contracts complexos, o que por si é uma revolução à parte. Mas o Ethereum tem imensos problemas (essencialmente fees muito altos), e por isso estão a aparecer criptomoedas que o pretendem substituir. (Binance Coin, Solana, Cardano, Polkadot,…).
    Dada a complexidade destas novas moedas, estas não conseguem o nível de descentralização do Bitcoin, pelo que não têm o mesmo nível de resistência à censura, outra característica importantíssima do Bitcoin.
    Da lista de criptomoedas que apresentou, estas podem ser divididas em:
    – O Bitcoin (the one and only)
    – Ethereum e os seus concorrentes
    – Stable coins (moedas cujo valor é sempre $1)
    – Palhaçadas (pelos vistos há muita gente que gosta de circo)
    Tirando as palhaçadas, todas elas têm uma razão de ser. A sua existência não quer dizer que não haja confiança no Bitcoin ou que este não seja a moeda do futuro. Todas têm a sua utilidade, mas nenhuma tem as características do Bitcoin.
    O Bitcoin é a moeda com emissão conhecida e resistência à censura como mais nenhuma tem. O que o torna o Store of Value do futuro. Com as soluções de layer 2 existentes actualmente, é capaz de milhões de operações por segundo, o que o torna o Medium of Exchange do futuro. E posteriormente, será o Unit of Account do futuro.

  2. Carlos Coutinho Silva

    Sou leitor atento dos artigos do Insurgente os quais demonstram habitualmente alguma qualidade e conhecimento dos temas.
    Este artigo, independentemente de se concordar com ele ou não, demonstra uma falta de conhecimento que é impressionante e faz uma conclusão que é quase como em 1996 dizer que essa coisa da internet só serve para pornografia e pouco mais…

  3. Caro Carlos Coutinho Silva, obrigado pelo seu comentário.
    Talvez possa elucidar os leitores com o seu conhecimento e explicar quais das mais de 14 mil criptomoedas acredita ter potencial para sobreviver.
    Pode começar pelas 20 mais “valiosas”, listadas no post. Tenho um pedido especial: pode explicar porque valem duas criptomoedas “caninas” cerca de 1/5 da dívida pública portuguesa?

  4. Bordalix, há criptomoedas que não necessitam de semelhante layer 2 da Lightning Network da Bitcoin (para resolver o problema de escalabilidade).
    Se Bitcoin vai ser a “store of value” do futuro, porque então se investiu tanto nas de “palhaçada”? É que estas até nem têm o problema de escala da Bitcoin.

  5. bordalix

    BZ, a Internet foi feita em layers, porque esse é o melhor design para sistemas interoperáveis e abertos. A Internet começa com a layer do IP, responsável por entregar pacotes de informação. O TCP é um layer por cima, que adiciona o conceito de portos de uma computador. O HTTP estará por cima do TCP, e por aí acima.

    O facto do Bitcoin usar layers não é um bug, é uma feature.

    Hoje usa-se muito o Lightning, mas amanhã alguém pode descobrir/implementar uma nova solução de layer 2. Quando assim for, não é necessário alterar seja o que for na layer 1, e passamos a ter duas soluções de layer 2 que podem coexistir sem problemas ou interferências. É assim que se desenvolvem protocolos abertos.

    Voltando ao exemplo da Internet, em cima do IP eu posso usar TCP ou UDP.

    Quanto ao porquê de se ter investido tanto em “palhaçada”, e na minha opinião, trata-se de esquemas especulativos para sacar dinheiro aos mais incautos. E muitos caem na esparrela. Como eu costumo dizer a quem me pergunta sobre determinada shitcoin:

    “Vai subir, mas não estará cá para os teus netos. Compra shitcoins pelo teu primeiro nome, compra Bitcoin pelo teu último nome.”

  6. Bordalix, sendo que o protocolo da Dogecoin mais eficiente que a Bitcoin (não necessitando de um layer 2 e usando menos recursos para minerar) porque então não adoptar esta criptomoeda?

  7. bordalix

    BZ, depende do que quer dizer com adoptar.

    Se é para dar gorjetas no Reddit, o Doge serve perfeitamente. Aliás, foi para isso que foi criado. Não deixa de ser uma sátira, mas já deu algum contributo à sociedade. Ajudou por exemplo a equipa de bobsleigh da Jamaica a ir aos Jogos Olímpicos de Inverno.

    Mas se é para ser o standard (como em gold standard), então tem de cumprir muitos mais requisitos que apenas performance ou facilidade de mineração. A saber:

    – escassez digital
    – resistência a censura

    Para ter escassez digital, a emissão de moeda deve ser conhecida à priori, de preferência ser finita ou então com um stock to flow muito alto (60 ou mais). Adicionalmente, não deverá haver qualquer pré mine (o que acontece quando os fundadores reservam parte da moeda para si antes do lançamento).

    Para ter resistência a censura, o sistema tem de ser distribuído, sem pontos de decisão que possam ser censurados ou coagidos. Este foi o grande desafio do Nakamoto, e a sua obra prima.

    O decisor é encontrado através de um processo aleatório, pelo que não se sabe quem será à priori, pelo que não é possível suborná-lo ou coagi-lo.

    Adicionalmente, é necessário gastar energia para se participar neste processo aleatório. E quantos mais estiverem a jogá-lo, mais energia é necessária para o fazer.

    Isto cria um sistema de incentivos que torna extremamente difícil a um actor maléfico conseguir sabotar o sistema: já há tanta gente a participar, que um país inteiro pode não ter energia suficiente para subverter o sistema.

    Portanto, quanto mais energia se gastar na mineração do Bitcoin, mais seguro ele é. O custo de mineração do Bitcoin não é um bug, é uma feature.

    Tendo então um sistema à prova de governos, com escassez digital, temos o equivalente ao ouro (da altura do gold standard), mas em formato digital (com todas as vantagens inerentes).

    Em resumo, se estamos a falar de adopção para preservação de capital e hedging à inflação, o Bitcoin é a única criptomoeda existente. E para pequenos pagamentos, agora que o Lightning provou funcionar sem falhas em El Salvador, o Bitcoin também é a melhor solução (dá 10.000 a 0 ao Dogecoin em termos de performance).

    Agora, se precisamos de ter smart contracts mais complexos, precisamos de tecnologias tipo Ethereum e concorrentes. Mas aqui estamos a falar de uma utilização do blockchain com objetivos completamente diferentes.

    Mas deixo isso para depois, que este comentário já vai longo.

  8. FelixSula

    Uma das virtudes das criptomoedas é esvaziarem o mercado de arte moderna da sua função de armazém de valor portável e convertivel.

    Talvez se possa começar a ter coisas menos feias expostas em público …

  9. bordalix

    BZ, coincidência incrível: neste vídeo publicado ontem, Jordan B. Peterson faz algumas das suas perguntas, que são respondidas pelo Saifedean Ammous. Melhor é impossível.

    Nota, a pergunta sobre a existência de milhares de criptomoedas é repetida no fim do vídeo (pois não fica bem respondida no início).

  10. “Portanto, quanto mais energia se gastar na mineração do Bitcoin, mais seguro ele é. O custo de mineração do Bitcoin não é um bug, é uma feature.”

    e com isto está revelado o maior problema das criptomoedas – terão que ter forçosamente altos fees ou algo do género para compensar o custo da mineração.

  11. bordalix

    Miguel, não necessariamente.

    Neste momento, no Bitcoin, os custos de mineração são pagos pela emissão de moeda. Cada bloco (de 10 em 10 minutos) gera 6.25 BTC (€300.000), o chamado block subsidy. A cada 4 anos, este subsídio é dividido em 2, até ao momento em que não há mais emissão de moeda (lá para 2140). Nessa altura teremos então teremos os 21 milhões de Bitcoins emitidos. E nessa altura, sim, o custo de mineração terá de ser pago pelos fees das transacções.

    Contas à merceeiro, e porque cada bloco suporta actualmente cerca de 3.000 transações, estaríamos a falar de €100 por transação para manter os valores actuais.

    De realçar que em soluções de Layer 2, tipo Lightning, as transações não tocam no blockchain, pelo que os fees são baixíssimos e deverão continuar a ser, visto ser um modelo económico quase perfeito, em que o preço tem tendência a ser igual ao custo marginal, que é quase nulo.

    Deixo aqui também uma thread no Twitter a explicar como funciona o Bitcoin (e o Lightning) para leigos: https://twitter.com/bordalix/status/1360530951533703171

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