Portugal socialista

João César das Neves

É uma característica dos portugueses. Todos os partidos portugueses são socialistas. Todos eles querem o Estado, estão sempre a falar do Estado, só pensam no Estado, são socialistas – não no sentido estrito mas no sentido genérico.

Os portugueses fascinam-se com o Estado. Na maior parte dos outros países do mundo, as pessoas estão a tratar da sua vida. O Estado chega – umas vezes ajuda outras vezes complica – mas não é o agente central.

Portugal só fala do árbitro. Nunca chuta à baliza. Nunca fala dos jogadores. Os portugueses estão sempre a falar do árbitro. É assim no futebol, é assim na política, é assim na economia.

Tem vantagens. Tem inconvenientes. É verdade que depois desprezamos sempre o Estado. Ao mesmo tempo que estamos sempre a pensar no Estado, estamos também sempre a tentar enganar o Estado. Temos uma atitude ambígua perante esta realidade. É importante perceber que esta é a situação.

25 pensamentos sobre “Portugal socialista

  1. Pedro

    Acordam e deitam-se a pensar no Estado… Querem que o Estado lhes garanta todos os “direitos adquiridos”, e admiram-se dos altos impostos…
    Ninguém escapa aos sábios do planeamento central, nem mesmo os trabalhadores e empreendedores (outrora ilustrados como os gananciosos capitalistas que se limitam a satisfazer o consumidor), que nunca pediram um subsídio, um favor ou uma licença especial de nenhuma entidade estatal

  2. José Ninguém

    Mas o que é o estado senão “a grande ficção através da qual todos se esforçam por viver às custas de todos os outros”? (F. Bastiat)

  3. mvf

    Seria desejável que quando menor fosse o peso do Estado na sociedade, menor seria a tendência de favorecer determinados grupos económicos e bancários, como estimulava e incentivava a autosuficiência dos cidadãos… Mas pelos visto o português não tem este ideal (a geração de abril pelo menos).
    Continuem à espera que as autoridades governamentais vos garantam o direito à existência (sentados)

  4. A. Cabral

    É isso mesmo! Já vimos que o Estado é um péssimo administrador, que nos rapa o dinheiro até ao tutano, que nos levou à desgraça. E apesar disso, continuamos todos a berrar pelo Estado, pelo ensino estatal, pela saúde estatal, pela empresas estatais, etc. Que havemos de fazer? As pessoas são mesmo estúpidas!

  5. Pisca

    “As pessoas são mesmo estupidas !” – Tirando os opinadeiros daqui do burgo, os Iluminados, até estão dispostos ao sacrificio de ir para Secretários de Estado ou Assessores para explicar “às pessoas”

  6. Ricardo Monteiro

    Conclusão: o que está a estragar o esquema são as … pessoas e as suas opiniões. No fundo é mais um liberal à portuguesa: se não pensam como eu são socialistas e pobres de espirito.

  7. Miguel Noronha

    O problema, como já foi por diversas vezes apontado, é exigir-se tudo do estado e queixar-se que levam nos grande parte do ordenado em impostos.
    Por mim, dispenso 90% dos serviços estatais e respectivos impostos. Quem exige um estado socialista é que não devia queixar-se de impostos socialistas.

  8. Jose

    É que na realidade é assim, o estado é o centro de tudo em Portugal, e não o deixou de ser após o 25/04, bem antes pelo contrário.
    Uma coisa que há já uns anos um amigo espanhol achou curioso ao visitar-me, foi encontrar tantos sinais de trânsito na cidade, indicando a Repartição de Finanças, a Segurança Social, Tribunal, etc. Enquanto na sua cidade havia sinais que indicavam o Museu tal ou o Parque y.

  9. José Ninguém

    Os Portugueses são socialistas. E os socialistas (no sentido genérico) acham-se no dever de controlar a vida dos outros. Se as ideias socialistas/estadistas fossem tão brilhantes certamente não seria necessário recorrer à ameaça de violência e à coerção através do “aparato estatal”. O moralismo do socialista é idêntico ao do fundamentalista religioso.

  10. JP

    O Manuel Alegre que ontem passou na SIC é a fotografia dos portugueses.
    Agora que já percebemos que a Alemanha não nos pode (nem quer) alimentar mais, vamos juntar-nos à Inglaterra.
    Os brits devem estar todos com as vaquinhas à porta de casa à espera que os portugueses cheguem para mamar.
    A estes “filósofos” ninguém canta canções de protesto nem enforca coelhos.
    Ontem, na TSF, Jorge Coelho estava de volta à resolução dos problemas de Portugal com as famosas “visões”, a lembrar Guterres.
    Quando estes [mos]trengos políticos tipos têm “visões” eu começo logo a ver os pesadelos das próximas décadas.

  11. Pedro Santos

    O César das Neves é um humorista.
    Além do papel que desempenhou no crescimento e consolidação do monstro (afinal, em 1990 foi assessor do ministro das Finanças e entre 1991 e 1995 foi assessor económico do primeiro-ministro), é publicamente conhecido por querer que o estado interfira e mesmo coaja a vida privada de terceiros, basta ver as suas posições e o seu “inconformismo” relativamente à IVG e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, como se qualquer um destes temas fossem algo que o afectassem directamente (a menos que ele seja uma papisa disfarçada, ou ainda esteja engavetado no armário e não o saiba…)
    O Estado é mau, excepto quando se trata de impor as convicções dele e serve os nossos interesses…
    Sabem o que vos digo, same old fraker…
    🙂

  12. Miguel Noronha

    Não é sobre esses temas que fala o JCN mas quanto às outras fiquei sem perceber.
    Qual é então a sua posição? O estado deve interferir ou não?

  13. Miguel Noronha

    O JCN nunca escondeu que não é liberal. Mas isso não invalida que faça análises acertadas. Como esta.

    Ele está a falar da incongruência que és esperar tudo do estado sem querer pagar a factura. Não vejo aqui as incongruências que lhe aponta.

  14. Miguel Noronha

    Esta semana na televisão pediram-lhe para comentar a previsão do Prof João Ferreira do Amaral segundo a qual os cortes na despesa iria provocar uma quebra de 3% no PIB. Ele respondeu que era melhor irem pedir explicações ao JFA que ele não sabia fazer essas contas.

    O Prof JCN tem tido algumas intervenções muito boas ultimamente. (outas nem por isso…).

  15. Pedro Santos

    Miguel, concedo no seu 16. E o seu 17 reafirma que o homem até tem veia de humorista 🙂

  16. Surprese

    JCN é um Cristão Democrata, logo um ‘desconfiado’ do liberalismo (económico e social).
    JCN gostaria de ter a Igreja Católica a fazer o mesmo que os repúblicanos (maçons) gostariam de ter o Estado a fazer.
    No entanto, é um excelente analista, e um bom comunicador, e de facto tem piada.

  17. lucklucky

    “basta ver as suas posições e o seu “inconformismo” relativamente à IVG”

    Há quem considere o bébé uma pessoa caso não tenha notado. E para matar alguém não basta querer.

  18. Comunista

    O Cesar das Neves não sabe nada da vida quotidiana dos outros países para saber se os seus povos dão mais ou menos importância ao Estado do que nós.

  19. Pingback: Os portugueses fascinam-se com o Estado, por João César das Neves | Ricardo Campelo de Magalhães

  20. Pingback: Portugal socialista (2) | O Insurgente

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