Quem tem medo do “neoliberal”?

lobao

Em mais um obituário do “neoliberalismo”, desta vez de João Cardoso Rosas, somos presenteados com uma (yet another) definição dessa doutrina. Depois, podemos ver a contundente pronúncia do seu falhanço. Neste caso, o autor nem se dá ao trabalho de argumentar. O falhanço é evidente e, por definição, o “neoliberalismo” representa «instabilidade dos mercados, aumento das desigualdades e da insegurança, crise da democracia, degradação ambiental.»

O “neoliberalismo” é muito vilipendiado. Usando uma das palavras favoritas do camarada Vital, o “neoliberalismo” é uma fonte de tranquibérnias inomináveis. Mas esta animosidade transcende a barreira tradicional esquerda-direita. João Cardoso Rosas argumenta que se trata de uma doutrina de direita que foi acolhida relutantemente pela direita tradicional e pela esquerda democrática. Talvez tenha alguma razão. Isso explica a facilidade com que ambos os lados, naturalmente estatistas, vêm agora demarcar-se da referida “doutrina”. À esquerda, clama-se contra as políticas neoliberais de direita. (Presume-se que sejam ainda piores do que as neoliberais de esquerda, pois estas são … bem … de esquerda.) A crise é neoliberal. A globalização é neoliberal. Pior que tudo, acusação, juízo e execução definitiva: O “Bush” era neoliberal. (Ou neoconservador, que deve ser a mesma coisa, pois também tem lá o “neo”. Se calhar o Neo do Matrix também era neoliberal.) À direita, diz-se que a esquerda é radical; mas que também não são neoliberais. Isso é que não. Tipicamente, ambos os lados querem mais “regulação”. Para pôr ordem no “mercado”. E uma “face humana”. Claro. Sem “face humana” ficava difícil extorquir metade do PIB.

Mas o que é afinal o “neoliberalismo”? Para João Cardoso Rosas, trata-se de uma doutrina que defende «a privatização generalizada da actividade económica, incluindo sectores como os transportes, os correios, a água, os cuidados de saúde, a gestão das prisões, e por aí adiante (…) a desregulamentação, o que teve especial efeito nos mercados financeiros (…) cortes na despesa social do Estado.» Isto parece indicar que em Portugal nunca houve qualquer prática neoliberal. Afinal de contas, tanto quanto consigo ver, os transportes, os correios, a água, os cuidados de saúde e a gestão das prisões continuam nas mãos do estado; e a despesa social cresce sem parar desde a bula papal de 1179.

Este tipo de críticas são apenas frases vazias de conteúdo. É fácil dizer umas banalidades generalizadas sobre regulação ou regulamentação, fazer queixas sobre a “excessiva” liberalização dos mercados financeiros e não concretizar uma única proposta alternativa sobre o tema. Especificamente, quais das medidas liberalizadoras pretendem reverter.

5 pensamentos sobre “Quem tem medo do “neoliberal”?

  1. Nuno

    E é este indivíduo professor universitário de Teoria Política. Que credibilidade pode ter o seu trabalho com opiniões como esta?

  2. MAF

    Mas reparem, o autor, neste caso, até termina o artigo dizendo que o tal “neoliberalismo” teve “o seu contributo positivo”, o que é raro nos críticos…
    Portanto, eu teria mais prudência no grau das críticas a este artigo.
    Comparado com o que para aí se escreve, até me parece um artigo razoavelmente simpático para o “neoliberalismo”…

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