Acertar no totoloto à segunda-feira

A pessoa que viajava ontem ao meu lado rumo a Lisboa folheava o meu ex-jornal diário. Acabada a leitura da última página do Público, onde constava esta coluna, ri-se, e diz: “Que grande cromo! Este é daqueles que diz que acertou no totoloto à segunda-feira“.

Olhei, vi quem era o dito, ri-me também para dentro, baixinho.

O meu interlocutor, daqueles bem faladores, pergunta-me: “sabe se este senhor (não foi esta a palavra usada, mas o pudor impede-me de repetir a que foi realmente utilizada) escreveu alguma vez antecipando a crise?“.

Eu respondi-lhe, “não sei bem, mas sinceramente não me recordo de ler nada escrito pelo dito colunista sobre economia, finanças, e mercado de capitais, antes desta confusão em Wall Street“.

Suspira o meu interlocutor, “estranho, é que ele escreve que o cidadão informado – e, pelo name dropping (fala no Houdini, no Micosa, e em imensa gente, tantos autores que ele leu), ele parece ser um deles (ri-se novamente)– poderia estar a par da bolha do imobiliário há, pelo menos, dois anos; já nos podia era ter avisado antes“. Salta nova gargalhada, desta vez uma bem alarve, por sinal. Eu, inibido, ri timidamente, não andasse por ali alguém da brigada do algodão a insinuar que a minha expressão facial traduzia uma ausência de pluralismo.

À saida, comenta o meu interlocutor: “malandros, esses gestores dos bancos de investimento, gente inteligentíssima, e o pessoal da Guerra do Iraque. Bushistas. E malandro, também, esse Durão Barroso, que também é culpado. O que nos vale é que vem aí o Messias“.

O Messias?”, perguntei.

Sim, o Messias“, ouço. “Esta aqui dito, no fim, “os americanos, ao menos, têm uma escolha entre mudar de defeitos e mudar de feitio nas próximas eleições“.

Pois…

18 pensamentos sobre “Acertar no totoloto à segunda-feira

  1. ferro1

    não sei o que é mais grave, saberem que algo ia acontecer ou não fazerem nenhuma ideia do que vai acontecer.

  2. Pedro

    RAF, você teve um sonho estranho no comboio. Espero, pelo menos, que o tenham acordado a tempo de sair na sua estação. Homem, ninguém usa “name droping” numa conversa.

  3. Pedro,

    Estou a escrever de memória, e essas coisas nem sempre saem a 100%. Não posso jurar que foi essa a expressão usada – há outras que me lembro mesmo, e que optei por não usar, e que captaram mais a minha atenção – mas toda a conversa está aí reproduzida, hoc sensu.

  4. Caro L. Rodrigues,

    E está a sair-lhe a sorte grande. O que é importante é jogar sempre a mesma chave. Como se diz no texto acima linkado, até um relógio parado dás horas certas duas vezes por dia.

  5. Pedro

    Eu acho que esse seu interlocutor não só tinha um riso alarve, como ele ele próprio alarve. O Rui Tavares nunca disse que era especialista na matéria, nem que tinha previsto o que quer que seja. Limitou-se a dizer que outros, especialistas, o tinham feito. É esse o pecado do Rui Tavares, aquilo que provoca o riso alarve do seu divertido interlocutor.

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  7. “Limitou-se a dizer que outros, especialistas, o tinham feito.”
    O proximo a ganhar o euromilhoes tambem eh um especialista no jogo…

  8. lucklucky

    Acho estranho, quem tinha avisado para grande parte do problema Fannie Mae/Freddie Mac(imagine-se uma empresa que detenha mais de 50% do mercado na Europa) problemas foram essencialmente conservadores normalmente chamdos de “Neoliberais”.

  9. l.rodrigues

    Caro RAF, dando o seu exemplo como bom, o relógio parado acerta porque a hora acaba sempre por chegar. Sendo assim, como é que é imprevisível?

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