Na semana passada fiquei a saber – via Polígrafo – que a Câmara Municipal de Setúbal, no dia 1 de Março de 2021 (ou seja, durante o período de confinamento), decidiu comprar 1.700 garrafas de vinho moscatel por 11.000 euros (Portal BASE).
Para “oferecer a todos os trabalhadores da Câmara, para ofertas institucionais e para repor stocks dos pontos de venda em espaços municipais”, informa a Câmara. Afinal trata-se de vinho na categoria dos “generosos” e, claro, neste momento, a maior preocupação dos munícipes setubalenses é serem… generosos.
Este episódio fez-me recordar um exercício de pesquisa por outro vinho generoso: “Vinho de Carcavelos”. Em 2011 encontrei cerca de 500 mil euros de ajustes directos pela Câmara Municipal de Oeiras. Hoje, no 10º fim-de-semana consecutivo de confinamento, decidi actualizar a informação. Entretanto, nestes 10 anos decorridos, mudaram o nome do vinho para “Villa Oeiras”.
Ajustes directos da C.M. Oeiras (com links para Portal BASE):
- 18 722,55 € – 8.105 litros de aguardente (11-12-2008)
- 74 870,00 € – 200 pipas (06-03-2009)
- 18 500,00 € – concepção da garrafa, rótulo, copo, etc (19-03-2009)
- 44 856,00 € – garrafeiras para armazenamento (10-08-2009)
- 33 610,00 € – produção de rótulos, cálice, etc (26-08-2009)
- 24 200,00 € – concepção, design e produção de traje da Confraria (27-08-2009)
- 11 040,00 € – 8.000 litros de aguardente (21-09-2009)
- 6 000,00 € – serviço de análises (17-11-2009)
- 45 535,71 € – 2.000 garrafas (17-11-2009)
- 195 946,38 € – Vinho de Carcavelos a granel (17-11-2009)
- 18 000,00 € – livro relativo ao Vinho de Carcavelos (15-01-2010)
- 6 100,00 € – produção do livro O Vinho de Carcavelos (23-04-2010)
- 24 163,09 € – aramação dos talhões da vinha (17-05-2010)
- 6 900,00 € – 5.000 litros de aguardente (24-09-2010)
- 23 487,00 € – empreitada da sede e wine-shop da Confraria do Vinho de Carcavelos (17-06-2011)
- 61 442,00 € – barricas de carvalho (14-12-2012)
- 10 000,00 € – 3.125 litros de aguardente (01-02-2013)
- 3 240,00 € – serviços de regulamentação vitivinícola (03-06-2013)
- 23 700,00 € – 6.000 litros de aguardente (07-10-2014)
- 25 500,00 € – caixas para vinho (01-11-2014)
- 29 200,00 € – 4.000 litros de aguardente (03-07-2015)
- 13 094,66 € – 10.296 garrafas (19-08-2015)
- 23 400,00 € – 6.000 litros de aguardente (22-09-2015)
- 8 162,64 € – garrafas (19-01-2016)
- 11 200,00 € – 2 livros “O Vinho de Carcavelos” em português e inglês (13-07-2016)
- 25 550,00 € – 3.500 litros de aguardente (09-09-2016)
- 13 094,66 € – 10.296 garrafas (06-10-2016)
- 25 350,00 € – 6.500 litros de aguardente (12-10-2016)
- 12 150,00 € – caixas de madeira (03-01-2017)
- 14 600,00 € – 2.000 litros de aguardente (27-06-2017)
- 20 000,00 € – promoção do vinho Villa Oeiras (22-09-2017)
- 29 250,00 € – 7.500 litros de aguardente (16-02-2018)
- 12 600,00 € – assistentes/hospedeiras para dinamização e vendas (22-06-2018)
- 38 400,00 € – manutenção de processos produtivos (18-10-2018)
- 13 000,00 € – caixas de madeira de prestígio (20-12-2018)
- 14 700,00 € – bombons Villa Oeiras (28-06-2019)
- 8 288,28 € – 5.148 garrafas (25-10-2019)
- 8 117,75 € – tubos e coffret cartonado (16-12-2019)
- 290 000,00 € – conjunto escultórico (31-03-2020)
- 7 711,00 € – peças em porcelana (02-04-2020)
- 16 000,00 € – desenvolvimento do Portal VillaOeiras (18-09-2020)
- 6 194,00 € – montagem e desmontagem de Stand (29-10-2020)
- 19 819,00 € – caixas individuais para novas garrafas (23-11-2020)
- 15 720,00 € – 500 caixas para bombons (03-12-2020)
- 11 130,00 € – cápsulas de estanho para novas garrafas (04-12-2020)
- 19 965,00 € – bombons Villa Oeiras (18-12-2020)
1 382 509,72 euros em ajustes directos. Haverá muitos outros custos a adicionar (como salários, electricidade, água, etc). Mas, apenas fazendo contas aos valores acima, nos doze anos entre 2008 e 2020 a Câmara Municipal de Oeiras poderia ter comprado 17.805 garrafas/ano daquele moscatel de Setúbal. Não se esqueçam: estamos em ano de eleições autárquicas e governantes gostam de mostrar o quão “generosos” são com o nosso dinheiro.

Aquela malta dá-lhe na aguardente.
E nós? Auguinha, fresca, que é boa e faz bem à saúde.
Totós.
Semos mesmo totós.
A isto pode-se chamar politica barata e intelectualmente muito desonesta!!! Tenho vindo a ganhar respeito pela IL mas, neste caso, as criticas são profundamente desonestas!!!
Francisco Bessa, este não é o site da IL. Aqui no blog não somos regidos por opiniões únicas. Esta é a minha. Queira esclarecer o que pensa ser “desonesto”. É que os links para cada ajuste directo estão no post. Tem direito à sua opinião que o papel do Estado (central ou local) deva gastar dinheiro dos contribuintes em vinho. Não espere é que concorde consigo.
Não nos digas que tu foste um dos beneficiários de um(mais) daqueles ajustes directos?
Acho bem
Tudo comprado ao preço da uva mijona
excelente negócio e desta vez não foi o Calhau da Sucata.