Não, Sr. Presidente, o Estado de Emergência não é um ”sinal democrático”

É também um sinal democrático. Democrático, pela convergência dos vários poderes do Estado. (…) Não é uma interrupção da democracia. É a democracia a tentar impedir uma interrupção irreparável na vida das pessoas.

A decisão é legal e legítima, certo. Mas continua a ser, por definição, uma ”interrupção da democracia”, e por isso constitucionalmente delimitada e com a duração de quinze dias. A ”convergência dos vários poderes do Estado” pode afigurar-se como um sonho da cabeça de alguns, mas não é nem nunca foi democrática. Os Estados de Emergência são excepcionais porque são o sinal primeiro da nossa impotência: de um momento para o outro, com a aprovação de todos os poderes do Estado, a liberdade é suspensa com um coro de obrigados. Mas como temos vindo a ver, não faltam retóricas a exigir ”emergências” a toda a hora e convém, pelo menos àqueles que (ainda) se dizem liberais, começar a fazer o exercício de separar o mito da realidade. A tentação em tempos como este, para além dos discursos em largo epidíctico e das declarações várias de guerra, é a de resvalar para doublespeaks salvadores.

No entanto, as ”convergências” no seio do Estado tendem a ser opacas e opõem o Estado ao regime, pelo que nenhuma democracia resiste a uma unanimidade prolongada entre os poderes do Estado. A democracia, mobilizada contra um inimigo invisível e pouco óbvio e à beira de uma crise económica de que não há memória ficará, durante este período, sob fogo. Marcelo eventualmente sonhará com o dia em que declarará, sorridente, que ”saímos mais fortes”. Mas esse dia é por enquanto uma miragem. Por agora, resta a esperança de que a suspensão potencial, durante mais de um mês, do direito de deslocação e fixação, da propriedade e iniciativa económica privadas, dos direitos dos trabalhadores, da circulação internacional, do direito de reunião e de manifestação, da liberdade de culto na sua dimensão colectiva e do direito de resistência, resultem sem violência ou colapso social. Depois de tudo isso, poderemos voltar a falar de democracia outra vez.

Até lá, façam o melhor que podem e a população aguentará e acatará enquanto entender que é o melhor que pode fazer. Num clima que exige a maior das franquezas por parte de quem governa, não pode haver espaço para lapsos. Este é o momento em que nos encontramos mais indefesos, onde pouco mais nos sobra que a linguagem. É bem possível que este Estado de Emergência seja necessário, mas não me venham dizer que é democracia, porque liberal já não é.

11 pensamentos sobre “Não, Sr. Presidente, o Estado de Emergência não é um ”sinal democrático”

  1. Cacim Bado

    INDIGNAÇÃO
    Em nome da verdade, é preciso dizer que os grandes (i)responsáveis que assistiram impunemente ao avanço galopante do vírus, desprezaram a necessidade de uma atuação eficaz em tempo útil para combater essa peste à nascença,
    São esses mesmos que agora, montando a tragédia que patrocinaram, para além de uma arrogante postura de impunidade, ditam leis a cumprir pelos inocentes, dando-se mesmo ao luxo de ameaçar com pesadas punições justiceiras.
    Que um exemplar comportamento dos cidadãos inclua a exigência de levar a julgamento os maiores culpados da tragédia, não os deixando escapar às malhas da justiça, e que esta vença no conflito com leis de quem não tem. autoridade ética nem moral para as proclamar.
    Sim Sr. Presidente, Vossa Excelência em vez de comandar navega no triste papel de carpideira das desgraças.

  2. A. R

    Um comentário que coloquei no Blasfémias:

    “A democracia e a liberdade em perigo “Telefónica y Vodafone ofrecen a las autoridades sus datos de seguimiento de clientes para frenar el covid-19”: qualquer politico pode ser seguido.
    Quando a esquerdalha da frente popular (Negrin, Idalécio, Larga Caballero e outros guzanos) assaltou o poder em Espanha, proferindo ameaças de morte à oposição no próprio parlamento, logo foi a casa de três dos mais importantes para os matar.

    Só encontrou um que era mais corajoso ou tonto e ficou em casa, os outros dormiram fora e não morreram. Agora é tudo mais fácil: sabem onde estão.”

    Um fabricante de máscaras que, a solicitação telefónica do governo e com trabalhadores envolvidos dia e noite a produzir, entregou toda a produção à Guardia Civil para entregar em Hospitais acabou linchado: a esquerdalha sanchista-iglesista diz que confiscou milhares de máscaras para ganhar pontos mediáticos. São piores que os virus: malditos.

  3. Filipe Bastos

    Notícia-choque do mês: o Sr. Jorge Teixeira descobriu que os pulhíticos usam eufemismos, tretas, aldrabices e platitudes em vez de dizerem a verdade!

  4. Cacim Bado

    Voltando ao tema, já há quem pense tratar-se de um golpe, estudado ou não. Com esta hipótese nada me admiraria que Costa se montasse no “corona”, e usasse a cavalgada para se desculpar com uma nova bancarrota, se calhar já desenhada a régua e esquadro com tinta da China.

  5. Filipe Bastos

    A ver se isto anima, que o blog parece sofrer de covid:

    Não fosse pela doença e pelas mortes, a situação quase seria divertida. É divertido ver certa carneirada direitalha tão incomodada.

    Incomoda-os três coisas.

    Mais ostensivamente, a economia: o fim abrupto da demência do crescimento infinito, baseado em consumismo alarve, na mama de uns poucos e na semi-escravatura de milhares de milhões.

    Só agora chiam – ai ai, dependemos tanto da China! Afinal fazer lá tudo não é só vantagens! Afinal, se calhar, dava jeito ter cá umas fábricas e uns empregos! Afinal não é só iphones e farpelas baratas na Zara!

    Mas vai além disso. A maioria já percebeu que, neste regime, acabou-se a treta – e a teta – do ‘mercado’. Os Estados é que mandam. O capitalismo não serve para crises. Em crise, a ganância do capitalismo torna-se criminosa.

    E é essa a maior dor. Há muito que o capitalismo é mera tentativa de racionalizar o egoísmo e a ganância. E se em tempos normais dá para ir fingindo, quando tudo pára e tudo falta deixa de ser possível. Nestas alturas, o que é valorizado é o colectivo: a unidade, o altruísmo, o sacrifício pessoal para o bem comum.

    E nada incomoda mais o direitalha do que isto: a primazia do colectivo, a superioridade – moral e prática – do bem comum sobre o egoísmo.

  6. Olympus Mons

    @FILIPE BASTOS
    tão feliz com o seu comentário que o meu caro parece estar!
    O que lhe respondi ao mesmo no blasfémias.

    Discuto consigo as virtudes de ser de direita consigo quando quiser! Porque sim, você nasce ou de direita ou de esquerda, tal como nasce canhoto!

    “….A pura ausência de inteligencia é abissal – Não adianta que Deus/Fisica/Natureza tenha criado o mundo mas o capitalismo tenha retirado os humanos da pobreza abjecta que pessoas como o Filipe Bastos não conseguem ver…. Eu nem sei explicar. Ajude-me a perceber o desarranjo mental.

    Lembro-me sempre dos Filipe bastos a protestar no inicio dos anos 90 contra a globalizaçao, rebentando com macdonalds por todo o lado e dando conferencias de imprensa…. Até o Relatório de desenvolvimento humano das Naçoes Unidas sair e reportar “… apesar dos protestos pelo mundo fora… a globalizaçao retirou da pobreza extrema numa década mais de 2 mil milhoes de pessoas… , nem dois meses depois, desta gente doente mental nem se sabia o paradeiro… assim são vocês.

    Nem Deus e jesus cristos juntos conseguiriam fazer um milagre parecido ao do capitalismo – Podemos até vencer o Corona virus…. Mas as alegorias da caverna nunca o conseguiremos infelizmente. Pobre coitados.

  7. Olympus Mons

    Acrescentando algo,
    Os Filipe Bastos deste mundo nem essa parte entende – Ser de direita é querer um estado forte em tudo aquilo que nos representa enquanto grupo, para nos proteger precisamente nestas circunstâncias: Lideres, Policia, exército, médicos, bombeiros, caridade, Hierarquia, obediência, in-group, lealdade aos outros portugueses, etc- Não é um mero acaso que chamam a isto a GUERRA.

    Pois, afinal os esquerdoides tambem gostam de GUERRAS? Não foi por mero acaso que o presidente falou tanto nos PORTUGUESES e na nossa identidade e se FECHE FRONTEIRAS numa GUERRA contra o Virus…

    Pois, estado de emergência (que coisa mais fascista!), logo o 25 de Abril metido na gaveta, e a esquerdalhada em geral a bater palminhas… Cú e medo.

    Que os esquerdoides queiram tirar beneficios e embebedar-se em superioridade moral, neste contexto que é o oposto daquilo que a esquerdalhada promove, é uma vergonha.

  8. Carlos Guerreiro

    Filipe

    “Não fosse pela doença e pelas mortes, a situação quase seria divertida.”
    Acho que se enganou na expressão, os seus amigos Lenine, Estaline e Mao diriam “Pela doença e pelas mortes, a situação seria divertida”, e eles sabem, porque praticaram bem.

    “Afinal não é só iphones e farpelas baratas na Zara!”
    Mas quem é que compra os produtos fabricados na China, os capitalistas? Eu, quando existe escolha, prefiro um produto fabricado na Europa, mesmo que seja um pouco mais caro.

    “O capitalismo não serve para crises. Em crise, a ganância do capitalismo torna-se criminosa.”
    Tem de decidir-se, em crises o capitalismo é ganância ou esbanjamento de recursos? Cada dia diz sua coisa.
    Eu entre a penúria (por exemplo em Portugal) e o esbanjamento de recursos, prefiro a segunda, pelo menos existem recursos…

    “Há muito que o capitalismo é mera tentativa de racionalizar o egoísmo e a ganância.”
    Eu diria antes que o capitalismo é a liberdade de decisões e organização da vida. Em oposição ao socialismo/comunismo que promove a inveja, e acaba no regresso ao tempo em que um conjunto reduzido de pessoas, com a exclusividade do poder executivo, legislativo e judicial, apropria-se dos bens de todos e os gere no seu pŕoprio interesse. Eu sei que todos os comunas e xuxas dizem que não se revêem nas aplicações do comunismo e xuxalismo, mas é estranho que todas as as aplicações tenham tido os mesmos resultados, povo na miséria e membros do partido (especialmente os dirigentes) podres de ricos (com vidas que os capitalistas até invejam)

    “Nestas alturas, o que é valorizado é o colectivo: a unidade, o altruísmo, o sacrifício pessoal para o bem comum.”
    No acidente de Chernobyl assistiu-se a isso mesmo. Para preservar a nomenklatura dominante da URSS, atrasou-se o combate ao acidente nuclear e deixou-se a população de Pripyat submetida a elevados níveis de radiação.
    “O sacrifício pessoal para o bem comum” correspondeu aos serviços de emergência que prestaram auxílio e combateram o fogo sem equipamento adequado.
    Compare a “unidade, o altruísmo, o sacrifício pessoal para o bem comum” no acidente de Chernobyl da comunista URSS e do acidente de Fukushima no capitalista Japão. Ou seja compare a penúria de recursos da URSS e os recursos utilizados pelo Japão. O acidente provocou o colapso da URSS, o regime do Japão continua…

    “E nada incomoda mais o direitalha do que isto: a primazia do colectivo, a superioridade – moral e prática – do bem comum sobre o egoísmo.”
    Refere-se ao “bem-comum” determinado pelo partido único, com dirigentes em sucessão dinástica”, ausência de liberdade para o povo, e para os opositores férias em estâncias de desportos de inverno chamadas Gulag. No comunismo/socialismo temos o egoísmo dos dirigentes do partido que se apropriam dos recursos do país para o proveito próprio.

    O Filipe pode explicar porque motivo nos antigos países de leste os partidos comunista, que durante as ditaduras tinham “votações” de mais de 90%, agora têm votações marginais? Esta é um pouco mais difícil, porque motivo os regimes capitalistas permitem que vários partidos participem em eleições (incluindo partidos comunistas e socialistas) e nos regimes comunistas e socialista só existia um único partido?

  9. Carlos Guerreiro

    A esquerdalha que não consegue convencer os outros da bondade das suas ideias, procura sempre em emergências e situações limite, tirar vantagens da mesma para promoção da sua ideologia.
    Esta epidemia, começou em finais de Novembro de 2019, e foi reconhecida pela ditadura chinesa em 31 de Dezembro de 2019. Seria instrutivo verificar o que foi feito pelo governo socialista e os geringonços que o apoiam (comunas jurássicos, comunas caviar e eco-fascistas, e é verdade a deputada única nos períodos em que não estava às turras com o partido) para prevenir que a mesma alastrasse no país. Sabemos que a DGS tinha dito ser “pouco provável” (deveria no final da crise a Graça Freitas tirar as devidas conclusões), mas havendo uma probabilidade, mesmo que poucochinha, deveriam ter implementado algumas medidas, mesmo que poucochinhas…
    A análise das resoluções do conselho de ministros e assembleia da república são espetaculares. As mais mediáticas: aprovação da eutanásia, discussão dos maus tratos dos animais (com foco nos cães do João Moura, por causa dos cães ou por ter sido toureiro?), a emergência climática, a agenda digital do Costa, o “imprescindível” aeroporto do Montijo e a discussão da reprivatização dos CTT proposta no parlamento pelo bloco de esterco em 5/3 (esta é incrivel, como a ideologia e sectarismo se sobrepõe ao bem estar do povo). Recordo que em 5/3 estava em discussão o encerramento das escolas, o que não tinha a mínima importância para o bloco de esterco.
    Porque motivo as estatísticas de mortes e infectados não incluem os 57 géneros inventados pelos social-fascistas?
    Como é que a poluição e emissão de CO2 diminuíram tanto apesar de as vacas continuarem a dar puns?
    Porque deixou-se de falar na emergência climática? As mortes que diziam “provocar” são incomparavelmente superiores às mortes do Covid-19?
    Acho que no pós-crise teremos de repensar se devemos permitir que a esquerdalha continue a monopolizar o debate político com questões marginais com o fim de promover a sua ideologia.

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