Última hora: saíram 10 milhões de euros por dia da Caixa Geral de Depósitos desde que Mário Centeno tomou posse

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Desde que Mário Centeno tomou posse como ministro das finanças saíram cerca de 10 milhões de euros por dia para offshores do banco público. Nenhuma destas transferências pagou imposto. Mário Centeno sabe de tudo isto, conhece os valores e mesmo assim decidiu não fazer nada, deixando que 10 milhões de euros saiam todos os dias do banco público. Mais surpreendentemente, BE e PCP nunca questionaram o governo sobre esta fuga de capitais do banco público.

Tanto o título deste post como o primeiro parágrafo são factuais (quer dizer, podem ser 9 ou 11 milhões de euros a sair por dia, mas andará nestes valores). O leitor mais perspicaz terá ficado surpreendido por a informação ser dada como notícia. Os números são o que são (leia-se, normais) e não se alteraram muito nos últimos anos. Na medida em que existem mais de 80 países no Mundo que Portugal considera paraísos fiscais, é normal que se transfira dinheiro para esses países, esmagadoramente para pagar por bens e serviços que adquirimos a esses países. No entanto, a combinação da expressão “milhões” e “offshores” será sempre explosiva, qualquer que seja o contexto. Talvez por isso o governo tenha achado por bem divulgar esta informação agora na altura mais complicada do mandato. Se o português médio tivesse capacidade crítica, não ligaria nada a um caso que consiste na não publicação de estatísticas tão importantes que ao longo de 4 anos ninguém se apercebeu que não estavam a ser publicadas, ou pelo não tratamento de transferências legais, que quase nunca tinham sido tratadas antes (a lei é de 2010) e cujo pouco tratamento anterior nunca tinha resultado em consequências relevantes. Pelo menos, não se deixaria levar no engodo de esquecer um caso como a Caixa Geral de Depósitos, onde foi aplicado dinheiro dos contribuintes e efectivamente perdido em empréstimos que o banco público se recusa a divulgar. Não se deixaria levar no engodo de esquecer um caso em que presidente da República, Primeiro-ministro e ministro das finanças entraram em conluio para violar uma lei de transparência, enganar a comissão europeia e depois mentiram repetidamente sobre isso. A classe política sabe que pode distrair os portugueses de questões fundamentais com engodos irrelevantes, desde que esses engodos incluam a combinação certa de palavras para criar indignações. Desde que esses engodos joguem com preconceitos e a iliteracia económica da população.
O governo, e possivelmente o presidente da República, conseguiram isso. Mais uma vez, a máquina de comunicação do PS fez um excelente trabalho. Para o bem e para o mal, a máquina de comunicação do PS é que mais próximo existe de profissionalismo a sério na actividade política em Portugal. De longe.

23 pensamentos sobre “Última hora: saíram 10 milhões de euros por dia da Caixa Geral de Depósitos desde que Mário Centeno tomou posse

  1. “é normal que se transfira dinheiro para esses países, esmagadoramente para pagar por bens e serviços que adquirimos a esses países”
    O problema esta quando as transferencias não fazem parte dessa “normalidade”

    “um caso que consiste na não publicação de estatísticas tão importante que ao longo de 4 anos ninguém se apercebeu que não estavam a ser publicadas ou pelo não tratamento de transferências legais”

    Alem deste “esquecimento” também nao se sabe se estas transferências foram tratadas pelos AT na sua verificaçao ,
    mas deixo aqui uma sugestao ao Sr. CARLOS GUIMARÃES PINTO
    faça uma experiencia e tenha um “esquecimento” nao pagando 1 Euro a AT a vai poder sentir na pele os “esquecimentos” da mesma.

  2. RROCHA : RROCHA :
    “… nao se sabe se estas transferências foram tratadas pelos AT na sua verificaçao ,”
    “O problema esta quando as transferencias não fazem parte dessa “normalidade””

    Portanto, o RROCHA não sabe se as transferências foram tratadas pela AT mas já sabe que “não fazem parte da normalidade” !!

    Pelos vistos o RROCHA também não sabe que, por razões de operacionalidade e de acordo com o que está previsto na lei, a eventual verificação destas transferências é à posteriori, que a AT está na posse de todos os elementos para o efeito já que elas foram atempadamente declaradas e comunicadas, e que a lei prevê um prazo para essa verificação que é de … 12 anos (era de apenas 4 anos no tempo dos governos do PS mas o governo de Passos Coelho amentou-o no sentido de evitar prescrições) !!

  3. Sr Fernando S

    “lei prevê um prazo para essa verificação que é de … 12 anos”

    ate podia ser de 100 anos ou 200 anos e indiferente se os movimentos nao forem verificados .
    Ate este momento não há confirmação que estes movimentos foram verificados.

    O Sr Fernando S tem conhecimento que os offshores são usados TAMBEM para lavagem de dinheiro , corrupção ,etc
    um pequeno exemplo e o famoso saco azul do Ges

    Pf Sr. Fernando S não se faça de ignorante , leio atentamente os seus post e costumam ser inteligentes e assertivos não borre a pintura.

  4. RROCHA,

    Não me faço de ignorante … Eu sei que SOU ignorante de muita coisa e faço o que posso para conhecer e perceber melhor a realidade !…

    O que eu disse foi precisamente que não se sabe ainda se esses movimentos foram ou não já verificados pelo que é prematuro e precipitado estar a tirar conclusões e estar a fazer julgamentos politicos.
    Tanto mais que a eventual verificação é sempre à posteriori e há elementos e tempo mais do que suficiente para ela ser feita.
    Seja qual for a situação, não há nada de grave, de perdido, de irreparável.
    O que tem acontecido é simplesmente uma tentativa demagógica do governo atual e dos seus apaniguados de instrumentalização de uma situação relativamente banal e inócua para tentar tirar dividendos politicos fáceis e, porventura, para desviar as atenções de outros assuntos bem mais importantes e relevantes.

    O facto de sabermos que os “offshores” também são usados para operações ilicitas não significa que os movimentos em questão tenham sido feitos com esse fim.
    Mas, se porventura existirem situações dessa natureza, a verificação, quer tenha sido já feita quer venha a ser feita, permite detectá-las e sancionar os seus autores.
    O que é inapropriado é estar à partida a procurar passar a ideia de que os particulares e as empresas que fazem operações para offshores são quase certamente bandidos e que o governo anterior fechou os olhos ou foi cúmplice.
    Este tipo de atitude de principio de desconfiança e de hostilidade para com as empresas e as pessoas com património explica muito da estagnação do investimento privado, nacional e estrangeiro, desde que a perspectiva de um governo da “geringonça”, um PS aliado à extrema-esquerda comunista, se apresentou e concretizou !

  5. MANOLOHEREDIA : “Os resultados económicos e sociais do país o comprovam…”

    O crescimento económico tem sido menor e a austeridade não acabou, antes aumentou e é hoje socialmente mais injusta : “devoluções” a clientelas da classe média e alta ; mais impostos e piores serviços públicos para a população em geral !
    E mesmo os resultados menos maus, como o desemprego e as exportações, acontecem apesar dos disparates do governo actual porque se devem sobretudo à acção do governo anterior (por exemplo, todos os analistas concordam em dizer que o desemprego continuou a baixar, embora a um ritmo inferior, graças às reformas na legislação laboral feitas na legislatura anterior) e a condições externas mais favoráveis (BCE, preço do petróleo, turismo desviado do Mediterrâneo devido ao terrorismo, maior crescimento nas economias dos nossos parceiros comerciais, etc).
    E a redução do déficit orçamenal em algumas miseras décimas só é possivel na exacta medida em que o governo actual disse o dito pelo não dito e fez exactamente o contrario do que prometera : a austeridade aumentou em vez de diminuir, o investimento publico baixou em vez de aumentar, as despesas públicas em serviços essenciais (saude, educação, etc) foram cortadas em vez de aumentadas, os impostos foram aumentados em vez de diminuidos (a carga fiscal global aumentou), as receitas extraordinárias com perdões fiscais deixaram de ser imorais, etc, etc.
    Tudo o mais (a divida, as taxas de juro, a banca, o mal parado, etc) está hoje muito pior !!
    A situação financeira do pais está hoje pior.
    A situação estrutral do pais está hoje pior.
    As reformas estruturais indispensáveis para a dinamização da economia foram paradas ou mesmo revertidas.
    Na melhor das hipóteses, o pais desperdiçou pelo menos 2 anos e muitos recursos.
    Só mesmo uma “máquina” de comunicação e propaganda desonesta mas demagógicamente eficaz é que consegue que muitos pensem o contrario.
    Maior será a surpresa e a desilusão quando chegar a conta !!

  6. Jose Simoes Gomes

    A MUDANÇA DE SISTEMA PARADIGMA É URGENTE
    Não temos nem produzimos para a despesa.
    Pagamos milhões em subvenções, Reformas e outros rendimentos, que ultrapassam os limites do sustentável e do respeito pela Dignidade dos outros Cidadãos.
    Fomentamos as Desigualdades.
    DESIGUALDADES são sementes de Terrorismo.
    *
    Estamos em Tempo de Transição.
    O Tempo tudo traz e tudo leva.
    O Tempo é uma lição.

  7. Sr. Fernando S

    Repare no que escreveu:

    “O que eu disse foi precisamente que não se sabe ainda se esses movimentos foram ou não já verificados”

    “O facto de sabermos que os “offshores” também são usados para operações ilicitas não significa que os movimentos em questão tenham sido feitos com esse fim.”

    Só o simples facto de haver duvidas sobre a verificação dos movimentos para os tais “offshores” não o coloca em estado de alerta?

    Se a publicação dos dados estatísticos eram assim tão menores porque não foram publicados durante 4 anos ?

    Se e uma “situação relativamente banal e inócua” entao o que leva o Sr Paulo Núncio a escrever

    “Assumo, por isso, a responsabilidade política pela não publicação das referidas estatísticas”…”solicitei à presidente do partido que aceitasse a cessação das minhas funções nos órgãos nacionais”.

  8. RROCHA : “Só o simples facto de haver duvidas sobre a verificação dos movimentos para os tais “offshores” não o coloca em estado de alerta?”

    Não, de modo nenhum !
    Porque, de qualquer modo, se não foi ainda feita, há todos os elementos e ainda muito tempo para fazer essa verificação.

    RROCHA : “Se a publicação dos dados estatísticos eram assim tão menores porque não foram publicados durante 4 anos ?”

    As estatisticas deviam ter sido normalmente publicadas.
    Pelos vistos, houve uma disfuncionalidade nos serviços mas ainda não se percebeu bem o que se passou.
    As fichas perderam-se nos serviços e reapareceram depois ?
    Houve, como sugeriu Paulo Núncio a propósito do “visto”, um desentendimento de “percepção ?
    De qualquer modo, a não publicação das estatisticas não foi a causa (quando muito seria uma consequência) de uma qualquer falha de verificação e nem um centimo foi perdido por isso.

    RROCHA : “Se e uma “situação relativamente banal e inócua” entao o que leva o Sr Paulo Núncio a [assumir a responsabilidade política pela não publicação das referidas estatísticas ?]”

    É uma atitude honesta, digna e corajosa.
    Nem todos, incluindo muitos dos que agora criticam e procuram instrumentalizar politicamente o caso, se comportariam do mesmo modo numa situação equivalente.
    Paulo Núncio disse também que estava convencido de que a sua autorização formal não era necessária para que as estatisticas fossem publicadas tendo em conta que existia uma disposição legal que a determinava.
    Ao assumir a responsabilidade politica está apenas a reconhecer que se pudesse voltar a trás, sabendo o que sabe hoje (uma hipótese por absurdo), teria tido o cuidado em fazer o que era preciso para assegurar essa publicação.
    Seja como for, esta atitude de reconhecimento de que houve algo que falhou e o assumir de uma responsabilidade politica pessoal, não torna essa não publicação como algo de deliberado (antes pelo contrario) e de grave nas suas consequências (que foram nulas em termos práticos).

    O que é óbvio é que este tipo de criticas, que o RROCHA aqui replica, aparecem nesta altura (reciclando noticias que já tinham vindo a público há quase 1 ano), com o principal objectivo de escamotear o facto de que durante o governo anterior, em boa medida também graças à acção de Paulo Núncio, foram dados passos importantes no combate à evasão fiscal e de desviar as atenções das trapalhadas e das más politicas do governo actual, algo que é muito mais grave e politicamente relevante.

  9. lucklucky

    “Mais uma vez, a máquina de comunicação do PS fez um excelente trabalho.”

    Não tem nada que ver com a máquina de comunicação do PS, tem que ver com o que é o jornalismo.

    O jornalista é um político. E o objectivo da profissão é fazer política não é fazer jornalismo.

  10. mariofig

    Precisamente! Não se trata de um qualquer poderoso aparelho político. Trata-se de todo um trabalho prévio, de anos, e aprofundado pelo Socratismo, que politizou praticamente toda a estrutura dos media tradicionais em Portugal. A notícia do Público e a forma como a tratou rivaliza a todos os níveis com o mesmo tipo de práticas usadas por jornais tão recomendáveis como o Jornal de Angola e é da responsabilidade única do Público.

  11. mariofig

    Aliás, cada vez mais me convenço que em Portugal e outros países, pela notória corrupção do 4º poder e consequente perca da sua capacidade fiscalizadora, e porque obviamente nós cidadãos, independentemente da nossa cor partidária, não mais podemos contar com ele para gerar o necessário círculo de feedback entre cidadãos e governação, resta-nos apenas a subversão como forma de protecção. É por essa razão que, mesmo percebendo os perigos, defendo com unhas e dentes os media alternativos na Internet e serviços de expressão individual como o blogs, YouTube, Tweeter, e outros, como a forma de nos mantermos realmente informados e nos capacitarmos interventivamente. E a única alternativa para o que só pode ser considerado como a auto-destruição do jornalismo tradicional.

  12. Ana Catarina

    Então e o marmelo
    (que agora entrou para a Polícia Judiciária, veja-se o caso das armas roubadas no armazém da PSP)
    não diz nada?

  13. André Miguel

    Os tugas são do mais ignorante e manipulável que deve haver. Proibam as transferências para offshores e menos de um mês não temos combustíveis no país…

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