Extremistas a ensinarem crianças

O meu texto de hoje no Observador.

‘No ano letivo passado, a criança mais velha, então no quarto ano, teve pela primeira vez História de Portugal. Eu fiquei muito feliz (História sempre foi das minhas disciplinas preferidas e finalmente lá teria alguém em casa mais desperto para as secas que de vez em quando dou sobre este ou aquele pormenor do passado). O petiz saiu da aprendizagem interessado por História (o que diz muito bem da professora), mas de lá do meio do programa algo fez o rapaz ficar baralhado com as misérias do Portugal monárquico e as maravilhas do Portugal republicano.

Por razões misteriosas, ficou convencido que monarquia era sinónimo de ditadura e pobreza. E que a república, em Portugal, havia trazido o melhor dos mundos. Lá tive eu – que sou republicana, mesmo que não diabolize a monarquia (ok, assumo, é impossível resistir a gozar com certos membros de certas famílias reais) – que repor, naquela impressionável e adorável cabeça, a verdade.

Que a pobreza dos tempos monárquicos se devia mais às características secularmente estruturais de Portugal (e que muitas delas persistem hoje, iguais ou ligeiramente travestidas) que ao singelo facto de termos monarcas. Que a Primeira República foi uma rebaldaria indecorosa, com atropelos graves aos direitos e liberdades dos portugueses e de um anticlericalismo radical e dispensável. Que chegou à infâmia de proibir explicitamente o voto feminino, anteriormente possível em circunstâncias estreitas. Que nada faz equivaler ditaduras a monarquias. Que o ditatorial Estado Novo (de resto convidado pela rebaldaria) era um regime republicano. Que vários países europeus ricos e democráticos são monarquias e que a coisa socialista proto-totalitária venezuelana é uma república, bem como todos os totalitarismos comunistas (sendo que estes costumam descambar em monarquias das más, de facto). Etc., etc., etc..’

O resto do texto está aqui.

11 pensamentos sobre “Extremistas a ensinarem crianças

  1. Pingback: POLITEIA

  2. Simon Templar

    “chegou à infâmia de proibir explicitamente o voto feminino, anteriormente possível em circunstâncias estreitas”

    Proibiu o voto feminino depois de ter prometido conceder… enfim…

  3. “Que chegou à infâmia de proibir explicitamente o voto feminino, anteriormente possível em circunstâncias estreitas. ”

    Foi mesmo isso, ou o que aconteceu foi que na monarquia as mulheres não podiam votar, a república primeiro deu por acidente o voto a algumas mulheres (já que aprovou uma lei dizendo que podiam votar os “chefes de família” com um certo grau de escolaridade, e uma mãe viúva licenciada aproveitou o loophole para votar na primeira eleição), e depois de perceberem o que tinham feito tiraram, aí sim, explicitamente o voto às mulheres?

  4. lucklucky

    A Maria João Marques também se deixa influenciar por extremistas!

    Chama ao golpe bolchevique “revolução russa” vinda da narrativa dos próprios Comunistas. 🙂

  5. mariofig

    Talvez um dos mais importantes indicadores de avaliação de um Ministro da Educação é a sua capacidade de resistir à tentação de inserir no currículo escolar ideologias sociais ou políticas. No fundo, a sua capacidade em manter o sistema formativo do pais no maior rigor cientifico possível. Porque é disso mesmo que se trata. Das artes, às disciplinas marcadamente sistemáticas, todo o sistema de ensino deve se pautar pelo maior rigor na formação do pensamento cientifico. Deixando para os próprios alunos, as suas famílias, o seu núcleo de amizades e a sociedade em geral, a tarefa de formação do pensamento ideológico.

    Tiago Brandão Rodrigues falha redondamente e só por isso pode já ser considerado um mau e nefasto Ministro da Educação. Tal como consideraríamos um mau professor, aquele que à revelia decidisse doutrinar os seus alunos em matérias que não competem ao currículo escolar.

    Mas o Ministro vai ainda mais longe. Num acesso de pequeno-pedofilia, decide por decreto que crianças de 5 anos de idade devem ser expostas a temas como o aborto e homossexualidade, sem considerar por um momento que estes são temas fracturantes em qualquer sociedade e que merecem portanto soluções caso-a-caso e não chapa quatro, independentemente da forma ligeira como eventualmente pensa introduzi-los nos currículos escolares.

    Por outro lado, com esta medida, toma como exclusivamente seu o direito de se substituir à família, o tal núcleo de qualquer sociedade moderna, na formação sexual de uma criança; no conteúdo e no timing de quando essa formação deverá ser dada. Se, por ventura, qualquer criança, aluna do sistema de ensino português, não colher no seu seio familiar ou no pequeno grupo social em que se insere, os devidos estímulos preparatórios para este tipo de formação que está a receber na escola, pois isso é problema da criança e o Sr. Ministro não tem nada a ver com isso. O ensino geral é isso mesmo, dirá ele. Ignorando que a criança não está a ser ensinada, mas sim doutrinada. E essa é a grande diferença entre um sistema de ensino e um sistema de educação. O segundo não lhe pertence nem nenhum português lhe deu esse direito nas urnas.

  6. António Gramsci sempre oculto mas sempre presente.
    As suas recomendações inundaram as nas nossas escolas. O pseudo ministro é um turista acidental. O sindicato é a ponta de lança para a obtenção da “hegemonia cultural” da nação. Para isso há que debilitar os elementos da cultura tradicional. Como?
    1. Politiza-se os lugares de culto pondo ênfase na “justiça social”.
    2. Substitui-se a educação genuína por currículos escolares maçadores e politicamente corretos.
    3. Tornam-se os merdia instrumentos de manipulação e descrédito das instituições tradicionais e dos seus porta-vozes. Corrompem-se os jornalistas a esmo, propalam-se fake news;
    4. Ridiculariza-se a ética, a decência, e as virtudes do passado, utilizando o relativismo como arma.
    5. A gente séria é classificada de hipócrita, convencida e ignorante.
    Ainda não foi possível acabar com meia dúzia de escolas privadas que permitem a alguns fugir a esse tipo de ditadura da mediocridade intencional. Por isso prepam com afã uma sociedade sem classes em que também esses serão reduzidos à expressão mais simples, tendo como alternativa emigrar. Já está a funcionar. Não percebem?

  7. A.R

    A minha avó nasceu no tempo da monarquia. Frequentou a escola primária, sabia ler, escrever e fazer contas: ninguém a enganava. Muitas depois dela, no tempo da selvajaria da 1ª República que felizmente Salazar pôs fim (Salazar terminou um curso de direito com 19 valores em Coimbra) eram completamente analfabetas. Hoje temos a governar quem conduziu burros em Lisboa ou teve um Curso obtido com notas ao Domingo.

  8. MARIOFIG
    O problema é que ele intitula-se, incorrectamente, Ministro da Educação em vez de Ministro do Ensino pois as escolas ensinam e as famílias educam.

    Hoje, a SIC andou a passar os olhos nos livros escolares (agora chamam-se “manuais”, percebe o jogo das palavras) para verificar como o “legado” de Mário Soares está a ser doutrinado às criancinhas.

  9. “O legado de soares”! Democracia adulterada, novilíngua de palmo, pedintes dos mais diversos quadrantes, feitos milionários pela via da pulhítica baixa. Aventais ao alto.
    Não foi assim tão mau mas descambou.
    Que Deus lhe perdoe.

  10. sam

    Isto é o que se chama uma mãe sem coração: condenou o coitado do filho a chumbar à dita disciplina durante todo o seu percurso académico…

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