Autoajuda para decidir sentido de voto

O meu texto de ontem do Observador. Com incursão lá no fim ao caos em que Fernando Medina colocou Lisboa.

‘Qualquer editora e livraria que se preze tem no catálogo livros destinados a resolverem todos os problemas conhecidos pela humanidade. É um bibliotecário tímido? Dale Carnegie ensina como fazer amigos e influenciar pessoas. Tem dificuldade em encontrar o amor (verdadeiro ou temporário) nesta sociedade voraz e cínica? Livros explicam que proferir dois mantras a cada manhã resulta num príncipe encantado cinco meses depois. Pescado o dito príncipe, ou princesa, descobre que felizes para sempre é treta da Disney? Compre o famoso Os Homens São de Marte, As Mulheres São de Vénus para entender os comportamentos da sua cara-metade interplanetária. Quer ficar rico especulando na Bolsa? Banqueiros de renome (alguns entretanto falidos e perseguidos pelo pouco impressionável sistema judicial) contam-lhe a receita secreta (mas que, por alguma razão misteriosa, não tem produzido milionários de geração espontânea pelo menos ao ritmo da proliferação de vulgaridades no Twitter do deputado João Galamba).

Ora há que dizer que as editoras e livrarias nacionais deviam alargar, com urgência, os assuntos dos livros de autoajuda ao discernimento do sentido de voto dos eleitores nacionais. Era pegar numa qualquer lista de uma revista feminina que elenque os traços do valdevinos que nunca aceitará compromissos e transpô-la para políticos tóxicos. Eu dou uma ajuda.

Exemplo: se um partido político está falido e vive da caridade e da disponibilidade de tesouraria dos seus militantes, então há alguma probabilidade de esse partido político estroina com a sua contabilidade ter também maus resultados nas contas públicas. É natural que um partido político que não tem dinheiro para pagar a eletricidade das suas instalações se dedique, quando governo, a atrasar (ainda mais) os pagamentos aos fornecedores do Estado. Quem não gere bem a sua casa não sabe gerir a casa dos outros ou a casa de todos. Sem surpresas, o partido político falido (PS) foi quem governou treze dos dezasseis anos antes de nos oferecer a bancarrota de 2011. É sempre uma alegria observar comportamentos consistentes nos nossos colegas da espécie humana.

Outro exemplo: há melhor metáfora para o Portugal guterrista e socrático do que a vida de Sócrates em Paris? Sócrates – se acreditarmos na sua narrativa oficial, que já é mais que suficiente para lhe indicarmos o caminho do ostracismo político – vivia em casas caras, com roupas vistosas e custosas, educação xpto para o filho, viagens frequentes. O dinheiro vinha de empréstimos descontrolados, sem atentar ao valor, menos ainda pensando na capacidade de os reembolsar. Se por momentos fingirmos todos acreditar que alguém se endivida com um amigo em meia dúzia de anos a ponto de ter de vender a casa para pagar essas dívidas, o que nos diz isso politicamente de uma pessoa? Devemos votar em quem está disponível para espatifar património duradouro (um bem imóvel que poderia até transmitir aos filhos) para poder comprar ténis Prada?’

O resto está aqui.

2 pensamentos sobre “Autoajuda para decidir sentido de voto

  1. Francisco Miguel Colaço

    Pergunta,

    Quando a mensagem 1) incomoda e 2) é impossível de desdizer ataca-se o mensageiro.

    Ainda não ouvi falar de um país socialista onde não houvesse miséria nem grilheta. Nem de um país comunista onde não housesse grilheta nem miséria. — Note que a ordem é intencional. —

    A dívida em Portugal é mais de 100% PS. Mais de 100% porque quando o PSD esteve no poder, mau grado pouco ter feito para reformar o Estado, sempre deixou menos dívida externa líquida do que aquela que recebeu — excepto Passos Coelho, que a deixou mais ou menos estacionária. O PS foi também aquele que assumiu mais compromissos para o futuro: só nas PPP (paga palerma do povo) são em excesso de 40 mil milhões até 2040.

    Se isso não o fizer mudar de opinião, receio que deva mudar a sua dieta, pois tem um claro excesso de flúor e um claro defeito de selénio. Deve também beber muita água e tomar algo mais de gorduras poli-insaturadas.

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