A ilusão da esquerda com o Brexit

Nordic_cross_flags_of_Northern_Europe.svgAnda por aí algum entusiasmo entre a esquerda portuguesa perante a possibilidade de uma saída do Reino Unido da União Europeia permitir mais desvarios internos. Esse entusiasmo resulta de uma fraca compreensão da origem da insatisfação de alguns países do norte europeu com a União Europeia. Os ingleses, e outros, não estão insatisfeitos com a União europeia porque esta impõe austeridade aos países do Sul. Entre outros aspectos mais relevantes (como imigração ou a legislação europeia), os países do norte da Europa estão insatisfeitos por a UE não ser mais dura com os países do sul. O eleitorado (aqui convém sublinhar que é acima de tudo o eleitorado e não Schauble ou Merkel) dos países do norte da Europa não quer pagar mais bail-outs, não quer subsidiar mais os défices de Portugal, Espanha e Grécia. A fonte da insatisfação de Alemães, Holandeses, Finlandeses (já para não falar de países do leste da Europa) não é com a austeridade imposta aos países do sul, mas com a benevolência com que, a seus olhos, países como Portugal e a Grécia são tratados.

Se o Reino Unido sair da União Europeia, a União Europeia fará tudo para manter os países escandinavos (os próximo na fila para saír – ver aqui, aqui, e aqui) satisfeitos. Convencê-los a ficar não passará por mais benevolência com os países do sul, com mais atirar de dinheiro dos contribuintes desses países para as contas públicas da Grécia e de Portugal. Será precisamente o oposto. A União Orçamental, já hoje politicamente improvável, passará a ser impossível.Não se sabe mesmo se prescindir de 1 ou 2 países do sul para não os ter que subsidiar eternamente até não será um custo que a União Europeia estará disposta a incorrer para manter o resto da União Europeia, principalmente a Zona Euro, unida.

É preciso ter muito cuidado com aquilo que se deseja.

20 pensamentos sobre “A ilusão da esquerda com o Brexit

  1. JoaoMiranda

    Saída do UK implica mais concorrência na Europa, com os países atlantistas a terem estratégias mais livres. Free riding e concertação de posições para manter impostos altos ou regulação rígida serão mais difíceis em toda a europa.

  2. Brexit é a única forma dos Britânicos não ficarem atolados numa ” europa sovietica” governada pelos burocratas de Bruxelas não eleitos .
    Quanto a Portugal e Grécia a questão é diferente , pois , estes países , têm povos anestesiados por uma cultura de irresponsabilidade e dependência do estado , que os leva a eleger Marxistas incontinentes para o poder , o que não augura nada de bom para o futuro , com a agravante de ter uma comunicação social invertebrada e rastejante incapaz de informação isenta que permita aos eleitores ver a realidade.

  3. Edgar Carneiro

    “Não se sabe mesmo se prescindir de 1 ou 2 países do sul para não os ter que subsidiar eternamente até não será um custo que a União Europeia estará disposta a incorrer para manter o resto da União Europeia, principalmente a Zona Euro, unida.”

    Mas os que avisam que é necessário prepararmo-nos para a saída, seja por iniciativa própria ou alheia, são quase considerados perigosos radicais.

  4. Uma das principais razões para o Bexit é o Reino Unido não querer continuar a financiar a UE. Com a AfD em crescimento na Alemanha, qualquer dia é a própria Alemanha a não querer financiar mais desvarios.
    Mesmo que o Reino Unido no fim fique na UE, acabou-se o dinheiro fácil. Tudo ao contrário do que a esquerda de cá queria.

  5. o RU está no melhor dos mundos , tem os benefícios da UE, tem moeda própria logo tem instrumentos monetários para governar e graças à dama de ferro não tem que pagar a “coesão” nomeadamente a Factura dos países do sul (coisa que a Alemanha tem que fazer)

  6. Dudu

    A esquerda deseja ardentemente a subsidiaçao dos paises do sul da UE; a alternativa eh o desmembramento.
    Neste aspecto, Tsipras e Costa tem o mesmo pensamento.

  7. Carlos Guimarães Pinto

    Edgar, perigosos radicais são aqueles que acham que sair resolve algum problema. Pior, são os que prometem que sair resolverá os problemas finaceiros do país em vez de, como é o caso, simplesmente obrigar a mais austeridade e mais depressa.

  8. pedrochapt

    Estava na hora de alguém escrever isto! O nosso país pede sempre mais Estado. Mais Estado sempre vem e nós sempre piores ficamos. Nós que dizemos que os políticos são todos corruptos depois queremos que os políticos tenham mais poder e intervenham mais.
    O Brexit é necessário – isto porque eu não quero ver o Reino Unido destruído.

  9. Cuidado com a última sondagem da ORB que dá vitória ao Brexit. A amostra está mal feita e existem suspeitas de que foi preparada para ter aquele resultado. Aconselho que leiam com atenção o twitter do site Number Cruncher Politics.

    Os apoiantes do Brexit são uma mistura complexa de pessoas e grupos de interesse que não se entendem entre si e vão acabar por estoirar a indústria altamente competitiva de serviços de Londres.

    Entre eles estão: grandes barões da comunicação social como o sr. Murdoch ou os irmão Barclay; o UKIP apoiado por saudosistas da Inglaterra imperial com mais de 65 anos e pessoas pobres que têm agora a concorrência de mão-de-obra mais qualificada e barata da Europa de Leste; a ala conservadora dos Tories que quer acesso ao mercado comum mas não quer livre circulação de pessoas nem seguir as regulamentações de Bruxelas.

    A ala dos Tories que quer sair não tem o apoio da Banca, grandes multinacionais, da indústria dos serviços, unions, universidades. Mas tem o apoio de muitos pequenos e médios empresário, pequenos e médios comerciantes e alguns milionários. Porquê? Acham que sem as regulamentações de Bruxelas teriam mais lucro.

    A ala dos Tories que apoia o Brexit também quer desligar-se do comércio com a UE pois crê que no longo prazo a Europa terá uma economia empobrecida por causa dos problemas internos. Por isso que reforçar as exportações para fora da UE. Contudo esta opção é altamente arriscada pois o mundo fora da Europa é brutalmente proteccionista. E que aumentar a importação de mão-de-obra qualificada fora da UE, da Commonwealth, em detrimento da mão-de-obra europeia. Este posição colhe a simpatia dos imigrantes do Paquistão ou da Índia.

  10. tina

    Eles não vão sair porque não são burros, perderão o mercado único e terão mais dificuldade em escoar produtos. Se saíssem, seria uma boa lição para os penduras da Europa do Sul, mas também seria terrível se o Gordo pudesse usar o caos de um eventual Brexit para desculpar mais défice, mais dívida, etc.

  11. Era bem bom que saíssem. O guito que sobra não chega para todos os subsídio-dependentes que ficam, e o esforço para os que subsidiam será maior a seguir. Não é difícil de adivinhar que depois do RU saem mais uns tantos, e à rapaziada por este lado só lhe restará ter de se amanhar com o que tem.
    No entanto o grande problema da UE é a França – não o RU! – que está mais próxima do xuxalismo do que Portugal. Por exemplo – e os exemplos deste calibre, e piores, são muitíssimos – para mudar o mobiliário de uma empresa é preciso pedir autorização à comissão de trabalhadores. A França é aquele país que ainda hoje mantém uma estação de metro em Paris com o nome de Estalinegrado!… Como as últimas manifestações o demonstram, o parasitismo social passou a endémico e aquilo já não vai ao sítio sem tratamento de choque.

  12. A mais recente sondagem dá vitória ao Sim é é da Opinium. 2 pontos de diferença mas os indecisos devem votar maioritariamente no Sim. As sondagens não incluem a Irlanda do Norte que votará maciçamente no Sim portanto deve-se acrescentar mais 1 a 2 pontos em favor do Remain.

    http://ourinsight.opinium.co.uk/survey-results/political-polling-7th-june-2016

    Se o Reino Unido sair a UE vai provavelmente estoirar pois a França é altamente proteccionista e conservadora em termos económicos e não quer um mercado comum em alguns sectores, a saber serviços ou energia. A França é um grave problema na UE. O problema não está no Reino Unido nem na Alemanha, está na França que vive ainda nos anos 70 ou 80.

  13. Tina,

    estive a analisar as amostras da ORB e da Opinium com mais cuidado e deixo algumas notas.

    1) A amostra da ORB está péssima com grandes diferenças nos sexos por grupo etário. Parece que foi manipulada para dar um resultado distorcido e tem uma particularidade: dá uma vitória do Brexit em Londres, quando tudo aponta para mais de 60% a favor do Remain na capital e arredores.

    2) A amostra da Opinium está muito melhor mas tem 18% dos inquiridos a favor do UKIP, parece-me um valor excessivo e é comum os adeptos do UKIP estarem excessivamente representados nas polls online. Se a amostra for reajustada tendo em conta este factor teremos mais 2 a 3 pontos a favor do Remain.

    3) Na amostra da Opinium parece-me que na Escócia o Remain está baixo, muito baixo tendo em conta outros estudos de opinião. E esta amostra tem também a Irlanda do Norte, ao contrário de outros polls que são feitas apenas na Grã-Bretanha.

    Para já minha previsão é para um empate em Inglaterra (excluindo Londres), uma ligeira vitória do Sim nos País de Gales e uma vitória maciça do Sim na Escócia, na Irlanda do Norte e em Londres.

    Londres+Escócia+Gales+Irlanda do Norte

    Remain: 60%
    Leave: 40%

    Resto do país

    Remain: 50%
    Leave: 50%

    Mas só haverá certezas para a próxima semana, é preciso saírem as sondagens da Yougov nas vésperas do referendo, e as últimas phone polls. Portanto tudo ainda pode mudar e o Brexit vencer. Basta que o turnout seja inferior a 60% para vencer o Brexit.

    Mais uma nota.

    Em Portugal por ignorância e proteccionismo proibiu-se a Betfair, um erro muito grave. A Betfair nas últimas eleições tem tido muita acuidade. Quando as polls dava na General Election um empate ou vitória do Labour a Betfair dava vitória do Cameron com 80% de probabilidades. Os ingleses apostam muito e em eleições quando estamos perante um resultado binário a Betfair costuma ser melhor indicador do resultado final que as polls.

    Neste momento a Betfair dá uma probabilidade vitória do Bremain de 70%.

  14. José7,

    a França influenciou muito a geração que está agora no Poder em Portugal, a França é um país com uma Esquerda muito agressiva, que até tentou uma frente de Esquerda com os radicais antes da Segunda Guerra Mundial, com resultados desastrosos. Os intelectuais de Esquerda franceses têm apoiado Regimes totalitários por todo o mundo, normalmente Regimes de inspiração marxistas e até apoiaram a quedá de Palavi no Irão, quem diria, a França laica…

    Felizmente começa a aparecer uma geração de jovens da Católica com influência da cultura anglo-saxónica, para mim uma cultura diria até espiritualmente superior, pois respeita muito mais as liberdades individuais. Contudo ainda estamos longe de ter essa geração no poder. A França sempre foi nossa inimiga, por que motivo a elite de Lisboa se deixa inspirar tanto por aquela cultura? O Porto, por exemplo, tem outros ares, e muito devido à influência inglesa na cidade.

  15. tina

    “Felizmente começa a aparecer uma geração de jovens da Católica com influência da cultura anglo-saxónica, para mim uma cultura diria até espiritualmente superior, pois respeita muito mais as liberdades individuais.”

    Sem dúvida alguma. São espíritos naturalmente livres, daí a sua capacidade inovadora e originalidade. O que também aprecio muito, por ser tão raro no continente, é o seu fair play e a sua inteligência.

  16. Carlos Miguel Sousa

    As sondagens dão SEMPRE ( e sublinho SEMPRE) resultado inverso ao pretendido. Assim é nas nossas eleições internas. Só as sondagens de véspera é que começam a dar resultados verdadeiros.

    As SONDAGENS são SEMPRE o principal instrumento de manipulação eleitoral.

  17. Maria,
    Completamente de acordo com o que referiu.
    A França apoiou – bem como os EUA do Kennedy – os movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas com o único intuito de nos substituir, e pura e simplesmente pilhar aqueles territórios (o que aliás têm feito permanentemente ao longo da sua história com todos os povos com que contactaram, conforme os seus museus o demonstram).
    Mas independentemente do que que cada um possa pensar sobre essas independências, o que vale a pena destacar aqui é que a França mantém ainda hoje um império colonial mais extenso que o português – isto é de uma hipocrisia abjecta, e a indiferença que os políticos portugueses manifestam sobre este facto é inqualificável.
    É igualmente interessante referir que enquanto o Nehru atacou Goa, Damão e Diu, o Mao nunca tomou uma iniciativa idêntica sobre Macau… mas isto leva para outros campos…
    A razão fundamental para a França ainda não ter tido um estoiro económico prende-se com o custo da sua electricidade, obtida maioritariamente à custa da produção nuclear, que permitir compensar a crescente fraca competitividade e produtividade da sua indústria.

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