Este quadro do parecer da UTAO ajuda a estabelecer o resultado exato da «negociação» com Bruxelas em torno do Esboço de Orçamento do Estado.
A leitura parece complicada, mas não é. Em ambos os casos, no esboço e na proposta, os diagramas mostram como se parte da situação financeira do estado em 2015 para chegar à grande meta de um défice -2,2% do PIB no caso da proposta, de -2,6%, no caso do esboço que foi a enterrar.
Ao défice herdado, deduz-se (mas se fossem mais, acrescentava-se) a variação no volume de medidas extraordinárias: não há Banif em 2016, 1,2 pp caem. Sobra pois um défice de 3,1% na casa de partida.
E é agora que tudo muda: no documento que foi para Bruxelas, havia um estímulo orçamental de 0,16% do PIB. O défice de 2015 era agravado nesse montante. No documento que saiu de Bruxelas – uma vitória do Governo português, segundo distintos comentadores – veio uma contração de 0,33% do PIB. Entre lá e cá, uma diferença de quase meio ponto percentual do PIB, isto é, mais medidas de consolidação no valor exato, calcula a UTAO, de 921 milhões de euros. Ou, ainda de outro modo, onde havia uma expansão orçamental de 300 milhões passou a haver uma contração orçamental de 621 milhões.
O deputado João Galamba, que muito provavelmente não tomou conhecimento destas coisas, e que parece viver momentos de verdadeiro delírio, dizia este fim-de-semana, na linguagem muito colorida que o caracteriza em fases de maior excitação, respondendo, em nome do PS, às supostas atoardas da «direita», que o orçamento não seria nada o «toma lá dá cá» que por aí andam a tentar fazer crer que ele é; ou por outra, lá toma lá dá cá é ele: «É de facto, toma lá 1.400 milhões de euros e dá cá apenas 290 milhões».
Talvez: no universo onírico em que ele vive; neste, do lado de cá da realidade, estimou a UTAO, é
- toma lá 1.411 milhões de euros (aqui Galamba acerta) e,
- dá cá 2.032 milhões de euros; é a tal contração de 621 milhões (alguém avise o deputado que é dá cá mais mais quase 10 vezes do que ele julga – a colunazinha do centro do diagrama, que mudou tudo, ao ponto de tornar a intenção orçamental do PS irreconhecível).
Não ficou, em suma, pedra sobre pedra do estímulo ao crescimento que eles tanto gostam de incensar. Foram-se os dedos? Ficaram os anéis. Foi necessário fazer escolhas? Entre reduzir o ritmo de reposição dos salários na função pública, beneficiando essencialmente segmentos de rendimentos relativamente elevados, ou deixar cair o IVA da restauração (sem comentários) e, por exemplo, reduzir a TSU, que beneficiaria sobretudo as pessoas de rendimentos mais baixos, a escolha do PS e da esquerda foi clara: deixar cair a TSU e carregar nos impostos indiretos, regressivos por natureza, para financiar desmandos orçamentais ao serviço das suas clientelas.
Os pobres que aguentem.
O Centeno ainda usa o Magalhães do Sokas.
Quando der para o torto (já está a dar) dirão que o orçamento que tinham é que era bom
Atentem no pormenor final: “Os pobres que aguentem.”
Desde quando é que os autores deste espaço se preocupam com os pobres? Desde que a PAF deixou de ser governo.
Eu confesso que tenho inveja desta gente. Todos eles conseguem ver diferenças entre um governo PAF e um governo do PS…eu é que não. Sou um atrasado mental com mentalidade do século XIX.
Por cá não confundimos pobres com membros das corporações defendidas pelos Partidos de Esquerda. Talvez o anarquista defenda os pobres no sentido de querer que sejam todos pobres. É isso? Nada de novo.
Tenho tentado ler tudo e mais alguma coisa sobre o que se escreve e se diz acerca do orçamento.Todavia há uma coisa que eu não consigo entender e gostava que alguém me explicasse. Ainda não li, nem ouvi nenhum economista (que penso seja quem mais percebe destas coisas) referir-se aos 1,9 MIL MILHÕES DE EUROS que o governo diz dará até Abril aos privados da Tap. Esta verba não precisa ser orçamentada? E ao ser orçamentada o Governo não terá que fazer empréstimos adicionais e se o fizer o défice não é alterado? Ajudem-me please!
“Todos eles conseguem ver diferenças entre um governo PAF e um governo do PS…eu é que não.”
São tão óbvias! A coligação tirou a todos, mas mais aos ricos e à classe média/alta representada pelos funcionários públicos. O PS tira aos não funcionários públicos, incluindo os mais pobres, para dar à classe média/alta dos funcionários públicos.
anarquistahumanitario : “Desde quando é que os autores deste espaço se preocupam com os pobres?”
Ao ponto de até querem acabar com eles !!! 😉
Joaquim Brito,
acho que para esses casos servem os Orçamentos Rectificativos. Ou eles pensam que em Abril já terão sido demitidos?