O golpe ao BES

bes

A evidência amontoa-se, corroborando a suspeição do que agora começa a ser óbvio: o BES foi alvo de um golpe. Confrontados com as falências eminentes da RioForte, da ESFG e subsidiárias, ES Financière e da ESCOM, provavelmente fruto de má gestão, a receita aplicada pela família Espírito Santo foi em tudo semelhante à da SLN ao BPN. Solicitar linhas de crédito e empréstimos ao BES para devolver aplicações e outras obrigações aos clientes mais importantes (entre os quais, eles próprios), na esperança de que o BES, too big to fail e o único com estatuto de entidade bancária, logo, socorrível, fosse socorrido. Tal como o BPN havia sido.

Esta evidência acresce ao facto de o BES não ter solicitado acesso à linha de recapitalização bancária, cuja contrapartida seria permitir uma auditoria profunda às suas contas. O problema não estaria no banco, mas sim na sua estrutura accionista. O poder, que sempre andou de braço dado com as empreitadas dos Espírito Santo, que bem as souberam aproveitar (recordemos os apoios incessantes de Ricardo Salgado a toda a obra pública megalómana prometida por José Sócrates) compactuou bem com isso. Alguém tem de garantir a reforma e a conta na Suíça.

Tudo teria corrido pela melhor. O banco provavelmente nacionalizado e os responsáveis pelas asneiras sairiam incólumes, não estivéssemos em Portugal. E não fosse um pequeno pormenor, externo à pátria lusa: a Troika. Mais do que os 78 mil milhões, trouxe-nos algo bem mais em falta: responsabilidade. É que, ao contrário de tantos por cá, estes nunca receberam por favores. Pelo que não terão despudor em nos fazer um enorme favor: fazer rolar cabeças.

18 pensamentos sobre “O golpe ao BES

  1. António

    Caro Mário,
    sendo que, por muitas vezes, discordo do que escreve, não agora o caso. Apenas faria um pequeno retoque no seu último parágrafo, pois não é tão evidente e linear o que diz: veja-se o caso sector da energia, como foi exemplo a demissão do anterior Secretário de Estado desta área e as consequências nulas que daí derivaram.

  2. Marco

    São actos criminosos, puníveis por lei, mas neste país, quem tiver dinheiro suficiente para meter a advogalhada a empatar a justiça (qual !?) safa-se … e ainda recebe uns trocos no fim …
    O compadrio político da esquerda á direita (se é que isso existe) também ajuda.

  3. tina

    Calma aí. Lá porque o governo de Sócrates protegeu o BPN e os seus corruptos, não quer dizer que acontecesse o mesmo agora. Convém realçar que nunca se assistiu a tanta corrupção e impunidade como no anterior governo socialista. Que foi o período mais negro da história de Portugal nesse aspeto. Convém distinguir o trigo do joio. Dizer mal de todos por igual só vai branquear os crimes cometidos no passado e ajudar a que pessoas como o gordo Costa continue a pavonear-se e a mentir descaradamente.

    Quanto a mim, foi por este governo estar a tomar conta da situação que o caso BES foi resolvido de maneira rápida e razoável. Enquanto da direita podemos esperar razoabilidade, da esquerda só sai asneira, despesismo e corrupção.

  4. Luís Lavoura

    não fosse um pequeno pormenor, externo à pátria lusa: a Troika

    Não vejo onde está esse pequeno pormenor. Recorde-se que, no caso cipriota, a troika entrou a matar: fez falir o maior banco do país e impôs perdas a todos os detentores de depósitos superiores a 100.000 euros. Mas agora não há nada disso: não somente todos os depósitos, qualquer que seja o seu valor, mas também parte das obrigações ficam salvaguardados. É isto que a troika faz? É esta uma troika a sério? Não é!!! Isto é uma troika complacente e compassiva.

  5. Resta saber como será o contra-ataque de quem se habituou aos vícios do sistema e lhe saiu gorada as perspetivas de que tudo seria igual desta vez e se também não vão surgir outras surpresas de dentro do poder financeiro, político e abutres.

  6. dervich

    Uma questão curiosa que ainda não foi abordada em todo este caso:

    – Quando se colocava a possibilidade de assumir um default da dívida pública equacionou-se, para além das consequências imediatas (falências, miséria, etc), quais seriam os custos a médio/longo prazo em relação à obtenção de crédito para o país e para as empresas portuguesas.

    Pois a pergunta que agora se pode colocar é quando é que alguém voltará a confiar num banco português!… “O BPN é um caso isolado”, “Os Bancos portugueses estão entre os que apresentam maior solidez em toda a Europa”, etc, lembram-se?!…

    Quanto às comparticipações dos outros bancos no fundo de resgate deste banco, eu penso que a solução futura passará por aí:

    Sempre que suceda um caso destes, toda a atividade bancária sofrerá uma maior ou menor penalização por tabela, de modo a que se estimule a concorrência não fraudulenta, a vigilância mútua (já que a supervisão não funciona) e a honorabilidade e confiança de todo o sistema (uma vez que casos como este afetam a atividade de todos). A única hipótese é que os lobos se vigiem uns aos outros.

    Como é que se efetua a vigilância mútua? Existem inúmeros quadros que andam sempre a transitar de instituição em instituição e, principalmente num país como este, tudo se sabe. Aliás, não venham dizer que ninguém sabia nada desta história dentro do meio, é lógico que saberiam, só que nada foi dito porque há telhados de vidro, aqui e no estrangeiro…

    O Rendeiro e o Oliveira Costa bem diziam que eram bodes expiatórios, mas agora, se o Salgado não for protegido e começar a falar, isto vai parar longe…

  7. Dervich,

    «Existem inúmeros quadros que andam sempre a transitar de instituição em instituição e, principalmente num país como este, tudo se sabe.»

    Se fala no nível superior, existem alguns poucos quadros, quase todos com relações familiares mais ou menos próximas.

    Numa palavra, MÉEEEE!

  8. JP

    “Um Ricardo Salgado a quem, recorde-se, Sócrates pedira, via o primo José Maria Ricciardi, que não se esquecesse do “amigo” que estava em Paris, conforme soubemos por via das escutas a Ricciardi no âmbito do processo Monte Branco.”
    (JMF no Observador)

    Como todos sabemos, a família Salgado é proprietária da Caixa Geral de “Depósitos”, não é?

  9. António

    Há uns anitos faliu o “banco do PSD”, vulgo BPN, por fraude, com cegueira do BdP, nacionalização do banco (dos prejuízos) pelo Estado comandado pelo “socialista” Socrates e sua equipa (parte dela vinda do BES, de quem eram todos tão amiguinhos), e silêncio de complacencia do PSD e CDS.

    6 anos depois de intensa oscultação do sistema financeiro, com auditorias, testes de esforço, vigilancia de governos, mercados, etc…faliu o “banco do regime” (era amigo de qualquer governo), vulgo BES, por fraude, com cegueira do BdP, nacionalização encapotada do banco pelo Estado – a maioria do dinheiro que lá está arriscado é do Estado – comandado pelo “social democrata” Passos e sua equipa (parte dela vinda do BES, de quem eram todos tão amiguinhos), e silêncio de complacencia do PS e CDS.

    De resto, os bancos continuam a não poder falir ( e logo a não ter de serem responsáveis), e a servir para alguns poucos sonegarem centenas de milhões para contas pessoais em off shores inalcançáveis. E tal como no BPN os processos crime vão demorar muito até não dar em quase nada.

    O “Capitalismo corporativo de Estado” continua a ser “O” sistema (não há outro).

    6 anos depois quase nada mudou, quase nada se aprendeu. O pouco que mudou foi por via da EU, via Troika, e felizmente foi para ligeiramente melhor.

    A Europa continua a sua lenta deriva para o abismo, no qual Portugal já caiu ( e do qual nunca andou longe ao longo dos séculos).

    Fixe pá.

  10. politologo

    PROPAGANDA POLITICA

    Continuam com a vergonhosa Propaganda Politica feita com as falaciosas estatísticas do Desemprego Este Desemprego apenas se resolve com Investimento . Portugal é um País credível para o Investimento ? É óbvio que NÃO .
    Vejam o caso recente do BES que tinha o maior leque de investimentos feito em Portugal … A crise …
    O BES pediu ajuda e incompetentemente não lha deram , não obstante existirem soluções sem sacrifício dos contribuintes .
    Deixá-lo cair de podre . E logo surgem os abutres financeiros v.g. Goldman Sachs e similares …
    Entretanto os acionistas são discriminados e prejudicados com duvidosa legalidade .
    Um embrulhada em que o Governo se meteu e que vai sobrar para o PS …
    O Governo varreu para debaixo do tapete .
    Transferiu o problema do BES para todo o Sistema Financeiro !… A final para o País … logo se verá …
    E o “Banco Novo” tal como o BPN será vendido por um “tostão” …
    Entretanto milhares de prejudicados com duvidosa legalidade … e os investimentos são lançados às urticas com aumento do desemprego …
    E ainda a procissão vai no adro .

  11. Josand

    Acho que vão exigir sangue, principalmente face à (já em curso) guerra contra a Bolsa e Bancos Portugueses, pelo que poder ser que seja um despertar violento e se lance Ricardo Salgado aos leões e este leve consigo uns tantos… Caso contrário antevejo um cenário muito negro face ao descrédito dos investidores internacionais face à complacência moral e judicial com toda esta situação do BES, dos que o antecederam(BPN) e dos que daqui advirão.

  12. politologo

    O BES pediu ajuda e incompetentemente não lha deram , não obstante existirem soluções sem sacrifício dos contribuintes O que aliás irá acontecer ….
    Deixá-lo cair de podre . E logo surgem os abutres financeiros v.g. Goldman Sachs e similares Que também neste caso parece ter tido informação privilegiada …
    Entretanto os acionistas são discriminados e prejudicados com duvidosa legalidade .
    Salvo melhor entendimento , esta loucura de PPC e seus comparsas , feita com base em recente e virgem decreto (Dec-Lei nº 31-A/2012) legislado com a autorização da Lei 58/2011 , está inquinada por violar as alíneas b) e f) do nº 1 do artigo 165º , e em particular o seu nº2 ,
    da Constituição da Republica(?) Portuguesa ….

  13. dervich

    Pois, afinal foi uma sorte ainda não se ter revisto (anulado?) a Constituição!…Santa Bárbara quando chove…

    Pode-se sempre recorrer da decisão do BdP para o Tribunal Constitucional, bem eu dizia que a culpa ainda havia de ser dele.

  14. Politólogo,

    Se acha que o desemprego se resolve com investimento, invista o Politólogo do seu. Resolva o problema, que queixinhas não pôem cominda na mesa de desempregado nenhum.

    As palavras devem ser ditas por quem mostra, não por quem chora pela mama alheia.

  15. Pingback: Tino na banca | O Insurgente

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