Sic transit…

Entretanto passou despercebido este momento do governo. Os ATLs e as famílias, na Sexta-Feira, estavam preparados para poder arrancar na Segunda-Feira a operação normal. Já depois do fecho de expediente, o governo anuncia que não, só dia 15. E nesse dia 15, só os ATLs fora dos estabelecimentos escolares, uma distinção nunca antes feita na comunicação do governo e sem qualquer sentido, os restantes (nos estabelecimentos escolares) esperam até ao final do ano lectivo.

A decisão, avançou o primeiro-ministro, decorre de uma necessidade de preparar a organização dos espaços onde se desenvolvem estas actividades.” – esta declaração do primeiro-ministro é um disparate. Haveria certamente espaços que precisariam de mais tempo e espaços que já se tinham organizado. Como já se tinham organizado as famílias para ter um pouco mais de normalidade e os seus filhos nos ATL – ou não, numa escolha livre.

O que aconteceu foi muito simples, e é por isso que houve o adiamento e por isso que houve a separação entre ATLs em escolas e ATLs fora das escolas: a FENPROF não quer que as escolas abram e ameaçou o governo de uma barragem na comunicação social sobre uma suposta impreparação das escolas para abrir, culpando o governo sobre vidas supostamente colocadas em risco. E quem paga a factura desta loucura? Os pais, as famílias e o país que continua bloqueado enquanto tivermos o AVANTE para abrir mas as escolas fechadas. E foi isto, assim na Sexta-Feira e pela calada. E pouco mais de cinco linhas na imprensa.

Uma Visão de Sociedade Desprovida de Exigência, Mérito e Responsabilidade

A notícia de destaque de Segunda-feira desta semana do jornal i (tirada daqui) era sobre o fim dos chumbos até ao nono ano que consta no programa de governo e que terá certamente o apoio da esquerda (ainda se lembram da Catarina Martins ter escrito que “preferia ser operada por por um cirurgião que em vez de testado na escola tenha sido feliz na escola“).

Muito honestamente, não consigo perceber as motivações da implementação desta medida do fim dos chumbos até ao nono ano. A única explicação que me ocorre é que a esquerda em Portugal quer impor uma visão de sociedade que seja desprovida de exigência, de mérito e de responsabilidade… …e que as pessoas se mantenham na infância durante toda a sua vida.

Creio que qualquer pai, entre uma escola que possa chumbar  alunos e uma que não possa, não teria qualquer dúvida: colocaria os seus filhos na escola que pudesse chumbar os alunos. Aliás, seria muito interessante colocar esta mesma ideia em prática, como sugerida pelo Carlos Guimarães Pinto:

https://twitter.com/carlosgpinto/status/1189242884236730368

No entanto além da exigência, do mérito e da responsabilidade, também a liberdade e a liberdade de escolha em particular não fazem parte do repertório de valores da esquerda. Para a esquerda, há que forçar a sociedade a ser nivelada por baixo.

Eu continuarei sempre a defender a exigência, o mérito, a responsabilidade e a liberdade de escolha. Mesmo num dia em que a Catarina Martins precise de ser operada, eu defenderei que ela possa escolher de entre todos os cirurgiões mais e menos competentes, ser operada por aquele que dê mais gargalhadas.

Novas Festas Do Avante, Desta Vez Patrocinadas Pelos Contribuintes

Caros Contribuintes,

Caso alguma vez se questionem se o dinheiro dos vossos impostos estão a ser bem utilizados, coloquem de lado essas dúvidas perniciosas.

Com o alto patrocínio das entidades públicas abaixo (excepção à Fundação Mário Soares que é mais uma parceria público-privada):

Os contribuintes tem assim a oportunidade única de participar nas Nova Festa Do Avante duas seguintes conferências dedicadas ao Centenário da Revolução de Outubro > 1917 – 2017 (vale mesmo a pena ler os programas):

Espero que os contribuintes tenham ficado reconfortados com a dedicação e o espírito de missão que as entidades e universidades públicas demonstram na subversão educação e na transmissão do conhecimento e dos valores à sociedade.

Infelizmente, na altura em que escrevo este post, os caros contribuintes já não terão oportunidade de assistir à conferência: “Visions of October: 1917 from Bolshevism to Post-Crisis Capitalism” (cartaz abaixo). Mas não se preocupem – não faltarão novas oportunidades.

O Reconhecimento Do Fracasso Do Planeamento Central

Passos Coelho afirmou ontem que “há universidades que mantêm cursos que não fazem sentido“; que “haverá um dia em que essas instituições chegarão à conclusão de que não faz sentido manterem essa oferta“; e ainda que “não tenham dúvidas, há hoje um grande desacerto entre a procura que as empresas fazem de mão de obra qualificada, de oferta diferenciada de tipo superior e aquela que o mercado disponibiliza“.

Que outra coisa seria de esperar do planeamento central e da falta de um mercado livre e verdadeiramente concorrencial para o ensino superior?

Conversas com alunos

Tendo dado o testemunho de um professor do ensino público, resta ouvir os alunos. Transcrevo aqui, para quem não apanhou, o testemunho de uma aluna da Escola Secundária Gabriel Pereira em Évora. A peça foi transmitida pela SIC Notícias.

“Só esta confusão toda, as notícias, os próprios professores antes das aulas acabarem [que] estavam sempre com esta conversa… acho que isto perturba-nos um bocadinho. Eu, pelo menos, dou por mim […] estou a estudar para Português e penso.. será que vale a pena? Às vezes até fico com um bocadinho menos de motivação para estudar. Compreendemos o lado deles […], que se sentem injustiçados e com medo do que poderá acontecer no futuro […], mas pedíamos que compreendessem também o nosso.

Continue a ler “Conversas com alunos”

Conversas com professores

Transcrevo aqui uma conversa verídica tida ontem com uma professora de ensino especial (crianças com deficiência) a leccionar no ensino público que, tanto quanto sei, é uma excelente profissional. Teve recentemente de leccionar em Sintra (reside no Norte) na sequência do regime de mobilidade especial.

— “Eu acho muito bem que os professores se estejam a manifestar! É inaceitável o que está a acontecer. Acho muito bem esta greve!”
— MAL: “Então? O que é que reivindicas?“
— “As 35 horas e o regime de mobilidade especial. Mandar os professores de um lado para o outro!”
— MAL: “As 35 horas é uma questão de equidade entre funcionários públicos. À luz da lei deveremos ser, efetivamente, iguais. Mas vocês só trabalham 35 horas?”
— “35? Trabalhamos bem mais do que isso. Temos aulas para preparar e exames para corrigir.”
— MAL: “Então, na verdade, isso não vos faz qualquer diferença. Se já trabalham mais de 35 horas, certamente que a alteração para 40 é meramente estética. É uma questão de princípio. De equidade.”
— “É… mas o regime de mobilidade especial é inaceitável!”
— MAL: “Eu concordo contigo. Até vou mais longe. O atual sistema público de educação é inadequado, antiquado e injusto. O sistema deveria ser descentralizado, experimentalista, e as escolas deveriam ter total autonomia, podendo decidir que professores contratar e despedir, como leccionar as aulas e ainda que conteúdos leccionar, com algumas bases em comum, naturalmente. Mais, o financiamento seria entregue aos encarregados de educação e não às escolas, permitindo assim que alunos pobres possam ter as mesmas oportunidades de acesso às melhores escolas. Hoje em dia, eles são obrigados a frequentar uma determinada escola, por muito má que ela seja. Não me parece justo. E assim diminuíam também os mismatches na mobilidade. Um professor que vai de Lisboa para o Porto ao mesmo tempo que um do Porto vai para Lisboa, quando ambos poderiam provavelmente permanecer na sua cidade.”
— “Oh, mas isso demora muito tempo a implementar. Não seria para agora.”
— MAL: “Ok. No curto prazo. Coloca-te no papel do Nuno Crato. Que farias? Existem três hipóteses. 1) Despedir mais uns milhares de professores; 2) Continuar a atribuir horários zero; 3) Transferir professores para onde eles são necessários.”
— “Horários zero, nem pensar. Deprime ficar sem fazer nada.”
— MAL: “Então, que farias?”
— “Pois, não sei.”

A conversa terminou subitamente, tendo-se desvanecido o tom exasperado com que se iniciara. Não sei se a convenci, mas tentei transmitir a perspectiva de quem está de fora. É compreensível que os professores — e qualquer outra pessoa, especialmente pais e alunos — estejam descontentes com as recentes reformas da educação. Mais burocracia e mais trabalho improdutivo que acrescenta zero à formação dos alunos. O objectivo do brilhantismo estatístico, para que Portugal figure num percentil bacano nas estatísticas europeias. Uma enorme entropia introduzida no sistema, que mina o trabalho dos professores, a aprendizagem dos alunos e a paciência dos pais. Pais que não podem escolher o futuro dos seus alunos. Em boa verdade, todos deveriam estar a fazer greve, mas por outros motivos.

Sobre os tais cortes na Educação

Concordando com o Relatório do FMI no que toca à Educação, devo acrescentar que não admito que o Governo mexa nas propinas sem antes tratar dos professores, seja na quantidade, seja na remuneração A raison d’être do sistema de ensino é, em primeiro lugar, a formação, não o emprego dos formados.

O custo médio de um aluno nos ensinos básico e secundário, que ronda os 4415 euros, deve servir de base para uma reforma estrutural, que reduza custos, aumente a concorrência e, sobretudo, a autonomia e a competência das escolas. O mesmo vale para o ensino superior onde, a serem aumentadas as propinas, não poderão deixar de ser criados/reforçados mecanismos – envolvendo ou não a banca privada – que possibilitem a todos o acesso. Se é verdade que uma visão estritamente social condenou a geração presente, uma visão estritamente tecnocrata nesta área poderá vir a condenar a geração futura.

Acerca do centralismo na educação em Portugal

“O ministro já não é director de todas as escolas” de Alexandre Homem Cristo (Cachimbo de Magritte)

Ao contrário de muitos dos países europeus, as nossas escolas não têm autonomia na gestão do seu financiamento público. Os directores não têm autonomia para escolher os professores, ou para despedir os que não cumprem as suas funções. Nem têm autonomia para escolher, despedir ou agir disciplinarmente sobre algum do pessoal não-docente. E, quanto aos horários escolares, nem sequer a sua gestão é feita pela escola.

O desfasamento entre o discurso e a realidade não deixa de ser intrigante. Apesar do aparente consenso que a questão gera em Portugal, o nosso sistema educativo não acompanhou a expansão da autonomia nas escolas que marcou a década de 1990 na Europa. Se todos concordam, se está na lei desde 1989, e se desde há muito preenche o discurso dos nossos governantes, por que razão não existe na prática?

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