Contracção da economia americana?

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O PIB dos EUA contraiu -0.7% no 1º trimestre de 2015. Olhando para os componentes do PIB, destacam-se os seguintes factores:

  1. Valorização do USD, gerando um défice na balança comercial fruto da perda de competitividade: em particular, exportações caíram 8% e importações subiram 6%. Esta tendência iniciou-se com o anúncio do QE por parte do BCE, depois do Fed, do BoJ e do BoE terem já iniciado programas de compra alargada de activos. Um eventual problema é um cenário de beggar-thy-neighbour, com a política monetária a ser conduzida por forma a causar sucessivas desvalorizações cambiais (QE25?).
  2. Queda do preço do petróleo. Se a queda do preço do petróleo aumentou o rendimento disponível dos países consumidores líquidos de petróleo, o que é o caso do EUA, reduziu também as perspectivas de rentabilidade de produtores de petróleo, o que também é o caso dos EUA. Isto afecta particularmente os EUA porque o aumento da produção de petróleo registada nos últimos anos foi feita graças ao fracking, uma técnica inovadora, mas que acarreta custos bastante superiores à extracção normal. O efeito foi uma contracção da formação bruta de capital fixo (investimento) no sector não-imobiliário. Investimento em estruturas (poços para extracção, etc.) contraiu mais de 20%.
  3. Crescimento incipiente do consumo interno. Se o sector do imobiliário começa a recuperar, com o preço das casas a subir, o consumo interno regista um crescimento tépido. As razões são várias, entre as quais o facto da liquidez disponibilizada via QE estar a ser redireccionada para os mercados de capitais, e não para os mercados de produto através do crédito ao consumo, provavelmente porque as famílias ainda estão a desalavancar da última crise financeira.

Em retrospectiva, tendo em conta que o balanço do Fed expandiu mais de 2 triliões, o crescimento de -0.7% PIB é tudo menos meritório. Seja como for, uma contracção da economia americana não auguraria nada de bom.

10 pensamentos sobre “Contracção da economia americana?

  1. Ricardo Rodrigues

    Mário, algumas notas que penso serem pertinentes:

    1) A política monetária destinou-se não só a estimular o GDP per ser, mas também a estimular o mercado de trabalho e penso que aí os resultados são bastante melhores do que no GDP;

    2) Supostamente, houve factores como tempestades que tiveram efeitos pontuais;

    3) O GDP americano é anunciado em termos QoQ anualizado, o que amplifica pequenas variações. Segundo a Bloomberg, a variação nominal YoY foi de 3.6%, o que pode mudar um pouco a leitura;

    4) O petróleo contribuiu efectivamente para a quebra de investimento, dado que muitos projectos de extração foram adiados, uma vez que o preço do petróleo está a baixo do break-even;

    5) Penso que os EUA não são um consumidor líquido de petróleo. Aliás, julgo que actualmente estão neutrais.

  2. A. R

    Pior é impossível. Este Obama, usurpador e incapaz, devia ser posto a ferros ou julgado por traição.

  3. Baptista da Silva

    O PIB da UE são 6 triliões, nunca, mas mesmo nunca, se emita moeda acima desse patamar.

  4. Nuno

    Ricardo Rodrigues, os ganhos de emprego nos Estados Unidos devem ser analisados com muito cuidado. De facto, a participação na força da trabalho está historicamente baixa, com a queda da taxa de desemprego a conseguir-se com o aumento dos inactivos e com ganhos de postos de trabalho superiores à média na restauração e hotelaria, mal pagos, e incipientes na indústria qualificada, bem pagos.

  5. Ricardo Rodrigues

    Nuno,

    Concordo que seja necessário cuidado a analisar os dados. Estão a ser criados empregos nos EUA, os payrolls confirmam-no. No entanto, o custo do trabalho ainda não arrancou como se esperava, o que vai de encontro ao que diz.

    Por outro lado, houve muitos empregos criados desde 2007 relacionados com explorações petrolíferas e outras empresas na cadeia de valor, que podem agora estar ameaçados ou condicionados com os novos preços. Se se virem os números mostram que as zonas que mais emprego criaram esão relacionadas com o petróleo (p.e. Texas).

  6. Lucas Galuxo

    O PIB americano no primeiro trimestre do ano passado teve um comportamento mais negativo do que este ano. Depois recuperou e muito. Não se cria riqueza com as pessoas fechadas em casa cercadas de neve.

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