O lado perverso da “informação (?) viral”

Corre por aí um vídeo onde uma série de crianças se envolvem numa cena, aparentemente, de violência gratuita. Há uma vítima, rapaz, que é objecto de agressões esporádicas, com alguma gravidade, praticadas por raparigas, sob o olhar tutelar de uma série de rapazes que só lateralmente interferem, mas que asseguram que o perímetro se mantém fechado e que o agredido compreende que a ameaça pode ser maior.

Alguém filmou a cena e, por razões que se desconhecem, o vídeo foi parar ao Facebook, ganhando uma dimensão viral. Pelo meio, O Observador apressou-se a divulgar o ocorrido, lançando o debate, mas prestando um péssimo serviço, ao incluir na notícia uma versão do vídeo. Admito que muito rapidamente outros meios de comunicação social não resistam à tentação de ir atrás da “cache” jornalística.

A violência entre crianças, mais ou menos grave, deve ser resolvida no foro da escola, da família e das autoridades. Considero lamentável, para o crescimento saudável, quer das vítimas, quer dos agressores, a exposição do que ocorreu a todo o país, e o clima de justiça popular que se instaurou. Considero grave que os media estejam a expor as crianças ao Tribunal Popular, divulgando o vídeo, e conduzindo à identificação dos personagens, menores. O que estamos todos a fazer, no quadro da nossa indignação, é bem mais grave do que a violência praticada e exibida no vídeo. Haja bom-senso.

14 pensamentos sobre “O lado perverso da “informação (?) viral”

  1. Luís Lavoura

    Hmmm… E isto só se aplica para as crianças e não para os adultos? Porquê? E com que critério?

  2. Concordo em absoluto com o post. Adicionava ainda que pouco se conhece sobre as circunstâncias em que as agressões decorreram e que muitas vezes este tipo de situações resultam da necessidade de mediatismo dos intervenientes que são fortemente influenciados pela vertigem da fama que resulta da utilização dos novos meios de difusão coletiva. Por principio, e exatamente por isso, não vejo estes filmes (e este caso não foi exceção, li apenas a notícia) pois é exatamente o número de visionamentos conseguidos que estimula alguns comportamentos deste tipo.
    Relativamente à questão do Luis Lavoura acho que a opinião expressa no post é aplicável a todas as idades, sendo que a sua aplicação em crianças e jovens é com certeza mais óbvia dada a sua importância para a formação do carater e personalidade, as consequências da sua exposição pública e a sua imputabilidade legal.

  3. Luís Lavoura

    a opinião expressa no post é aplicável a todas as idades

    Pois, a mim também me parece.

    Infelizmente, vejo muitos exemplos práticos do contrário – de exibicionismo e voyeurismo descarados dos (alegados) crimes alheios.

  4. Tiro ao Alvo

    Cá está o Lavoura a remar contra a corrente, por que sim. E a família não o chama à razão.

  5. Caro Luis Lavoura,
    O texto refere-se à situação concreta do vídeo viral de violência entre crianças adolescentes da Figueira da Foz. Não está em causa o problema dos adultos, onde já tenho emitida opinião que está muito em linha com o presente post, de defesa quer da presunção de inocência quer da privacidade e direito ao bom nome. O assunto é particularmente sensível, como aliás bem refere o “A República Cadáver” porquanto estamos na presença de crianças, onde o nosso dever de cuidado deve ser reforçado. Espero que agora não venha falar que o post deveria igualmente opinar sobre o direito dos animais.

  6. PPorto

    “Crianças”? Não, não são crianças, são adolescentes, e só por jogo semântico-legal podemos usar “crianças” para significar “menores de idade”.
    Pode ser que a melhor maneira de os próprios e outros naquela idade perceberem a estupidez e a bestialidade daqueles atos seja precisamente a exposição pública.
    Muita grande besta não seria hoje uma grande besta se se pudesse ter visto a si mesma assim exposta quando ainda era uma “bestazita”.

  7. Joaquim Amado Lopes

    Concordo totalmente com o PPorto. Os envolvidos não são crianças, são adolescentes e já têm consciência do que fazem.
    A melhor forma de lidar com casos como este é precisamente identificar os responsáveis perante o público, de forma a que recebam a justa condenação social pelo que fizeram. Serve de lição para eles e para os outros.

    E se a vítima não se defendeu nem se afastou devido a ameaça de violência maior (só vi um pouco do vídeo porque não tenho estômago para ver uma pessoa ser agredida por várias), então o que aqueles cobardes merecem é que os familiares da vítima façam justiça. Um sermão por parte de um juiz e/ou umas sessões com assistentes sociais ou psicólogos não é justiça.

  8. Manuel Costa Guimarães

    Rodrigo, neste género de caso, em que são adolescentes bem conscientes dos seus actos, até deveriam passar o vídeo e respectivas caras em todos os jornais e social media. Humilhá-los até ao psiquiatra.

  9. Pingback: Da violência repetida | BLASFÉMIAS

  10. José7

    Crianças? O que o vídeo mostra são umas bestas em matilha mascaradas de adolescentes – e sublinhe-se a palavra matilha.

  11. Respeito a opinião de todos, mas não me agrada o julgamento popular, feito de pensamentos fáceis e correntemente injustos. Já ouvi gente que considero moderada embarcar neste caso em considerações chocantes, e não gosto de ver os pais a terem de se explicar à imprensa, ou a serem tutelados pela ira da população, em vez de estarem concentrados no que é importante, tira consequências para a educação das crianças. Que são menores. Acresce que o nível de violência é moderado, está longe de ser muito grave, merece punição, censura e castigo, mas não apreciações ao estilo da Santa Inquisição.

  12. Joaquim Amado Lopes

    Rodrigo Adão da Fonseca,
    Insiste em usar o termo “crianças”. Adolescentes de 15-17 anos são menores mas não são de forma alguma crianças. E já estão numa idade em que a “educação” que os pais lhes possam dar já não se aplica. Não estamos a falar de um miúdo de 5 anos a fazer birra num supermercado por os pais não lhe comprarem um chocolate.

    A parte que vi do vídeo mostra muito mais do que violência física. Mostra cobardia dos agressores e gozo pela humilhação pública a que estavam a sujeitar a vítima.
    Se a vítima fosse filho meu, a única justiça que poderia aceitar como tal seria eu próprio esbofetear cada um dos agressores em público até mostrarem genuíno arrependimento. Se algum dos agressores fosse meu filho ou minha filha, idem.

    Repito: não são crianças, têm perfeita noção do que fizeram (se não têm devem ser mantidos enjaulados) e, se não respeitam os outros, então que aprendam a não o fazer coisas daquelas por receio das consequências.

    Por vezes sinto pena por não ter filhos mas frequentemente sinto alívio. Esta é das situações em que sinto alívio porque ter filhos como aqueles animais me faria sentir muita vergonha de ser pai.

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