110 pensamentos sobre “Notícias da “espiral recessiva”

  1. João Galamba, o Especialista em Economia

    João Galamba em Outubro de 2010, no Eixo do Mal, a comentar o PEC III de Sócrates:
    Antecipando que as medidas desse PEC III iriam trazer recessão, mais desemprego e degradação da situação dos portugueses, conclui desta forma: “É um orçamento economicamente desastroso, mas financeiramente necessário”!!!
    Muito bom.
    Mas há mais pérolas deste deputado.
    Vêm já a seguir.

  2. jo

    Os salários desceram 11% e os “troikanos” dizem que têm de descer mais.
    O salário mínimo esteve congelado e os troikanos dizem que qualquer subida pode aumentar o desemprego.
    Todos os orçamentos têm cortes de vários milhões no Estado Social e os troikanos dizem que não chega, têm de se fazer mais cortes.
    A pensões levaram cortes enormes mas os troikanos dizem que não são sustentáveis e têm de descer no futuro.
    As falência fraudulentas de bancos e grandes grupos económicos estão a dar-se a um ritmo ligeiramente superior ao de um por ano (já anda tudo a jurar que o Montepio está sólido).
    Realmente não é uma espiral recessiva, é uma descida descontrolada,.

  3. O Especialista em Economia

    João Galamba em artigo de opinião no Correio da Manha de 16.05.2011
    “Para além de tudo isto, importa acrescentar que não é preciso que um partido escreva que quer privatizar a segurança social para que tal venha a acontecer. Ainda que não seja um objectivo declarado, a privatização pode ser um resultado inevitável de determinadas políticas. Tendo em conta que o PSD propõe a redução da TSU em 4pp e, simultaneamente, o plafonamento da segurança social, a redução de receitas é tão significativa que, na prática, o PSD está a propôr a falência financeira do sistema. Isto é típico da direita: pega-se num sistema justo e financeiramente viável, que, depois de privado de receitas, se torna, de facto, insustentável.”

  4. O Especialista em Economia

    João Galamba em 28.05.2011, antes das eleições, sobre a flexibilização do despedimento individual contida no acordo celebrado com a Troika:
    “O PS vai cumprir o que assinou”.

  5. Jo,

    Antes 11% a menos que 0%. Não são os comunistas que dizem que é necessário dar um passo atrás para andar dois em frente? (V. I. Ulianov, aliás Lenine)

    Nunca ouviu falar do triunfo do Comunismo, a chamada Nova Política Económica (Новая экономическая политика, 1921–1928)? Os danados dos comunistas privatizaram nesses dias a grande parte das terras (quintas até 20 trabalhadores eram toleradas).

    Quando a NPE foi terminada pelo Estaline aconteceu o Holohomor, a grande fome.

    Ora, se os próprios comunistas em países comunistas acham que é melhor privatizar, por que raio acha o Jerónimo que se deve manter tudo na esfera pública. A múmia de lá era marginalmente mais esperto que as múmias cerebralmente mortas de cá.

  6. Jo,

    O comentário anterior, para ser claro, refere-se a isto: se o Estado quer segurança social que funcione, saia do negócio da segurança social e deixe que as pessoas escolham livremente a protecção que desejam auferir pelo que desejam pagar.

    Se o Estado quer que os salários aumentem, deixe de colocar entraves à criação e à operação de empresas e, em cinco anos, deixamos de ter desemprego. Há exemplos históricos que mostram que menos que os cinco anos é o tempo de reacção positiva de países medianos à liberalização: Japão anos 50, Singapura anos 70, República Dominicana de 2000.

  7. lucklucky

    A espiral recessiva continua desde o fim dos anos 90. O Défice é maior que o Crescimento.

    E nem nos vamos detalhar na qualidade de tal crescimento.

  8. tina

    “acho que encotramos os “abrantes” do psd!”

    ahahaha, quando finalmente encontra algo neste blog de apoio incondicional ao governo apelida-os de “Abrantes”. Bem visto!..

  9. Fernando S

    “Sobra” que podiamos estar na situação da Grécia e não estamos !
    Antes cresciamos muito menos do que a média europeia e agora estamos acima.
    As medidas do BCE são ainda muito recentes e o principal impacto a curto prazo é na redução dos juros da divida publica.
    A baixa do preço do petroleo permitiu sobretudo baixar o valor das importações. O crescimento da procura interna e das exportações ja vem detras, tem pouco a ver com o preço do petroleo.
    De qualquer modo, é importante que o pais esteja agora em condições de tirar o melhor partido das oportunidades e de condições mais favoraveis.
    Não deixa de ser sintomatico como em pouco tempo os argumentos passaram do anuncio da “espiral recessiva” para a desvalorização do real crescimento economico !

  10. Ricardo

    Agora estou a perceber que este blog é incondicionalmente pró-austeridade sem espírito crítico. A recessão existiu de facto. Portugal perdeu PIB. Ter tido um crescimento de 0.4% no 1º semestre de 2015, e ter aguentado acima de zero nos mais recentes, deixa antever que bateu no fundo e que agora vamos começar a recuperar. Mas ainda falta para recuperar o PIB perdido.
    Não esquecer que estamos num contexto de petróleo a metade do preço, desvalorização do euro e QE do BCE que ja permitiu o governo aliviar muita da dívida que tem com o FMI. O crescimento deverá manter-se, mas fraquinho.
    Temos é de aguardar pelo programa de investimento europeu de €300 mil milhões de euros que se vai iniciar brevemente. E este pacote só vai começar agora porque a transferência de riqueza da periferia para a Alemanha já deu o que tinha a dar e a Alemanha começa a dar sinais de “empate”. Se o programa de investimento tivesse sido feito em 2009, não teríamos tido recessão sequer…e não teríamos mais dívida/PIB do que temos agora. A diferença é que teríamos um sector privado com muito mais força do que o que temos agora.

    Se a vossa opinião é essa só para se alinharem com o Governo, fiquem sabendo que o próprio Passos Coelho também reclama por programas de investimento europeus e não cumpriu metade do que a Troika exigia. Este Governo simplesmente teve de jogar com as cartas que lhe deram. Estamos reféns da Europa.

  11. Lucas Galuxo

    Podiamos estar na situação da Grécia mas também poderiamos estar na situação de Espanha: a crescer a sério e o com o core do tecido financeiro-empresarial a responder a vozes nacionais. Chame-se-lhe espiral recessiva ou outra coisa qualquer. Abalaram 30 mil milhões de PIB em 3 anos, abalaram centenas de milhar de portugueses e abalou a vontade própria. Havia outro caminho http://www.expansion.com/2015/02/26/empresas/banca/1424982687.html

  12. Fernando S

    Ricardo : ” A recessão existiu de facto.”
    Sim. Foi a consequencia da situação de quase bancarrota para que o pais foi levado pelas politicas irresponsaveis daqueles que agora querem dar lições de ” incondicionalmente anti-austeridade sem espírito crítico” para, dizem eles, por instantaneamente o pais a crescer a taxas que por sinal não conseguiram no tempo das “vacas gordas” (antes da crise de 2008).

    Ricardo : “Mas ainda falta para recuperar o PIB perdido.”
    Claro. Não se recuperam em pouco tempo os desequilibrios e os desajustes de anos e anos de despesismo e estatalismo. Mas a direcção é agora a boa. Mas precisamos de continuar a ajustar. Falta ainda muito para a nossa economia estar em condições de crescer mais e de forma sustentada.

    Ricardo : “Temos é de aguardar pelo programa de investimento europeu de €300 mil milhões de euros que se vai iniciar brevemente.”
    Venha ele. Mas, entretanto, tivémos de fazer o necessario para evitar a bancarrota e para ajustar a economia. Se tivéssemos ficado à espera dos manás europeus que caem do céu quando os deuses decidem não estariamos agora sequer em condições de poder aproveitar as oportunidades. E não se caia na ilusão de que os programas europeus da BCE e da UE são as panaceias que vão resolver os males estruturais da nossa economia. Vimos no passado os efeitos perversos dos “fundos estruturais”.

    Ricardo : “Este Governo simplesmente teve de jogar com as cartas que lhe deram.”
    E não as jogou tão mal como isso !

    Ricardo : “Estamos reféns da Europa.”
    Fomos nós que nos pusémos nessa situação. Pelos vistos o Ricardo aposta no mesmo modelo que nos levou até ela.

    Ricardo : “a transferência de riqueza da periferia para a Alemanha já deu o que tinha a dar”
    Até agora a transferencia foi ao contrario. Foram os paises do Norte, com destaque para a Alemanha, que emprestaram ainda mais dinheiro aos paises da Europa do Sul.

  13. jo

    Francisco Colaço
    A sua colagem à ideologia estalinista para justificar o atual estado de coisas só vem acentuar a impressão que temos uma política seguida por fanáticos, para quem tudo serve de justificação, menos a realidade, essa não lhes faz a vontade.
    O que se segue? Vai dizer que Mussolini era mau mas pelo menos os comboios andava a horas?

  14. Fernando S

    Lucas Galuxo : “Abalaram 30 mil milhões de PIB em 3 anos, abalaram centenas de milhar de portugueses e abalou a vontade própria.”
    Foi o que “sobrou” das politicas irresponsaveis anteriores.

    Lucas Galuxo : “Havia outro caminho.”
    O “caminho” do governo PP de Espanha é essencialmente o mesmo : austeridade e reformas. A Espanha não teve um resgate tipo Troika porque as suas finanças publicas não chegaram aos descalabro das dos outros paises assistidos. Mas também teve um resgate, para acudir à grave crise do sistema bancario. O Ministro espanhol da economia faz um pouco de demagogia, sobre-valorizando a ausencia de um programa tipo Troika e puxando pelo sentimento nacionalista da “dignidade nacional”, para tentar fazer face à demagogia ainda maior daqueles que, como o Podemos, criticam a politica de austeridade do governo dizendo que este está enfeudado aos interesses da Alemanha.

  15. tina

    “Sem as medidas do BCE e a baixa do preço do petróleo o que sobra?”

    sobrava uma Grécia.

  16. Lucas Galuxo

    Fernando S : “O “caminho” do governo PP de Espanha é essencialmente o mesmo : austeridade e reformas”
    A austeridade e as reformas eram necessárias. Na altura, o Presidente da Republica e a oposição é que diziam que não. Se tivessem sido responsáveis, e patrióticos, nesse momento decisivo, Portugal não se teria transformado numa mera colónia da área de influência do Partido Comunista Chinês e outros.

  17. tina

    “Abalaram 30 mil milhões de PIB em 3 anos, abalaram centenas de milhar de portugueses e abalou a vontade própria.”

    Porque é que é sempre preciso explicar-vos tudo?

    1) 30 mil milhões de PIC abalaram? Ainda bem, era tudo dinheiro emprestado. Agora já não precisamos de fazer crescer a economia à custa de endividamento, tal como PPC tem dito muitas vezes.
    2) Já no tempo de Sócrates se falava que a emigração tinha voltado ao tempo de Salazar. O êxodo da emigração começou sob o governo socialista… como não podia deixar de ser, claro.
    3) Só abalou a vontade da esquerda, que percebeu que não consegue continuar a mentir e a enganar o eleitorado, os bons resultados da austeridade estão à vista para quem quiser ver.

  18. Ricardo

    Eu nao xuxalista nem nada disso e as reformas tinham de ser feitas e ha muito tempo. Agora, nao podemos confundir a mensagem que o governo teve de passar muitas vezes (para se alinhar com a troika, de forma a garantir boa receptividade na política europeia) com o que o PPC e a coligação acreditam na realidade. A política é um jogo muito cínico mas que tem de ser jogado e com inteligência. Por um bem maior. O trabalho deste governo foi bom, mas isso nao quer dizer q eles eram a favor da austeridade. Infelizmente, a europa está obcecada com o défice de 3% e Portugal nao tem independência suficiente para decidir o seu rumo sozinho. É importante ter essa noção. Teria sido melhor sem austeridade (mas com reformas, claro)? Sim. O governo podia faze-lo? Não.
    Tão simples quanto isso.
    Em relação à Alemanha, houve de facto transferência de capital e recursos humanos da periferia para lá. A maioria dos empréstimos que Portugal recebeu da troika (uma percentagem veio da Alemanha) está em depósitos e nao será usado sequer. A transferência de riqueza para a Alemanha foi substancial e teve consequências muito positivas no PIB.

  19. Fernando S

    Lucas Galuxo,

    Sinceramente, não percebo a que altura, a que Presidente e a que oposição se refere.
    O que sei é que, actualmente, as alternativas politicamente viaveis ao governo actual dizem que põem o pais a crescer sem austeridade e sem reformas.

    Obviamente que nem Portugal nem a maioria dos paises que atraem capitais e investimentos chineses são colonias do Partido Comunista Chines…
    O mundo evolui, a China mudou muito nas ultimas décadas (e vai continuar a mudar, esperemos que no sentido de ser uma sociedade cada vez mais aberta e da introdução da democracia politica), o investimento chines, como todo o investimento estrangeiro em geral, é positivo para um pais como Portugal, com necessidades de capitais e de empreeendimentos geradores de emprego e riqueza.

  20. Fernando S

    Ricardo : “O trabalho deste governo foi bom, mas isso nao quer dizer q eles eram a favor da austeridade.”
    Se “foi bom” é natural que se apoie este governo contra aqueles que o querem substituir por outro que faria pior. Não é apoio “incondicional”, é apoio sem ambiguidades e consequente !
    Ninguém é a favor da austeridade pela austeridade. O estado a que o pais chegou tornou indispensavel a austeridade. Com o apoio da Troika foi possivel ter menos austeridade do que aquela que teria acontecido sem o apoio da Troika.
    Não percebo como se pode criticar este governo pela politica de austeridade e dizer ao mesmo tempo que “não era a favor da austeridade”…
    Mas pouco importa : a favor ou não, aplicou austeridade e ainda bem que o fez.
    Foi forçado e obrigado pela Troika ?
    Não foi. Os governos portugueses, o de José Socrates, que negociou e assinou o programa da Troika, e o de Passos Coelho, que o aplicou, podiam ter recusado ou saltado fora. Assumindo, naturalmente, as consequencias. Não o fizeram, e ainda bem. Porque se o tivessem feito estariamos hoje muitissimo pior e muitissimo mais dependentes da esmola e das exigencias de outros. Veja-se a situação da Grécia e o buraco para onde caminha rapidamente !

  21. Fernando S

    Lucas Galuxo,
    Obrigado pela “ajuda”… Não sou bruxo !
    Tratou-se de um discurso de posse, cheio de generalidades e lugares comuns. Alguns são consensuais, outros discutiveis, varios são errados e demagogicos. Não gostei.
    Mesmo assim, votei das duas vezes por Cavaco Silva e não me arrependo.
    Porque as alternativas teriam sido piores, muito piores !
    Desde cedo que a austeridade se apresentou como uma necessidade.
    Uns tiveram mais consciencia disso, outros menos.
    O que interessa é que o governo de Passos Coelho fez uma politica mais adequada do que aquela que fora feita e teria sido feita pelo Partido Socialista e que o Presidente da Républica Cavaco Silva, embora nem sempre tenha sido feliz nas declarações e nas iniciativas que tomou, esteve bem ao não ceder às pressões das oposições para demitir antes de tempo um governo legitimo e com uma solida maioria parlamentar (o que não se pode dizer do PR Jorge Sampaio quando demitiu o governo de Santana Lopes).

  22. Ricardo

    Eu nao critiquei o governo pela politica de austeridade. Critico a europa. Nós não tínhamos escolha. Ou era isso ou sair do euro, mudar para o escudo mas ter de pagar divida em euros: suicídio.
    A europa devia ter feito uma politica expansionista logo de inicio. Portugal sozinho nao poderia faze-lo claro: nao tinha liquidez e com uma balança deficitária, só iria deixar fugir mais dinheiro.
    Ainda nao ouvi argumentos sérios a favor da austeridade. Repito: isto nao é nenhum ataque a este governo.

  23. Lucas Galuxo

    Francisco S,
    Eu também já votei Cavaco Silva. Estou muito arrependido. Acho que o seu cinismo político contribuiu decisivamente para a instabilidade que entregou o país às ortodoxias da Troika e que riscou do mapa, praticamente, o interesse estratégico económico com nome Portugal.

  24. Fernando S

    Ricardo,
    A Europa e os restantes paises europeus não teem nenhuma culpa pelos nossos erros, pelas politicas despesistas e estatalistas que os nossos governos levaram a cabo durante anos e anos.
    Portanto, cabia-nos a nós por ordem nas nossas contas e fazer as reformas necessarias para flexibilizar a nossa economia.
    A UE, nomeadamente através da Troika, dispos-se a ajudar-nos emprestando-nos ainda mais dinheiro e em condições bastante favoraveis.
    Na sequencia da crise de 2008, a UE e alguns paises membros, incluindo Portugal, cometeram o erro de terem lançado medidas de caracter expansionista pensando com isso combater efeicazmente a crise. O resultado foi terem agravado ainda mais o estado das finanças publicas dos respectivos paises, contribuindo para a crise das dividas soberanas e do Euro e limitando assim a margem orçamental para baixar a carga fiscal e para fazer outras reformas implicando custos sociais (mercado de trabalho, pensões, etc).
    Depois deste desvario, a UE e o BCE fizeram bem em não terem embarcado numa nova fuga para a frente, injectando mais dinheiro em economias que não estavam preparadas para o aproveitar de forma produtiva e eficaz. De resto, o dinheiro para tal não existia ou teria de ser mobilizado carregando fiscalmente os contribuintes dos paises do Norte. Estes contribuintes consideravam ter ja contribuido o suficiente para ajudar os paises do Sul e, de qualquer modo, um agravamento da fiscalidade nestes paises teria tido efeitos contraproducentes para o conjunto da economia europeia.
    Foi por isso bem mais ajuizado e prudente ter levado a cabo um conjunto de programas de austeridade e reformas em varios paises europeus, não apenas os resgatados pela Troika, que tinham as suas economias desequilibradas.
    Assim, as condições destes paises são hoje bastante mais favoraveis (até a Grécia fez progressos … até à chegada do Syriza !…).
    O Presidente do BCE, Mario Draghi, sempre disse a quem o quiz ouvir que o BCE estava preparado para agilizar a politica monetaria mas que era indispensavel que, antes e durante, os paises do Euro fizessem a consolidação orçamental e as reformas em falta de flexibilização da economia. O programa actual de expansão monetaria do BCE não vem por isso tarde de mais e, vendo bem, os montantes envolvidos até são relativamente modestos e prudentes.
    O que é preciso perceber é que a Europa não é a panaceia para tudo e que, de qualquer modo, a UE é o somatorio dos seus Estados membros pelo que cada um destes tem de fazer internamente o trabalho necessario para que as respectivas economias estejam em condições de poderem tirar partido das vantagens de um mercado alargado e de uma moeda unica.

  25. Fernando S

    Lucas Galuxo,
    Portanto, pelo que vejo, concorda com as declarações mais infelizes e desestabilizadoras de Cavaco Silva e acha que este até devia ter demitido um governo legitimo e com uma solida maioria parlamentar.
    Claramente, não votámos em Cavaco Silva pelas mesmas razões !…
    A verdade é que foram as “ortodoxias da Troika” que permitiram que Portugal tivesse evitado a bancarrota e esteja hoje, pela primeira vez desde ha mais de 2 décadas, ja a crescer ao nivel da média europeia.

  26. Ricardo

    A Grécia começou a recuperar depois de perder mais de 20% do PIB…
    O estimulo à economia em 2009 foi muito fraco e nao foi feito em conjunto c expansão monetária. Daí o euro ser tao caro naquela altuea e ter impedido a europa de ser competitiva. Foi por essas duas razões que o programa de investimento nao funcionou. Este agira vai ser de 300€ mil milhões. Incomparável!
    Mais uma vez: reformas e austeridade são coisas completamente diferentes. Nao confundam.
    Daí até podemos comparar a politica europeia com a americana. Fizemos austeridade: aumentamos a divida para o PIB e tivemos recessão na zona euro (3excepção para a Alemanha) à qual ainda nao recuperamos. EUA: tiveram programas de investimento, aumentaram a divida em relação ao PIB (uma oscilação inferior à nossa), mas estão mais ricos que nunca.
    Portanto, foi só desperdício de tempo…que ainda nao recuperamos como zona euro, muito menos Portugal

  27. Jo,

    Realidade em 2015: estamos a crescer, mesmo se pouco. O desemprego, no longo prazo, vai descendo, descontando variações sazonais, como as tradicionais nos primeiros quatro meses do ano. Temos dinheiro para uns meses no cofre, mesmo que seja emprestado. Os juros nunca estiveram tão baixo.

    Realidade em 2011: Estamos com seis dias de pagamentos do Estado nos cofres. Não temos dinheiro para pagar os salários de Junho e ninguém no-lo quer emprestar. Estamos a um mês de ter militares e polícias armados nas ruas a fazer o que as legiões faziam nos últimos dias do Império Romano: saquear. As pensões não serão pagas em Junho. O desemprego sobe consistentemente desde 2006.

    Realidade da Grécia em 2015: negaça certa em Maio, a menos que faça das tripas coração e se hollandize. Não pagará salários nem pensões no fim de Maio a menos que o BCE empreste dinheiro, já que os privados (ciosos de receber de volta o que emprestam por razões atendíveis) não o querem fazer. O último pagamento ao FMI foi feito com dinheiro do fundo de emergência. O FMI já anunciou que se retira da dita solução grega.

    Prefiro a realidade em 2015. A portuguesa.

  28. Ricardo,

    «PARIS — The eurozone economy grew modestly in the first quarter, an official report showed on Wednesday, as a surprisingly strong showing in France helped to compensate for a slowdown in Germany.

    The economies of Finland and Greece, however, contracted for a second straight quarter, meeting the technical definition of a recession.»

    Já não está a crescer. Foi syrizada (empalada pelo buraco anal com uma grosa cheia de mel e formigas).

  29. Fernando S,

    Pondo alguma ênfase no facto de ser apenas no consulado de Pedro Passos Coelho que a despesa do Estado pela primeira vez diminuiu desde que há memória demonocrática (sim, grafia intencional!), a austeridade não foi do Estado. Foi nossa.

    A mesma raposa continua a ir às mesmas galinhas. Desta vez leva mais galinhas. E se bem que esta perdeu umas gramas, continua a ser uma g’anda e esfomeada raposa. Essencialmente, cada três galinhas portuguesas têm que alimentar uma raposa.

    Precisamos de menos raposas. Só assim as galinhas poderão aumentar.

  30. Fernando S

    Ricardo,
    Quando um pais ou um conjunto alargado de paises esta ha muito a gastar mais do que produz torna-se indispensavel reequilibrar as contas e ajustar a economia. A austeridade é apenas isso.
    Sem este trabalho prévio não é sustentavel ter politicas monetarias expansionistas e programas publicos de relance das economias.
    E felizmente que os outros paises da Europa não estiveram disponiveis para continuar eternamente a sustentar o despesismo e a ineficiencia de alguns dos outros paises, incluindo o nosso. Porque, se continuassem a dar-nos dinheiro a fundo perdido e sem condições, não teriamos sequer feito os ajustes que fizémos e estariamos por isso hoje ainda muito pior do que estavamos.
    Mas mesmo que os paises do Norte, que nos anos 1990 e 2000 fizeram muitas das reformas que nós então ignoravamos alegremente, quizessem faze-lo, os montantes necessarios seriam simplesmente incomportaveis… Não percamos de vista que outros paises, de bem maior dimensão, como a Espanha, a Italia, a Franca, a Polonia e outros paises do Leste, teriam então as mesmas pretensões e que todos estes paises teriam de ser “apoiados” durante anos e anos … Pura e simplesmente inimaginavel … Os cidadãos dos paises do Norte teriam rapidamente obrigado os respectivos governos a fechar os cordões da bolsa, teria sido o fim do Euro e, por muito tempo, de qualquer processo de integração e solidariedade europeias.
    A morte da galinha dos ovos de ouro !!…

  31. Fernando S

    Francisco Miguel Colaco,
    Claro que aquilo a que chama “a austeridade do Estado”, basicamente o corte dos gastos, deve ser uma componente determinate da austeridade do conjunto do pais. É preciso continuar e ir mais longe do que foi (pode ir ou quiz ir) o governo Passos Coelho.
    Mas não tenhamos ilusões e não andemos a enganar-nos a nós próprios : do mesmo modo que durante anos o despesismo do Estado alimentou artificialmente uma certa dose de prosperidade real dos portugueses, para além do que seria normal tendo em conta a capacidade produtiva do pais, também o corte nos gastos publicos tem um impacto negativo na vida de muitos e muitos portugueses (dispenso-me de explicar agora aqui porque e como). Ou seja, a “austeridade do Estado” também implica alguma austeridade para muitos portugueses. Acresce que, pelas razões que refiro em cima, e tendo em conta a urgencia da crise das finanças publicas e a lentidão inerente a qualquer reforma do Estado, é praticamente inevitavel que, pelo menos numa primeira fase, seja solicitada uma contribuição directa aos portugueses, ou pelo menos a uma parte deles, por via da fiscalidade, no sentido de se ir pagando uma parte dos gastos elevados que um Estado (em particular o “Social”) ainda demasiado grande implica. Temos de sustentar o Estado que temos, seja ele qual for. Os portugueses não podem estar à espera de continuar a ter assistencia médica e educação gratuitas (ou quase) sem pagarem o necessario para isso. Ou seja, a austeridade tem também de incidir directamente sobre uma parte dos cidadãos e durante algum tempo.

  32. Ricardo

    Os EUA tiveram de ajustar, seguiram um programa de investimento publico e conseguiram lidar bem com o gasto estatal durante aquele periodo. A economia privada retomou, estão mais ricos que nunca e o rácio de divida para o PIB cresceu menos que o da zona euro. Isto prova que a austeridade foi uma perda de tempo. Foi um ajuste com perdas na riqueza. Os EUA fizeram um ajuste com ganhos na riqueza. Em termos de divida, a diferença até foi em detrimento da zona euro.
    Portanto, a ideia do fim do euro e nao sei quê, é só política do medo. A historia prova-o. Negar isso é loucura.

  33. lucklucky

    Tanta gente aqui que não sabe que o défice é a dívida a aumentar…

    Tanta gente que julga que os governos fazem, criam e que a economia só depende deles.

  34. Ricardo

    Se isso é uma indirecta ao que eu disse, não devem confundir défice com o rácio da divida para o pib. São coisas distintas. Senão, nao fazia sentido que a europa tivesse a regra do défice de 3%. E em segundo lugar, isso não responde ao que eu disse.

  35. Ricardo,

    Os Estados Unidos não aumentaram o comprimento, encurtaram a fita métrica. Veja a situação real, para PIB, desemprego e inflação, com os parâmetros como seriam medidos como em 1980, em http://www.shadowstats.com

    Está em contração o país do Tio Sam. E o número de Walmarts e de McDonalds fechados diz muito mais do que o PIB através de métodos de cálculo «revistos» (a última revisão, em 2012, acrescentou quase 1,8% ao PIB sem sair da secretária).

  36. Ricardo.

    «Senão, nao fazia sentido que a europa tivesse a regra do défice de 3%.»

    Não faz sentido. Ainda nenhum burrocrata explicou a arbitrariedade dos 3%, exceptuando uma explicação de um burrocrata a dizer precisamente que esse número era arbitrário.

    Tente gastar 3% a mais do que ganha todos os anos, ano sim, ano sim, e vai ver se os bancos um dia não lhe irão às canelas.. 🙂

  37. Joaquim Amado Lopes,

    «também o corte nos gastos publicos tem um impacto negativo na vida de muitos e muitos portugueses»

    Acha que não me estou a borrifar para os muitos e muitos portugueses que vivem do rendimento mínimo, médio (desfuncionais) e máximo (emperresários) proporcionados pela apropriação sem consentimento da propriedade de outrem? Desses portuguesesnão desejo senão que comecem a fazer algo de útil no setor produtivo real. Ou que emigrem. Ou que morram, se não quiserem fazer uma ou outra.

    Quem quiser que o Estado (em oposição às organizações voluntárias) tenha programas assistenciais, ou de obras impúdicas sem necessidade real, que os pague do bolso. Até pode dizer para quem quer que o seu dinheiro vá ou que obras alvo-paquidérmicas devam ser realizadas. Eu, conhecendo ambos os lados, prefiro mil vezes contribuir para uma IPSS ou para a minha igreja, que distribui melhor e com melhores critérios, do que para o Estado.

    Querem salvar a TAP? Organizem-se, quotizem-se e comprem-na. Querem salvar a Carris (de que eu pago o défice sem ter benefícios)? Quotizem-se e comprem-na. Querem salvar os mirós? Repito a resposta. Querem uma nova Casa da Música? Formem uma associação, quotizem-se e façam-na. No último caso, admito que o Estado possa permitir uma dedução à coleta, fazendo com que o custo para o quotizado seja efectivamente zero.

  38. Jo,

    Porque a Jo apenas sabe falar, e não sabe somar dois mais dois, vou-lhe contar um segredo: a economia não aumentou por causa do aumento do saláriuo mínimo. Fiz as contas.

    A diferença das massas salariais pelo aumento do salário mínimo desde Outubro: c. 90 milhões de euros.

    O aumento da economia desde Outubro: 1,2 mil milhões de euros. Ou 1200 milhões de euros.

    Consegue ver uma difereça de escala entre os dois números?

    Se pedir, indico-lhe as operações. São simples. Até a Jo as poderia realizar, se quiser queimar uns neurónios. Nas centre-se nas evidências e deixe de propalar galambices.

  39. Lucas Galuxo

    “A verdade é que foram as “ortodoxias da Troika” que permitiram que Portugal tivesse evitado a bancarrota e esteja hoje, pela primeira vez desde ha mais de 2 décadas, ja a crescer ao nivel da média europeia.”
    Não foram, Fernando. Tirando os fanáticos do actual regime, não sei onde vai encontrar quem encontre outras causas decisivas para o actual crescimento do que o preço do petróleo e a acção do BCE, além do facto de partir de uma Base do PIB 14% inferior à que existia no eclodir da crise. Contrariamente ao que diz, por várias vezes, durante a governação de José Socrates, Portugal cresceu a um ritmo superior ao da UE, e sem ter passado antes por uma recessão violenta. Se volta um Trichet ao BCE, ou a guerra chega à Arábia Saudita, estamos arrumados de vez.

  40. «Contrariamente ao que diz, por várias vezes, durante a governação de José Socrates, Portugal cresceu a um ritmo superior ao da UE,»

    Aumentando a sua dívida a nível superior à da UE. E, por consequência de tanto crescimento empolado, em 2011 já ninguém nos emprestava dinheiro.

    é fácil crescer tomando dinheiro dos outros. Pagá-lo de volta é que dói.

  41. Números da Pordata

    Ano PIB Dívida (Em milhares de milhão de euros)
    2006 166 115 Primeiro ano completo do consulado do 44
    2010 179 196 Máximo do PIB neste ano, o descalabro começou no primeiro trimestre de 2011.
    Delta 13 81

    Pode-me dizer que conslusões tira destas simples contas?

    Disponha sempre.

  42. Ricardo

    Francisco,

    O shadowstats não tem credibilidade e não é reconhecido por quase ninguém da profissão.
    Para além disso, para se comparar corretamente estatísticas de duas nações diferentes, é necessário usar o trabalho da mesma instituição para confirmar que se está a analisar segundo os mesmos modelos estatísticos. Por exemplo, comparar estatísticas do World Bank para a zona euro e para os EUA. Ou as do FMI. Etc.

    Eu sou também contra a obsessão nos 3% de défice, mas não é completamente arbritário. Mas prefiro responder a outra questão. Um governo pode perfeitamente ter défice crónico todos os anos e ter uma economia saudável e pujante. Fundamental não confundir conceitos.
    Exemplo:
    Economia com PIB de 100
    Governo tem receitas de 21% de PIB (que é o caso português)
    Se o Governo tiver um défice de 3%, então: 21*1.03= 21.63 (despesa) e 0.63 é o valor de nova dívida.
    Se a economia crescer 1.4% (estou a usar a taxa de variação homóloga em discussão neste post), então: 100*1.014=101.40
    Como há um crescimento de 1.4 no PIB e de 0.63 da dívida pública, então o rácio de dívida/PIB vai diminuir (imaginando que era de 100% no ano 0, por exemplo). Para além disso, a receita de estado do ano seguinte vai ser 21% de 101.40, ou seja 21.294. O que significa que para se chegar a uma despesa pública de 21.63 outra vez, basta um défice de 1.6%. Isto é o efeito de uma economia a ganhar valor.
    No ano 2, com défice de 3% e crescimento de 1.4% outra vez, o PIB era de 102.82 (crescimento da riqueza em 1.42) e nova dívida pública de 0.64, o que significa mais uma redução de dívida/PIB.
    Já agora, acrescento que este Governo imaginário poderia ter um défice até 6.7% sem afectar o rácio dívida/PIB, num cenário de crescimento de 1.4%.
    Portanto, respondendo ao teu comentário, eu posso aumentar a minha dívida em 3% todos os anos perfeitamente sem me irem às canelas, num cenário como o que exemplifiquei.
    Com isto, conclui-se que a austeridade só afectou desnecessariamente o rácio dívida/PIB, através de mais dívida e menor PIB. A redução do PIB reduziu as receitas de Estado, o que dificulta ainda mais o pagamento da dívida. O nosso governo sabe muito bem isso. Teve de jogar com as imposições (rídiculas) da europa, mas agora que a transferência de riqueza da periferia para a Alemanha está a acabar (como explica o shift de crescimento de PIB da Alemanha para os periféricos, incluindo Portugal), a Alemanha vai mudar de planos para um programa de crescimento económico europeu. Isso sim, vai ser útil para todos nós. É só pena que tenhamos oferecido a nossa riqueza e recursos humanos aos Alemães (entre outros) durante estes anos, mas não tínhamos escolha. Os países periféricos não tiveram força para se unir politicamente. Este tipo de política ultrapassa completamente os poderes do nosso Governo. A zona euro é uma ditadura.

  43. Ricardo

    Desculpa, eu estava a fazer cálculos de défice sobre orçamento de estado. Tu estavas certamente a falar sobre % de PIB. My bad. Nesse caso, dá perfeitamente para fazer défices crónicos anualmente na condição de se ter crescimento superior a 3% do PIB, é claro

  44. Fernando S

    Lucas Galuxo : “Contrariamente ao que diz, por várias vezes, durante a governação de José Socrates, Portugal cresceu a um ritmo superior ao da UE”

    Durante os 5 anos plenos dos governos de José Socrates o Pib portugues cresceu sempre menos do que o da UE a 27 (com a excepção de recessão de 2009).
    Em média anualizada, durante este periodo o crescimento da UE (27) foi o dobro do português (0,92% contra 0,46%).

    E, como diz o Francisco Miguel Colaço, sem o aumento da divida o crescimento português teria sido então ainda menor.

    A principal causa da recessão que Portugal teve em 2011, 2012 e 2013 foi a quase bancarrota a que o governo de Socrates levou o pais e que obrigou a um resgate financeiro e a medidas drasticas de austeridade e ajustamento.
    Graças a estas medidas, em menos de 3 anos, o pais evitou a bancarrota e voltou a crescer.

    A retoma do crescimento português é anterior às recentes medidas do BCE, à diminuição do preço do petroleo, à descida do Euro.

    O crescimento actual do Pib é feito … sem aumento significativo da percentagem de endividamento.

    Os numeros apresentados por Mario Amorim Lopes devem ser interpretados nesta perspectiva.

  45. Ricardo

    Portugal não evitou a bancarrota graças às medidas em si, mas sim ao resgate financeiro sob a condição de entrar em recessão durante um período, perdendo riqueza no país, o que diminui receitas do estado (menos impostos) e aumenta depesa (maiores gastos com a segurança social). Era muito melhor que em vez dessas condições tivesse havido um programa de investimento europeu como o que vai finalmente haver agora, de 300€ mil milhões.
    No entanto, houve uma série de reformas que felizmente foram feitas e graças a pressões da troika. Não descuro isso.

  46. Lucas Galuxo

    Fernando, “A principal causa da recessão que Portugal teve em 2011, 2012 e 2013 foi a quase bancarrota a que o governo de Socrates levou o pais”
    Ok. Então diga lá quais as propostas que os elementos do actual governo, que na altura eram oposição, apresentaram e que o governo de José Sócrates rejeitou, que teriam evitado aquilo a chama de quase bancarrota. Quais foram as despesas que sugeriram fossem cortadas e quais os impostos que defenderam que fossem aumentados?
    E como explica que tendo Portugal perdido muito mais PIB cresça agora muito menos do que o seu principal parceiro comercial, Espanha.

  47. Fernando S

    Ricardo,
    O resgate financeiro, indispensavel para evitar a bancarrota, estava naturalmente associado a medidas de austeridade e reformas. Ninguém empresta dinheiro a um devedor falido sem um minimo de condições e garantias de que este vai tomar medidas tendentes a corrigir a situação. A condição não era “entrar em recessão durante um periodo”. As medidas de ajustamento previstas pelo resgate é que implicavam naturalmente uma recessão. Não se ajusta uma economia numa situação de urgencia sem desempregar recursos mal aplicados e afectando deste modo diferentes componentes do Pib. Mas sem aquele resgate e aquelas medidas a recessão teria existido na mesma e teria sido ainda maior e duradoura.
    Um programa de investimento europeu, fosse qual fosse o valor (e 300 mil milhões para todos os 28 paises da UE não é assim tanto como isso ; proporcionalmente são menos de 6 mil milhões para Portugal), não teria servido para fazer face a um problema de financiamento do orçamento do Estado português. De resto, naquela altura e naquelas condições, o governo e os agentes economicos não estariam sequer em condições de tirar algum partido de um tal programa. Mesmo agora, em que as condições são mais favoraveis, Portugal deve encarar esse tipo de programas com muita prudencia e não deve voltar a embarcar, como no passado, em ilusões sobre os retornos hipotéticos de investimentos feitos com o dinheiro dos outros.

  48. Fernando S

    Lucas Galuxo,

    Tanto quanto me lembro, o actual Primeiro Ministro, Passos Coelho, até criticou o governo de José Socrates por nem sequer estar a aplicar os sucessivos PECs que foi apresentando.
    Mas o que mais interessa agora não é tanto o que foi ou não foi dito na altura (e é verdade que a oposição da altura não disse tudo o que devia ter dito) mas sim aquilo que o governo Socrates não fez em devido tempo e aquilo que o governo Passos Coelho fez quando se tratou de fazer face à situação critica e implementar o programa de resgate financeiro.

    Portugal não vai crescer muito menos do que a Espanha (1,6% para 2,3% em 2015).
    De qualquer modo, os dois paises não são gémeos e, como ja referi anteriormente, não tinham à partida situações identicas.
    O mais importante é que tanto a Espanha como Portugal teem vindo a aplicar politicas de austeridade e reformas do mesmo género e que os dois paises teem neste momento bons resultados e boas perspectivas de crescimento (acima da média europeia) e de melhorias nos principais indicadores (incluindo o do desemprego).

  49. Ricardo

    Eu não estou contra o resgate. Eu estou contra as condições do resgate que provocaram recessão desnecessária, sobretudo por as reformas não serem feitas conjuntamente com um programa de investimento público europeu. Foi e é um problema europeu e não de Portugal sozinho. O problema de financiamento do orçamento de estado foi resultado de uma crise financeira, que só recentemente teve a devida resposta do BCE. Daí os juros baixos da dívida pública atualmente. Falta a resposta política e económica da europa. O BCE só está a ganhar tempo. Não pode fazer mais que isso.

  50. Lucas Galuxo

    Fernando, “Tanto quanto me lembro, o actual Primeiro Ministro, Passos Coelho, até criticou o governo de José Socrates por nem sequer estar a aplicar os sucessivos PECs que foi apresentando”
    Tanto quanto me lembro, o actual primeiro ministro conquistou a liderança do seu partido a Manuela Ferreira Leite criticando as suas propostas de contenção orçamental e promentendo facilidades. E se o governo de Sócrates não conseguiu mais cedo avançar com consolidação orçamental foi porque teve uma oposição e uma presidência a fazer coro com a rua a tentar impedi-lo. A austeridade tinha que acontecer. A troika e as rifas da nata das empresas e do sistema financeiro não era inevitável.

  51. Ricardo,

    Eu compreendo as suas contas (e está certo, confirmei no ipython). O que é que acontece quando se drena 5% do crescimento potencial em serviço de dívida (isso é só os juros), e a economia não cresce?

    Um superavite é blindado. Lembro-me de ter há uns anos feito uma pesquisa para o meu novo livro e notar de um jornal de 1942 (penso que era desse ano, mas talvez fosse do seguinte) que o Estado Português tinha tido um superavite de 800 contos. Em guerra ou não, em casa onde se pode colocar um bocadinho para o futuro haverá sempre pão.

    A historieta dos défices e do crescimento faz-se pelo hiato entre as receitas e as despesas do Estado. É pouco mais que um truque contabilístico, aquiesço que com razão matemática. Entre a descontabilidade manhosa dos défices e a segurança de um superavite, não vale a pena fazer como o Chile, que por acaso até acabou de passar Portugal na maioria dos indicadores?

    Quem tem défice tem o futuro hipotecado (literalmente). Quem tem superavite tem o futuro assegurado. A liberdade (económica, financeira e no fundo, a liberdade política) consiste em não ter interesse de vender por algum prato de lentilhas a primogenitura — aludindo eu ao episódio de Esaú e de Jacob, na Bíblia.

    Neste momento a voracidade do Estado está a dar cabo da economia. Conheço empresários (não emperresários e emperreiteiros alapados ao Orçamento) que abriram em Marrocos e na China por causa da horribilíssima trindade do Estado Português: impostos, ASAE e licenciamento industrial. O Estado está grande de mais e, a menos que ajamos rapidamente e façamos o despedimento de metade dos desfuncionais impúdicos, estaremos vulneráveis aos credores. Terá de admitir que, no presente, um credit crunch transformaria o Mad Max de um filme de ficção em um documentário em seis meses.

  52. «Eu estou contra as condições do resgate que provocaram recessão desnecessária,»

    Pois eu queria mais recessão (e não estou a brincar). A recessão é uma reconfiguração do tecido produtivo. Quanto menos se actua, mais depressa este se reconfigura. Portugal tinha mais de 10% do produto na desconstrução e nas obras impúdicas, enquanto qualquer economia deve ter cerca de 3% nessa rubrica.

    A indústria + agricultura passou de 47% do PIB em 1980 para 16% hoje. Sendo normal que hoje valesse 30%, fruto da terceirizaão da economia, e sendo verdade que hoje produzimos mais alimentos que em qualquer ponto da nossa história, delapidámos o sector secundário com os escarralhados vermilhóides do mentistério do mau ambiente e os seus regulamentos que não lembram a espanhóis nem a franceses — e sei bem do que falo.

    Ora, a construção teve o seu debacle, mas confirmam-me que está a retomar. Só não retoma com tantas empresas, porque o Estado finalmente percebeu que não pode andar a mandar construir a A17 ao lado da A1 e da A13 e da A28 [casos reais que estaremos a pagar até 2040].

    Lucas Galuxo,

    As contas do Mário estão erradas, porque a dívida em 2012 não é a mesma que a dívida em 2006. Isto é, o que a Troika mandou incorporar não está ainda lá. Com a regularização da série (bendita Troika), o cenário é diferente e o Quarenta e Quatro mente com quantos dentes tem (e por mim não teria nenhum). Veja o gráfico seguinte, da dívida externa líquida — a que interessa.

  53. Fernando S

    Lucas Galuxo,
    As nossas lembranças são manifestamente muito diferentes …
    Eu não tenho essa ideia. Sempre preferi Passos Coelho a Manuela Ferreira Leite por aquele ter um discurso bem mais liberal e reformista do que esta. Manuela Ferreira Leite defendia o rigor orçamental em principio mas, ao contrario de Passos Coelho, recusava qualquer reforma do “Estado Social”. De resto, esta diferença veio a ser plenamente confirmada pelas tomadas de posição de um e de outro nestes ultimos anos.
    Não estou a ver que oposição é que Socrates teve a uma efectiva consolidação orçamental. Nem o Presidente da Republica se opos a qualquer medida orçamental do governo nem tenho memoria de manifestações de rua da oposição à direita contra qualquer politica de austeridade.
    Em contrapartida, sabemos hoje que o Ministro da Finanças da altura, Teixeira dos Santos, até quiz ir mais longe e mais depressa na moldura e na implementação dos PRECs mas teve a oposição de … José Socrates !
    A austeridade tinha naturalmente de acontecer mas não era com um Primeiro Ministro que tinha levado o pais para a situação de descalabro financeiro em que se encontrava. De resto, ja depois de deixar de ser PM, como comentador da RTP, José Socrates juntou a sua voz às de todos aqueles que, no Partido Socialista e fora dele, se opunham à austeridade, criticavam o memorando assinado por ele proprio com a Troika, e defendiam que a saida da crise passava por … gastar mais !!

  54. Fernando S

    Ricardo,

    Resgate (dinheiro) sem condições, não existe.
    Mas mesmo que fosse assim, o interesse de Portugal era aplicar o essencial das medidas previstas pelo programa de resgate. Sem consolidar as suas finanças publicas e sem ajustar a sua economia o pais não poderia sair do ciclo infernal do endividamento.
    A recessão é naturalmente negativa mas foi inevitavel. Não era possivel ajustar em pouco tempo e de modo suficiente sem passar por uma recessão. O mais importante é que ela durou relativamente pouco tempo (allo “espiral recessiva” !!…) e a economia portuguesa sai dela mais equilibrada e mais dinamica (vejam-se as exportações, a balança comercial, o crescimento do Pib, as taxas de juro, etc).

  55. Fernando S

    Ricardo,
    O problema foi e é sobretudo de Portugal e dos portugueses. Foi em Portugal que ele foi criado, em consequencia de politicas despesistas e irresponsaveis dos sucessivos governos portugueses. É sobretudo em Portugal, pelos portugueses, pelos seus governos, que ele tem de ser resolvido. A Europa pode ajudar, tem interesse em ajudar. E foi o que fez, é o que tem feito, e esperemos que continue a fazer. Mas para a Europa poder e querer ajudar o nosso pais tem de fazer a parte dele, tem de mostrar que é capaz de por as suas contas em ordem e de fazer as reformas que a economia exige.
    O processo de descida progressiva das taxas de juro da divida portuguesa começou bem antes do BCE ter sequer anunciado, ainda menos começado, o programa de compras actualmente em curso. A principal causa dessa baixa foi a politica do governo português e a confiança readquirida nos mercados. Sem essa confiança nenhuma medida do BCE, por mais forte que fosse, teria feito baixar as taxas. Veja-se agora o caso da Grécia.

  56. Lucas Galuxo

    ” aquele ter um discurso bem mais liberal e reformista ”
    Fernando, se por liberal e reformista entende a maior carga fiscal de sempre aparelhada numa máquina robotizada de terror e arbitrariedade ou a sangria de rendas das empresas de monopólio para a influência do Partido Comunista Chinês ou para fundos de casino, concordo consigo. Nenhum indicador económico positivo se deve à acção do actual governo. Ou é pela conjuntura internacional ou, no caso das exportações, pelo resultado da intervenção visionária do governo anterior em apoiar sector estratégicos (refinarias, renováveis, papel, componentes automóveis e aeronáutica, azeite e vinho, …) e pela carolice de muitos empresários que não baixam os braços, mesmo quando nem os governos supostamente de direita não são capazes de controlar a miríade de burocracias que o Francisco Colaço refere aí em cima. A Passos Coelho, o único motivo por que acho merece que se lhe tire o chapéu, nestes quatros anos, foi ter resistido às birrinhas do seu colega de coligação e evitado entregar o que resta do país ao charco da instabilidade, como havia contribuído para o governo anterior.

  57. Lucas Galuxo,

    A visão dos Migalhães (grafia intencional) e a fesfa da Parque Escolar engão foram fantásticas. Merecia esta última umas contas no colo da Maria de Lurdes Rodrigues, na forma de uma fatura, já que é duvidoso que alguém lhe queira meter das outras contas.

    Tem resposta para si no Remoques. Com gráficos, a partir dos dados da Pordata.

    Em poucas palavras, é fácil fazer obra e deixar a conta na gaveta para o próximo dar com ela e pagar. O crescimento de 2006 e 2007 deveu-se em 3/4 a obras públicas com dinheiro alheio, avançado pela banca, e que estamos a pagar neste momento, drenando a economia presente em 2 GEur por ano.

  58. Ricardo

    “Quem tem défice tem o futuro hipotecado (literalmente). Quem tem superavite tem o futuro assegurado”

    É um erro pensar assim. Nao é suposto que o estado tenha lucro. Balanças comerciais e contas correntes diferentes de zero significam desiquilíbrio macroeconómico. Claro que nao é mau ter excedentes num ano ou outro, mas esse nao deve ser o caminho a seguir.

    Os seus amigos empresários mudaram-se para o estrangeiro porque deu-se a crise: menos liquidez e financiamento, menor procura, desalavancagem, e depois até recessão. O risco de mercado tornou-se insuportável para alguém dessa área.

    A desindustrialização nao teve nada a ver con Portugal em si. Foi um fenómeno macroeconómico pela globalização.

    Nao era necessário ajustar àquela velocidade. Nunca fez sentido. A recessão aconteceu por má vontade europeia. Porquê? Ascensão de eleitorado anti-europa.

    Antes do programa atual do BCE em curso, já o BCE tinha iniciado outros prgramas de reciclagem de divida. As taxas de juro portuguesas desceram em linha com as outras na europa.

    Para se ter um debate sério sobre macroeconomia, é preciso abster de ideologias e ser capaz de ler a historia, causa-efeito, etc. Mais uma vez aponto para o caso americano como exemplo perfeito de que era possível outra atitude, com muito melhores resultados a todos os níveis (PIB, divida publica, etc). Só que na europa era preciso coragem politica, que nao houve.

  59. Fernando S

    Lucas Galuxo,

    Um aumento de impostos foi necessario para fazer face a uma situação de urgencia nas contas publicas. Esta situação foi da responsabilidade do governo anterior e o aumento de impostos teve de ser ainda maior devido aos chumbos do Tribunal Constitucional a cortes na despesa publica.
    Os socialistas (e quase o mesmo se poderia dizer de Manuela Ferreira Leite se tivesse estado no lugar de Passos Coelho), que se opuseram a todas as medidas de cortes nas despesas e nos investimentos publicos, se estivessem no governo teriam aumentado ainda muito mais os impostos. Tal como fez François Hollande, o presidente socialista frances, que foi visto como uma referencia pelos socialistas portugueses : para não tocar no “Estado Social”, para inclusivamente poder recrutar mais funcionarios publicos e recuar no aumento da idade da reforma (uma das mais baixas na Europa), em apenas 2 anos aumentou os impostos em … 20 mil milhões de Euros, metade suportada pelas empresas e a outra metade pelas familias, em particular as classes médias.

    As exportações começaram a aumentar, ainda no tempo da governação de José Socrates, diga-se em abono da verdade, sobretudo pelo facto do mercado interno portugues ter começado a estagnar em resultado da impossibilidade do Estado, então ja a caminhar para a falencia, ter deixado de poder continuar a aumentar as despesas e os investimentos publicos como fizera ao longo das décadas anteriores. Os empresarios portugueses tiveram então de se virar mais para a exportação e fizeram-no com muita determinação e com bons resultados. Este processo continuou, acelarou e consolidou ainda mais com o governo de Passos Coelho em resultado da politica de ajustamento seguida ao longo destes anos. O que é espantoso é que o Lucas Galuxo atribua o sucesso actual das exportações a hipotéticas estratégias industriais dos governos socialistas e ignore a razão principal e que é o processo de ajustamento da economia portuguesa e o fim do modelo despesista virado essencialmente para o mercado interno e para as importações.

  60. Joaquim Amado Lopes

    Ricardo,
    “A economia privada retomou, estão mais ricos que nunca e o rácio de divida para o PIB cresceu menos que o da zona euro”
    Como é que um país que deve mais dinheiro do que alguma vez deveu está mais rico do que nunca?

    .

  61. Ricardo,

    « Claro que nao é mau ter excedentes num ano ou outro, mas esse nao deve ser o caminho a seguir. »

    E os resultados são patentes.

    Eu confio em Deus. Todos os outros terão de apresentar resultados.

  62. Joaquim Amado Lopes,

    Desde 2007, a dívida privada (famílias + empresas) caiu 10%. Se separar as empresas impúdicas do resultado, sorvedoras de crédito da banca, muito mais. A dívida do Estado é que subiu.

    Viu as novas leis de Hollande e de Cameron? Invertem totalmente o ónus de servidão. Os governos é que são bons e os indivíduos maus, que necessitam de ser vigiados e corrigidos, mesmo que não tenham feito algo de mal. Prepare-se para uma tirania na Europa, porque ela vem lá.

    Posso-lhe confirmar que uma lista semelhante à Mais Core dos Estados Unidos está há pelo menos dois anos (e talvez mais) a ser realizada na Europa. Quando começar a guerra com a Rússia (não lhe consigo dizer quando começará, mas tenho uma opinião firmada em fontes de cá e de lá), muitos serão arrebanhados como quinta coluna e colaboradores com o inimigo.

    Já viu a nova de Gordon Brown? Acabar com todas as transações a contado, com as notas de banco. Balões marchistas, a ver se alguém nota e pega. Coisa que já foi utilizada em Portugal. Um balão marxista é uma expressão que significa uma ideia proferida por algum burocrata de segunda linha ou alguém fora, mas próximo do governo, e que no mínimo é inaceitável pela maioria dos cidadãos. Para testar as águas. Se ninguém se escandalizar, passa a ser proposta pelo poder. Se alguém disser alguma coisa, e se gerar burburinho, afinal era uma ideia peregrina do próprio e o governo passa pelos pingos de chuva. Sócrates fazia-o todas as semanas, e Passos Coelho duas ou três vezes por ano.

    Passos Coelho só é bom em comparação com o esbirro anterior. Em governação, tem um dez à rasca, talvez um 11. Aguenta o barco bombeando a água, mas não tapa o furo.

  63. Ricardo

    Joaquim, os EUA são a economia que mais deve no mundo e a que mais vale no mundo. Por isso é que é fundamental olhar para o rácio da dívida para o PIB

  64. Ricardo

    Francisco, nao compreender que excedentes ou défices são desiquilíbrios e que nao é suposto os estados terem excedentes crónicos é um erro crasso de conhecimento macroeconómico. Nao preciso de prestar provas. Vá ler livros de macroeconomia, qualquer que seja independentemente da ideologia. Vá estudar historia económica e leia estatística economica.

    Confiar em deus sem provas exige fé. Mas o trabalho de gestão financeira e política devia ser isento de fé. A ideologia é um perigo para o economista.

  65. Ricardo,

    «A ideologia é um perigo para o economista.»

    E os maus resultados para o senso comum.

    P.S.: Já fui desses cientistas, se bem que em ciências propriamente ditas (física e engenharia), e vários anos a ensinar em universidades. Sei o que a casa gasta e aquilo que os acamérdicos valem.

  66. Ricardo,

    Já provavelmente li mais livros de economia que o Ricardo. Vou-lhe contar um segredo: quando acabei o curso, fui disputado por professores de várias disciplinas para doutoramento direto. Uns deles eram de economia e outros de gestão.

    Acerca dos défices e superavites, sou utilitarista: árvore que dá maus frutos arranca-se e atira-se fora. Em quarenta anos de défices lixámos a economia.

    O Ricardo defende a utilização de estricnina como meio de tratar uma doença? Acaba com a doença, isso é certo.

  67. Ricardo

    Peço desculpa se lhe feri os sentimentos. Nao era intenção. Mas mantenho: excedentes crónicos são um erro. É tirar dinheiro à economia desnecessariamente e um risco geopolítico com o extender dos anos pelo agravar de tensoes, migrações de recursos humanos e capital, etc.

    Ser contra a austeridade nao é sinonimo a aprovar a má gestão publica que foi feita consecutivamente ao longo dos anos. Quando uma pessoa está bloqueada ideologicamente, esta tende a fazer uma interpretacao extensiva do que o adversário no debate diz. Eu penso que não tenho estado a ser “lido” correctamente mas isso esta fora do meu controlo. Está no seu.

  68. Ricardo,

    A perspectiva (ainda com c) Keinesiana não deu bons resultados, excepto para:

    1) Bancos, que emprestam dinheiro a rolhos; a
    2) Políticos (de Pó + lithos — calhau em grego) que mandam fazer obras emblema de que ninguém precisa; para gáudio de
    3) Emperreiteiros, que fazem as obras emblema dos políticos de que ninguém precisa.

    Todo o resto deixou de ser cidadão a quem o Estado servia para passar a ser contribuintes à força para servir o Estado. E tem de, como diz Almeida Santos, cumprir a lei.

    O Estado não deve arrogar-se a intervir na economia. Nem deve ser responsável por 50% do PIB. Nem por 15%. O Estado deve centrar-se nas cinco funções essenciais e lembrar-se de que aquilo que tira às famílias deixa de ser consumido pelas famílias, já que o Estado, de per se e na acepção purista, nada produz. Na concepção mais bonómica, apenas movimenta dinheiro. Na verdade, destrói valor.

    No PIB, aquilo que é gasto pelo Estado deixa de ser gasto pelas famílias e pelas empresas. Pedro paga a Paulo e Paulo gasta o que Pedro não gastaria em vez de contribuir ele mesmo para o PIB fazendo algo de útil.

    A historieta de que o Estado tem de revitalizar a economia é coisa que já discuti à exaustão com pessoas influentes de todos os quadrantes políticos, aqui e alhures. O melhor que o Estado faz nos dias de hoje é sair rapidamente da economia, concentrando-se em administrar a justiça, verificar a execução dos contratos privados livremente realizados e (admito isto) impedir situações de monopólio injusto por via legislativa. Só. O Estado hoje intervém demais na economia (e eu sinto-o no IRS) e a administração da justiça é o que se vê. Admito, e refiro-o porque de certeza não leu o que tenho escrito, que o Estado custeie a educação obrigatória na totalidade &mdash coisa aliás que não faz hoje — e a saúde primária. Mas não deve ter sob forma alguma escolas ou hospitais. Sei infelizmente o esbulho que é uma escola pública (havendo dado aulas numa universidade pública) e nem lhe falo dos hospitais.

    Um estado mínimo que assegure as cinco funções essenciais + custeio da educação + custeio da saúde valerá no máximo 15% do PIB (já fiz as contas, mesmo nos comentários deste blogue). A carga fiscal poderia ser, de uma assentada, reduzida a 1/3 do que é hoje e teríamos superavite. E mais emprego, porque os empresários criariam mais empresas, sem tantos espartilhos e custos e alvarás e legislação estúpida. Já agora, recomendo-lhe Freakonomics (os dois livros da série), de uma espécie de para-economista assumidamente inumerato, mas com bons dados estatísticos, mesmo quando o tipo se estica nas conclusões.

    Se o Ricardo gosta de segurança social, terá bom remédio. Crie uma associação e quotize-se com outros seus co-ideólogos e segurem-se uns aos outros. Se acha que o Estado deve salvar a TAP, compre-a com outros seus semelhantes. Se acha que o Estado deve ficar com os Mirós, compre-os com outros que também achem. Eu gostaria de ter a liberdade de não contribuir para esses peditórios à ponta d’arma.

    Um estado grande acaba por exacerbar os quatro custos, que deveriam ser mínimos:

    1) O custo de tentar, com licenças e esperas e burocracias;
    2) O custo de vender, com impostos e leis que não lembram ao diabo;
    3) O custo de falhar, com processos e autoridades tribulárias (grafia intencional);
    4) O custo de excelência, pois com a justiça tão lenta, o crime compensa e bem.

    Não me feriu sentimentos. Eu, infelizmente, conheço a sua perspectiva, algo juvenil e unicórnica, tão prevalecente como errada. Apenas lhe dei em atenção que um engenheiro pode saber muito mais sobre a sua para-ciência económica do que o Ricardo pensa que pode. E se precisar, escreva para francisco.colaco@gmail.com e eu envio-lhe uma cópia do meu certificado de habilitações (Universidade Católica Portuguesa, média para doutoramento direto).

  69. Fernando S

    Ricardo,

    O nosso problema, em Portugal, são os déficits cronicos, não os excedentes.
    Para combater esse desequilibrio, que é insustentavel a prazo, como ja tivémos a oportunidade de perceber e sentir nestes anos, é necessaria austeridade, é preciso cortar nos gastos.
    Não estamos a falar sequer apenas de “má gestão publica”, no sentido técnico da expressão … é mais do que isso … é de falta de bom senso e de irresponsabilidade que se trata !

    Quanto aos paises que teem excedentes, orçamentais, comerciais/pagamentos, ou outros, como é actualmente o caso da Alemanha, obviamente que os excedentes não podem ser eternos ou cronicos. A não ser que esses paises estivessem dispostos a sistematicamente dar ou a abandonar a outros esses meios de pagamento. Um excedente é um meio de pagamento que não é utilizado internamente no pais que o gera, é colocado em reserva de tesouraria ou, no caso das contas externas, é aplicado no exterior, em diferentes formas : empréstimos, investimentos externos, aplicações financeiras nos mercados, etc. O normal (e racional) é que essas reservas e essas aplicações sejam futuramente revertidas e utilizadas, em beneficio do pais que as acumulou e, desejavelmente, dos seus habitantes. Na verdade, se olharmos para a historia economica, vemos que em tempo algum um pais teve excedentes externos durante muito tempo (que pode ir de alguns anos a algumas décadas, uma ou duas gerações). Mesmo paises com economias fortes ou em crescimento forte, como a Grã-Bretanha, os EUA, a Alemanha, os paises petroliferos, agora a China, etc, etc, e que em certos periodos se “especializaram” em empréstimos e investimentos no exterior, mais cedo ou mais tarde, progressivamente ou pontualmente, ou porque ha necessidades ou porque se pretende aumentar investimentos e consumos internos, acabam fazer regressar à origem os dinheiros aplicados e as eventuais mais-valias para serem utilizados em … importações, invertendo assim o sinal dos saldos das contas externas. Veja-se o caso dos EUA, que durante muito tempo foram excedentarios e, portanto, emprestadores e investidores no exterior, e que hoje são deficitarios.

  70. Ricardo

    Fernando S, no geral concordo com o que escrrveu, excepto na defesa da austeridade. Nao era necessário quebrar o crescimento para ajustar a economia. Mas como já disse, tinham de ser medidas a nível europeu. Portugal sozinho a fazer um programa de investimento só iria aumentar o esbanjamento, deixar fugir a riqueza (balança comercial deficitária ) e aumentar ainda mais a divida..

    Francisco, penso que nao tem noção do quão irrelevante é o seu currículo para a conversa. O que interessa é se está a compreender a discussão. E quando diz que quer é excedentes…significa que os prefere em vez de uma baixa de impostos para equilibrar o orcanento de estado.
    Quando pedi para tirar a ideologia desta conversa foi porque deduzi que o Francisco me estava a ver como um socialista keynesiano. Nao sou. Nem sou um estereotipo qualquer, como suponho que o Francisco nao o seja. Eu quero uma boa gestão das finanças publicas e politica competente. Jogos de culpas nao servem para nada, muito menos rotulagens. Sou de facto, keynesianista (mas nao socialista) porque está comprovado que funciona, evitando-se regressões no desenvolvimento de uma nação. Os EUA são prova perfeita, mas nao estou à espera que alguém que use o shadowstats chegue lá. Mas ser keynesianista nao tem nada a ver com o que acho em relação ao peso do estado numa economia. Nem isso é chamado para a conversa. Como já disse, a ideologia política nao devia estar a ser debatida. Por exemplo, nao disse nada em relação a ser fã da segurança social ou nao, mas sei que o custo da SS está enorme por causa da austeridade. O estado quis poupar no apoio à economia e acabou por gastá-lo a pagar subsídios de desemprego numa economia a perder produtividade. Isso é boa gestão? Mas como já disse, nao estava nas mãos deste governo. Trata-se de politica europeia. Sem moeda própria e sem fronteiras, Portugal nao tem independência para este tipo de políticas.

  71. Ricardo

    É muito superior, mas com todo o respeito, isso é um bugalho que acabou de mandar para a frente da conversa. Em nada contra-argumentou o que eu disse.

  72. Joaquim Amado Lopes

    Correcção ao comentário anterior: os 35,6% referem-se à dívida federal (pública).
    No mesmo artigo, há uma tabela com a dívida nacional. Em 1990, era de 54-55% do PIB.

  73. Joaquim Amado Lopes

    Foi o Ricardo quem disse que os EUA estão mais ricos agora do que nunca e que isso é determinado pela dívida em percentagem do PIB.

  74. Ricardo,

    O que é um excedente? Consegue ter excedentes tanto com grandes como com poucos impostos. Basta que as suas despesas sejam menores do que as suas receitas.

    Quanto ao shadowstats, veja o que ele faz: calcula os indicadores como eram calculados em 1980, antes de começar a aplicar a para-ciência económico-galambista, isto é, de mudar as regras de cálculo de maniera simpática. A última revisão, de 2013, subiu o PIB em quaae 2% sem se sair da secretária.

    O problema das construções humanas como a economia e o direito é esse: são o que um esperto quiser, desde que os idiotas o engulam.

  75. Ricardo

    Joaquim, nao foi isso que eu disse. Os EUA estão mais ricos que nunca, como se confirma pelo PIB per capita em paridade poder de compra. A saúde das finanças publicas em termos de dívida cofirma-se pela dívida em relação PIB. Sim, está muito alto, como está também o da zona euro. A diferença é que a zona euro teve um aumento maior nesse rácio com está crise e empobreceu, enquanto que os EUA estão mais ricos que nunca.

    Francisco,
    Eu sei, mas se tiver excidente é porque podia ter baixado mais. Ate chegarmos aos tais 15% de peso do estado na economia, tínhamos de evitar muitos excedentes. Suponho que estamos de acordo nisso, correcto?

    Quanto ao shadowstats, até os economistas de Chicago e “austrianos” desconsideram os cálculos desse site. De qualquer forma, diga lá porque é que o método de cálculo dos anos 80 é mais correcto que o de agora? Nao esqueça que ao mudar métodos de cálculo, a estatística é retroactiva, ou seja, os valores pré mudança são indexados a essa mudança. Portanto, é bastante irrelevante o que está a dizer.

    Se tem essa opinião sobre as “construções humanas” nao entendo o que está aqui a fazer a gastar o seu latim. Goes both ways nao é? Desde que os idiotas engulam?… Deixo-o com as suas palavras infelizes…

  76. Joaquim Amado Lopes

    Não, Ricardo, não é. O rendimento ser maior do que alguma vez foi não quer dizer que se é mais rico do que alguma vez se foi. Principalmente quando a dívida em percentagem da produção continua a aumentar de forma acentuada.
    Ir “ajustando” o argumento de cada vez que este é desmontado não ajuda à sua posição.

    Mas compreende-se que alguém que confunde(?) “deficit orçamental de 3% do PIB” com “orçamento público com deficit de 3% da receita pública” (e parece que reconhece o erro mas não refaz as contas) está certamente disponível para fazer todo o tipo de “confusões” para sustentar disparates como “deficits crónicos são sustentáveis no longo prazo”. Disparate esse aliás que se baseia na ideia de que é a despesa pública que leva ao crescimento económico e numa taxa de crescimento económico que um deficit muitíssimo maior do que o usado nas “contas” nunca conseguiu atingir.

  77. Ricardo

    Joaquim, eu reconheci logo o “erro” (porque tinha apenas a ver com a base de cálculo) sobre o défice e corrigi o cálculo, que se tornou muito mais simples: 3% de défice é compensado com 3% de crescimento.

    Tenho consciência que na prática défices todos os anos, haverão de “apanhar” a economia. Apenas defendi que é possível que seja sustentável, porque na teoria é, desde que o crescimento do PIB o acompanhe ao mesmo ritmo. Foi só um exercício teórico. Não estou aqui a defender nem défices nem excedentes. São os dois necessários nas alturas propícias.

    Em relação ao seu primeiro parágrafo, não estou a entender o raciocínio mas vou tentar explicar melhor (agora que estou no portátil):
    O PIB per capita em paridade de poder de compra nos EUA caiu no pós-crise, mas graças ao “keynesianismo” e ao QE do Fed, rápido a economia recuperou e já está em novos máximos. Houve, de facto, um aumento da dívida/PIB neste período.
    A minha crítica à austeridade acontece porque a Zona Euro não intervencionou a economia (salvo um parco exemplo de investimento público na europa em seguimento da crise…com excepção do Sócrates que até se excedeu…para nosso infortúnio), e o BCE não comprou obrigações de tesouro europeias, deixando também o euro valorizar e tirar competitividade à economia. O resultado foi recessão na zona euro. A parca recuperação que tem havido agora ainda não compensou sequer a perda de PIB (per capita em paridade de poder de compra). Em relação à dívida/PIB, esta aumentou e ainda mais que nos EUA.
    Com isto, conclui-se que a intervenção estatal e do banco central são benéficas numa situação de falta de procura agregada e do chamado “zero lower bound”, que é quando baixar as taxas de juro já não tem efeito na economia.

    Mais uma vez peço que deixem as ideologias de lado, que não são necessárias para esta conversa. Eu não sou socialista, mas mesmo que fosse, isso não é para aqui chamado. Estereotipar os outros é um exercício que limita o conhecimento humano. Sugiro uma leitura aberta ao que eu escrevi, que pesquise e tente confirmar o que digo nem que seja para refutar, mas evite rotular. Eu estou também a aprender com os vossos comentários, mas não aprendo nada com os rótulos.

  78. Joaquim Amado Lopes

    Ricardo,
    Exercícios meramente teóricos podem ser úteis para desenhar modelos mas é necessário manter presente a distinção entre os valores que são manipulados para fazer variar o modelo (como exercício teórico) e os valores estimáveis.

    “3% de défice é compensado com 3% de crescimento” dá a ideia de que não há problema em ter um deficit de 3%, é apenas necessário ter um crescimento de 3%. Só que a relação causa-efeito é ao contrário. Não é o deficit que leva a crescimento, é o crescimento que permite o deficit.
    Além de historicamente deficits muitíssimo superiores a 3% não levarem a taxas de crescimento nem sequer perto de 3%, contraír dívida para “estimular” a economia resulta apenas no curto-prazo (aumento temporário e artificial do emprego e do consumo), com as consequências de médio/longo prazo a serem essencialmente um desvio maior de recursos para a “gestão da dívida”. Aquilo que os mais recentes “lentes” do PS descrevem como “consumir mais agora para consumir menos mais tarde” e que mais não é do que deixar a conta para outros pagarem.
    Assim, se a economia crescer mais do que 3%, o Estado ter um deficit de 3% não será um problema. Mas se se tiver um deficit de 3% a contar com um crescimento superior a 3% isso torna-se um problema.

    Para se terem deficits crónicos que, apenas esporadicamente, sejam superiores ao crescimento da economia, é necessário garantir primeiro que a “gestão da dívida” não consome demasiados recursos. Isso obriga a uma dívida em percentagem do PIB relativamente baixa.

    A seguir, é necessário garantir que o deficit se possa adaptar à flutuação do crescimento sem ser à custa do aumento de impostos (a instabilidade fiscal é um obstáculo ao investimento e cria problemas de longo prazo). Ou seja, num cenário continuado de crescimento baixo, a despesa pública pode baixar (de forma a não aumentar a dívida desproporcionalmente ao PIB) sem comprometer as funções essenciais do Estado nem gerar instabilidade política ou social.
    Isso consegue-se com superavits crónicos antes do investimento público. A margem para o investimento público virá do crescimento da economia e seria ajustada a este.

    A ideia de que o Estado deve contraír dívida para “estimular a economia” na parte baixa do ciclo económico é um disparate.
    O Estado é o pior decisor relativamente a investimento económico (quem ainda não o tenha percebido só pode estar cego pela ideologia) e a dívida contraída pelo Estado terá que vir a ser paga pelas empresas. Ou seja, o Estado está a endividar-se para tomar decisões de investimento, retirando essa decisão a quem decidiria melhor do que ele e deixando-lhe a conta para pagar.

  79. Ricardo

    O Joaquim disse muita coisa que concordo, como é natural, no entanto quando a procura agregada está em baixo, nao vai haveria investimento privado. Isso exige intervenção do estado para estimular a economia muito brevemente em vez de a deixar encolher. Só isso. Penso que é ai onde a nossa opinião diverge. Por isso, uso o exemplo americano para explicar como é bem sucedida essa politica em detrimento da que foi seguida na zona euro. Repito, Portugal nao podia fazer isso sozinho porque nao tem moeda própria nem fronteiras e uma balança comercial deficitária. Concorda?

  80. Fernando S

    Ricardo : “quando a procura agregada está em baixo, nao vai haveria investimento privado. Isso exige intervenção do estado para estimular a economia”

    Não ha mais investimento privado porque, nas ultimas décadas, o Estado cresceu desmesuradamente, interveio em tudo o que mexia, elevou a carga fiscal para niveis incomportaveis, endividou-se e favoreceu o endividamento. Precisamente com o argumento de que se tratava de “estimular a economia” !… O resultado real foi que quanto mais o Estado cresceu e interveio tanto mais a economia emperrou e perdeu competitividade !
    A intervenção do Estado e o peso dos investimentos e das despesas publicas desequilibrou a economia, favoreceu o desenvolvimento excessivo de alguns sectores (os não transaccionaveis : serviços publicos e privados, comércio, construção, industrias para o mercado interno, consumos não essenciais, importações, etc, etc) e atrofiou outros sectores, mais transaccionaveis (industrias e serviços exportadores, agricultura e pescas, etc, etc). Este desequilibrio estrutural foi uma consequencia e um factor agravante de outros desequilibrios, macro (contas publicas, balanças comercial e de pagamentos externos, consumo versus investimento, poupança versus investimento, etc) e micro (descapitalização de empresas, endividamento das familias, etc).
    O peso e o intervencionismo do Estado diminuiram a flexibilidade e a capacidade de ajustamento da economia : empresas publicas ou “estratégicas”, mercados protegidos e não concorrenciais, mercado de trabalho rigido, etc).
    Este modelo “milagroso” (é um “milagre” um pais poder eternamente consumir mais do que produz) tinha naturalmente os seus limites. Como estes foram inconscientemente e alegremente levados até ao maximo, o fim foi repentino e brutal : o Estado chegou às portas da bancarrota, o pais viu-se sem crédito para continuar a viver como antes.
    O que é que se faz quando se percebe que o modo de vida que seguimos é insustentavel ?… Muda-se, corrigem-se os excessos, invertem-se as tendencias, ajusta-se o modelo. Concretamente, no nosso caso, as contas publicas e privadas devem ser reequilibradas, o crescimento e o intervencionismo do Estado devem ser contidos e revertidos.
    A austeridade, do Estado e dos cidadãos (pelo menos daqueles que, no fim de contas, mais beneficiaram do modelo anterior), é então inevitavel. Ela é, naturalmente e compreensivelmente, exigida pelos credores que, apesar de estarmos falidos, aceitam emprestar ainda mais dinheiro para termos mais tempo para mudar o que deve ser mudado. Mas ela é sobretudo inevitavel, independentemente de nos ser ou não exigida por terceiros. Sem a ajuda financeira a austeridade seria ainda maior e mais brutal.
    Por tudo isto é sempre espantoso ver que ha ainda tanta gente, incluindo pessoas bem formadas e informadas, como é visivelmente o caso do Ricardo, que nos vem dizer que é preciso fazer … o mesmo que nos pos de pantanas !…
    Mas mesmo que acreditemos nas virtudes da receita dita “keynesiana” (Keynes, que não se ocupou do caso particular de um pequeno pais técnicamente falido no ano futuro de 2015, serve para tudo !), a verdade é que, mesmo que a quiséssemos aplicar, não temos dinheiro para isso nem ha ninguém que, no seu perfeito juizo, seja ele “a Europa”, esteja disposto a nos dar (porque “emprestar” nas condições que são referidas equivale a dar a fundo perdido) o dinheiro necessario para aplicar uma receita que ja mostrou não resultar em tempos de vacas gordas, imagine-se agora com as vacas magras !!

  81. Ricardo

    Fernando S, o intervencionismo tinha de ser a nível europeu e nao a europa a emprestar a Portugal unicamente. Está a confundir o peso do estado na economia ao longo das ukimas décadas com o keynesianismo. Este último é uma política económica de resgate da economia num contexto sem procura agregada e sem haver impacto na baixa de taxas de juro. Isto sim é temporário. Eu também nao defendo o qe foi feito nas últimas décadas. Mas isto é um pós crise. A austeridade é desnecessária, o ajuste é que é. E este é compatível com uma politica de crescimento também. Precisamente por ser o tempo de vacas magras! A ideia de que nao ha investimento privado pelo argumento que fez nao faz sentido. Se houvesse procura, haveria oferta (excluindo uma situação estilo Venezuela ou zimbabue claro,).

  82. Ricardo

    Eu costumo dar o beneficio da duvida a quem eu considere visivelmente bem formado e informado. E você?

  83. Fernando S

    Ricardo,
    Diz que “nao defende o que foi feito nas últimas décadas”, “o peso do estado na economia” mas é contra a austeridade, contra o corte nos investimentos e nas despesas publicas. Pior, defende “um programa de [mais] investimento publico”.
    Decida-se !!

  84. Ricardo

    Eu já expliquei varias vezes. Nao se pode confundir a circunstância económico financeira deste período pos-crise com as últimas décadas. Despesa publica a torto e a direito independentemente da saúde das economias é uma opção política com a qual eu tendo a discordar, muitas das razoes das quais partikhamos. Intervenção do estado neste período (j expliquei as circunstâncias várias vezes) é uma necessidade económica. Nao devia ser vista com qualquer teor ideológico porque nao tem…a nao ser para quem seja totalmente laissez faire.

  85. Ricardo

    A recuperação na zona euro vai acontecer com o pacote de 300 mil milhões que vai entrar em vigor brevemente. Só lamento é a teimosia dos políticos europeus para só reconhecerem que tinham de fazer isto. Devia ter acontecido ha 6 anos atras. Entretanto, o draghi é que tem aguentado a economia enquanto os políticos nao se convenem. Triste europa.

  86. Fernando S

    Ricardo : “Eu costumo dar o beneficio da duvida a quem eu considere visivelmente bem formado e informado. E você?”

    Não estou a ver que “beneficio da duvida” me tem dado !!… 🙂
    Cada um tem as suas convicções e é natural que as defenda.
    O que digo é que é espantoso como a formação e a informação não impedem que se diga que um pais que esta praticamente falido deve dar a volta … gastando ainda mais dinheiro que não tem ou que ninguém compreensivelmente esta na disposição de lhe dar !!
    Mistérios da consciencia que, na verdade, saem dos limites do nosso debate !
    Faz-me pensar em 3 livros de 3 intelectuais franceses, com titulos muito sugestivos :
    “O opio dos intelectuais” ; Raymond Aron ; 1955
    “O conhecimento inutil” ; Jean-François Revel ; 1988
    “Porque é que os intelectuais não gostam do liberalismo” ; Raymond Boudon ; 2004

  87. Fernando S

    Ricardo : “A recuperação na zona euro vai acontecer com o pacote de 300 mil milhões que vai entrar em vigor brevemente.”

    A recuperação da Zona Euro ja esta a acontecer …
    Sem ter sido necessario nenhum “pacote” especial de investimentos publicos. De resto, 300 mil milhões é uma gota no oceano.
    A recuperação esta a acontecer sobretudo porque as economias europeias, indivualmente e no conjunto, estão hoje mais equilibradas e ajustadas.
    Graças ao maior rigor nas contas publicas e às reformas estruturais. Graças à “austeridade” !
    Mesmo que não seja ainda suficiente e seja conveniente perserverar e continuar a resistir à tentação de embarcar em ilusões despesistas e inflacionistas !

  88. Fernando S

    Ricardo : “o draghi é que tem aguentado a economia”

    As intervenções do BCE não começaram agora. Tal como o proprio Draghi sempre disse a quem o quiz ouvir, apenas se justificam na exacta medida em que os paises consolidam as suas finanças publicas e fazem as reformas estruturais. Agora que as economias europeias voltaram a crescer e quando as previsões são para que esse crescimento prossiga e aumente nos proximos anos, é natural que o BCE aumente a oferta monetaria. Não fez o contrario, e muito bem. De qualquer modo, não se exagere a dimensão e o impacto da intervenção do BCE. Os 1.140 mil milhões de Euros em 2 anos são bastante prudentes numa economia que produz 10.000 mil milhões por ano e que vai crescer em média acima de 1,5% ao ano. As baixas taxas de juro teem a ver sobretudo com a confiança dos mercados. Veja-se como as taxas da Grécia voltaram a subir apesar do BCE ter aumentado os montantes de financiamento à banca grega.

  89. Ricardo

    A Grécia é um caso extremo de falta de confiança de mercado, já nem liquidez têm, muita tensão política… Nao pode usar micro exemplos. Por isso é que falo de zona euro e EUA. Sem fronteiras e sem moeda própria, nao se pode discutir este tipo de política de intervenção.

    Como explica a recuperação dos EUA pelo keynesianismo e a ainda contraída europa (comparada ao pre-crise) com austeridade? Nao se esqueça que o aumento da divida em relação ao PIB na zona euro foi maior que o americano durante este período.

    Já li muito pessoal do seu lado entre os quais o niall Ferguson nos tempos mais recentes. Mas ao ler os dois lados do debate deparei-me com buracos na lógica.
    Por exemplo, a ideia da hiperinflação que se provou errada em toda a linha nexte contexto pos-crise. Nao ha procura agregada.. Se a inflacao pegasse um bocado é que era bom. Deflação é pior. Foi neste tipo de contexto que o fascismo apareceu.

    Eu talvez não me explico muito bem. A escrever pelo telemóvel é complicado. Mas ha muito boa literatura que se pode ler e que pode comparar com a informação que tem. Vou ter de apanhar um voo e nao vou ter a mesma disponibilidade para responder. Foi uma boa discussão. Eu dou o beneficio da duvida, por isso e que continuo a ler austriacos mas penso que eles nao atingiram a questão de recuperação de economias no pós crise. O Keynes só tece oportunidade de provar que estava correcto graças à 2a guerra mundial. Os EUA estavam muito endividados e ainda se endividiram mais, mas isso recuperou a economia da grande depressão. Bem, despeco-me. Cumprimentos,
    Ricardo

  90. Fernando S

    Ricardo,
    Obrigado pelo debate.
    Continuamos noutras oportunidades.
    Boa viagem e boas coisas.
    Fernando

  91. Joaquim Amado Lopes

    Ricardo,
    Não, não concordo.
    A economia crescer não é, só por si, positivo. Se fosse, bastava o Estado endividar-se para pagar a metade dos desempregados para abrirem valas e à outra metade para as tapar. Não haveria desemprego, o consumo aumentava, o PIB aumentava e andava toda a gente contente. Até chegar a factura.
    As importações disparavam (por via do aumento do consumo interno, que nunca é apenas à custa da produção interna) e as exportações diminuiam (por as empresas nacionais se virarem para o mercado interno, muito mais “fácil” do que o externo). O desemprego só poderia continuar em baixo à custa do aumento continuado da dívida e essa dívida teria que ser paga.
    Como os credores não continuariam a subsidiar a abertura e fecho de valas, a torneira fechava. O desemprego voltava, o consumo e o PIB diminuiam, empresas fechavam e aumentava a necessidade de apoios sociais enquanto a receita do Estado diminuia. E a dívida seria maior do que nunca, a taxas de juro mais altas do que nunca. E a contestação social (p.e. pelo aumento do desemprego) só levaria a mais más decisões.

    É positivo que a economia cresça quando isso implica num aumento de riqueza e a riqueza não se mede pelo PIB. Se se medisse pelo PIB, um padeiro que fizesse 100 pães e vendesse 95 comendo os restantes seria “mais pobre” do que um que fizesse 150 pães e só vendesse 50.

    O crescimento varia de acordo com um míriade de factores que o Estado não controla nem pode de forma alguma controlar. São ajustamentos naturais a um contexto sempre mutável.
    Quando o Estado “intervém para corrigir desiquilibrios” está apenas a introduzir mais um desiquilibrio e a complicar os ajustamentos naturais. Mais, intervém para “corrigir” um ou um punhado de factores mais “populares” ignorando todos os outros que desiquilibra.
    Veja-se o caso dos políticos que nos dias pares clamam contra o aumento da dívida e nos dias ímpares exigem mais despesa pública e baixa de impostos. E há até aqueles que, no mesmo discurso e por vezes até no mesmo parágrafo, exigem tudo isso.
    O mercado (o conjunto de decisões pessoais de milhares de milhões de pessoas) ajusta os desiquilibrios no seu tempo e de forma natural. O Estado apenas causa problemas para os privados pagarem.

    Alguns dos críticos do actual Governo (sou crítico do actual Governo mas não pertenço a este grupo) queixam-se de que o ajustamento das contas públicas está a ser feito à custa dos contribuintes. Pergunto: como podia ser de outra forma?
    São sempre os contribuintes que pagam os disparates do Estado. O problema é alguns acreditarem que a conta virá sempre depois deles. Pois (parte d)a conta pelos disparates passados já chegou e tem que ser paga agora. O importante é que façamos por pagar essa conta sem criar contas ainda maiores para os que vierem a seguir.

    Os novos “lentes” ungidos pelo PS já vieram assumir (por outras palavras mas de forma bem explícita) que querem é consumir muito agora e quem vier a seguir (filhos e netos) que se lixe. Cresci numa família e num meio em que os pais se sacrificavam para que os filhos tivessem uma vida melhor do que a que eles tiveram. Essa atitude ter “evoluído” para a actual não é, de forma alguma, um progresso.

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