O Eurostat divulgou hoje as projecções para o crescimento económico em 2014. Portugal terá voltado ao crescimento com uma taxa de 0,9%. Ou seja, 4 anos depois, a economia portuguesa voltou a crescer. Olhando para este crescimento, ainda bastante baixo, é fácil argumentar que é insuficiente e que as (na minha opinião, escassas) reformas trazidas pela austeridade continuam sem demonstrar resultados.
No entanto, convém olhar com atenção para os números. No gráfico abaixo cruzam-se os dados do crescimento económico desde 1996 com o saldo da balança corrente. Em termos simples, um saldo da balança corrente negativo significa que o país se endividou perante o estrangeiro nesse ano. Os pontos à esquerda representam os anos em que o país se endividou perante o estrangeiro e os pontos à direita os anos em que não o fez. Pontos acima do eixo representam anos de crescimento económico e pontos abaixo representam anos de declínio do PIB:
Os dados começam em 1996, mas podíamos estender até 1973 que a imagem seria semelhante. Em quase todos os anos desde 1996, Portugal endividou-se perante o exterior. Em muitos desses anos, a economia cresceu, mas apenas endividando-se perante o estrangeiro. Ou seja, em todos os anos em que a economia cresceu no passado fê-lo sacrificando crescimento futuro. Em alguns anos, até sacrificou crescimento futuro e mesmo assim não cresceu. Há uma tímida mas notável excepção: aquele ponto no quadrante verde. Aquele ponto refere-se ao ano de 2014. A confirmarem-se os dados terá sido o primeiro ano na história de Portugal democrático que a economia do país cresceu sem se endividar, ou seja, sem sacrificar crescimento futuro. Isto só será surpreendente para quem não segue os opinadores certos.
Os comentadores certos sao abafados pela turba dos adeptos dos manifestos que mamam no “Estado” desde a sua fertilizaçao in vitro ( outra forma teria de ofender as maes) e pelo Adao e Silva que existe em todos os comentadores da CS, aka a voz do povo..
Só fico lixado ao ver isso, quando olho para a minha folha de IRS. Nao pelo valor, todos temos de contribuir para o “Estado Social”, mas por saber que vai alimentar as bocas conspurcadas dessa seita..
Honestamente poderá dizer-se que “cresce” só após recuperar da queda… Ainda falta um pouco para isso. Como não houve “mexidas” (sérias) no Estado, ele continuará a mamar recursos, e portanto, mesmo que haja crescimento, ele tenderá a virar celulite…
“ficamos mais ricos sem nos endividarmos”.
Haverá outra forma de ficar mais rico?
Se descontarmos do “crescimento” o “aumento da dívida”, ou seja, se virmos o crescimento real, em que a economia cresceu mais do que a divida só se safam 4 a 5 anos da série de 20.
Ou seja, em 20 anos apenas houve crescimento real em 4 ou 5.
Acho que era serviço público da parte do insurgente fazer esta conta bem feita, ou seja, em que anos houve de facto crescimento. Mais impressionante ficaria ainda o feito de 2014 dos portugueses exportadores.
endividando-se perante o estrangeiro
Um défice da balança corrente não corresponde necessariamente a um endividamento; pode corresponder a investimento do estrangeiro no país. Se um alemão investe em Portugal, comprando máquinas e equipamentos para uma nova fábrica, esses equipamentos são importados e portanto geram défice na balança corrente, mas não há lugar a qualquer endividamento dado que o défice é coberto pelo dinheiro que o alemão fez entrar em Portugal.
Muito bem Carlos, pôs tudo na perspetiva certa. E faz todo o sentido que estejamos a crescer pois agora os nossos preços são competitivos, ao contrário de antes, que eram demasiado altos devido a salários excessivos mantidos à custa de empréstimos e crédito. Ora, que quem não prefere comprar um produto barato e bom como o que atualmente oferecemos? É a lei da oferta e procura a funcionar, sem quaisquer distorções. E vamos continuar a crescer muito mais se atingirmos mais eficazmente o público lá fora.
E uma prova de que a austeridade funciona mesmo é a queda no desemprego observada nos países mais conhecidos por implementar medidas nesse sentido – Portugal, Espanha, Grécia e Inglaterra, enquanto na França do socialista anti-austeridade Holand continua a aumentar!
http://www.google.pt/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=3&cad=rja&uact=8&ved=0CDAQFjAC&url=http%3A%2F%2Fwww.tradingeconomics.com%2Fportugal%2Funemployment-rate&ei=XfXdVP3GCIHaUprggcgM&usg=AFQjCNEdeXSHU9qOrp3TysECCCWnLw_mPg&bvm=bv.85970519,d.d24
Luís Lavoura, se importamos, algum dia teremos de exportar. Ou seja, ficamos em dívida para com o exterior.
Rodolfo, não. Repito, se uma empresa alemã decide investir em Portugal, então as máquinas entram no país a troco de dinheiro, logo, há défice comercial. Porém, esse dinheiro que entra no país entrou nele por via da empresa alemã, logo, a esse défice comercial não corresponde qualquer endividamento.
Da mesma forma, se um emigrante português decide comprar um carro cá, há défice comercial, porém não há endividamento, pois que o dinheiro da compra do carro foi para cá trazido pelo emigrante.
É normal que países subdesenvolvidos tenham défices comerciais, os quais são compensados pelos investimentos estrangeiros nesses países e/ou pelas remessas dos emigrantes.
” Se um alemão investe em Portugal, comprando máquinas e equipamentos para uma nova fábrica, esses equipamentos são importados e portanto geram défice na balança corrente, mas não há lugar a qualquer endividamento dado que o défice é coberto pelo dinheiro que o alemão fez entrar em Portugal.”, o problema deste raciocinio é que os bens importados e que geram défice na balança corrente, não são maquinaria ou serviços de ponta que alavancam a actividade económica produtiva empresarial, mas sim bens de consumo destinados aos privados, gadgets, automóveis, etc…..
Um investimento estrangeiro é também uma divida. Ocorre que essa divida é contraída em condições altamente favoráveis, sem nenhuma garantia de juro e com um colateral que é criado pelo próprio investidor. Muito melhor do que endividamento com juros garantidos.
Mas para todos os efeitos é uma dívida externa.
Exemplo:
– Um polaco compra a TAP. É investimento externo.
– Compra a TAP com garantia do estado português sobre o passivo anterior da empresa.
– Entra no capital da TAP, mantendo o estado português uma participação de controle e com acções preferenciais.
– A TAP emite obrigações que são garantidas pelo estado e compradas pelo polaco
– O amigo polaco compra títulos do tesouro que o estado português usa para capitalizar a TAP. Não é investimento externo.
A diferença entre uns e outros está apenas no risco corrido pelo investidor estrangeiro, e portanto no juro a pagar.
“Um investimento estrangeiro é também uma divida”, mas não se aplica no nosso caso! O investimento estrangeiro é escasso em Portugal, o que existe é a importação de bens para consumo privado.
Luís Lavoura,
Se um alemão investe em Portugal, o valor do investimento entra na Balança de Pagamentos.
O Luís Lavoura tem razão. A Balança Corrente negativa não implica necessariamente endividamento porque ainda há os outros constituintes da Balança de Pagamentos, que a podem compensar.
No caso português, défice corrente acompanhou sempre um aumento do endividamento? Acompanhou, sim. Esta é, portanto, uma não-questão.
Agradecendo o gráfico, aqui fica o desenvolvimento que lhe acrescentei (é mais simples indicar o link do que importar para aqui o conteúdo):
http://miguelsoaresdealbergaria.blogspot.pt/2015/02/crescimento-vs-divida-externa.html
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