Um genocídio sem direito a manifs

“The West must face the evil that has revealed itself in the Iraq genocide” de
Michael Nazir-Ali (Daily Telegraph)

For years now the Christian, Mandaean, Yazidi and other ancient communities of Iraq, have been harried, bombed, exiled and massacred without anyone batting so much as an eyelid. Churches have been bombed, clergy kidnapped and murdered, shops and homes attacked and destroyed. This persecution has now been elevated to genocide by the advent of Isis. People are being beheaded, crucified, shot in cold blood and exiled to a waterless desert simply because of their religious beliefs.

What began in Iraq, continued in Syria. Here the West’s ill-advised backing of an Islamist uprising (largely funded by Saudi Arabia and Qatar) against the Assad regime has turned into a nightmare which has given birth to ultra-extremist organisations like Isis. Once again, religious and ethnic minorities, whether Christian, Alawite or Druze, have been the victims, alongside ordinary people of all kinds. Isis, now armed to the teeth with weaponry originally intended by the suppliers for “moderate” Islamist groups, has arrived in Iraq with a vengeance beyond anything that unfortunate country has so far experienced.

15 pensamentos sobre “Um genocídio sem direito a manifs

  1. Luís Lavoura

    the West’s ill-advised backing of an Islamist uprising
    >i>armed to the teeth with weaponry originally intended by the suppliers for “moderate” Islamist groups
    Conclusão: o “West” fez a cama na qual está metido (e os Yazidis, etc estão metidos).
    Mais valia que o “West” não metesse o nariz onde não é chamado.

  2. JSP

    O tipo da Casa Branca (não, não é próximo do Cano) bem pode pintar a cara de preto…
    E , já agora, toda a canalha ululante, e profundamente ignorante, da “Primavera Árabe pode, e deve, fazer o mesmo.

  3. JPT

    Gosto da parte que a responsabilidade por estes massacres é do “the West’s ill-advised backing of an Islamist uprising (largely funded by Saudi Arabia and Qatar) against the Assad regime”. Ou seja, quando Assad pai massacrou 40 mil sírios em Hama, ou quando Assad filho largou gás sarin nos subúrbios de Damasco e bombardeou Homs, Hama e Alepo até à idade da pedra, estava tudo na boa ordem do Senhor, porque os massacrados não são “dos nossos”. Não terá antes sido “ill-advised” o “backing” das comunidades cristãs a um regime sanguinário que há 45 anos oprime a esmagadora maioria da população síria? Não terá sido “ill-advised” o Ocidente ao traçar uma “linha na areia” a Assad e, depois, deixá-lo pisá-la? Há que contar bem as histórias: na Síria, como já tinha sido o caso da Bósnia, da Chechénia, da Palestina, ou do Afeganistão ou do Azawad, e está a ser na Líbia (e há-de ser no Egipto e, quem sabe se no Golfo), o fanatismo wahabita limita-se a aproveitar as consequências da “realpolitik” e do descuido e indiferença do Ocidente. Um náufrago agarra-se a qualquer bocado de madeira para sobreviver e se o fanáticos forem os únicos a combater por estas populações, serão os únicos a ser apoiados por elas.

  4. CN

    “um regime sanguinário que há 45 anos oprime a esmagadora maioria da população síria?”

    E tem a certeza que essa ânsia libertadora dos povos oprimidos não tem gerado crescentemente condições sanguinárias e de incerteza maiores?

  5. Miguel Noronha

    O grande problema é que em muitos desses países a alternativa a um “governo opressor” é uma “oposição genocida”. Ainda assim não justifica a apologia dos opressores. Mas também não aconselha o apoio à tal oposição.

  6. Carlos Duarte

    Entre o mau e o péssimo, antes o mau. No caso da Síria, entre Assad e o ISIS, Assad. No Iraque, entre Saddam e o ISIS, Saddam.

  7. JPT

    Há um juízo implicito nos três comentários acima que assume os árabes (e muçulmanos não- árabes) não são capazes de viver civilizadamente sem ser sob o jugo de um tirano sanguinário. Esse tipo de juízo já foi feito, há muito pouco tempo, sobre os povos ibéricos e latino-americanos ou, há mais, sobre a Alemanha e os países da Europa Central. Provou-se errado. A implementação da democracia é um processo, pelo que extrapolar da possibilidade da democracia no mundo árabe a partir do resultado actual das primaveras árabes, é como retirar igual conclusão para Portugal a partir do sucedido no PREC. Aliás, se as forças democráticas, em Portugal, tivessem tido o mesmo apoio, durante o PREC, que os frágeis regimes árabes tiveram nos últimos anos, também nós, mesmo com os nossos “brandos costumes” teríamos tido milícias e uma guerra civil. É, porém, útil a quem conta que os países árabes sejam controlados por ditadores que dedicam todos os seus recursos militares a controlar e/ou massacrar os seus próprios cidadãos, ou, que alternativamente, se desfaçam em selvagens conflitos intestinos (não mais selvagens, parece-me, que o que teve lugar do outro lado da raia, ainda há não 100 anos).

  8. Carlos Duarte

    Caro JPT, não tem (muito) a ver com serem árabes. Tem a ver com os países serem, na sua maioria, artificiais (seja em termos étnicos, geográficos ou religiosos). Tem um problema similar em África.

    A vertente religiosa tem algo peso devido à especificidade do Islão que, ao contrário do Cristianismo, não só não separa Deus de César como advoga aliás a ideia de uma nação única global. Quando, por exemplo, se discute ultramontanismo e jansenismo (isto em termos católicos), não se consegue fazer o paralelismo para o Islão. O Islão é ultramontano por definição.

  9. lucklucky

    A limpeza étnica já vem muito detrás. Desde o Pan-Arabismo, que os Cristãos fogem do Médio Oriente e do Levante.

    Agora os sem vergonha dos jornalistas acordam.

    —————–
    Isto tem tido implicações em Israel com cristãos árabes a alistarem-se com mais frequência nas forças armadas.

  10. Pedro Oliveira

    Temos é que substituir “um regime sanguinário que há 45 anos oprime a esmagadora maioria da população síria” por um um regime sanguinário que nos próximos 450 anos oprima a esmagadora maioria da população síria. Isto para já não falar no resto do Médio Oriente. Afinal de contas não é como se fossem judeus… Esses têm que alinhar pelas regras dos países ‘civilizados’ – a civilização pode ser redefinida em algumas intervenções em África. Os árabes, como selvagens que são, não precisam de cumprir essas regras.

    Quão racistas podem ser os politicamente corretos?

  11. “A limpeza étnica já vem muito detrás. Desde o Pan-Arabismo, que os Cristãos fogem do Médio Oriente e do Levante.”

    “Fugir” não é sinónimo de “limpeza étnica” – por mais desagradável que a vida sobre os regimes do Ba’ath fosse para os cristãos sírios e iraquianos, creio que nunca houve uma politica deliberada (pelo menos, é a isso que chamo limpeza étnica) desses governos de expulsar/exterminar/converter essas populações; pelo menos na Síria, creio que o governo até seguia muito uma politica de se apoiar em tudo o que não fosse muçulmano sunita, incluindo os cristãos (até porque mesmo os próprios alauítas – a seita dos Assad – só a muito custo conseguem ser considerados muçulmanos; são um bocado como os mórmones no cristianismo); no Iraque havia efetivamente perseguições contra os cristãos assírios, que eram forçados a se declarar como “árabes de religião cristã” (e o assírio no governo de Saddam, Mikhel Yuhana, como bom pan-arabista, usava o nome árabe de “Tarek Aziz”), mas aí era uma perseguição étnica propriamente dita, não tanto religiosa (claro que se pode argumentar que, para um cristão assírio, ser perseguido por ser assírio ou por ser cristão provavelmente vai dar ao mesmo).

  12. lucklucky

    MM
    É evidente que podes dizer que o grau de intimidação é diferente em escala e que a fuga tem um menor caudal com os regimes anteriores mas o resultado é o mesmo.

    Note-se que acontece no Líbano, Egipto, Palestina onde aliás é o silêncio sobre a fuga dos cristãos palestinanos .

  13. Luís Lavoura

    Carlos Duarte,

    o Islão, ao contrário do Cristianismo, não separa Deus de César

    Essa é uma ideia feita mas que é totalmente falsa.

    O Cristianismo católico é que, durante séculos, não separou: o papa era, pelo menos em teoria, imperador de todos os países católicos. Afonso Henriques buscou o reconhecimento papal da independência de Portugal.

    No Islão, pelo contrário, as autoridades religiosas sempre estiveram bem separadas das autoridades políticas. Nunca (com exceção do período inicial dos primeiros quatro califas) elas coincidiram nas mesmas pessoas. Repare que, mesmo no Irão atual, ou na Arábia Saudita atual, as autoridades religiosas supervisionam a atuação dos políticos, mas não os dirigem.

    Em toda a longa história do Islamismo, não há memória de dirigentes políticos que tenham pretendido assumir o papel de líderes religiosos, muito menos de líderes globais.

    O Islamismo tem uma vantagem em relação ao catolicismo, que é que as autoridades religiosas são múltiplas e são consideradas sempre como não passando de homens. No catolicismo é que o papa é encarado como iluminado pelo Espírito Santo e tem por isso um estatuto semi-divino.

  14. “O Islamismo tem uma vantagem em relação ao catolicismo, que é que as autoridades religiosas são múltiplas e são consideradas sempre como não passando de homens. ”

    Deixando de lado o facto de isso só se aplicar ao sunismo (e algumas seitas xiitas, como os druzos e alauítas estão muito perto de dizer que certas pessoas são ou foram deuses), há quem diga (creio que é a posição, p.ex., do Fared Zakaria) que isso é uma desvantagem – exatamente porque no islamismo não há uma “Igreja” no sentido que há no cristianismo, como uma hierarquia paralela (e por vezes rival) à do Estado, isso facilita à confusão entre politica e religião, já que os imãs das mesquitas acabam por ser funcionários dos “Ministérios dos Assuntos Religiosos”.

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