Entrevista a um conservador

É cada vez mais raro neste rectângulo, mas ainda vai havendo conservadores que pensam muito e bem. Um deles é o Filipe Faria. Discordando de muito o que aqui diz, vale a pena ler na íntegra a entrevista do Filipe Faria ao jornal Diabo. O Filipe é alguém que pensa o país para além da espuma dos dias e que vale sempre a pena ler. Um dia, quando tiver estudado o suficiente, responder-lhe-ei.

13 pensamentos sobre “Entrevista a um conservador

  1. Gil

    Quando se uniformizam concertos, as conclusões tornam-se complicadas. Nunca houve uma só “direita”, como nunca houve uma só “esquerda”. Muitas análises que por aqui se lêem padecem desse mal da uniformizaçāo. A partir do séc. XIX e sobretudo depois de Marx, a fronteira situou-se no papel da propriedade e do Estado. No entanto, a evoluçāo verificada quer nas sociedades, quer nas ideologias, levou a uma redefiniçāo de princípios e estratégias. Veja-se por exemplo, que as linhas programáticas dos partidos socialist as europeus, estão mais próximas dos partidos tradicionais da direita europeia do que dum Partido Comunista Português ou dum Syriza. O internacionalismo era uma bandeira marxista, mas, hoje, as principais denúncias da globalização surgem à esquerda dos partidos socialistas tradicionais. Se usarmos apenas o exemplo português, a preocupação pela defesa da individualidade e da diferença foi bandeira dum partido de esquerda (Bloco de Esquerda), mas nunca teve uma adesão entusiástica por parte do PC. As primeiras medidas regulamentadoras e restritivas to madras em defesa do ambiente foram da responsabilidade de um governo de direita (AD, através de Gonçalo Ribeiro Telles), mas são hoje criticadas por economistas dessa área e São uma bandeira da esquerda. Concluindo: o mundo vive mudanças que exigem respostas de todos os quadrantes políticos. De muitas direitas e de muitas esquerdas. Uniformizá-las é mais do mesmo: simples estratégias para alcançar o poder.

  2. Miguel Noronha

    Mais uma vez constato que me identifico muito pouco com aquilo a que ele chama de “direita”.

  3. Carlos Duarte

    Caro Gil,

    Está a por o problema ao contrário: a definição de esquerda e direita tinha tudo a ver com a dicotomia progresso / conservadorismo e nada a ver com estatismo / liberalismo económico. Algures aqui pelo meio – e muito por culpa da excessiva influência anglo-saxónica na definição de conceitos – começou-se a classificar as pessoas num espectro sócio-político de acordo com as suas convicções sobre teoria económica. O que é errado. Aliás, e só para lançar uma acha para a fogeira, historicamente o liberalismo económico (clássico) era uma política associada à Esquerda e não à Direita.

  4. Miguel Noronha

    “Aliás, e só para lançar uma acha para a fogeira, historicamente o liberalismo económico (clássico) era uma política associada à Esquerda e não à Direita”
    Precisamente porque o que os liberais defendiam era anti-estabilishment. Em termos originários o conceito direita/esquerda tem a ver com a defesa/oposição ao statuos quo. Nem é preciso ir buscar a revolução francesa que considero um exemplo muito infeliz. Basta pensar nas Corn Laws ou no estatuto da Irlanda.

  5. Por isso é que a The Economist se identifica como sendo do “centro radical”, embora seja assumidamente liberal. Percebo a vontade do Filipe Faria de manter a dicotomia esquerda/direita tal como era nos Estados-Gerais, mas a filosofia política é algo tão dinâmico que é inevitável que os conceitos se actualizem. Hoje em dia, goste-se ou não, a dicotomia esquerda/direita separa estatismo de liberalismo económico, ficando a questão social numa segunda dimensão.

  6. Gil

    Mário Amorim Lopes:
    Por essa ordem de ideias, onde “mete” os anarquistas, ou aqueles que defendem formas de democracia directa?

  7. Gil, no quadrante libertário, que compõe a parte negativa do eixo das ordenadas. Os anarquistas da propriedade pública, no lado esquerdo. Os anarco-capitalistas, voluntaristas, no quadrante direito.

    Veja aqui.

  8. Eu não ligaria muito à forma como o Political Compass faz os eixos, já que o seu uso dos termos esquerda-direita é um pouco idiosincrático (eles próprios dizem que no modelo deles muitos movimentos normalmente classificados na “extrema-direita” ficam na esquerda). Em termos geometricos, algo parecido com o World Small Political Quizz (em que o quadro está inclinado, de forma que tanto o liberalismo económico como o autoritarismo social apontam para a direita) corresponde mais à forma como, ainda hoje em dia, os termos “esquerda” e “direita” são normalmente usados (mesmo se nos limitarmos aos partidos mainstream, veja-se que na Europa continental não é raro que os partidos “conservadores”/”democratas-cristãos” sejam mais economicamente intervencionistas que os partidos “liberais” e, mesmo assim, serem considerados à direita destes – veja-se a CDU e o FDP na Alemanha, ou os gaullistas e os Republicanos “giscardianos” em França, antes de se terem junto na UMP)

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