Na sincronicidade a coincidência vai mais além. O fenómeno da aleatoriedade dá lugar ao significado. O relógio parado não acerta duas vezes ao dia porque ficou sem pilha, acerta duas vezes ao dia porque alguém lhe retirou a pilha.
A forma como os usuais paladinos dos fracos e oprimidos inundam a imprensa com usura e belicismo literário contra a usura dos facínoras capitalistas, contra os liberais, e contra seja lá o que for que atente contra o sonho socialista, contrasta estranhamente — ou coincidentemente — com a preocupação e candura de José Sócrates (e de tantos outros) com Ricardo Salgado, expoente (teórico) máximo da ira dos grandes timoneiros que lutam pelo depor do capitalismo, dos mercados e do mundo financeiro que nos agrilhoa. Mas que os abanca, porque cá se fazem, cá se pagam.
João Miguel Tavares sintetiza bem este fenómeno na sua crónica no Público:
“Um homem que teve o poder que ele teve e que sabe o que ele sabe não é coitadinho nenhum. Se Ricardo Salgado abre a boca, metade do regime parte o pescoço ao cair das escadas. As suas contas bancárias até podem ficar a zeros – enquanto ele tiver memória, continuará a ser um dos homens mais poderosos do país.”
Os cronistas do regime arregimentado a proteger o regimento que um dia regeram e que ainda hoje os rege. Realpolitik à portuguesa, com certeza.
Duvido muito que haja segredos com poder para mudar o que quer que seja.
O homem cujo contrato com a TV pública é segredo quer que a justiça se explique ao patrão de Portugal. E já não é PM, porque se fosse…
Lucklucky,
Nem o Lucklucky sabe como!