O Problema
O meu artigo de hoje no Diário Económico:
Obviamente, sim. Pense no seu local de trabalho: se a empresa tivesse uma dívida superior ao volume de negócios anual, as receitas estivessem em queda e os credores tivessem ameaçado exigir a bancarrota, o que aconteceria se nos 5 anos seguintes a empresa mais não conseguisse do que cortar para metade o nível de crescimento do endividamento? A dúvida – como se viu nas eleições Alemãs da semana passada – era se os credores tinham interesse.
Portugal (e outros, como Espanha e Grécia) tem um modelo de “desenvolvimento” assente no consumo, e não na produção. No desperdício, e não no retorno do investimento. Confunde despesa com investimento. E por isso é apenas natural que transfira mais recursos para o sector não-competitivo que a média Europeia. E que insista em défices como solução, como se o dinheiro brotasse do chão.
Carlos Guimarães Pinto apresentou um cálculo interessante sobre o défice e o adiar da sua resolução. Portas queria mais 0,5% de défice e Seguro – para não ficar atrás – mais 1%. Mas vejamos pelo lado dos custos. 0,5% do PIB são grosso modo 1000 milhões. A um juro de 7% por ano, o custo é de 70 milhões. Isto corresponde aos rendimentos de 2000 funcionários públicos. Assim, Portas queria forçar o despedimento de 2000 funcionários públicos, Seguro o de 4000. Vendo pelo lado do custo dá uma perspectiva diferente, não dá?
Não basta enfrentar o défice, é preciso enfrentar a mentalidade que nos levou lá. A mentalidade de que a dívida não é para pagar, que se ganham votos prometendo novas despesas sem responder a quanto custa e quem paga e que os défices são normais e os superávites uma anomalia (quer uma diversão? pergunte a todos os que o rodeiam o que significa superávite!). Até lá, eu não emprestava a um país em que alguns dirigentes políticos afirmam que a dívida é “impagável”. Até lá, o Estado vai certamente precisar do segundo resgate e esperemos que não precise de um terceiro.
O problema de Portugal não é o dinheiro, são os princípios de saúde financeira.
brilhante . mas me lembra padre Antonio Vieira …
Défices públicos não têm que ser algo negativo, eles podem servir para aumentar as poupanças do sector privado:
O governo vende títulos de dívida pública ao sector privado valendo X. O governo recebe este X e gasta-o/investe-o. Logo este X é depositado em contas bancárias do sector privado. O sector privado vê as suas poupanças subirem: sai X e entra X (anulam-se), entra títulos de dívida pública.
Os déficits servem para aumentar a quantidade de dinheiro detida pelo sector privado. O problema é a possível inflação que isto causa, e os superavits (retirando dinheiro do sector privado) servem para a prevenir/abrandar. Não existe nenhum problema intrinseco em déficits ou superavits, são duas politicas necessárias que servem para se contrabalançar. (Estou a assumir soberania monetária, é claro.)
“Confunde despesa com investimento”. Esta frase é o resumo perfeito.
O artigo, muito bem. A solução, impossível. Somente a bancarrota, um terramoto, ou outra coisa muito grave poderiam mudar algo.
A dívida é, obviamente, impagável, pelo menos na sua totalidade. Negociar é preciso, tanto no interesse do devedor, como (talvez principalmente) no do credor.
“A dívida é, obviamente, impagável, pelo menos na sua totalidade. Negociar é preciso, tanto no interesse do devedor, como (talvez principalmente) no do credor.”
E depois, esperar que ainda assim o credor empreste mais, se for burro, pois doutra forma não se vai conseguir manter o estado das coisas.
Portugal precisa é de pessoas honestas e objectivas na política, isentas da corrupção partidária e de responsabilização de quem toma decisões danosas …
E entretanto os gastos do estado vão andando como se nada se passasse no mundo real.
Obviamente que até um 3º resgate virá … basta … olhar para a Grécia, tal como eles … até ao momento … não foi feito ponta d’um corno em Portugal …