Terrores

É curioso que o assassinato de um cidadão britânico – de um horror como há muito não se via – levante uma onda de indignação contra o terrorismo e de solidariedade para com o Reino Unido, quando se trata de um país que, só na intervenção na Líbia, no passado ano, foi directamente responsável ou co-responsável pelo assassinato de quase 100 cívis.

Se, por um lado, o extremismo islámico é um grave problema com que a Europa terá que lidar aguerridamente, por outro lado, actualmente, não existe menos sangue nas mãos dos  dirigentes britânicos (e norteamericanos) que nas mãos dos que estes dizem combater. E, como foi o caso do pós-9/11, os Tories preparam-se para utilizar este (vil) ataque como justificação para a transformação do país num Estado Policial.

Que não se interprete este post como uma tentativa de menorizar a gravidade que constituiu este acto vil em solo europeu, que levou a vida de um soldado, mas sim como um “apontar de dedos” à hipocrisia que paira sobre a comunicação social e grande parte dos dirigentes políticos, nacionais e estrangeiros.

O Terror não tem pátria, credo ou ideologia. E se a Esquerda se cega, defendendo incondicionalmente o terrorismo islámico e socialista, a Direita não tem sido menos cega no seu apoio doentio ao terrorismo de estado levado a cabo pela NATO e pelas potências ocidentais.

23 pensamentos sobre “Terrores

  1. Luís Lavoura

    Excelente post.
    É também curioso que a morte de um só homem tenha tanto impacte mediático. Todos, ou quase todos os dias há homens assassinados no Reino Unido. Em muitos casos assassinados de forma cruel. Por que motivo há de o assassinato deste homem especificamente levantar mais problemas do que qualquer outro assassinato, quando tudo indica que se tratou de um caso isolado? Por que motivo há de o assassinato de um homem ser mais problemático lá por esse homem ser soldado de profissão? Será que o assassinato de uma mulher pelo seu marido, ou de um ciclista por um automobilista apressado, são menos graves do que este assassinato?

  2. Não creio que haja aqui uma hierarquia de importâncias, mas um foco no aspeto simbólico. Pode muito bem ser que este ato seja a manifestação extrema de um ambiente. Num país que não digo existem duas etnias, uma delas representando 5% da população mas que é violenta e coesa. É vê-los nos hospitais a empurrar as pessoas à hora da visita, perante a cumplicidade das “autoridades”. Não matam, mas amolentam…
    Quanto aos muçulmanos. Existe uma aliança explícita da esquerda com eles, numa estratégia de guerra civil que já foi descrita noutros lados. Esta aliança garante direitos especiais. E é aqui que começam os problemas que não vale a pena tentar reequilibrar com intervenções militares espúrias. São exercícios de destreza intelectual que se esbarrondam se alguma vez, Deo volente, tivermos que lidar com quem nós sabemos.
    Que isto de atribuir virtudes a uma grupo humano, só para mostrar essa destreza, vai longe de mais. Isto digo eu que quero viver em paz.

  3. lucklucky

    Patetice pegada ou então o autor do post tem de dizer e assumir que é Pacifista. O que é um grau muito especial de inumanidade.

    “Por que motivo há de o assassinato deste homem especificamente levantar mais problemas do que qualquer outro assassinato, quando tudo indica que se tratou de um caso isolado?”

    Assassinos islamistas são casos isolados? reescrever a História é extrordinário.

  4. paam

    Luís Lavoura,

    Porquê? Porque o objectivo do assassinado era aumentar a tensão. Um dos assassinos afirmou para uma câmara que um dos objectivos era começar uma guerra hoje. E por pouco que não o conseguiu. Passadas poucas horas já havia membros da extrema-direita prontos para a violência e hoje já existem memoriais de guerra vandalizados.

    Tensions on streets after slaughter of British soldier: War memorials defaced and mosque firebombed as EDL prepare to march on Westminster
    http://www.dailymail.co.uk/news/article-2331598/War-memorial-defaced-EDL-prepare-march-Downing-Street-tensions-rise-country.html

    Só é preciso um pequeno incidente para acabar tudo num verdadeiro caos. Já aconteceu e vai voltar a acontecer enquanto não se reconhecer o fracasso do multiculturalismo.

    O Luis Lavoura não tem a mínima ideia da gravidade da situação.

  5. Jónatas

    Finalmente, uma opinião com cabeça, tronco e membros sobre isto por aqui. Discordo, Ricardo, quando diz que a esquerda tem sido cega a apoiar o terrorismo islâmico. A esquerda tem sido cega a tentar que a direita não confunda todos os muçulmanos com terroristas. No fundo, nem é mais do que pedir aquilo que você também pede à Inglaterra, aos EUA e à NATO. Porque não haja dúvidas que qualquer esquerda decente e que se preze tem de ser contra o terrorismo e a favor do combate ao terrorismo. Não confunda as árvores com a floresta.

  6. lucklucky

    Já é tempo de alguns liberais se assumirem como pacifistas.mas parece que estão com esquisita reserva moral.

    Dos mortos que a Nato fez fala-se mas dos vivos que a Nato salvou já não fala. Ora é precisamente a falta de controlo sobre esta ultima parte – os que chegam podem ser bem piores que Kadhafi – e a sempre importante questão da legitimidade que faz duvidar da intervenção na LÍbia.
    Nem claro se fal do investimento imenso feito par diminuir o erro feito pela Nato com o objectivo contrário de causar o maior número de mortos

    Falta ainda saber o que pensam das mortes provocadas por erro médicos…
    Ou o que pensam das mortes na Síria…mas como não é a Nato nem Israel não pensam.

  7. “Patetice pegada ou então o autor do post tem de dizer e assumir que é Pacifista.”

    Falo por mim e não pelo autor do artigo, mas uma posição ideológica de repúdio da ingerência não têm que ser necessariamente pacifista.

  8. Surprese

    Estranho post, este, bem liberal.

    De facto, o princípio da não agressão (apanágio liberal) é pouco entendido em Portugal, pois como país poucas vezes agredimos seja o que for.

    O mesmo não acontece nas potencias militares (EUA, Reino Unido, França), daí ser tema de debate importante – os ataques realizados em solo destes países são frequentemente alegadas retaliações pelo intervencionismo externo.

    Temo que o tema não seja devidamente compreendido pelos leitores do Insurgente, pois a maioria ainda confunde liberais com conservadores.

  9. Ricardo Lima

    Israel é provavelmente o país “ocidental” mais vulnerável ao terror e não os vêm a invadir, patrulhar com drones e bombardear países a não ser em situações muito particulares. Mais, nenhuma dessas intervenções surge com objectivos como derrubar quem quer que seja, mas prendem-se com ameaças bem visíveis à sua segurança. Quanto a derrubar este ou aquele, a Mossad trata disso.

    Veja-se a disparidade com que Israel e EUA reagiram a um Iraque potencialmente nuclear. Os primeiros orquestraram um bombardeamento cirúrgico e atrasou o programa nuclear iraquiano por décadas. Os segundos começaram uma guerra sangrenta, desistabilizaram o médio oriente e não encontraram coisa nenhuma.

  10. “Dos mortos que a Nato fez fala-se mas dos vivos que a Nato salvou já não fala. Ora é precisamente a falta de controlo sobre esta ultima parte – os que chegam podem ser bem piores que Kadhafi – e a sempre importante questão da legitimidade que faz duvidar da intervenção na LÍbia.”

    A questão é exactamente essa: quem é que encomendou alguma vez o sermão ou concedeu alguma forma de mandato moral à NATO para andar por aí a escolher quem vive ou quem morre em conflitos que só dizem respeito aos locais?

    É exactamente esta política de andar a escavacar a casa dos vizinhos em nome de causas e interesses mais do que duvidosos que alimenta e tem a consequência óbvia de acabar por importar para dentro de portas este género de fenómenos. Quem anda há décadas a meter o bedelho em tudo o que são conflitos regionais (com as excepções do que não interessam a ninguém, naturalmente) – inclusivé, como já vi argumentar por várias vezes, para lançar a confusão noutros lados e desse modo afastar os alvos das suas fronteiras-, não pode vir depois berrar quando as réplicas lhe vêm bater à porta.

  11. Jónatas

    No mundo actual em que cada vez mais as guerras são económicas e não bélicas, as invasões são com dólares e reminbis em vez de com soldados e tanques, não sei até que ponto não será de considerar terrorismo tanto do que tem vindo a ser feito neste campo em tantos países do mundo. É sensível o que estou a dizer mas julgo que válido para discussão.

  12. CN

    Os conservadores mais rijos têm razões para serem comedidos no relacionamento internacional. Os impérios acabam sempre a ser um fenómeno multicultural.

    Mas giro é observar que por mais evidências da deriva caótica e imprevisível em que toda a zona está a cair, os intervencionistas continuam animados por singelos idealismos bastante construtivistas de democracias liberais em desertos sectários em que se matam uns aos outros, ou por justificações estapafúrdias de necessidade de defesa como se uma armada organizada tivesse prestes a invadir as nossas praias.

  13. jorge

    os dirigentes britanicos são assassinos o kadafi que financiou o terrorismo internacional ( abu nidal, olp, Carlos o chacal, eta, abateu aviao com 300 civis em lokerby na escócia, ameaçava constantemente a europa com a invasão massiva de imigrantes em troca de milhões euros ), sendo na verdade um mentor do verdadeiro terrorismo globalizado de origem islamica que hoje existe, era um tipo que não merecia a morte que teve, às mãos do seu próprio povo, o coitadinho……ó Ricardo você leu bem o que escreveu ???? a queda do regime na Libia foi um dos acontecimentos mais marcantes dos últimos 50 anos. Se a seguir aparecerem outros kadafis terão o mesmo fim.

  14. jorge

    o terror não tem credo ? quem ouvir os terroristas na BBC antes e depois dos atentados ( como agora em Londres ) não dirá o mesmo….o que é que das palavras Alá Akbar não entende ?

  15. O assunto continua candente e permito-me regressar. A NATO (os US) não nada que andar aí pelo mundo a impor a democracia, a ditadura ou seja o que for. Aí estamos de acordo, parece. Estas intervenções também levam ao rubro cabeças que, provavelmente, já tinham tendência para o esquentamento. Também parece que arrombei uma porta aberta…
    Mas agora, dou a minha opinião. Será quiçá ingenuidade pensar que, se o Ocidente começar a ser bonzinho, vão acabar os atentados como os de Boston, Londres ou Paris. Penso que “eles” neste momento já provaram sangue e já viram que quanto mais atentados praticarem mais vantagens obtêm para o seu povo. Por outro lado, os US são quase um continente, podem ater-se a uma posição passiva com um aviso “se matas morres”. Mas a Europa (o mosaico europeu) é diferente.
    Com o devido respeito, atrevo-me a pensar que o problema é complexo e que nunca será compreendido por se atribuir uma bondade infinita a “eles” e chamar assassinos a passados líderes políticos ocidentais. Afinal, após Boston, também um Inglês salientou que os Bostonianos foram grandes amigos do IRA. Por este caminho enredamo-nos até ao infinito.
    É certo que um certo congressista americano… mas como se dizia no meu tempo o “…ismo não é um dogma mas um guia para a ação”.

  16. lucklucky

    “Falo por mim e não pelo autor do artigo, mas uma posição ideológica de repúdio da ingerência não têm que ser necessariamente pacifista.”

    Correcto. Mas quando o autor fala apenas das vitímas civis sem qualificar a ocorrência, quantidade dessas mortes em relação à acção está necessariamente a ser pacifista uma vez que qualquer guerra mesmo legitíma e exclusivamente em autodefesa, matará civis.
    No limite é como protestar contra a existência dos médicos que pela sua especialidade também estão na profissão de decidir entre a vida e morte pelos os erros que cometem sem contar as vidas que salvam.

    “A questão é exactamente essa: quem é que encomendou alguma vez o sermão ou concedeu alguma forma de mandato moral à NATO para andar por aí a escolher quem vive ou quem morre em conflitos que só dizem respeito aos locais?”

    Se a questão é essa então não é das mortes civis sem ser qualificada.
    Suponhamos que a guerra civil na Líbia se prolongava tal como a da Síria.
    Teria muitos mais mortos civis.
    Ou seja pode ser argumentado que a intervenção da Nato ao entregar o poder a um dos lados salvou vidas ao acabar com uma guerra longa. Pelo menos por agora.

    Também que não se fala dos progressos tecnicos dos países da NATO nos últimos 15 anos de modo a diminuir as vitímas civis – e para irritar certas pessoas com a colaboração especial de Israel. ex:http://en.wikipedia.org/wiki/LITENING_targeting_pod Há 15 anos a maioria dos projecteís lançados pela aviação aliada seriam bombas “burras” – ou seja com dezenas de metros de erro provável, agora maioria são guiadas ou seja a precisão mede-se em unidade de metros. Teve um custo e foi uma escolha.
    A Civilização Ocidental deixou de ter outras coisas por causa dessa escolha.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.