Sempre Os Mesmos A Pagar A Crise

Depois dos cortes de seis mil milhões anunciados, não faltaram políticos, comentadores e outros a afirmar alto e bom som que “são sempre os mesmos a pagar a crise”, isto é, funcionários públicos e pensionistas.

De acordo com o Orçamento de Estado para 2013, as despesas com pessoal representam 22% da despesa total e as despesas com prestações sociais 48%, totalizando as duas parcelas cerca de 70% da despesa total. É realista pensar que se consegue reduzir a despesa do estado sem mexer nestas duas parcelas?

De salientar que é o sector privado que financia o sector público e que medidas adicionais de receita sobre o sector privado iriam deprimir ainda mais a sua actividade. Também ao contrário do que se possa querer passar, o sector privado tem sido aliás um dos principais sectores a “pagar a crise”. Além do aumento do IVA, da sobretaxa de IRS, etc., a insolvência de empresas e o desemprego tem ocorrido essencialmente no sector privado. Os desempregados do sector público representam apenas 1,9% do total de desempregados!

É claro que é sempre duro sofrer uma redução de rendimento ou de benefícios, mas é um facto que o estado não pode viver permanentemente acima das suas possibilidades e que se tem de ajustar à realidade.

No caso dos funcionários públicos, apesar da redução de rendimento e de cortes de benefícios, não temos assistido a uma quantidade significativa de funcionários públicos a se despedirem e a irem procurar melhores condições no sector privado. Sendo as pessoas livres, racionais e procurando sempre o que é melhor para elas, o que se pode concluir é que mesmo apesar dessas reduções de rendimento e benefícios, os funcionários públicos de forma muito geral acham que estão melhor no sector público do que fora dele. Será interessante observar se mesmo com um despedimento remunerado através das rescisões por mútuo acordo (e que são muitas vezes referidas na comunicação social como sendo “despedimentos”) qual será a adesão que este programa irá ter.

O caso dos pensionistas é um caso diferente dos funcionários públicos. Enquanto que a adesão à função pública é voluntária, a adesão à segurança social não o é. Além disso, um sistema que depende de um número sempre crescente de trabalhadores para manter um número crescente de pensionistas tem um nome – esquema de Ponzi. Os esquemas de Ponzi são matematicamente impossíveis de perpetuar, e como tal é de esperar que o valor das pensões se vá reduzir continuamente ao longo dos próximos anos. E já que se fala tanto de solidariedade intergeracional, faz sentido exigirmos às gerações mais novas que façam um esforço para pagar as pensões das gerações mais velhas para depois essas mesmas gerações mais jovens virem a receber pensões mais significativamente mais baixas e ainda por cima herdarem dívidas colossais que uma constituição não conseguiu travar? Porque não tornar a segurança social pelo menos um sistema opcional? Se a segurança social é assim tão boa e se a maioria das pessoas concorda com ela, o sistema não seria significativamente afectado pelo abandono de um número pequeno de pessoas que preferem gerir elas próprias as suas vidas.

Posto isto, mantem-se um défice previsional de 5,5% para este ano e uma dívida pública que ronda os 209 mil milhões de euros que equivale a cerca de 126% do PIB e corresponde a 20.900 euros a cada cidadão.

12 pensamentos sobre “Sempre Os Mesmos A Pagar A Crise

  1. politologo

    Os PÊS da nossa Desgraça
    Um JOGO POLITICO
    muito sujo , sobretudo porque se trata de idosos …
    Será que para além das danosas P.P.P. ainda não ouviram falar sobre a P.P. (propaganda politica) ?
    Estas cenas teatrais de P.P.(C). e de P.P. , previamente combinadas , só têm um significado .
    P.P.C. não falou ao País . Que se lixem as eleições ?
    P.P.C. escreveu e falou para a Troika. Quer mais dinheiro . Fartai vilanagem . Esquecem que mais empréstimos são mais impostos no futuro !…
    P.P. falou para o País. Que se lixe a Troika . Quer também ganhar as eleições .
    Paulo Portas é esperto mas nós não somos parvos .
    Será que o outrora Partido do Contribuinte (e do Reformado) merece um voto ?
    Nem em confiança nem em papel …
    Note-se que uma taxa reincidente sobre os reformados não tinha qualquer hipótese de sobrevivência social ou constitucional …
    Mais dinheiro a dez anos ? Eles já lá não estão quando chegar a hora para pagar , se é que vai haver hora !…
    O maior erro para o País feito por PPC foi pedir mais dinheiro à insustentável e criminosa taxa de 6% !… Não passa de um mau negócio entre um “falido” crónico e os oportunistas “usurários” . A “troika” cobra 3% !… Um País criminosamente sacrificado , mas os habituais clientes do Monstro pulam de felizes e contentes . Fartai vilanagem .
    E o tuga analfabeto nunca mais aprende que um empréstimo no presente é um imposto no seu Futuro . E Portugal tem a maior divida do Mundo !…
    Mais uma face oculta nas mentiras “passadistas” , presentes e futuras de PPC : “Que se lixem as eleições” … As frases de PPC devem ser sempre lidas “a contraro” . Com este danoso reforço de tesouraria PPC começa a preparar-se já para as legislativas. O Tó Zé que “tire o cavalo da chuva” porque (felizmente) ainda não é desta a sua vez .
    Já Gulbenkian nos dizia que este País parece mais um país terceiro mundista de pedintes com censuráveis “hábitos sulistas “ .
    Reza a nossa triste História que não é difícil comprar o voto tuga . Facto que PPC não desconhece . Ainda que se trate de um povo em vias de extinção e sem vergonha que lhe chegue à face .
    Há pelo menos 35 anos que temos o que merecemos , e merecemos o que temos … O Apocalipse !…

  2. tina

    “Além do aumento do IVA, da sobretaxa de IRS, etc., a insolvência de empresas e o desemprego tem ocorrido essencialmente no sector privado. ”
    ,
    Exatamente, Os funcionários públicos estiveram sempre protegidos da borrasca que abateu sobre o país. Quem está a sofrer no pêlo as consequências todas é o sector privado.

  3. Sérgio

    As centenas de milhares de desempregados, todos do privado, não incomodaram ninguém da imprensa, dos sindicatos ou dos partidos, do PSD e da sua esquerda! Só incomodou quando começou a tocar alguns contratados do público e o corte em parte dos subsídios!

  4. PiErre

    Pois, mas a verdade é esta:
    A propósito das notícias sobre as dificuldades da Segurança Social e que levou o Governo a suspender as Reformas antecipadas, é interessante relembrar o historial associado a esta matéria.
    A Segurança Social nasceu da Fusão (Nacionalização) de praticamente todas as Caixas de Previdência existentes, feita pelos Governos Comunistas e Socialistas, depois do 25 de Abril de 1974. As Contribuições que entravam nessas Caixas eram das Empresas Privadas (23,75%) e dos seus Empregados (11%). O Estado nunca lá pôs 1 centavo. Nacionalizando aquilo que aos Privados pertencia, o Estado apropriou-se do que não era seu. Com o muito, mas muito dinheiro que lá existia, o Estado passou a ser “mãos largas”! Começou por atribuir Pensões a todos os Não Contributivos (Domésticas, Agrícolas e Pescadores). Ao longo do tempo foi distribuindo Subsídios para tudo e para todos. Como se tal não bastasse, o 1º Governo de Guterres(1995/99) criou ainda outro subsídio (Rendimento Mínimo Garantido), em 1997, hoje chamado RSI. Os deputados também se autoincluiram neste pote mesmo sem o tempo de descontos exigidos aos beneficiários originais. E tudo isto, apenas e só, à custa dos Fundos existentes nas ex-Caixas de Previdência dos Privados. Os Governos não criaram Rubricas específicas nos Orçamentos de Estado, para contemplar estas necessidades. Optaram isso sim, pelo “assalto” àqueles Fundos. Cabe aqui recordar que os Governos do Prof. Salazar, também a esses Fundos várias vezes recorreram. Só que de outra forma: pedia emprestado e sempre pagou!

    Em 1996/97 o 1º Governo Guterres nomeou uma Comissão, com vários especialistas, que em 1998 publicam o “Livro Branco da Segurança Social”.

    Uma das conclusões, que para este efeito importa salientar, diz respeito ao Montante que o Estado já devia à Segurança Social, ex-Caixas de Previdência, dos Privados, pelos “saques” que foi fazendo desde 1975.

    Pois, esse montante apurado até 31 de Dezembro de 1996 era já de 7.300 Milhões de Contos, na moeda de hoje, cerca de 36.500 Milhões €. De 1996 até hoje, os Governos continuaram a “sacar” e a dar benesses, a quem nunca para lá tinha contribuído, e tudo à custa dos Privados.

  5. Nogueira da Costa

    Fala-se em solidariedade intergeracional? Só se for em certos recantos da internet, na comunicação social não vejo muita gente preocupada com isso.

  6. “Sendo as pessoas livres, racionais e procurando sempre o que é melhor para elas, o que se pode concluir é que mesmo apesar dessas reduções de rendimento e benefícios, os funcionários públicos de forma muito geral acham que estão melhor no sector público do que fora dele.”

    Isso não demonstra (nem deixa de demonstrar) que trabalhar no sector público é melhor do que trabalhar no privado – apenas que é melhor do que estar desempregado.

  7. Carlos Pacheco

    “De salientar que é o sector privado que financia o sector público.” Não esquecer também que é o pública que cria as condições de educação, saúde, ordem e infraestruturas que permite o sector privado financiar o sector público e, por vezes, o sector público financiar o sector privado.

    Sobre os desempregados. Um jovem que fez dois estágios e está entre os 40% de desempregados é do sector público ou do privado?

  8. Carlos Pacheco

    Quando o estado despedir polícias, professores, médicos, enfermeiros e pessoas administrativo em massa é apenas sinal que o país acabou. De resto, esta discussão em torno dos desempregados do público e do privado parece-me bem infeliz. O desempregado não é do público nem do privado, é antes alguém que não tem emprego nem no público nem no privado, e isso é que é dramático.

  9. JP Ribeiro

    Obrigado ao PiErre por lembrar a mistificação sobre as Reformas da Segurança Social comum aos abrilistas do bloco central PSD/PS/PCP/BE/CDS em que se confundem as contribuições efectivas dos empregados e empresas do privado com as contribuições virtuais do sector publico, se mete tudo no mesmo saco, e depois aqui del rei que não há dinheiro para as reformas! Para além da contribuição de solidariedade praticada nos escalões do IRS, temos mais contribuição de solidariedade nas reformas. Uma vergonha! Para não falar da chulisse do IMI um imposto abusivo cobrado para além dos outros impostos para sustentar um outra corja de parasitas do sector autarquico que para nada servem. Ninguém se interroga sobre o porquê desse imposto confiscatório. Já para não falar nos 23% de imposto sobre tudo o que se consome. Na idade média matavam-se os poderosos por muito menos que isso (menos de 10%). E dizem que não eram livres!

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