Laranja por fora, Vermelho por dentro.

“Gastar dinheiro com a natalidade, não é gastar dinheiro, é garantir o futuro. Nós só temos a SS garantida se fizermos meninas e meninos. É preciso que o Governo se mentalize, que todo o Governo se mentalize que gastar dinheiro com a natalidade não é um investimento como uma auto-estrada. É um investimento que garante efectivamente o futuro e garante sustentabilidade à SS”.Hugo Soares, Deputado do Partido Social Democrata e Candidato à Liderança da Juventude Social Democrata.

41 pensamentos sobre “Laranja por fora, Vermelho por dentro.

  1. Aladin

    Não entendo o alcance deste poste do RL. Está a querer dizer que a opinião de Hugo Soares é esquerdista?

    Bem, então por esse prisma eu tb sou.
    Num país em suicídio demográfico, cuja população se irá reduzir a metade na segunda metade do século, segundo algumas projeções, gastar dinheiro em políticas que incentivem a natalidade é da mais pura lógica. Exactamente ao contrário de se gastar dinheiro em IVG, por exemplo.
    Taxar menos as familias que tenham mais filhos, etc, é uma ideia esquerdista?
    Vamos lá, RL, explique lá isso devagarinho, para eu entender.

  2. Pisca

    A avantesma da jotinha deve pensar que fazer e ter meninos e meninas é assim como ficar com um dos gatos nascidos em casa da tia só para não a ouvir mais, depois logo se vê como se despacha o assunto.

    Parece-me que só tem uma ideia e vaga do que é “fazer meninos e meninas”

    Oh Hugo “vai-ta f…”, ainda me cortam o comentário

  3. oscar maximo

    Quando se metem em esquemas de pirâmide, há que empurrar os problemas com a barriga. Isto de pensar que a sustentabilidade está no crescimento tem tanto de esquerda como direita. É mais de economistas.

  4. Ricardo Lima

    É uma ideia estatista, Aladin. É sectária, injusta, complica ainda mais o sistema fiscal e distorce a economia. É uma espécie de Socialismo de quem não tem filhos a pagar quem os faz.

  5. CN

    A minha previsão é que num lindo e maravilhoso dia a esquerda progressista percebe que espremer os ricos já não dá e vai proibir o aborto e obrigar ao registo obrigatório das gravidezes, para serem vigiadas, tudo isso pela sustentabilidade da segurança social.

    De resto essa é a razão para o puritanismo crescente na saúde: cuidar do equilíbrio do SNS que é crescente, é o tabaco, depois as fat food, depois…

    mark my words.

  6. PedroS

    “É uma espécie de Socialismo de quem não tem filhos a pagar quem os faz.”

    Se toda a gente tivesse filhos, não precisava de depender de estranhos para ter uma reforma: seria apoiado pelos seus filhos. Portanto, o sistema actual pôe quem tem filhos a pagar a Segurança Social de quem os não quer ter. Qual será a opção mais socialista?

  7. Aladin

    RL, vamos lá assentar em alguns pontos incontestáveis:

    1- A população portuguesa está a diminuir.
    2- Essa diminuição deve-se à baixa taxa de natalidade.
    3-A baixa natalidade deve-se a um paradigma que assenta no facto de ter filhos, uma coisa natural, se ter tornado caro.
    4- Se a natalidade não aumentar, entra-se numa espiral suicida. Nascem menos pessoas, a percentagem de pessoas idosas é maior, as gerações não se renovam

    Aceita estas premissas?
    Se aceita, então há-de reparar que, a prazo, se trata nem mais nem menos do que uma questão de sobrevivência do país.

    Bem, então se não forem avançadas politicas de incentivo à natalidade, que propõe para resolver o problema?

    Distribuir filmes pornográficos à população?
    Usar óleo de golfinho nas batatas fritas?
    Fazer de conta que o problema não existe e deixar rodar a roda da decadência.

    As palavras do jotinha podem prestar-se a piadas, mas o problema que ele suscita é real e a solução tb é lógica. É preciso que os homens e as mulheres tenham oportunidade de agirem de acordo com os seus instintos de preservação individuais e da espécie. As actuais políticas é que não lhes permitem.
    Estatistas são as politicas que levaram a este estado de coisas.

  8. O Aladin diz que e’ uma questao de “sobrevivencia do pais”.
    Meu caro amigo, o pais nao precisa sobreviver porque o pais nao e’ um ser vivo. O pais e’ o colectivo e o colectivo nao tem corpo, nao tem mente, nao vive. Quem vive sao as pessoas.
    A cidadania portuguesa (assim como todas as cidadanias), nem sempre existiram e nao existirao para sempre. A cidadania e’ um produto do estado, uma especie de “cartao de associado”. A cidadania pode desaparecer mas as associacoes livres de pessoas que partilham qualquer coisa em comum poderao continuar sem que seja absolutamente necessario um espaco fisico politicamente delimitado. Pense, por exemplo, em todos os judeus que vivem por esse mundo fora. Eles formam, sem duvida, uma sociedade (lingua, cultura, religiao em comum) mesmo nao vivendo no territorio politico Israel.
    Ter filhos ou nao ter deve ser uma decisao e responsabilidade de cada um que decide te-los. Eu nao devo ser forcado a pagar para suportar e educar os filhos dos outros nem ninguem deve ser forcado a pagar para suportar e educar as minhas duas filhas.
    A preocupacao dos estatistas no que diz respeito a esta questao e’ apenas manter o status quo, preocupam-se apenas em tentar assegurar que ALGUEM ira pagar-lhes as reformas.

  9. Paulo Pereira

    O Aladin parece que ainda não reparou que a taxa de desemprego jovem é de 35% .

    Existem imensos jovens , mais umas dezenas de milhar que saem do pais todos os anos.

    O problema é o PIB, sem PIB a crescer os euros para as reformas têm de ser divididos por mais gente !

  10. paam

    Incentivos à natalidade? Mas se os jovens hoje não têm oportunidades de trabalho, aqueles que têm são mal pagos, o trabalho é precário e ainda são taxados como se não houvesse amanhã! Como é que vão ter filhos se até têm dificuldades em se auto-sustentar? Vão pedir esmolas ao estado? São 20 ou 40 euros mês de abono familiar que vão fazer a diferença? É claro que não.

  11. Aladin

    “Meu caro amigo, o pais nao precisa sobreviver”

    Não?
    Acha mesmo que os seres humanos são como os tigres de bengala? Que vivem sózinhos? Que não se juntam em grupos de forma a terem mais hipoteses de sobrevivência? Já reparou que você mesmo, desaguou neste tempo e neste lugar porque os seus ancestrais sentiram esse laço entre os vivos, os mortos e os que ainda não nasceram?
    Já se deu conta que, exceptuando você, as pessoas têm uma pertença e se identificam com nações, mesmo aquelas sem estado?
    De onde pensa que lhe vem a língua que fala? E porque a fala com pessoas que partilham consigo certas coisas?
    Porque razão NÃO HÁ UM ÚNICO PAÍS no mundo que não admita a morte de cidadãos seus, na defesa da sobrevivência do grupo?

    O País não é um ser vivo? Mas que raio de argumento é esse? Então acha que só existe o que é “ser vivo”?
    Você não ama os seus filhos? Os seus pais? Então e o amor é um ser vivo? Tem forma? Cheiro? Sabor? Matéria? Não existe?

    Vamos lá, reconheça que meteu os pés e saia disfarçadamente.

  12. Aladin

    Caro Paam, os incentivos à natalidade consistem, por exemplo, em remover esses problemas que refere. E isso passa por decisões políticas.

  13. Espantoso! Sempre pensei que este problema, o da gravidade da quebra da natalidade, era consensual. Afinal não! Há originais que chegam ao ponto de protestar por estarem a pagar aos outros para terem filhos!
    Como é? Se as gerações não se renovarem o país desaparece e os últimos velhos a morrerem terão um fim muito mau.
    Há estudos que dizem que o último português morrerá no ano 3.000. Por mim acho que será muito antes pois a quebra da natalidade associada à emigração e à quebra da imigração provocarão um envelhecimento galopante da população. Dentro de pouco tempo teremos um país de velhos de que os novos, incapazes de os sustentarem fugirão enquanto podem.
    Actualmente, em Portugal, morrem umas cem mil pessoas por ano e nascem umas noventa mil. Mas, destas noventa mil, mais de dez mil são filhas de imigrantes que rapidamente voltarão à terra dos seus pais.
    Só uma imensa estupidez pode subestimar a gravidade deste problema. Estupidez reforçada por um egoísmo totalmente cretino!

  14. fernandojmferreira

    Muitas pessoas confundem sociedade com estado e o amigo Aladin, com o devido respeito, e’ um deles.
    Porque e’ que os portugueses terao de, forcosamente, existir para sempre? Os cidadaos de Roma nao deixaram de o ser e os seus descendentes nao sao agora outra coisa qualquer? Porque nao admitir que os portugueses, como os conhecemos, hoje poderao desaparecer e evoluir para outra coisa qualquer? Nao poderao os nortenhos criar a sua propria “nacionalidade” se assim o desejarem? porque nao os minhotos se associarem aos galegos, se assim o desejarem? As associacoes de seres humanos sao coisas dinamicas, que duram o tempo que tiverem de durar.
    Todas as intervencoes colectivistas com vista a contrariar a dinamica natural das associacoes de seres humanos so pode dar em asneira. Se morrem mais portugueses do que nascem e’ resultado da tal “mao invisivel”, das decisoes de cada individuo sobre o seu proprio futuro. Nao devem ser meia duzia de burocratas sentados em quaisquer gabinetes ministeriais, que acham que sabem o que e’ melhor para todos, que decidam quantos filhos e’ que cada um deve ou nao deve ter. Devem apenas aceitar a realidade e a realidade e’ que estao a morrer mais portugueses do que os que estao a nascer. Suck it up!

  15. Paulo Pereira

    Não é egoismo , é apenas lógica.

    Já existem 35% + 5% de emigração forçada = 40% de jovens sem emprego.

    mais natalidade = mais desemprego.

    por outro lado a decisão de ter filhos deve ser independente de ajudas especificas do estado dirigidas a ter filhos, para não inviesar a decisão .

  16. Vasco

    Que estupidez!
    Quando era puto (82 ou 83, por aí), na primária diziam-me que Portugal tinha 6 milhões de habitantes.
    Agora dizem que tem 10. Se retirarmos 4 milhões de velhos voltamos a 1982.
    So what?
    Não se vivia em 1982?? Portugal não era Portugal??

  17. PedroS

    “Nao devem ser meia duzia de burocratas sentados em quaisquer gabinetes ministeriais, que acham que sabem o que e’ melhor para todos, que decidam quantos filhos e’ que cada um deve ou nao deve ter.”

    Uma política de apoio à natalidade não precisa de gabinetes ministeriais a decidir coisa nenhuma, e não necessita também de transferências de dinheiro: basta que o número de filhos possa entrar para o cálculo do “coeficiente conjugal” da taxa de IRS.

  18. Paulo Pereira

    Sim, basta o beneficio ao IRS e os abonos um pouco mais altos em idade escolar,mas não incentivos a engravidar !

  19. Um azul

    O que uma pessoa tem que ler aqui. Como a taxa de desemprego entre os jovens vai nos 35%, então Portugal já tem jovens a mais afinal. Como antes éramos 6 milhões, então estamos muito bem agora com 10 milhões. Isto realmente! O problema é que agora somos 10 milhões mas estamos com uma pirâmide etária completamente (e cada vez mais) invertida, este é que é o nosso problema! Basicamente antes até podíamos ser só 6 milhões (e antes disso ainda menos) mas as coisas estavam equilibradas, agora temos demasiados velhos e pouquíssimos novos a nascer para a quantidade de velhos que temos. Juntado 1+1 facilmente se chega à conclusão que isto vai dar uma grande barraca (já começa a dar e é o maior problema da nossa Seg. Social). Não sei que medidas se podem tomar para incentivar a natalidade mas alguma coisa tem de começar a ser pensada a sério. E apoiar a natalidade não é propriamente liberalizar o aborto ou tê-lo comparticipado a 100% pelo Estado, como existe actualmente. E para o senhor Ricardo Lima: falar em medidas de apoio à natalidade é ser vermelho mas quando defendeu aquelas 6 pontes e túneis entre Porto e Gaia já não estava a ser vermelho, é isso? Não leve a mal mas está com as prioridades trocadas.

  20. Aladin

    “Porque e’ que os portugueses terao de, forcosamente, existir para sempre?”

    Terão? Não, terão de lutar para existir como tal. Como fazem há quase 900 anos.
    Se se extinguir essa vontade, desaparecerão. Como acontece com tudo.
    Que haja gente que faz da pusilanimidade e da desistência uma virtude, é algo que sempre me espanta.
    Mas enfim, foi assim o fim do dodo…

  21. Aladin

    Já agora, aqueles que falam aqui da mão invisível, sem terem a mínima ideia da asneira que eructam, tratem de ler o livro onde essa ideia aparece. É sobre a riqueza das NAÇÔES.
    NAÇÕES, pá!

  22. Aladin

    Adam Smith até se revolve na tumba se ouvir as asneiras de certos anacoretas convencidos que são liberais. Eu sou liberal, mas não sou nem onanista, nem eremita, nem tonto.

  23. paam

    Caro Aladin, mesmo que existissem políticas de incentivo à natalidade isso não resolveria o problema, apenas o atenuaria. A realidade é que em 1900 a população europeia representava 25% da população mundial e em 2050 representará à volta de 7%. Todos os países europeus têm uma taxa de natalidade baixa e não vão conseguir manter os níveis de população. E isso deve-se a vários factores. Cada vez mais os jovens adiam a decisão de ter filhos, investem cada vez mais na sua educação e nas suas carreiras, existem mais mulheres/homens que não querem ter filhos, etc. E muitas dessas decisões resultam, em muitos casos, de opções pessoais independentemente dos incentivos que existam. A única forma de compensar esta perda é com recurso à imigração.

    Recomendo este artigo sucinto sobre os principais fatores de redução da natalidade:

    Todos os países europeus têm taxas de natalidade insuficientes
    http://www.dw.de/dw/article/0,,3938486,00.html

  24. ShakaZoulou

    Se o problema è a sustentabilidade da SS, então ao inves de se apoiar a natalidade, devia-se apoiar a imigração, bastaria abrir as fronteiras para qualquer estrangeiro em idade activa, poupando assim à SS, abonos de familia; acção social escolar; serviços de acção social universitaria; etc. hà apenas um pormenor, não hà emprego em Portugal, porque para quem tem algum de parte e ideias de investimento, prefere investir noutro lado ou amealhar ouro em cofres nas ilhas caimão; Panama e outras republicas das bananas, pois são governados por politicos mais confiaveis que os deste pais europeu, com os ideiais comandados pelas sondagens, capazes de impressionantes flics-flacs invertidos com duplo mortal atras de fazer inveja a qualquer atleta olimpico

  25. F. David Cruz

    Querer promover a natalidade é querer interferir na liberdade e na esfera privada das pessoas.

    Um inquérito do Eurobarómetro, realizado no ano passado, indicou que as mulheres portuguesas, entre os 40 e 54 anos, tiveram, em média, 1,8 filhos. Também lhes foi perguntado o número de filhos que idealizaram. As respostas revelaram uma média de 2 filhos. Ou seja, há somente um desfasamento médio de 0,2 filhos entre o número de filhos concretizado e o desejado. Importa assinalar que neste grupo de inquiridas se encontram mulheres que ainda possuem condições biológicas para atingirem o seu ideal reprodutivo, estando, assim, o valor sobrestimado. Acrescento que a população continuaria a envelhecer mesmo que o ideal de 2 filhos fosse concretizado, pois a baixa fecundidade em Portugal é um fenómeno que se verifica há décadas.

    Resumindo e concluindo, as pessoas têm hoje menos filhos porque QUEREM ter menos filhos.

    PS: Acho curioso alguns comentadores lançarem para o ar dados, supostamente sustentados em estudos científicos, sobre o último português que vai morrer em ano x ou que a população portuguesa diminuirá para metade daqui a y anos. Enquanto demógrafo, especializado no estudo da fecundidade, agradeceria que esses comentadores me indicassem esses estudos, pois nunca os vi na vida.

  26. Um azul

    Esta das pessoas terem hoje menos filhos porque pura e simplesmente não os querem ter choca um pouco com a realidade. Não sei que idade o David Cruz tem mas eu ainda sou relativamente novo e a grande maioria das pessoas com que me dou estão agora em muito boa idade para começarem a pensar em filhos, por isso vejo o que se passa na actualidade à minha volta com a minha geração. Ainda há duas semanas um amigo meu, uns anos mais velho, já está com 30, após ouvir umas quantas piadas sobre ser a altura dele e a namorada terem um filho confessou que essa hipótese não está sequer em cima da mesa porque pura e simplesmente não está em condições financeiras de sustentar uma criança. Num comentário mais em cima alguém disse que nós queremos é apostar na nossa educação e no nosso percurso profissional e sim, claro que queremos, mas sinceramente há muitas pessoas que neste momento não têm alternativa a essa aposta, pensar em ter filhos começa a ser um luxo para muitos e andarem a dizer que nós é que estamos a escolher não ter filhos, quase como se a nossa geração é que tivesse nascido com algum problema, é querer meter a cabeça na areia. Claro que há pessoas que escolhem não ter filhos mas também há quem os queira ter mas que não consiga sustentar uma, ou mais, crianças. Nem de propósito com a confissão dele, outra amiga, que já tem uma bebé com meses e anda à procura de um infantário, estava com um panfleto na mão de um infantário que “só” lhe pedia 400€/mês e era só pré-primária, só cuidavam de crianças até aos 6 anos! Ela não sabe como vai fazer com a filha e ele (bem e eu também) ficou ainda mais convencido de que, para já, não tem mesmo capacidade para educar um filho.

    Quanto ao tempo que levará para a população ficar reduzida a metade não o conheço, mas pela lista disponível na wikipedia, apoiada nos dados da International Data Base Division of the United States Census Bureau, Portugal que atingirá quase 11 milhões de pessoas em 2020, estará já abaixo dos 10 milhões em 2050. Em 30 anos perderemos 1 milhão de pessoas e com a taxa de decréscimo sempre a aumentar já daqui a 8 anos! Se pensarmos que a nossa taxa de natalidade anda em 1,3 (e com tendência a descer) quando seria necessário 2,1 para repor as gerações, facilmente se depreende que estes dados não devem andar muito desfasados da realidade. E pela matemática e lógica, também se percebe que com uma população super envelhecida, com poucas crianças a nascer e como nós não somos imortais, por mais que a esperança de vida aumente, chegaremos a um ponto em que os muito velhos não viverão mais e começarão a morrer a um ritmo mais “acelerado”. Faz assim todo o sentido que a taxa de decréscimo da população vá aumentando e que um decréscimo que a início não parece muito acentuado se torne cada vez mais pronunciado. Claro que isto é a muito longo prazo e muita coisa pode acontecer pelo meio mas a verificarem-se estes dados da International Data Base Division of the United States Census Bureau, faça as contas até ao final deste século. Se entre 2020 e 2050 perderemos 1 milhão de habitantes, de 2050 a 2100, com a taxa de decréscimo populacional ainda maior, não deverá ser difícil perdermos 2 milhões e facilmente estaremos nos 7 milhões e qualquer coisa de portugueses. Posso estar a ser muito pessimista mas este não é, de todo, um cenário descabido. Por isso é que sou levado a concordar com as palavras do Hugo Soares, mesmo que isso me faça ser vermelho por dentro.

  27. F. David Cruz

    Um azul,

    Antes de mais, uma rectificação. Nunca insinuei, no meu comentário, que as gerações mais novas têm um problema por quererem ter menos filhos do que as gerações mais velhas. Aliás, penso ter demonstrado o contrário. As gerações mais novas têm o bom-senso e a felicidade de terem os filhos que realmente querem ter.

    Também sou jovem e estou “em muito boa idade para começar(em) a pensar em filhos” (será que existe mesmo uma idade para isso?). Para além disso, faço trabalho de investigação sobre as intenções reprodutivas dos portugueses. Por isso, julgo estar a par da realidade.

    Os motivos financeiros são um justificação clássica e uma resposta socialmente aceite, que muitas das vezes não corresponde à perspectiva pessoal. É mais correcto falar em custos de oportunidade. Considere o seguinte exemplo: você tem um rendimento familiar mensal de 1.500€ e eu também. Na sua perspectiva esse rendimento não é suficiente para ter e educar uma criança, mas para mim pode ser o necessário. De resto, as pessoas que, em média, têm mais filhos pertencem às posições extremas das classes sociais. Logo, o argumento dos motivos financeiros não faz muito sentido. Quanto ao caso do seu amigo, posso-lhe dizer que ele está abaixo da idade média do pai ao nascimento do primeiro filho.

    O recurso ao índice sintético de fecundidade (os dados mais recentes indicam que é de 1,4 para 2010) para mensurar a fecundidade não é o mais adequado. Trata-se de um indicador transversal, ou seja, mede o número médio de filhos de mulheres de diversas idades num único ano. O ideal é analisar a trajectória reprodutiva de uma geração que terminou o período reprodutivo. Tal como indiquei no primeiro comentário, os dados do Eurobarómetro indicam que as mulheres que terminaram recentemente o período reprodutivo tiverem, em média, 1,8 filhos, somente menos 0,2 filhos do que desejariam. Acrescento que Portugal é um dos países da Europa em que é mais comum as pessoas terminarem o período reprodutivo com pelo menos um filho. Ou seja, o fenómeno das pessoas que optam por não ter qualquer filho é muito pouco incidente.

    Quanto ao decréscimo populacional, não compreendo a preocupação. Há inúmeros países com dimensão populacional inferior à de Portugal e com níveis de desenvolvimento humano superiores (exemplos da Islândia e Luxemburgo que têm menos de 1 milhão de habitantes). Em termos estruturais, a questão pode ser realmente problemática com o envelhecimento demográfico. Mas mais do que uma questão demográfica, trata-se sobretudo de um problema de ajustamento político e social a uma nova realidade populacional. Existem países que convivem há décadas com o envelhecimento, mas que souberam lidar com esta questão (países nórdicos, Japão).

  28. fernandojmferreira escreveu:
    “Se morrem mais portugueses do que nascem e’ resultado da tal “mao invisivel”, das decisoes de cada individuo sobre o seu proprio futuro. ”

    Mão invisível ou condições económico-sociais?

    Não se pretende obrigar ninguém a ter filhos, pretende-.se é que quem os queira ter os possa ter!

  29. Vasco escreveu:

    “Quando era puto (82 ou 83, por aí), na primária diziam-me que Portugal tinha 6 milhões de habitantes.”

    Erro! Em 82 ou 83 Portugal já tinha mais de nove milhões. O censo de 1991 (com erros que o avaliaram por baixo) deu quase dez milhões!

  30. F. David Cruz escreveu:

    “Acho curioso alguns comentadores lançarem para o ar dados, supostamente sustentados em estudos científicos, sobre o último português que vai morrer em ano x ou que a população portuguesa diminuirá para metade daqui a y anos. Enquanto demógrafo, especializado no estudo da fecundidade, agradeceria que esses comentadores me indicassem esses estudos, pois nunca os vi na vida.”

    Aqui já há algum tempo, creio que foi o Expresso que citou um estudo das Nações Unidas que determinava que o último português morreria em 3.000 (e, creio que o último brasileiro em 5.000).

  31. F. David Cruz escreveu:

    ” Islândia e Luxemburgo que têm menos de 1 milhão de habitantes”

    Sim? Curioso que cite estes exemplos!
    Enquanto que em Portugal estamos nos 1,3 filhos por mulher, na Islândia estamos nos 1,89 e no Luxemburgo nos 1,77. Mesmo assim, valores inferiores aos 2,1 necessários.

    Há no entanto países europeus que estão a recuperar como a Suécia (em 2000, 1,53 e actualmente 1,67), Irlanda (de 1,91 em 2000 a 2,01 actualmente) e, principalmente, França, de 1,75 em 2000 a 2,08 actualmente (serão muçulmanos)?

    E mesmo a Alemanha que passou de 1,38 para 1,41 entre 2000 e 2012.

    O F. David Cruz pode ser estudioso de muitas coisas e pode até perceber muito de taxas de fertilidade e de fecundidade mas é daqueles que as árvores impedem a visão da floresta…

  32. F. David Cruz

    Raio,

    Referi a Islândia e o Luxemburgo no sentido de que são países com uma dimensão populacional muito pequena (menos de 1 milhão habitantes) e que têm níveis de desenvolvimento muito elevados, com intuito de demonstrar de que não há qualquer problema da população residente em Portugal declinar para os 9/8 milhões nas próximas décadas.

    Os dados que refere são relativos ao índice sintético de fecundidade. Trata-se de um indicador que não mede correctamente o fenómeno em questão, pois prejudica os países em que está a ocorrer um adiamento na idade média ao nascimento de um filho, como é o caso de Portugal. Assegure-lhe que nos próximos anos Portugal também vai estar em recuperação nesse indicador. O ideal é recorrer a indicadores que medem o número médio de filhos de uma geração que já terminou o período reprodutivo, como o seguinte:

    Número médio de filhos de mulheres entre os 40 e 54 anos (dados do inquérito de um Eurobarómetro aplicado em 2011):

    – Luxemburgo 1,9 (fecundidade desejada 2,4)
    – Suécia 1,6 (fecundidade desejada 2,4)
    – Irlanda 2,5 (fecundidade desejada 2,8)
    – França 2,1 (fecundidade desejada 2,5)
    – Portugal 1,8 (fecundidade desejada 2,0)

    Desta lista de países, sugerida por si, pode verificar que Portugal foi o país onde as expectativas de fecundidade foram menos defraudadas. Ou seja, somente há uma diferença de 0,2 filhos entre a fecundidade concretizada e a fecundidade desejada, quando na Suécia essa diferença foi de 0,8 filhos.

    Quanto a esse estudo que viu no Expresso apenas pode ser considerado como uma curiosidade sem fundamento científico que encaixa nos discursos alarmistas. Se já é pouco credível fazer projecções para poucas décadas, quanto mais para daqui a 10 séculos!

  33. Um azul

    “As gerações mais novas têm o bom-senso e a felicidade de terem os filhos que realmente querem ter.” Acho que eu e outras pessoas já demonstrámos de que esse “realmente querem ter” está sobrevalorizado. Falo até por mim: sempre me imaginei a ter 3 filhos mas hoje, e cada vez mais, acho isso impensável. Se tiver condições para ter 2 já será óptimo.

    “será que existe mesmo uma idade para isso?” (pensar em ter filhos) Mais uma vez vou falar do que vejo à minha volta: os filhos da classe média (a classe que realmente importa para estas contas tendo em conta ser a clara maioria) tentam ter uma educação superior, normalmente composta por licenciatura + mestrado, com ou sem 1 ano ou 2 de trabalho pelo meio. Se somarmos o tempo para ter estabilidade no emprego, isto faz com que quase ninguém pense em casamento e/ou filhos antes do 25 mas nas conversas de amigos também a esmagadora maioria não se veja a chegar aos 35 sem família constituída. Disse que o meu amigo de 30 ainda está abaixo da idade média dos pais ao nascimento do 1º filho mas de certeza que não deverá andar muito abaixo e deverá bater certo com o facto da maioria das pessoas à minha volta ainda pensar em ser pai antes dos 35.

    “De resto, as pessoas que, em média, têm mais filhos pertencem às posições extremas das classes sociais.” Sei isso perfeitamente mas também sei que as classes sociais mais “extremas” terão pouco peso para esta questão, o comportamento da classe média, mais uma vez, é que verdadeiramente interessa. Se dúvidas houvesse basta ver o quão diminuiu o nº de famílias numerosas (que se situarão nos extremos) em Portugal nas últimas décadas. E atenção, antes as famílias numerosas eram 6 pessoas ou mais e hoje agregados familiares de 5 pessoas também já entram para a contagem das famílias numerosas. E mesmo assim diminuíram fortemente! Voltando à classe média, como esta quer proporcionar uma boa educação e um bom nível de vida aos seus filhos, claro que o argumento financeiro faz todo o sentido e 1500€ de rendimento familiar mensal para um casal que só tenha um único filho já é viver com os euros todos bem contados. E numa altura em que o ensino público perde notória qualidade, a classe média quererá ter condições financeiras para colocar os seus filhos no privado, o que pesará mais no orçamento familiar (lembre-se do simples jardim de infância que pede 400€/mês). Sobre o ensino público vs. privado ainda há pouco tempo li um artigo muito interessante que explicava isto mesmo, nem sei se não terá sido neste mesmo blog.

    “Portugal é um dos países da Europa em que é mais comum as pessoas terminarem o período reprodutivo com pelo menos um filho.” O que significa então que nos outros países, quem tem filhos, tem mais do que um para compensar os que não têm um sequer. A verdade é que a nossa taxa de natalidade, que é a terceira mais baixa da UE, está a diminuir e a de outros países consegue estar a aumentar como mostrou agora “O Raio”. Se analisarmos os dados que nos solicitou só para mulheres entre os 40 e os 54 anos de facto os números são melhores mas mesmo assim ficam aquém do necessário para repor as gerações! O David acha que nos próximos anos o nosso índice também estará em recuperação mas não vejo onde vai buscar esse optimismo. Se for ver a pirâmide etária de 2005 que disponibilizei aqui verá que o número de crianças que nascem tem sempre diminuído e nos anos recentes, já após a pirâmide de 2005, os recordes mínimos de nascimento em Portugal foram notícia nos jornais! A verdade é que o número médio de filhos tem vindo a diminuir e com a forte crise que vivemos presentemente não percebo como é que os casais, que já adiam cada vez mais o nascimento do 1º filho e que em média têm menos filhos do que as gerações anteriores, vão agora em pleno aperto começar a ter mais bebés. Mas pronto o David considera que o argumento financeiro não é válido, deve ser daí que vem o optimismo. Por mim vou continuar a observar a base das nossas pirâmides etárias para ver se realmente se dá a tal recuperação ou não, mas já vi umas projecções do próprio INE até 2060 e de década para década está previsto que o cenário fique ainda mais negro, vão nascer ainda menos crianças, vá ver por si, eles até estão com umas animações novas todas engraçadas.

    “Em termos estruturais, a questão pode ser realmente problemática com o envelhecimento demográfico.” Pois este é que é o grande problema, mais do que sermos 11, 10 ou 8 milhões. Se hoje a nossa Seg. Social está a rebentar imagino daqui a 48 anos se aquela pirâmide se confirmar. Em princípio nessa altura ainda estarei vivo. Quem se puser a comparar a pirâmide de 2010 com a estimada para 2060 não pode deixar de ficar preocupado. Pensar em medidas de apoio à Natalidade deixa de ser algo vermelho ou amarelo ou azul para se tornar uma urgência nacional.

  34. F. David Cruz

    Um azul,

    Dei-lhe dados de um inquérito do Eurobarómeto e você contrapôs com a sua situação pessoal e de pessoas amigas. Com o devido respeito, julgo que os dados que divulguei são mais representativos e reflectem as intenções reprodutivas da classe média.

    No índice sintético de fecundidade já estamos em recuperação. Os dados mais recentes indicam que em 2009 nasceram 1,32 crianças por mulher em idade fértil, sendo que esse número ascendeu para os 1,37 filhos em 2010. No entanto, volto a repetir que este indicador não mede correctamente a fecundidade. A fecundidade das gerações (o tal indicador adequado) tem vindo a diminuir e vai continuar a diminuir simplesmente porque o ideal reprodutivo também tem vindo a diminuir. Não se trata de uma questão de optimismo, mas de realismo. Não encaro esta situação com preocupação, pois Portugal encontra-se entre os países da UE onde a fecundidade concretizada se encontra mais próxima da fecundidade desejada. Inverter o envelhecimento demográfico através da fecundidade significa obrigar as pessoas a terem mais filhos do que desejam. O que realmente me preocupa é que se intervenha com a esfera privada e com a liberdade das pessoas.

    Por isso, a urgência nacional é reformular o sistema da segurança social. Os Suecos lidam há décadas com o envelhecimento demográfico. Como tal, passaram de um sistema contributivo (como o nosso) para um individual. O problema não é demográfico, é político.

  35. Raio escreveu: “Não se pretende obrigar ninguém a ter filhos, pretende-se é que quem os queira ter os possa ter!”
    E se eu quiser ter 20 filhos, tu ou qualuqer outra pessoa terao de, forcasamente, “criar-me” as condicoes para eu os ter? Nao devera ser da responsabilidade individual de cada um decidir quantos filhos pode e quer ter? Nao devera ser da responsabilidade individual de cada um assegurar o sustento e a educacao dos seus filhos? Ou terao os outros, mesmo os que voluntariamente decidem nao ter filhos, responsabilidade por decisoes que nao sao suas?
    O meus amigo raio quer melhorar as condicoes socio-economicas? Entao advogue por uma sociedade livre, a unica que pode realmente criar riqueza e prosperidade que benefica todos. Por favor, nao advogue por mais “solucoes” colectivistas, em que alguem decide tirar alguma coisa a ‘A’ para entregar a ‘B’ com a pretensao que isso e’ para o “bem comum”. Essas “solucoes” colectivistas tem sido tentadas de a 70, 80, 90, 100 anos a esta parte e NAO FUNCIONAM. O problema e’ que continuam a insistir no mesmo. Cumprimentos!

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