Nunca leram um livro

Muy buena es la mujer si no tuviese
ojos con que llevar tras sí la gente,
si no tuviese lengua maldiciente,
si a las galas y afeites no se diese.

Si las manos ocultas las tuviese,
y los pies en cadenas juntamente,
y el corazón colgado de la frente,
que en sospechando el mal se le entendiese.

Muy buena, si despierta de sentido;
muy buena, si está sana de locura;
buena es con el gesto, no raída.

Poco ofende encerrada en cueva oscura,
mas para mayor gloria del marido
es buena cuando está en la sepultura.

Francisco de Quevedo, Inconvenientes de las mujeres

Arturo Pérez-Reverte, ex repórter de guerra, excelso prosista e cronista sem medo do zeitgeist, esteve ontem em Granada, no Auditório Manuel de Falla, para uma conversa com Rafael de Cózar y Pepe Belmonte. Retenho dois pontos do encontro que marcou o início do IX Festival Internacional de Poesia de Granada: 1) O “politicamente correcto” é um sintoma de uma sociedade sem cultura; 2) Se nos fechassem durante três dias ali, no Manuel de Falla, sem água, sem luz, sem comida, logo começaríamos a matar, a roubar, e a violar. Pensem nisso quando virem a feminazi do Chiado, que não sabe lidar com as suas neuroses, a gritar contra a linguagem machista ou a sociedade patriarcal. Pensem nisso quando virem o “progre” pedante do Lavapiés madrileno a fazer o elogio do multi-culturalismo, contra a elite cultural fascista. Ali vão os alarves sem cultura, sem passado, sem biblioteca, prontos a queimar qualquer obra que apresente o mínimo sinal de incompatibilidade com uma doutrina que não tolera diferenças ou desvios, mesmo quando essas diferenças já deveriam estar esbatidas pelas brumas da História. Ali vão os filisteus que, apesar de se sentirem muito superiores ao vizinho, para o qual olham de soslaio com a arrogância de quem nunca pensou duas vezes sobre as suas certezas, se comportariam como qualquer ser humano quando postos numa situação limite. Ou ainda pior, porque, e pegando numa feliz frase de Pérez-Reverte, cultura também é não gritar quando o avião cai. Mas é precisamente isso, berraria e histeria, aquilo que vamos vendo nas praças e primaveras de todo o mundo.

2 pensamentos sobre “Nunca leram um livro

  1. Sebastien De Vries

    A decadência do Ocidente tem como núcleo duro a cedência de princípios inbaláveis, como por exemplo, a irrenunciabilidade dos direitos inalienáveis da Pessoa. Muitas das “culturas” são culturas em que a vida singular de cada um nada diz, ou a intangibilidade corporal nada ensina ou a autodeterminação sexual nada determina…
    Mas, temos que gramar os pós, os …núcleos, à custa de uma errada noção de tolerância, como se tudo fosse relativo.
    Não é relativo a persuasão do meu conhecimento, sendo bom o ouvir a persuasão do outro, com espírito , se necessario fôr , de mudar, …por isso …MELHOR CONHECIMENTO e não “standards de conhecimento”

  2. JSP

    Este espadachim de maus fígados, amigo, e companheiro de aventuras, de Iñigo e do Capitão ,não versejava nada mal…
    Que a “Patente de corso” nunca seja revogada…

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