Socialismo: I´ve got you under my skin

Nesta lei anti-pirataria, o que me impressiona é como todos os partidos presentes na AR de imediato aderem a uma qualquer proposta alucinada, de proveniência que deveria merecer todas as cautelas (a ex-ministra Gabriela Canavilhas), desde que essa proposta vise extorquir dinheiro – como bem lhe chama o Nuno Gouveia – aos consumidores para o transferir para essa categoria etérea que são os artistas que, como toda a gente refinada sabe, têm direito a serem sustentados pelos outros, incluindo os outros que não suportam as suas produções artísticas (lembram-se das casas com renda de saldos da Câmara Municipal de Lisboa?). Como é possível que haja adesão imediata a uma proposta absurda como esta?

E ainda me impressiono com mais: todos os grupos parlamentares – compostos por esses seres impolutos e altruístas e inteiramente devotados ao bem-comum, por oposição aos mortais menores que apenas tratam das suas ‘vidinhas’ (recordemos as intoleráveis palavras de Assunção Esteves) – não se coíbem de tratar todos os portugueses como potenciais delinquentes, ao assumir que quem vai comprar um meio de guardar informação o vai usar para copiar ficheiros que deveriam pagar direitos de autor. Não haverá nenhuma protecção constitucional contra isto?

Bem, tomemos o sucedido como um devaneio juvenil e esperemos que a maioria parlamentar ganhe juízo e chumbe uma proposta que nem merecia o tempo que se gastou a discuti-la.

8 pensamentos sobre “Socialismo: I´ve got you under my skin

  1. ricardo saramago

    É o Portugal tecnológico, sempre na vanguarda a dar lições ao mundo.
    O artista mor, pelo sim pelo não, vai continuar em Paris a ajudar essa região atrazada a recuperar do atrazo tecnológico e cultural.

  2. Atenção que a coisa é mais esquisita ainda; o dinheiro não é transferido para o artista, mas para o editor, ou para a SPA que se encarrega de dividir por todos, quer sejam pirateados ou não — mais socialismo.

    (Numa nota pessoal, e porque é um erro que começa a ser comum mas não me entra no goto nem a pontapé, “têm direito a serem sustentados” deve ser escrito “têm direito a ser sustentados” — o verbo é composto; por isso, o plural fica expresso apenas no verbo auxiliar “têm”.)

  3. neotonto

    Acabo de ler isto mesmo em inglish ainda que soa com outras palavras pelo mesmissimo Jimmy Wales:

    “SOPA and PIPA threatening freedom of expression”

  4. Luís Lavoura

    Eu gostava que me esclarecessem uma coisa.
    Segundo já ouvi dizer, já hoje esses aparelhos tecnológicos todos pagam uma taxa que se destina à Sociedade Portuguesa de Autores. O que esta lei da Canavilhas faz é apenas aumentar (muito) essa taxa já pré-existente. De resto, a lei em nada inova.
    Isto é verdade? Ou não?
    Se isto fôr verdade, então a lei Canavilhas merece contestação, mas o status quo também merecerá. Ou não?

  5. Joaquim Amado Lopes

    Para quando uma taxa sobre a volumetria da cave e/ou do sótão, que tantos usam para guardar artigos roubados?
    Estarão os senhores deputados distraídos?

  6. jp

    Já agora, a Sra.Canavilhas podia criar também uma taxa de IRS/IRC para compensar pelos que fogem ao fisco, pelo valor de 25% do PIB.
    Assim, os cumpridores compensavam a fuga pelos incumpridores e estava o problema resolvido.
    Ao mesmo tempo resolvia-se o problema do défice.
    Quem sabe, até o da dívida.

  7. Zebedeu Flautista

    #4- Luís acho que só CD/DVD virgem é que pagam uma taxa deste género de momento. Não sei se a justificação da lei para tal é como agora a cópia privada ou uma socialização dos prejuízos causados pela pirataria.

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