Nesta lei anti-pirataria, o que me impressiona é como todos os partidos presentes na AR de imediato aderem a uma qualquer proposta alucinada, de proveniência que deveria merecer todas as cautelas (a ex-ministra Gabriela Canavilhas), desde que essa proposta vise extorquir dinheiro – como bem lhe chama o Nuno Gouveia – aos consumidores para o transferir para essa categoria etérea que são os artistas que, como toda a gente refinada sabe, têm direito a serem sustentados pelos outros, incluindo os outros que não suportam as suas produções artísticas (lembram-se das casas com renda de saldos da Câmara Municipal de Lisboa?). Como é possível que haja adesão imediata a uma proposta absurda como esta?
E ainda me impressiono com mais: todos os grupos parlamentares – compostos por esses seres impolutos e altruístas e inteiramente devotados ao bem-comum, por oposição aos mortais menores que apenas tratam das suas ‘vidinhas’ (recordemos as intoleráveis palavras de Assunção Esteves) – não se coíbem de tratar todos os portugueses como potenciais delinquentes, ao assumir que quem vai comprar um meio de guardar informação o vai usar para copiar ficheiros que deveriam pagar direitos de autor. Não haverá nenhuma protecção constitucional contra isto?
Bem, tomemos o sucedido como um devaneio juvenil e esperemos que a maioria parlamentar ganhe juízo e chumbe uma proposta que nem merecia o tempo que se gastou a discuti-la.
É o Portugal tecnológico, sempre na vanguarda a dar lições ao mundo.
O artista mor, pelo sim pelo não, vai continuar em Paris a ajudar essa região atrazada a recuperar do atrazo tecnológico e cultural.
Atenção que a coisa é mais esquisita ainda; o dinheiro não é transferido para o artista, mas para o editor, ou para a SPA que se encarrega de dividir por todos, quer sejam pirateados ou não — mais socialismo.
(Numa nota pessoal, e porque é um erro que começa a ser comum mas não me entra no goto nem a pontapé, “têm direito a serem sustentados” deve ser escrito “têm direito a ser sustentados” — o verbo é composto; por isso, o plural fica expresso apenas no verbo auxiliar “têm”.)
Acabo de ler isto mesmo em inglish ainda que soa com outras palavras pelo mesmissimo Jimmy Wales:
“SOPA and PIPA threatening freedom of expression”
Eu gostava que me esclarecessem uma coisa.
Segundo já ouvi dizer, já hoje esses aparelhos tecnológicos todos pagam uma taxa que se destina à Sociedade Portuguesa de Autores. O que esta lei da Canavilhas faz é apenas aumentar (muito) essa taxa já pré-existente. De resto, a lei em nada inova.
Isto é verdade? Ou não?
Se isto fôr verdade, então a lei Canavilhas merece contestação, mas o status quo também merecerá. Ou não?
Para quando uma taxa sobre a volumetria da cave e/ou do sótão, que tantos usam para guardar artigos roubados?
Estarão os senhores deputados distraídos?
Fico feliz por haver algum assunto em que concordo completamente com um Insurgente.
Já agora, a Sra.Canavilhas podia criar também uma taxa de IRS/IRC para compensar pelos que fogem ao fisco, pelo valor de 25% do PIB.
Assim, os cumpridores compensavam a fuga pelos incumpridores e estava o problema resolvido.
Ao mesmo tempo resolvia-se o problema do défice.
Quem sabe, até o da dívida.
#4- Luís acho que só CD/DVD virgem é que pagam uma taxa deste género de momento. Não sei se a justificação da lei para tal é como agora a cópia privada ou uma socialização dos prejuízos causados pela pirataria.