As notícias que dão como sendo de 50% o valor do perdão da dívida grega parecem, afinal, largamente “optimistas” em relação a esse valor, e aparentemente deixam de lado ou menosprezam alguma informação relevante em relação à natureza desse perdão.
Em primeiro lugar, não referem que foram excluídos desse perdão o BCE, a UE e o FMI, sendo que portanto esses 50% se referem somente ao restante da dívida – o que, ponderando os montantes envolvidos, reduzem esse perdão a 28% da dívida grega. Mais do que isso, cria um estatuto de “credores de 1ª” e de “credores de 2ª” da dívida grega, um novo motivo de alerta para os detentores privados de dívida pública de outros estados europeus.
Em segundo lugar, parece ignorar que uma parte significativa dessa dívida “perdoada” é detida por bancos e fundos de pensões gregos, o que faz pensar em qual será a reacção da “rua grega” quando se aperceber que a bonança do perdão da dívida afinal foi em parte sustentado à custa da viabilidade das suas reformas, e que ainda vão ter que ser os financiadores mais do que previsíveis da recapitalização dos bancos gregos afectados, que simultaneamente são atingidos pelo “perdão” e pela imposição de subida de rácios.
Sinceramente, não sei onde estarão os motivos da satisfação anunciada pelo primeiro-ministro grego com esta decisão, e qual será a natureza efectiva da “nova era” que anuncia.
Bom texto João. Os números que eu tenho (admito que possam ter sofrido alterações) indicam que 60% da dívida grega é detida por entidades gregas e cipriotas, 20% por entidades alemãs e 10% por franceses. Os outros 10% estão espalhados, genericamente, pelo resto da Europa continental.
Quanto às declarações do PM grego, também concordo contigo. O que ontem foi decidido não foi salvar a Grécia. Não, o que ontem foi decidido foi salvar a solidez dos bancos dos países credores, a expensas dos interesses dos accionistas dos bancos desses mesmos países. A Grécia mantém-se no fio da navalha e por irónico que pareça o “salvamento” foi o derradeiro aviso dos políticos europeus (que estão com as orelhas a arder de tanto ouvir dos seus eleitorados): ponham a casa em ordem e rápido, pois se precisarem de mais dinheiro já não contam connosco!
http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2011/10/not-over-yet.html
Obrigado :-),
Havia alguma informação sobre isso no Zero Edge, mas não sei quão actualizada:
http://www.zerohedge.com/news/guest-post-mystery-solved-ecb-can’t-afford-greek-barber-shop
E ainda vamos ver como vai ser dos CDS…
Os números que eu citei são da Goldman Sachs (Abril 2011).
Pois, os CDS são a grande incógnita. Contudo, de acordo com os números que a Bloomberg está hoje a citar o valor líquido (nocional) não chega a 4 B’s…podia ser bem pior.
Parecem-me mais actuais, sem dúvida. Mas excluíam o BCE e o FMI (principalmente o primeiro), presumo.
“Parecem-me mais actuais, sem dúvida. Mas excluíam o BCE e o FMI (principalmente o primeiro), presumo”
Certo. No caso português, permitiram análises (pelos anúncios que a imprensa hoje tem feito) bem certeiras quanto aos bancos a serem intervencionados.
Nada foi resolvido, a dívida continua a passear de mão em mão e a aterrar em cima do contribuinte.
Quem vai pagar toda esta trafulhice vão ser os agentes económicos e os contribuintes da zona euro.
Quando os mercados digerirem a nova realidade vão subir os prémios de risco para o euro e as dívidas soberanas da zona euro.
O passo seguinte será a desvalorização da moeda, promovida pelos governos e BCE, fazendo os aforradores pagarem os desmandos da política.
Avizinham-se bons tempos para os especuladores.
O João Pinto e Castro do Jugular fez a mesma análise. Segundo ele, até agora a dívida grega não valia nenhum, a partir de agora passa a valer 50% do seu valor nominal, pelo que quem fica a ganhar são os bancos que a detêm (e quem se lixa é o contribuinte).
Provavelmente no decorrer das negociações, o BCE aliviou alguns bancos da sua dívida Grega, pelo que a redução do peso da dívida deve ser inferior.
Um bom artigo :
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cifamerica/2011/oct/24/jean-claude-trichet-tenure-ecb?fb=optOut
Jean-Claude Trichet will be retiring as head of the European Central Bank at the end of October. He will step into retirement having wreaked the sort of destruction on the European economy that hostile powers could only dream about. Tens of millions of people across the eurozone countries are unemployed or underemployed because of his mismanagement of Europe’s economy.
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