Seiscentos e vinte e dois euros e cinquenta cêntimos

Já devia ter desistido de acreditar que exista alguma racionalidade nas leis ou que quem as faz tivesse inteligência superior a uma amiba. Quase todos os dias sou atropelado por leis, decretos e assim, que não lembram ao mafarrico. A última foi há dois dias. Recebi uns papeis a comunicar que fomos multados em 622,50€, cortesia da GNR de Sines, porque na factura da mercadoria que seguia numa viatura da transportadora não estaria indicada a hora de carga.

Ora a coisa funciona mais ou menos assim: quando existem remessas a enviar, solicitamos a recolha a uma transportadora com quem temos contracto. Quando chega o motorista ao nosso armazém temos prontos os volumes e respectivos documentos que os acompanham – facturas. Supondo que são recolhidos cerca das quatro da tarde, seguem para o armazém da própria transportadora e no dia seguinte pela manhã (em outra ou outras viaturas) fazem o trajecto necessário até serem entregues nos clientes. Posto isto, 1) Não faço ideia da hora exacta a que a transportadora recolhe os volumes no nosso armazém 2) Estou ainda mais longe de saber a que horas saem das instalações da própria.

A partir de agora passamos a escrever nas facturas as horas de recolha mais estapafúrdias que nos ocorrer, dependendo da disposição. Pode ser às duas da manhã, às seis da tarde, ao meio dia, às onze da noite ou à meia noite e quinze.  Desde que esteja uma hora qualquer na factura já não somos multados. A alternativa é imprimir cento e cinquenta facturas na altura da recolha mas aí a hora já não bate certo, quando os volumes saírem já passou meia-hora desde a impressão da primeira.

De caminho, as alimárias que se lembraram disto podem ir ter filhos pela barriga das pernas enquanto a gente investe como se não houvesse amanhã.

16 pensamentos sobre “Seiscentos e vinte e dois euros e cinquenta cêntimos

  1. Luís Serpa

    Há uns anos era obrigatório “dar entrada” (e “dar saída”) de uma embarcação de recreio num porto nacional, mesmo se em proveniência de outro porto nacional; essa prática sempre me irritou, por duas razões: a) se eu viesse de comboio ou de automóvel ninguém me pedia para “dar entrada” ou “saída”; b) os organismos onde era preciso “dar entrada” (Capitania, Alfândega e Polícia Marítima – enfim, o antecessor desta) eram muitas vezes longe dos portos.

    Regra geral não cumpria essas formalidades, mas quando era obrigado, por qualquer razão a cumpri-las (entrada. Saída nunca fiz) dizia que o barco vinha de Madrid, Paris, Berlim, Timbuctu, Samarkanda, e assim por diante.

    Acreditem se quiserem, mas em anos desta coisa nunca – nunca – ninguém estanhou que uma embarcação de vela entrasse no porto de, por exemplo, Figueira da Foz em proveniência de “Madrid”.

  2. Noto que és “impractical”, pouco progressista e pouco altruista. Estás é a precisar de um Cuffy Meigs aí na empresa para te pôr na linha. 😉

  3. ricardo saramago

    As alimárias que fazem estas leis e regulamentos em quantidade avassaladora, nunca produziram, venderam ou transportaram nada na vida e os prejuízos que causam, sempre aplicados com diligência pelos fiscais, são suportados por toda a sociedade atravès de salários mais baixos, ausência de investimento e desemprego.
    A profusão de legislação imbecil e prejudicial é hoje um dos maiores constrangimentos ao nosso desevolvimento, porque com pretextos de modernidade, mais não faz que desencorajar os querem investir a longo prazo.
    Os oportunistas e espertos, sempre à margem da legalidade, pelo contrário prosperam neste ambiente hostil, acoitados pela corrupção e protecções várias e em último caso sabem que a lei é só para tansos e que os tribunais nunca levam a aplicação da lei até ao fim.
    Continuam assim com impunidade a fazer concorrência desleal aos que querem cumprir a lei, mas cada vez mais têm que optar entre desistir ou juntar-se aos espertos.

  4. Pingback: Burros de carga « BLASFÉMIAS

  5. Caro Helder

    Tenho cuidado com essa “disposição”, porque ainda pode ser pior.
    Se está a contratar um transportador, ou seja o carro não é da sua empresa, é esse transportador que tem de preencher uma guia de transporte com as horas adequadas.
    Você limita-se a pôr uma cópia da factura para o seu Ciente dentro dum envelope e envia o original pelo correio, ou electronicamente, etc.
    Pelo menos é assim que os meus fornecedores fazem comigo, quer sejam nacionais ou estrangeiros.
    Por isso acho que pode reclamar perfeitamente dessa multa.
    Se não é o transportador, não é você que é responsável.

    Agora se se escandalizou com essa situação, diga-me o que é que acha do que aconteceu a alguns instaladores que trabalharam para mim.
    Um foi multado, porque um dos operários não preencheu a guia de transporte dos detritos que removeu da obra depois de acabar os trabalhos, bocados de fio, esteira, etc. (esse passou a deitar tudo fora no 1º caixote de lixo que via na rua).
    Outro foi multado, porque apesar de ter feito a guia de transporte de detritos removidos da obra, não lhe pôs os custos dos materiais (esse passou dar a como cotação de 0,01€ por unidade, seja um rolo de 50 ml de cabo grosso ou 0,5ml de fio.
    .

  6. Com essa mania das horas nas facturas e guias de remessa já há fornecedores meio “malucos”.
    Um dia quando comprei um aparelho de medição a laser, o fornecedor teve de saber a matrícula do meu carro e como era o fim da tarde, ele pôs na guia hora de saída nesse dia e a hora de chegada no dia seguinte.
    Apesar de eu lhe explicar que aquilo ia ser usado pontualmente e quando o fosse, era transportado num mala pessoal que a polícia não podia abrir.
    Também já me disseram que eu devia actualizar todos os dias as guias de remessa dos equipamentos pessoais que transporto, as botas de biqueira de aço, o capacete, o portátil, o laser, etc.
    Não há pachorra…
    .

  7. Marcos Garrido

    Ponha 8h00 em todos os documentos. É razoavelmente credível e a autoridade deixa de chatear.

  8. Eleutério Viegas

    E que tal se os empresários, os das PMEs, com as respectivas associações resolvessem boicotar todas esta teia de pervoíces inventadas por “foncionários” de diversos níveis? Mas boicotar mesmo, activamente. E qual coima ou multa, qual quê… Não pagamos! Não pagamos! Entupia-se o “sistema” e era uma limpeza.

    A seguir íamos ao “fisco” (palavra mais horrorosa!). Não pagamos! Não pagamos! Nem com os computadores lá iam…

  9. Pingback: Burocracia sufocante | OrdemLivre.org/blog

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