¡Es la libertad, estúpido!

(…) No me gustan los toros. A lo largo de medio siglo de vida en una tierra tan taurina como Andalucía no habré asistido a más de ocho o diez corridas, y ninguna de ellas ha logrado conmoverme ni provocarme una emoción estética o espiritual relevante. Me aburro. Admiro el valor de los toreros, aprecio la belleza del ceremonial, sus ricos matices sensoriales y su compleja encarnadura expresiva, pero como espectáculo me parece premioso, largo, incómodo y discontinuo. Sospecho que una amplia porción de compatriotas participa de un criterio similar, poco o nada entusiasta de la fiesta, pero a ninguno se nos ha pasado por la cabeza prohibirla, ni limitar a los demás el derecho a disfrutarla, ni despreciar su valor cultural y sociológico, ni mucho menos imponer su desaparición en nombre de ningún fundamentalismo ideológico o moral. Por eso lo último que podíamos imaginar era que nos íbamos a ver obligados a defenderla como reducto simbólico de una libertad amenazada. Porque lo que está en juego no es la libertad parcial de ir o de no ir a los toros, ni siquiera la de sentirse español en Cataluña; se trata de una libertad única y esencial que no se puede dividir en pedazos ni administrar en nombre de ningún designio.

Ignacio Camacho, ABC

19 pensamentos sobre “¡Es la libertad, estúpido!

  1. floribundus

    os ‘macacos sem rabo’ que nascem em qualquer lado podem continuar a morrer de fome apesar de não estar previsto na constituição

  2. O Jansenista

    A liberdade, no caso, consiste em só ir à tourada quem quer – se exceptuarmos os toiros e os cavalos…

  3. Carlos M. Fernandes

    Da próxima vez que me apetecer comer rabo de touro à cordobesa vou perguntar antes ao touro se quer ir ao matadouro. Ele é capaz de dizer que não e lá vou ficar sem o jantar.

  4. O Jansenista

    E eu que supunha que nos matadouros os bois tinham que ser primeiro atordoados, de forma a morrerem sem sofrimento. Mas se o Sr. Fernandes sabe que eles são picados, bandarilhados e estocados para depois serem esquartejados e ingeridos, compreendo que propenda para o vegetarianismo.
    A questão é do sofrimento, não é a da morte – e portanto também não é a do abate.
    Saberá o Sr. Fernandes que os animais humanos também morrem? (lamento ser eu a dar-lhe a notícia, caso não soubesse) A inevitabilidade dessa morte justifica a sujeição deles ao sofrimento (de qualquer modo vão morrer, e a maior parte morre involuntariamente…).
    Aqui tem, com ênfase e insistência: a questão é o sofrimento, não é a morte.
    Agora confunda os argumentos à vontade. Antigamente chamava-se a isso “ignoratio elenchi”; vou deixá-lo à vontade para encontrar o equivalente moderno.

  5. Carlos M. Fernandes

    Há quem diga que no caminho para, e no próprio matadouro, o animal “sofre” ao ponto de a carne perder qualidades. Não sei, não sou especialista em “sensibilidade ecologista”, mas é o que dizem os mesmos – os mais militantes, pelo menos – que se indignam com as touradas. Talvez não seja verdade. Pode comer a sua costeleta de novilho descansado. Longe da vista, longe do coração.

  6. O Jansenista

    Não é necessária qualquer “sensibilidade ecologista”, basta ver o quadro normativo que enquadra as actividades do abate. Os veterinários (e um batalhão de funcionários que têm por única função zelarem pelo cumprimento das leis e das directivas e regulamentos comunitários) encarregam-se de que nada se passe “longe da vista”.
    Mas o que importa é que, por maioria de razão, acaba de admitir que há sofrimento, extremos de sofrimento (porque nada lá se encontra a mitigá-lo), na arena.
    Gostaria de ouvi-lo dizer expressamente que infligirmos sofrimento por pura diversão é um exercício de liberdade. Os sádicos de todo o mundo vão agradecer-lhe a solidariedade.
    E mesmo o espectro de gerações de proxenetas, algozes e negreiros virá agradecer-lhe em sonhos essa glorificação do sofrimento “tradicional”, essa defesa estrénue da “liberdade” de oprimir e impor sofrimento.

  7. Carlos M. Fernandes

    (Por muitos funcionários e veterinários que existam, os militantes da causa animal continuam a dizer que os animais sofrem de stress a caminho do matadouro, e no matadouro. Não sou eu que o digo. E também se sabe que bicho de “aviário” não tem uma vida muito…vamos lá ver como explico isto…agradável?)

    Pronto, só faltava misturar animais e seres humanos.
    “E mesmo o espectro de gerações de proxenetas, algozes e negreiros virá agradecer-lhe em sonhos essa glorificação do sofrimento “tradicional”, essa defesa estrénue da “liberdade” de oprimir e impor sofrimento.”
    Isto também deve um nome qualquer, e até em latim ou em grego, antigo e tal, com ou sem equivalente moderno, eu é que agora não estou a ver qual é.

    “Gostaria de ouvi-lo dizer expressamente que infligirmos sofrimento por pura diversão é um exercício de liberdade.”
    Confesso: gosto muito de comer um belo naco de foie-gras, de preferência com um Tokaji 5 Puttonyos. Conta como pura diversão? É que dizem que o pato e o ganso passam um mau bocado.

  8. O Jansenista

    Que o Sr. Fernandes vá multiplicando, de post para post, as suas confissões (não contritas) acerca das suas práticas que acarretam sofrimento para não-humanos, eis o que não sei que prova em termos dialécticos – mas sei bem o que mostra.
    Quanto a renegar paralelismos, é o velho repúdio do contínuo entre espécies, o argumento das almas descarnadas no ápice da “grande cadeia do ser” (remeto-o para A.O. Lovejoy, lá verá o latim que reclama) – parecendo portanto que renega a sua condição animal, e que desligou a sua empatia para o sofrimento alheio (a menos que queira sugerir que a) há uma qualquer incomparabilidade entre o sofrimento dos não-humanos e o dos humanos, b) que nos humanos não é a pura animalidade que sofre).
    Para lhe facilitar a meditação, há uma forma de sofrimento que é quase exclusiva dos humanos, que é a humilhação (entre chimpanzés e bonobos ela já foi observada, mas não quero beliscar o seu argumento da “superioridade” entre espécies).
    Seja sibarita à vontade e continue a devorar foie-gras de pleno borco. Um dia quando o seu corpo lhe apresentar a factura de tanto excesso há-de esperar, legitimamente, que os outros tenham empatia pela forma puramente animal(esca) como experimentará o seu sofrimento físico, a sua dependência e a sua vulnerabilidade – que obviamente, coerente como sou, não lhe desejo.

  9. Carlos M. Fernandes

    “a) há uma qualquer incomparabilidade entre o sofrimento dos não-humanos e o dos humanos”
    Até pode haver, não sabia? Chama-se “noção do passado” e, até ver, só os humanos (e talvez alguns primatas superiores) a têm. Já dizia Borges, os animais vivem no presente…

    Preocupe-se com o seu corpo, que eu preocupo-me com o meu, vale? (só me faltava esta…)

  10. O Jansenista

    Que a maior parte dos animais não-humanos tem noção do passado é evidente – faz parte do processo de aprendizagem com o qual eles apuram a sua capacidade darwinista de sobrevivência. Já pensou porque é que os animais na selva e na savana fogem dos seus predadores antes de qualquer ataque? Será porque “vivem no presente”? Coitado do Borges, deixe-o lá em paz, com liberdade poética a ideia de “noção do passado” passa a significar qualquer coisa.
    O Sr. Fernandes já ouvi falar da gorila Koko que narrava o seu passado através de linguagem gestual?
    Mais grave: o Sr. Fernandes quer negar a natureza humana, ou os direitos humanos inerentes àquela natureza, àqueles da nossa espécie que, por um qualquer infortúnio, não chegaram a adquirir, ou entretanto perderam, a sua “noção do passado”?

    Quanto ao seu corpo, não me preocupo demasiado (embora a minha empatia pela animalidade dos outros não me torne indiferente – e aqui está o cerne do que nos distingue) – apenas estava a adverti-lo para as consequências “hubrísticas” daquilo que o Sr. Fernandes, com uma certa dose de ostentação, andava a reclamar que fazia com ele. Deixe de referir as suas proezas gastronómicas como argumento, e eu deixo de usá-las como premissa, vale?
    Podemos nós admitir que o Sr. Fernandes esteja disposto a reconhecer que os toiros também têm o direito de se preocuparem com o corpo deles? Ou o seu gozo sanguinário dá-lhe a si a prerrogativa de lhe negar o direito de não sofrerem na arena?

  11. Carlos M. Fernandes

    Sim, muito evidente…Poupe-nos às tergiversações darwinistas de Reader’s Digest. Estas coisas são um bocadinho mais complicadas (ou mais simples como a resposta a:”…porque é que os animais na selva e na savana fogem dos seus predadores antes de qualquer ataque?”).

    Quanto às advertências para as consequências do que faço na minha esfera privada, dispenso (deixemos passar essa de “referir proezas gastronómicas como argumento”; foi levado pelo entusiasmo, certamente). Mas é livre de as fazer, claro. Já sobre imputar-me “gozo sanguinário”, olhe, não sei o que lhe diga. Dá-lhe jeito para a tese? Força.

  12. O Jansenista

    O Sr. Fernandes está a ficar algo obscuro na sua argumentação. Parece que leu Darwin no Reader’s Digest, porque o nome daquele evoca esta publicação. E porque não?
    Assumindo que está a falar com um daqueles “imbecis analfabetos” que se condoem com o sofrimento dos toiros, adverte para o facto de estas “coisas” serem “um bocadinho mais complicadas”, e logo de seguida “mais simples”.
    Na minha inocência de “taberneiro” “provinciano”, sigo alegremente o seu paternalismo de cicerone pelos labirintos da cultura, mas ó homem decida-se, vá buscar o fio de Ariadne, não vá sair-lhe outro célebre e possante toiro ao caminho!
    Peço já desculpa de ter designado por “proezas gastronómicas” a ostentação de que gosta de rabo de boi à cordobesa, de foie gras e de vinhos de difícil pronunciação: manifestamente para o Sr. Fernandes não são proeza, são rotina.
    A obscuridade adensa-se quando parece rejeitar o “gozo sanguinário” como o móbil do seu deleite com a fiesta. Se o Sr. Fernandes já foi a uma tourada, como eu já fui, terá visto sangue, não? Ou será que só esteve em touradas na Califórnia, com aquela mantinha de velcro a que aderem os ferros?
    Quando o touro começa a esvair-se em sangue depois de uma sorte de varas ou do tércio de bandarilhas o Sr. Fernandes levanta-se e vai tomar uma limonada cá fora? O seu íntimo protesta contra o espectáculo cruento? A sua empatia interpela-o?
    Não? Então assuma, que raio, assuma! Não bata contrito no peito que é contra o espectáculo do sofrimento ao mesmo tempo que o defende! Assuma! Não hesite! Não obscureça! Não fuja às questões! Eu debato as que o Sr. quiser, com ou sem o Reader’s Digest!

  13. Carlos M. Fernandes

    Deixe lá o espectáculo da auto-comiseração. Já percebi que acha que na origem disto tudo estão os animais e o seu “sofrimento”, e os “imbecis analfabetos” são os pobres jansenistas preocupados com a saúde dos touros. E o outros são uns selvagens e bla, bla, bla. Nem sabe quantas vezes já ouvi isto. Mas também conheço muita gente que, mesmo rejeitando as corridas de touros e desejando o seu fim, não pisam o risco da proibição. Por isso, condoa-se à vontade com o sofrimento dos touros. Não venha é com proibições…

    Ah, e em Espanha não há essas “mariconadas” das limonadas. Na praça, puros e gin tónico (lamento, mas tenho que que manter a pose e ostentação, não é? Sibarita até ao fim…). É um oásis numa Europa de meninos.

  14. H.

    Que a maior parte dos animais não-humanos tem noção do passado é evidente – faz parte do processo de aprendizagem com o qual eles apuram a sua capacidade darwinista de sobrevivência. Já pensou porque é que os animais na selva e na savana fogem dos seus predadores antes de qualquer ataque? Será porque “vivem no presente”? Coitado do Borges, deixe-o lá em paz, com liberdade poética a ideia de “noção do passado” passa a significar qualquer coisa.

    Que disparate. Isso nada tem a ver com uma noção do passado individualizada. Também alguns micróbios, amibas ou vegetais apresentam capacidades similares. Você está a antropomorfizar comportamentos animais, a atribuir-lhe uma consciência que não está lá. Os computadores fazem coisas bem mais complexas e não lhes atribuímos uma noção do passado.

    Olhe que esse antropomorfismo radical que você parece perfilhar está completamente desacreditado. O ponto da situação é descrito de forma muito cuidada no já clássico artigo do Prof. Wynne na Nature: http://www.nature.com/nature/journal/v428/n6983/full/428606a.html

    Sobre este assunto em concreto da noção do tempo pelos animais, recomendo-lhe as obras do Prof. William Robert, particularmente os Principles of Animal Cognition (disponível na Amazon). Ele utiliza uma expressão, um conceito, que curiosamente tem um sabor borgesiano: “stuck in time”. É assim que os animais estão. São tão capazes de relembrar o passado como o fazemos nós como de planear o futuro.

    O Sr. Fernandes já ouvi falar da gorila Koko que narrava o seu passado através de linguagem gestual?

    Pelo amor de Deus…o gorila Koko? Ó homem, gorila Koko é um “hoax”, uma fraude, uma mentira, uma ilusão para aqueles de mente débil, como a telepatia, a levitação de humanos, a alquimia, o Uri Geller a dobrar colheres e o diabo a sete. Você faz ideia da complexidade da estrutura da linguagem dos humanos, gestual ou não? Um bébé de ano e meio utiliza recursos infinitamente mais ricos que qualquer grande símio e nós mal o percebemos. Enfim, nem sei que lhe diga. Certo é que não continuarei a responder-lhe depois de ler sobre o Koke – como não continuaria a debater física com quem me viesse com teorias da terra plana. Olhe, pegue nisto, há muita informação sobre o gorila Koko por lá:
    http://forums.randi.org/showthread.php?t=65071

    E é a isto que estamos reduzidos: a tentar debater com uma corja de analfabetos radicais que acreditam que os gorilas aprendem linguagem gestual e se tornam raconteurs de primeira água ou que há tipos que dobram colheres de sopa com o “poder da mente”.

  15. O Jansenista

    Saltando sobre o “erudito” H que acha que a gorila Koko é um avatar do Uri Geller, e que acha que sou eu, e não a citação do Borges, que está a “antropomorfizar”, e que pelos vistos não percebeu o argumento dos “casos marginais” de indivíduos que continuam a ser humanos apesar de não terem a famigerada “noção do tempo”, e que espuma do canto da boca um boçal “corja de analfabetos radicais” por supor que eu sou um membro de uma seita de “libertação animal” que lhe vai assaltar o biotério,
    Depois desse exercício patético de paranóia, dizia eu,
    Voltemos ao Sr. Fernandes:
    Sr. Fernandes, onde está a auto-comiseração? De eu ter adoptado para mim os epítetos que o Sr. tão alegremente bolsou sobre quem não alinha em cevar os seus apetites sanguinários?
    O Sr. entende que “proibir” é “pisar o risco”? Ó libérrimo Sr. Fernandes, agora é que se erguem em aplauso os sádicos, proxenetas, negreiros, torcionários e algozes do mundo! É verdade, eles também não querem ser proibidos! Eles acham que o Direito Penal é um recuo civilizacional, é um “piso no risco”.
    Causar sofrimento não é pisar o risco: proibi-lo é que é! Átila o Huno teria delirado com o Sr. Fernandes. Até a banda pedófila arrancaria em pasodoble com essa defesa das “liberdades”!
    Quanto às limonadas e às orchatas, lamento Sr. Fernandes mas a sua propensão sibarítica entra no delírio – porque manifestamente nunca se aproximou de um redondel andaluz ou castelhano (deve imaginar que são postos de venda do Gin Larios…). E a sua fanfarronada quanto à “mariconice” das bebidas não-alcoólicas diz volumes quanto às carências e pulsões que as suas sublimações toireiras procuram resolver. Mas não me atrevo a citar Freud, não vá aparecer outra vez o cabresto “jóia magnética do norte” a dizer, sei lá, que Freud nunca existiu, ou que é outra fraude…
    Ah, e quanto à “Europa de meninos”: novamente cuidado com expressões dessas, depois de ter asseverado que “proibir” é que é “pisar o risco”…

  16. Carlos M. Fernandes

    “Quanto às limonadas e às orchatas, lamento Sr. Fernandes mas a sua propensão sibarítica entra no delírio – porque manifestamente nunca se aproximou de um redondel andaluz ou castelhano (deve imaginar que são postos de venda do Gin Larios…). E a sua fanfarronada quanto à “mariconice” das bebidas não-alcoólicas diz volumes quanto às carências e pulsões que as suas sublimações toireiras procuram resolver. Mas não me atrevo a citar Freud, não vá aparecer outra vez o cabresto “jóia magnética do norte” a dizer, sei lá, que Freud nunca existiu, ou que é outra fraude…”
    Tenha lá calma e juizinho. Acha mesmo que eu estava a falar a sério?
    Olhe, a minha paciência esgotou-se ali em cima, quando li “proxenetas, etc…” e referências à pedofilia. Até era capaz de lhe explicar algumas coisas de darwinismo, conceito que aparentemente não domina. Até era capaz de falar de Sigmund Fraude, perdão, Freud. Mas a desonestidade não tolero, lamento. Resolva lá os seus problemas e deixe-me em paz.

  17. H.

    e que pelos vistos não percebeu o argumento dos “casos marginais” de indivíduos que continuam a ser humanos apesar de não terem a famigerada “noção do tempo

    Não o percebi porquê?

    e que acha que sou eu, e não a citação do Borges, que está a “antropomorfizar”

    Confirmo. Você provavelmente nem sabe o que é o antropomorfismo.

    Saltando sobre o “erudito” H que acha que a gorila Koko é um avatar do Uri Geller

    Eu não acho. É o que é. Uma atracção de feira, um hoax, uma desonestidade para embasbacar as mentes mais crédulas e simples. O que eu acho extraordinária é a arrogância de quem nos comunica que “o gorila Koko arrava o seu passado através de linguagem gestual”. E nas ondas de éter, também acredita?

    Discutir cognição animal consigo é como discutir a expansão do universo com um astrólogo.

  18. O Jansenista

    Ora aí está, as duas cabeças chocaram, H. e Fernandes. Do choque podia ter saído chispa ilustrada, mas não, apenas muito anzol deglutido, muita investida em tábuas, muito derrote a silhas passadas. O mais ferino investiu até em pontas contra o QI de Koko, julgando obter colhida, asseverando que ela, a gorila, não vai mais longe do que 1 criança de 1 ano e 1/2 (vê-se portanto que as crianças abaixo dessa idade não têm o QI que é para o Sr. H. o limiar do respeito). O mais contemplativo sentiu aderir ao velcro da sua sensibilidade epidérmica as palavras que dirigi a outros (quando disse que outros lhe aplaudiriam as ideias, achou que o estava a enturmar com eles, “enfiou a carapuça”, não percebe a diferença entre as pessoas e as ideias).
    Mas vá, saio da faena: do choque dos cocos desencabrestados poderia ter saído chispa, podia ter, muito mais grave, saído sangue. Não, saiu água de côco, bebam-na e festejem verem-se livres de mim, seus maduros.
    Razão tinha o outro que me acusava de crueldade, sublinhando que “nós somos cruéis de tanto pretendermos ser justos com a estupidez alheia”.

  19. H.

    O Jansenista,

    Lamento ter de ser eu a dizer-lho, mas não há jogos florais que disfarcem o indisfarçável: tentou aduzir argumentos que pensava V. ser de índole científica (assim pensava – espero, sinceramente, que já não seja o caso) mas que na realidade não passam de emanações de pseudo-ciência, de lixo, de crendice primária e rasteira. Ao invés de humildemente, humanamente, corrigir o tiro, optou por, bestialmente, selvaticamente, insistir na pólvora seca. Onde V. verá galhardia, eu apenas noto ridículo.

    Lá que V. se esganice, uive, gesticule, congestione e deprima com o espectáculo dos toiros é respeitável e o que lhe compete nesse triste papel de fanático e prosélito da superioridade – ética, moral, científica, política – do gorila que nos conta o passado e do chifrudo que esguicha sangue; lá que entenda que os animais têm direitos, memórias pessoais, porventura alma – todos eles, da alforreca ao piolho, do pato ao paquidreme – tolera-se; lá que que comova com o fantasia duma irmandade animalesca que inclua a si, a mim e à ratazana mal-cheirosa é, ainda que uma triste idiotia, respeitável (e, sendo eu um radical defensor do primado do humano, nada me importa que transponha V. esse amor do domínio do fraternal para o do sensual, com galinhas, equídeos, ovelhas ou o que melhor lhe parecer, desde que, neste caso, me permita manter uma respeitável distância a bem da elegância indumentária). Mas, apaixonado da bosta, sairia favorecido o seu enérgico apostolado se poupasse os os que o lêem à equiparação de truques de circo às nobres competências humanas, e só humanas, da linguagem e da memória pessoal. É que eu já albergo a desconfortável suspeita que V. num papagaio falante verá um Churchill ou um Cícero em potência.

    Ou seja, terá V. muitos e estimáveis argumentos nos quais assentar o seu desconforto com a festa dos toiros – use-os então e não inclua no arsenal aqueles que são acientíficos e que outro uso não têm excepto o de propagar mitos e superstições folclóricas.

    Adeus, ó Esopo da contemporaneidade.

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