Sobre os sacanas que nos governam

O valor de venda da Vivo corresponde a cerca de 4% do PIB português. Se a PT distribuisse pelos accionistas o valor recebido, estes poderiam finalmente efectuar a tão necessária desalavancagem e melhorar os credit ratings de Portugal e da banca portuguesa (ou seja, mais dinheiro disponível para emprestar às nano-mini-micro empresas portuguesas). Os impostos sobre esta distribuição de dividendos ajudariam a baixar o défice em cerca de 0.8% do PIB. A PT estaria a vender a Vivo por 35 (trinta e cinco!) vezes os lucros do último ano. Isto numa indústria que está em estagnação, ou declínio, um pouco por todo o mundo, com margens esmagadas e a sombra do VOIP a ameaçar enterrar a indústria ainda mais.
E desenganem-se: não foi o suposto interesse nacional que guiou estes senhores. Foi a pressão de meia dúzia de boys da PT que querem continuar a gerir uma grande empresa e ter alguém a pagar as suas visitas mensais às amantes brasileiras. Pode parecer ridículo, mas é por isto (poder e putas para uma meia dúzia de sacanas) que se sacrifica a saúde financeira de um país inteiro. Quando um dia algum dos leitores chegar ao banco e lhe disseram que não pode fazer um crédito à habitação ou, quem sabe, levantar os seus depósitos, espero que lhe conforte a consciência saber que pelo menos algures no Brasil um dos seus compatriotas está a gozar uma bela orgia.

32 pensamentos sobre “Sobre os sacanas que nos governam

  1. Sou de opinião que o Estado não deve ter participação activa na economia – não deve deter empresas nem participar em empresas -, porque não conheço nenhum caso de gestão competente e todos os que conheço reevlam a defesa de interesses privados sobre os públicos, incompetência e/ou corrupção. O Estado, sim, deve criar entidades reguladoras independentes, competentes e exigentes, para garantir que as empresas funcionam de acordo com as regras. Por outras palavras, num extremo o Estado deve criar as regras (leis e regulamentos) segundo as quais a sociedade deve funcionar, e no outro extremo deve fiscalizar o efectivo cumprimento dessas leis e regulamentos, punindo severamente os prevaricadores, assegurando o correcto e eficaz funcionamento da Justiça. No meio, o Estado não deve intervir e deve deixar a sociedade funcionar, estimulando as iniciativas dos cidadãos.

    O que se passou – Estado ter utilizado uma “golden share” ilegal no contexto Europeu para vetar um negócio, é inadmissível e um acto de irresponsabilidade governativa que nos vai prejudicar internacionalmente. Não pode o Estado criticar os mercados internacionais para depois fazer deles gato-sapato: http://tinyurl.com/23t456r.

  2. MCB

    Independentemente de ser ou não aceitável a utilização da Golden Share, importa ter presente que os dividendos que a VIVO pretende distribuir de acordo com o seu business plan entre 2014 e 2020 ascendem precisamente a 8 mil milhões de euros. Que no futuro também podem dar jeito, se lá chegarmos.

  3. Miguel

    No futuro podemos até chegar à conclusão que a venda foi mau negócio. O problema é aos os donos da PT que compete decidir acerca da condução do negócio. Se o estado português acha qure mandar na PT que compre uma maioria de controlo. É extremamente confortável ter recebido o dinheiro da privatização (neste momento enterrado nalgum estádio ou qualquer outro “projecto mobilizador”) pretender continuar a definir a política da empresa detendo apenas 7% do capital.

  4. Carlos Guimarães Pinto

    MCB, dos quais apenas cerca de 1/3 viriam para a PT (que é a parte da Vivo que a PT efectivamente detém). Mas já olhou para as market shares dos business plans de todos os operadores brasileiros? Se somar todas, deve dar uns 160%. As receitas das empresas de telecomunicações estão en declínio mesmo nos mercados emergentes.
    A China Mobile vale neste momento 12 vezes os lucros do ano passado, a Bharti Airtel (India e África) vale 11 vezes os lucros, a america Movil está no mercado a 13 vezes os lucros.. As empresas de telecomunicações dos países desenvolvidos valem 7-9 vezes os lucros do ano passado. A Telefonica ofereceu o correspondente a 35 vezes os lucros do ano passado!

  5. “Se o estado português acha qure mandar na PT que compre uma maioria de controlo. É extremamente confortável ter recebido o dinheiro da privatização (neste momento enterrado nalgum estádio ou qualquer outro “projecto mobilizador”) pretender continuar a definir a política da empresa detendo apenas 7% do capital.”

    Quando a PT foi privatizada a golden share já exisitia e de certeza que o preço de venda das acções já reflectiu esse facto.

  6. Não percebo por que diz que as telecomunicações são uma indústria em declínio. Que eu saiba, pelo contrário, nos mercados emergentes (incluindo América Latina) ainda há muitíssima gente que não tem telemóvel, e mais, os telemóveis são utilizados para cada vez mais fins, por exemplo são usados para manobrar contas bancárias (no Japão), transferir dinheiro (no Quénia), etc.

  7. Miguel

    “Quando a PT foi privatizada a golden share já exisitia e de certeza que o preço de venda das acções já reflectiu esse facto.”

    Por outro lado até agora nunca tinha sido usada e a administração garantiu que não o seria neste caso. Presumo que isto também tenha tido reflexos na cotação das acções.

  8. Carlos Guimarães Pinto

    Luís, em geral todas as operadoras de telecomunicações estão a perder receitas e espera-se que a tendência continue. O exemplo que dá é um bom exemplo de tentativa de diversificação mas que não resulta em grandes dividendos. Por exemplo, no Quénia, que tem o caso de maior sucesso de m-payment, as receitas de m-payment representam menos de 0.5% do total de receitas. A comoditização dos serviços de telecomunicações é inevitável e está a acontecer em todo o lado. As receitas do sector estão a passar dos operadores (os dumb pipes) para a parte inteligente do negócio (apps, telemóveis, serviços de valor acrescentado) e nenhum operador foi capaz até hoje de entrar nesse negócio (ou seja, combater a Apple, a Google, Microsoft, etc..).

  9. DC

    Até que enfim que alguém admite, e quase apresenta provas, que os gestores das grandes empresas só querem saber de poder e putas! Bem observado lol

  10. JoaoMiranda

    MCB,

    Dinheiro no presente vale muito mais do que a probabilidade do mesmo dinheiro dentro de 10 anos. Nada impede a PT ou os accionistas de reinvestirem o dinheiro que vão receber pela Vivo noutro negócio e conseguir uma rentabilidade superior daqui a 10 anos. O que se deve comparar são os valores actuais, e tudo indica que a oferta da telefónica é superior ao valor actual da quota da Vivo na PT.

  11. fms

    João,

    mas nem vamos por aí, repara que as questões produzem sempre as mesmas respostas, no caso de Paulo Campos, de ML Rodrigues, do Correia da Morte, é igual: metade do eleitorado anda a mamar, a outra metade tem medo, e dos que ficam nas sidelines não se sabe bem o que esperar.

    Eu ia quase apostar que no Verão vai haver merda à la Gréque.

  12. Manuel Baptista

    Não acredito que haja tanta gente distraída.
    1) A PT não vende, não recebe e muito menos pode utilizar o produto da venda, são os accionistas que o encaixam e fazem dele o que mais lhes convier.
    2) Aceito que o Governo não deve gerir empresas publicas mas é sua obrigação defender as empresas portuguesas da mesma maneira que, nos concursos públicos em Espanha, o governo espanhol “elimina” as empresas portuguesas, e sempre sem respeito pelos regulamentos da CE.
    Não entendo porque razão tantos Portugueses se mostram tão prestáveis e amigos dos nossos grandes adversários e inimigos?

  13. Euroliberal

    Óptimo post, Carlos. Fica-se com a mesma impressão de sempre. Que o país, como muitas empresas, estão entregues à bicharada. Jogada inútil para mais, pois na próxima semana será anulada pelo Tribunal Europeu.

  14. JS

    So true… se fosse um daqueles jogos que se faz com as crianças de frio e quente este post estaria boiling hot

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  19. Zé dos Reis

    “…vender a Vivo por 35 (trinta e cinco!) vezes os lucros do último ano. Isto numa indústria que está em estagnação, ou declínio, um pouco por todo o mundo, com margens esmagadas e a sombra do VOIP a ameaçar enterrar a indústria ainda mais.”
    Impressionante como os tipos da telefónica são tão burros, tão burros que estavam dispostos a fazer o pior negócio do seculo.
    Mas não devem saber dessas coisas, pois, os palermas da telefonica não percebem nada disto, o que vale é o CGP sozinho saber mais do mercado de telecomunicações que todos os espanhois da Telefonica.
    Portugal não anda para a frente porque nunca se dão ouvidos a estes génios da alta finança. Nem ao dos TGVs, nem dos aeroportos, nem da resolução dos deficites ou do desemprego ou de tudo, isto é só altos especialistas, valhonosdeus….

  20. Miguel

    Parece que os “especialistas” que nos governam estão a fazer um excelente trabalho para resolver tudo isso.

  21. “Impressionante como os tipos da telefónica são tão burros, tão burros que estavam dispostos a fazer o pior negócio do seculo.”

    Isto já terá sido repetido 30 vezes: a Vivo vale mais para a Telefonica do que para a PT. Para a PT, a Vivo vale pelos lucros que pode gerar no futuro enquanto para a Telefonica valerá pelos lucros mais sinergias que lhe garante o controlo da Vivo. Por isso é que vender a Vivo por 35 vezes os lucros pode ser tão bom negócio para a PT como comprar pelo mesmo valor será para a Telefonica.

  22. ricardo saramago

    Qualquer pessoa de bom senso em vez de esperar 35 anos, para receber os lucros esperados(incertos) da VIVO, receberia já hoje esse valor e sem qualquer dificuldade triplicaria, pelo menos, esse montante nos próximos 35 anos.
    Mas isso seria numa empresa a sério, gerida por gente competente e ambiciosa, num país em que a inteligência esteja virada para a frente e não em Portugal 2010.

  23. gorkiana

    Não concordo nada com este post. Se é um negócio tão mau ter a Vivo, porque é que a Telefónica decide dar 35 vezes o valor dos lucros da PT? Certamente porque é um excelente negócio. O mercado das telecomunicações no Brasil está em franca expansão. Acho que este post é extremamente simplista.

  24. Zé dos Reis

    “para a Telefonica valerá pelos lucros mais sinergias que lhe garante o controlo da Vivo”
    Ahhh, ok, é que eu julgava que aquilo era um “indústria que está em estagnação, ou declínio, um pouco por todo o mundo, com margens esmagadas e a sombra do VOIP a ameaçar enterrar a indústria ainda mais”.
    Afinal percebi mal, a estagnação e o declínio e as margens esmagadas é para a PT, a Telefonica tem as sinergias, pronto, é isso, as sinergias anulam o declínio, o esmagamento das margens, até o VOIP estremece quando as sinergias entram em campo, obrigado pela iluminação do meu fraco intelecto, lembrei-me lá eu das sinergias.
    Vamos lá falar a sério, o negócio nem creio que fosse mau para a PT, em termos financeiros. Mas lembrei-me, outra vez, de uma frase que ouvi há vários anos a um gestor espanhol, os portugueses só sabem fazer negócios, os espanhois preocupam-se mais a fazer empresas.
    Se a opcção é fazer negócios, a PT devia ter vendido a Vivo, agora se pensarmos em termos estratégico-empresariais a PT não pode vender a Vivo sem ter outras opcções, e neste momento não parece ter.
    Não me venha cá com a treta das estagnações e similares, os 50% da Vivo são um bom activo para a PT. A perspectiva de lucros futuros não têm nada a ver com os 35 anos etc etc, isso é para boi dormir, o que mais há é emprsas que não dão lucro a serem vendidas por milhões, se bastasse olhar para os resultados e fazer o preço, qq tipo que soubesse contar até mil milhões era CEO de uma empresa qualquer.
    E depois de espremido o post, deixe que lhe diga, cheira a anti-Socrates que é um abuso, fosse outro o PM e o post era outro, aposto singelo contra dobrado.

  25. fosse outro o PM e o post era outro, aposto singelo contra dobrado

    Vejo e dobro. É uma questão de tempo. 🙂

    Quanto ao resto o CGP que responda, é demasiado óbvio.

  26. porque é que a Telefónica decide dar 35 vezes o valor dos lucros da PT

    Entre outras coisas:

    Porque é a única proprietária da Telesp e quer integrar os dois negócios sob pena de a coisa dar para o torto;

    Porque está envolvida num “combate” pelo domínio das telecomunicações na América do Sul com a Telmex do Carlos Slim e esta integração dá-lhe dimensão para ter hipótese de ganhar.

    Nota: telecomunicações é muito mais que empresas de comunicações móveis

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