Isaltino e Oeiras

A (esperada) reeleição de Isaltino Morais, com um reforço da sua votação, fez com que a satisfação dos comentadores com a derrota de “candidatos arguidos” como Fátima Felgueiras e Avelino Ferreira Torres ficasse a saber a pouco. Afinal, Isaltino fora recentemente condenado a sete anos de prisão (tendo depois interposto um recurso da decisão), algo que não preocupou os eleitores de Oeiras. Mais do que insatisfação, o resultado em Oeiras motivou alguma perplexidade, parecendo algo incompreensível.

Sendo um habitante de Oeiras, que não votou em Isaltino (que não votou em ninguém, diga-se de passagem), não me parece difícil de perceber por que razão Isaltino continua a merecer o apoio dos oeirenses. Não é que os meus “vizinhos” sejam indiferentes à corrupção, nem que sejam populações pobres que se deixam comprar por electrodomésticos (e quem pode culpar os casos em que isso acontece?). O que se passa em Oeiras é a conjugação de uma série de factores que tornam a ideia de votar em outra pessoa que não Isaltino algo muito pouco desejável.

Para perceber o que se passa em Oeiras, é preciso perceber onde fica Oeiras. Sendo um concelho suburbano, com muitos habitantes trabalhando nos concelhos em seu redor, os eleitores oeirenses conhecem, e observam quase diaramente a realidade desses outros concelhos. Sempre que alguém me pergunta o porquê das vitórias de Isaltino, dou este exemplo: qualquer pessoa que ande de carro em Oeiras percebe quando atravessou a “fronteira” com Cascais, Lisboa ou Amadora. De repente, as estradas têm mais buracos, o alcatrão está mais gasto, as ruas mais sujas e, em redor, aumenta o caos urbanístico.

Em Oeiras, também há bairros sociais de aspecto deprimente (e com populações que votam em massa em Isaltino, diga-se de passagem), também há obras que se eternizam, também aí idiotices sem sentido (o monocarril é a maior delas). Mas é difícil não ter a percepção de que nos concelhos vizinhos é ainda pior, e de que a vantagem relativa de Oeiras se deve ao homem que “manda aqui” desde 1985. Por muito que o carácter corrupto de Isaltino repugne as pessoas, não é o suficiente para que elas arrisquem votar noutra pessoa, pois, ao contrário de Isaltino, eles não dão a garantia de que não transformarão Oeiras numa Amadora ou em Cascais. É, de facto, deprimente que um homem condenado a sete anos de prisão ganhe uma eleição. Mas enquanto os outros partidos não perceberem a realidade de Oeiras, dificilmente o vão conseguir evitar. Até lá, Isaltino (ou qualquer fantoche por ele apoiado), ganhará sempre em Oeiras.

17 pensamentos sobre “Isaltino e Oeiras

  1. lucklucky

    O sistema municipal actual beneficia os corruptos mediocremente competentes. Digo mediocremente porque é impossível saber como seriam caso tivessem de ir buscar a maioria do dinheiro ao bolso dos locais.
    Como se vai buscar o dinheiro ao grande bolo

  2. Para a maioria dos cidadãos, a honestidade, a educação e a integridade não são características indipensáveis num político.

    É espectável que um político seja um gestor de interesses (seus e dos que o apoiaram de uma forma mais próxima), que valoriza as suas posições e desdenha a dos seus adversários, e que de fez em quando insulte os seus oponentes.

    Desta forma, mal por mal, vota-se naquele que, embora não sendo honesto, resolve os problemas da população.

    E assim se explicam os resultados de Oeiras, Gondomar, Braga e Madeira…

  3. JP Ribeiro

    Não querendo comparar o incomparável, o sucesso estrondoso do Alberto João na Madeira é perfeitamente explicável para qualquer um que tenha conhecido a Madeira de há duas dezenas de anos. Não sendo de Oeiras reconheço que é obvio ao entrar em Oeiras, ver a obra feita e comparar com os concelhos limítrofes.

  4. “…qualquer pessoa que ande de carro em Oeiras percebe quando atravessou a “fronteira” com Cascais, Lisboa ou Amadora.”

    Caro Bruno Alves

    Não sei se propositadamente ou não, omitiu que Oeiras também faz fronteira com Sintra.
    Eu não voto em Isaltino porque, por umas centenas de metros, a minha rua pertence ao Concelho de Cascais, mas tenho muita pena.
    Não me parece, que seja apenas pela óbvia alta qualidade dos arranjos exteriores de Oeiras, que Isaltino seja eleito.
    Se temos que aceitar que um pedófilo só é culpado depois da sentença transitar em julgado, eu e os Oeirenses que votam em Isaltino temos todo o direito de o considerar inocente.
    E mesmo que venha a ser culpado, ficarei sempre na dúvida, se não foi tramado.
    Porque a Justiça em Portugal já provou sobejamente a sua “equidade”.
    Já para não falar no caso do reeleito 1º ministro, reveja-se a listagem de “personalidades” que passou pelos Concelhos de Cascais, Sintra, Amadora, Loures, etc.
    Compare-se o nível de vida dos mesmos, antes e depois de saírem das respectivas CMs.
    Por comparação, se Isaltino for culpado, deve ter sido por ter ficado com uns trocos…
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  5. “…“candidatos arguidos” como Fátima Felgueiras…”

    Essa não se limita a ser só arguida.
    Fugiu ao inquérito e a uma eventual prisão preventiva e já foi condenada com pena suspensa, por assuntos bem mais graves dos que é acusado Isaltino.
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  6. Por razões profissionais já tive de interagir com quase todas as Câmaras limítrofes de Oeiras e da região de Lisboa.
    Em Oeiras e Mafra pode-se trabalhar com decência e honestidade, as outras causam-me asco.
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  7. O que aqui está em causa é, sucintamente, como medir a competência dos autarcas. Creio que será consensual afirmar que o número de votos não serve para este fim, bastando notar mesmo em concelhos com imensos problemas, os mesmos autarcas são re-eleitos.

    Na passada semana escrevi umas balelas sobre o assunto, as quais por mandriice aproveito para transcrever:

    É sabido que mais habitantes significa maior receita de impostos para a autarquia. Assim sendo, seria de esperar que autarquias com igual número de habitantes tivessem infra-estruturas equivalentes, certo? Errado, especialmente nos subúrbios de Lisboa.

    Vejamos. Olhando para o número de eleitores nas últimas legislativas, vemos que, juntando algumas freguesias do concelho de Sintra, teremos uma dimensão eleitoral semelhante à de muitos concelhos por esse país fora.

    Por exemplo, as freguesias de Massamá e de Rio de Mouro (concelho de Sintra) perfazem 54.946 eleitores:

    * Massamá (freguesia) – Inscritos: 20.998
    * Rio de Mouro (freguesia) – Inscritos: 33.948

    Eis alguns concelhos na ordem de grandeza dos 55 mil eleitores:

    * Figueira da Foz (concelho) – Inscritos: 58.543
    * Caldas da Raínha (concelho) – Inscritos: 43.317
    * Aveiro (concelho) – Inscritos: 67.247
    * Palmela (concelho) – Inscritos: 46.727
    * Faro – Inscritos: 54.150

    Como se vê, basta juntar apenas algumas freguesias do concelho de Sintra para que se fique com a mesma dimensão eleitoral de muitos concelhos completos. Agora, olhe-se para as infra-estruturas destes concelhos (jardins, mercados, estradas, hospitais, escolas, tribunais, etc., etc.) e compare-se com o que existe nestas freguesias. Pois. As freguesias de Sintra não passam dum gigante dormitório pagador de impostos.

    Por exemplo, só a cidade da Figueira da Foz, que conheço muito bem, tem um tribunal, vários jardins municipais, mercado municipal, bombeiros, três escolas secundárias, conservatório de música e por aí fora. O que têm Massamá e Rio de Mouro? Fontes de liquidez tributária.

    Mas dirá o leitor, ah e tal, e a actividade industrial e comercial da Figueira? Não virá daí a riqueza desse concelho? Bom, falando de concelhos, nesse caso também teríamos que olhar para o concelho de Sintra como um todo. Não tenho números, apenas a percepção de quem quem conhece os dois concelhos. Creio que Sintra terá muito maior actividade comercial e que a Figueira terá maior actividade agrícola e industrial (devido à Celbi e à Soporcel).

    Portanto, entrando por fim no tema do post – e para terminar, já agora – como é que se mede a competência (ou a incompetência) autárquica? Como é que se explica que o segundo concelho mais populoso do país seja o caos que é, sem a sombra de qualidade de vida que muitos outros concelhos têm? Fica a questão para quem souber responder.

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  9. s.andrade

    Palpita-me que o ódio descabelado do sr.Alves ao Isaltino deve ter como base velhas e “nobres” questiúnculas partidárias.As pessoas não são sempre burras e,em Oeiras,a maioria terá percebido que Isaltino não será menos honesto que muitos outros autarcas e comentadores que andam para aí a bufar uma honestidade indignada.Simplesmente,Isaltino teve azar,foi o que foi.A história da sua denúncia é altamente dignificante,como se sabe.No entanto,o autor do post,vivendo ali na zona e sendo talvez um “laranja” de carteirinha,sei lá,é capaz de se sentir orgulhoso com a vitória de outros com mais sobrinhos em Macau que Isaltino na Suiça.E até com assento no Conselho de Estado.Haja mais decência e menos hipocrisia.

  10. Pedro

    Não tendo qualquer simpatia pela personagem (Isaltino, no caso), pergunto-me o que será pior: se alguém que a Justiça já identificou como prevaricador e que, por isso mesmo, será escrutinado com mais acuidade ou, se pelo contrário, serão honestos e íntegros todos os que, não o sendo, nunca foram “apanhados”…

    E, que diabo, as diatribes que se têm escrito sobre o assunto partem de um pressuposto no mínimo estranho: quem tenha praticado um acto censurável e que, pelo facto, tenha já acertado contas com a justiça por aplicação da pena correspondente, perde, de forma inapelável e permanente, qualquer direito a recuperar os seus mais básicos direitos de cidadania.

  11. “…pergunto-me o que será pior: se alguém que a Justiça já identificou como prevaricador e que, por isso mesmo, será escrutinado com mais acuidade ou, se pelo contrário, serão honestos e íntegros todos os que, não o sendo, nunca foram “apanhados”……”

    Exactamente!
    É isso que mais me enoja nesta história.
    É ver, saracotear-se por aí uns especímenes, que toda a gente sabe que enriqueceram à custa do erário público, e que na gestão da coisa pública nada fizeram que se aproveite ou que provocaram mesmo danos e prejuízos astronómicos.
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  12. Bruno Alves

    vamos por partes: a omissão de Sintra não foi propositada. Esqueci-me completamente, até por ser o que conheço pior.

    O uso da expressão “candidata arguida” deveu-se apenas a esse ter sido o termo com que Felgueiras (e os outros) foram decsritos nas últimas eleições.

    Quanto ao meu “ódio descabelado” por isaltino: quando escrevi o post, tive algum receio de ser acusado de estar a defender Isaltino. Nunca esperei que alguém visse no que eu escrevi uma expressão de ódio por alguém que considero ser o responsável por Oeiras ser o melhor concelho para se viver aqui na região de Lisboa. Tenho pena, isso sim, que o homem tenha sido condenado (e tenha feito o que fez para ser condenado). O carácter corrupto de outros não desculpa Isaltino. E o eventual carácter corrupto de isaltino também não apaga a consideração que tenho pelo que ele fez.

  13. Porca miséria

    Duas verdades absolutas: Isaltino é de facto um grande estratega. Tem visão. Ao contrário do que disse o Dr. Marques Mendes se eu tivesse uma grande empresa e precisasse de alguém para definir estratégias eu contratava-o.
    Mas segunda verdade absoluta: Não o deixava era mexer em dinheiro, porque é um corrupto.

    Um pequeno exemplo: Um eng. corrupto da CMOeiras, queria dinheiro para receber uma urbanização no concelho de Oeiras. Então, mesmo contra o que está na lei, dizia que havia erva no parque infantil e que por isso não aceitava. Fez-se queixa ao Isaltino e ele simplesmente mandava para o tal eng para dar resposta à nossa reclamação. Por duas vezes aconteceu o mesmo. Marcámos então uma reunião com a Eng Isabel, e para azar do tal corrupto, ele tinha no processo uma fotografia a provar que tinha razão. Só que tinha tanta sede e achava que não era apanhado, que apanhou na fotografia uma casa que teoricamente não devia existir à data que ele dizia. A nossa engenheira se tivesse ali um buraco… o corrupto foi transferido. Chama-se Barros Moura.

    Segundo exemplo: O recém eleito da Junta de Freguesia de Barcarena, é(era) um pequeno falido feirante. De repente, por coincidência com as eleições, começou a aparecer com muito dinheiro que não tinha justificação com os seus rendimentos. Tal como as sobras do Isaltino. Justificação dele. (Não se riam) Foi um tio dele que morreu e deixou rolos de notas em buracos nas parede de casa. O tio é coincidência. Outra coincidência. Apesar de à data ser do PS votava sempre nas reuniões da Assembleia Municipal ao lado do Isaltino. Porque seria? Deu emprego à nora. Meteu uma cunha (Isaltino/Fernando Nogueira) para o filho entrar na força aérea.

    Para finalizar: Oeiras, ao contrário de muitas outras autarquias, recebe no seu orçamento dinheiro do Casino Estoril, que lhe permitiu gastar milhões (Parque dos Poetas por exemplo) que os outros concelhos nem sonham. Depois, é como diz o outro, dinheiro, puxa dinheiro. Mas eu que vivo em Oeiras há mais de 30 anos, demorava poucos minutos a chegar a Queluz ou Paço de Arcos e agora demoro horas. Fico parado ao sair de casa. A unica via que foi criada, tivemos sorte porque o Jorge Coelho que mora em Oeiras, enquanto foi m. das O.P. construiu a via que liga a Quinta da Fonte ao T.Parque. De resto, nem passeios há para quem queira ir de Leião ao T.Parque, ou de Porto Salvo ao Oeiras Parque. Uma vergonha e o Parque dos Poetas onde se gastaram milhões, tem menos qualidade que o parque urbano da Amadora ou o de Almada.

  14. Porca Miséria

    A única coisa em acertou totalmente foi no seu Nick.
    Serve-lhe como uma luva.
    É mesmo a sua cara.
    Até Mafra recebe dinheiro do Casino do Estoril, assim como Cascais, Lisboa e Amadora (só não tenho a certeza em relação a Loures).

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