socialismo

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O Miguel Madeira comentou o meu post sobre o socialismo, afirmando a tese de que o pensamento socialista é avesso à existência do estado, ao contrário do que eu afirmo. Apesar do Miguel ser socialista e eu não, julgo que é ele quem está equivocado. Passo a explicar. E, para precisarmos conceitos, gostaria de dizer que me refiro ao socialismo marxista e não a qualquer outra modalidade, que considero desprovida de importância prática e histórica, se comparada com aquela.

Ora, para o marxismo, a sociedade comunista é a finalidade última da revolução e o socialismo uma mera via de acesso a esse fim. De facto, na sociedade comunista, como bem diz o Miguel, o estado desapareceria por si, em razão das transformações operadas pela revolução, principalmente a abolição da propriedade privada. Mas já não é assim na fase transitória que é o socialismo, em que Marx acreditava ser necessária a tomada do estado pelos revolucionários, a fim de realizarem a revolução. É também verdade que outros socialistas, como os anarquistas influenciados por Bakunin, defendiam a imediata extinção do estado, como condição imprescindível à revolução. Mas não era isso que pensavam Marx e os marxistas. Esta mesma clivagem levou a cisões importantes no movimento socialista, entre elas, desde logo, as ocorridas na Associação Internacional dos Trabalhadores, ou Primeira Internacional, que originaria mais tarde, em 1882, a Segunda Internacional, ou a Internacional Socialista, de cunho declaradamente marxista.

A demonstração prática da doutrina marxista foi feita por Lenine, como é sabido. Sobre a sua “obra” não há doutrinas ou citações que prevaleçam. E o que fez Lenine? Tomou de assalto o estado russo e transformou-o na mais violenta máquina de opressão sobre um povo de todo o século XX. Na Revolução Bolchevique, o estado, longe de desaparecer, atingiu uma dimensão nunca antes vista. Não era ainda chegada a hora do comunismo, muito provavelmente… Como, por esse prisma, ele nunca chegou na vindoura União Soviética. O que por lá houve foi, de facto, a negação dos direitos fundamentais do cidadão, entre eles, o acesso à propriedade privada, à liberdade de expressão, aos valores essenciais do direito natural, etc. Longe de desaparecer, o estado foi mais forte e violento do que nunca fora na história da Rússia. O que por lá houve foi socialismo, à boa maneira de Karl Marx.

P.S.: O liberalismo não enjeita o pessimismo antropológico. Só que, ao invés dos socialistas, utiliza-o para diminuir a dimensão do estado e não para a aumentar. Esse é mais um forte argumento para um bom entendimento entre liberais e conservadores, que o Miguel afirma, e bem, que eu modestamente promovo. Escreverei sobre isso, por um destes dias.

7 pensamentos sobre “socialismo

  1. “afirmando a tese de que o pensamento socialista é avesso à existência do estado, ao contrário do que eu afirmo.”

    Bem, a minha tese não era propriamente de que o socialismo é avesso à existência do estado, mas que o socialismo não é avesso à inexistência de estado.

  2. “Bem, ó MM, negar uma negação é…..”

    Não, não é afirmar.

    Negar que “não se deve ter plantas no quarto” não é a mesma coisa que afirmar “deve-se ter plantas no quarto”.

  3. Lidador

    Essa lógica está-lhe a falhar. Isso é negar uma afirmação.
    Mutatis mutandis, e já que está em maré de plantas, e equivalência seria:

    “Não se deve não ter plantas no quarto”….o que é uma forma (não muito ortodoxa) de dizer que “se devem ter plantas no quarto”.

    Voltando à vaca fria, qdo você diz que “o socialismo não é avesso à inexistência de estado”, se calhar queria dizer que não “é avesso à existência”.

    QED.

  4. Deixando as metáforas/analogias e explicando logo o que quero dizer:

    Negar que “os seres humanos precisam de Estado” não significa afirmar “os seres humanos precisam que não exista Estado” (a posição anarquista).

    Também pode significar “os seres humanos só precisam de Estado em certas condições” (a posição marxista), ou “haver ou não Estado é igual ao litro” (às vezes inclino-me para esta), ou outras hipoteses que não me ocorre mas provavelmente existirão.

  5. CN

    Algumas notas:

    * É necessário a definição de Estado: “Monopólio territorial da violência”.

    A defesa da necessidade do Estado como inevitável tem de passar por aqui. E nada, mesmo nada, indica que tal coisa seja inevitável ou sequer real, dado o estado de anarquismo internacional.

    * Apesar da definição anterior ser a mais correcta, existe outra complementar minha: “Estado é uma forma de governo não legitimada à luz do direito natural”.

    Isto, porque pouco ou nada na ordem política tem fundações em direitos de propriedade e livre contrato, e por isso tem subjacente alguma forma de coerção autoritária.

    No fundo, o paradoxo “Estado” é a ausência de Direito, embora a melhor justificação para a sua existência seja regular o “Direito”.

    But then again, como qualquer monopólio não natural, o poder acaba a servir o poder.

    Conclusão:

    Como costumo afirmar com frequência, a saída liberal deste beco sem saída é…:

    No esforço feito pelo Rui A. para um constitucionalismo liberal, é condição necessária a inclusão formal e prática do “direito de secessão”.

  6. robson

    Desafio qualquer um a tentar achar alguma logica na cabeça de uma pessoa socialista !!!
    Ser comunista é como ler um monte de livros para tentar provar que 2 + 2 = 5 .

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