Model this

flipthebirdJulgo que há em Portugal perto de 210.000 empresas com menos de 250 trabalhadores. Enquanto empresário tenho 2, 10, 50, 230, 3.000, 35.000, pessoas a trabalhar na empresa. De acordo com o que algum investigador a tempo inteiro descobriu num gabinete com ar condicionado e janela para um jardim, munido de lápis, papel e um PC potente, ou um terminal ligado ao mainframe da Universidade, devo ser impedido de despedir pessoas enquanto a empresa tiver lucros. O investigador a tempo inteiro, criou um modelo complicadíssimo, cheio de integrais, variâncias e distribuições, algoritmos genéticos, meteu física quântica e a teoria da evolução ao barulho, microbiologia, fractais e desconstrutivismo e, no fim, pariu o seguinte: qualquer empresa que declare lucros deve ser proibida de despedir.
Sou só eu ou esta alarvidade ignora completamente a realidade, o dia a dia dos que não vivem na twilight zone? Devo então esperar até ter prejuízo, é isso? E quanto prejuízo e durante quanto tempo é admissível até que seja permitido despedir? E quando a empresa estiver completamente de rastos, já posso despedir?
O princípio parece ser que a criação de emprego e a destruição de emprego se assemelham ao ovo e à galinha. Não são. O despedimento não existe sem que haja criação de emprego anterior, por isso, o que devia preocupar os investigadores a tempo inteiro, de lápis e papel, mais terminal de mainframe e pc potente aliado ao onanismo, não é como se combatem os despedimentos, é como se criam e mantêm os empregos. O que não é exactamente a mesma coisa.

10 pensamentos sobre “Model this

  1. CN

    A forma mais directa para minimizar a necessidade de despedimentos é poder reduzir salários (coisa proibida na nossa legislação – o que só acelera a necessidade de despedir).

    A via para reduzir o tempo de recuperação numa recessão é na verdade reduzir custos, salários e preços, adaptar a produção à oferta (com liquidação e reafectação), no mais curto espaço de tempo, minimizando assim a destruição de poupança/capital que ocorre numa recessão (e por isso a poupança deve mesmo subir…. não o consumo).

    Este é o princípio do crescimento económico e da recuperação do crescimento em caso de recessão.

  2. Independentemente de se concordar ou não com a proposta, a exposição é muito infeliz. Diria mais, num texto de alguma dimensão de onde não sua um único argumento, resta o insulto a apelar ao estereótipo fácil. Nervoso?

  3. Nuno, há quanto tempo lê o Helder?

    Pareceu-me ver (junto com o comentário do CN) escorrer pela pele um dos argumentos mais importantes para lidar com a crise de forma ágil e menos dolorosa.

    Mas também posso ter lido mal, o dedo do meio afecta qualquer um…

  4. pois eu acho que isto tem toda a lógica. há lucro: não se pode despedir; há prejuízo: despeça-se. a começar pela função pública que dá prejuízo há décadas…

  5. JMG

    Eu, que já despedi mais de duas centenas de pessoas na minha vida; e que, provàvelmente, vou despedir mais umas tantas em breve: assino em baixo do que diz Helder. Imagino que a abordagem dele seja, tal como a do investigador que refere, de origem teórico/académica. Por que estranha alquimia algumas pessoas teorizam acertadamente e outras, igualmente inteligentes, constroem modelos que a realidade infirma, é matéria que não sei, mas gostaria de saber, dilucidar. Acrescento apenas o seguinte: Mesmo que do ponto de vista da rendibilidade das empresas adiar o despedimento seja muitas vezes um erro, trata-se de um erro que cometi sempre que tive que despedir. Creio que neste particular estou em numerosa companhia. Se aquilo que por fraqueza e esperança contra a evidência tem sido a minha prática se transformasse em lei, morreríamos muitos mais abraçados uns aos outros.

  6. “O despedimento não existe sem que haja criação de emprego anterior, por isso, o que devia preocupar os investigadores a tempo inteiro, de lápis e papel, mais terminal de mainframe e pc potente aliado ao onanismo, não é como se combatem os despedimentos, é como se criam e mantêm os empregos. O que não é exactamente a mesma coisa.”

    Estou de acordo quanto a este ponto, e acrescento o seguinte: como se criam e mantêm os empregos deve ser mais da competência de quem efectivamente os “cria” e não do funcionário do supercomputador ou coisa que o valha.
    No entanto, se acreditamos na importância da responsabilidade individual para umas coisas, temos de acreditar para outras. Se o “patrão”, gestor ou seja lá quem for contrata, tem de pensar se pode fazê-lo ou não e saber como e quem contratar. Quando há despedimentos é sinal de que houve algo que foi mal feito, embora aceite que nem tudo depende da empresa e do empregador. Uma empresa bem gerida raramente precisa de ser restruturada. Assim como um orçamento bem feito dificilmente precisará de rectificações.
    Por isso senhores patrões, deixem-se de merdas e trabalhem.

  7. Penso que será ao contrário. Uma empresa bem gerida frequentemente precisa de ser restruturada para enfrentar mercados cada vez mais lábeis. Contudo restruturação não implica downsizing como muitas vezes acontece. Ademais, o despedimento vem muitas vezes seguido de uma estratégia de outsourcing (desculpem tanto anglicanismo) por indicadores económicos não relacionados com a performance produtvia da empresa, mas antes pela performance especulativa.

  8. Nuno

    Quando disse “reestruturação” referia-me, talvez erradamente, aos despedimentos colectivos que utilizam o argumento reestruturativo, e não a uma reestruturação no sentido lato.

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