Anos e anos a seguir a política portuguesa ensinaram-me a desconfiar do que leio nos jornais. Mas desta vez, confesso que a minha desconfiança é, para além do produto dessa experiência, também um pouco de wishfull thinking: os jornais deste fim-de-semana anunciam que Pedro Santana Lopes será o candidato do PSD à Câmara de Lisboa, e a única coisa que eu posso dizer é que espero bem que não seja verdade. Não que me espante que o dr. Carlos Carreiras, presidente da Distrital de Lisboa, venha a público defender a escolha, e considere que Santana seja o candidato ideal. Mas já me espanta que esta candidatura tenha o aval de Manuela Ferreira Leite, como os jornais (e o dr. Carreiras) garantem que tem.
Dar o seu apoio a uma candidatura de Pedro Santana Lopes seria o maior erro que Manuela Ferreira Leite poderia cometer. Em primeiro lugar, porque ninguém votou em Ferreira Leite para ter Santana Lopes: quem o quisesse teria no votado no homem (e muitos fizeram-no, vá-se lá saber porquê). Ferreira Leite aparecia como a candidata de ruptura com o passado mais recente do PSD, a pessoa que havia estado contra a cedência do poder a Santana aquando da saída de Durão, a pessoa que esteve contra Menezes, e que, ao contrário de Passos Coelho, não se aliou a nenhum destes nas directas deste ano. Dar a sua caução a uma candidatura de Santana à capital é recuar aos tempos pré-Marques Mendes, é deitar abaixo o trabalho por este realizado após ter percebido que, para tornar o partido numa alternativa credível a nível nacional, poderia ser necessário sacrificar as perspectivas eleitorais a nível autárquico. Em Lisboa, Mendes deixou cair Santana e depois Carmona por essa razão, e ir resgatar Santana é não perceber o que se passou no partido nos últimos anos.
Os mais “conspirativos” certamente conseguirão encontrar razões para justificar a escolha, mas nenhuma aguenta a mínima reflexão: muitos poderão argumentar que um partido como o PSD tem de ganhar Lisboa, e um político “ganhador” como Santana é ideal para o conseguir. Esqueçamos o birlhante resultado que este “ganhador” conseguiu em 2005: mesmo que o mito do “santana imbatível em eleições” seja verdadeiro, e ele ganhe Lisboa para o PSD, o PSD terá o problema de ter Lisboa nas mãos de Santana, mãos essas que trarão consigo as confusões que ele gosta de arranjar. Os “conspirativos” dirão que essa é a ideia de Ferreira Leite. Dar a Santana a oportunidade de se auto-destruir. O problema é que oportunidades dessas não têm faltado ao “guerreiro menino”, e ele acaba sempre por arrastar alguém consigo: se Ferreira Leite der o seu aval à candidatura de Santana, toda e qualquer asneira que vier daquela cabecinha pouco ajuízada irá colar-se à líder laranja como queijo quente ao ceú da boca. E acredite, caro leitor, que este queijo em particular costuma queimar.
Há ainda a mensagem que Manuela Ferreira Leite estaria a enviar aos eleitores. Numa conjuntura em que a actividade política está cada vez mais descredibilizada junto dos eleitores, a única forma que Ferreira Leite terá de conquistar a sua confiança será comportar-se de uma forma “diferente” daquela que as pessoas costumam associar aos “políticos”. Depois de se ter oposto a Santana, depois de ter estado contra Menezes, depois de ter sido a mandatária de Fernando Negrão em Lisboa (ou seja, depois de ter dado a sua caução à estratégia de Marques Mendes na capital), depois de falar da necessidade de credibilizar o partido depois das aventuras destas duas personagens, se Ferreira Leite apoiar uma candidatura de Santana, os eleitores só poderão pensar que ela o faz por uma qualquer razão obscura, seja por considerações eleitorais (por esperar que Santana “ganhe”) ou internas (para manter o “inimigo” perto ou para o “queimar”). Ou seja, só poderão pensar que Ferreira Leite apoia Santana por “politiquice”. E qualquer político que siga critérios de “politiquice” será penalizado: mesmo que ganhe as legislativas de 2009, e consiga o poder, será alvo da desconfiança dos eleitores, desconfiança essa que a impedirá de levar a cabo a política reformista que só o PSD poderia promover.
O Insurgente 
Caro Bruno Alves,
Na minha opinião, a sua análise está completamente certa.
De facto, o apoio de Manuela Ferreira Leite a Santana para a Câmara de Lisboa seria um erro desastroso. Não podemos esquecer que a Manuela Ferreira Leite sempre se procurou distanciar do legado de Santana e de Menezes, e inclusive nas directas chegou mesmo a deixar no ar a dúvida se teria votado em Santana nas eleições legislativas de 2005.
Como é que agora Ferreira Leite justificaria o seu apoio a Santana para a maior Câmara do país?
Parabéns pelo excelente post.
Como se a Manuela tivesse alguma vez sido um farol da ética. O Bruno é muito ingénuo e tem ainda que comer muita sopinha.
Manuela=Político
Político=Mafioso
Hello, Bruno?! Wake up!
Mas qual foi a ingenuidade do Bruno? Ele diz em algum momento que a Ferreira Leite é um farol da ética?
O que ele constata, é que essa jogada política é um erro que só iria descredibilizar a sua imagem. Por isso, esse apoio nunca poderia trazer bons resultados à sua liderança.
Talvez o Jason é que precise de comer alguma sopinha.
A imagem da senhora desde que passou pela Educação e as Finanças nunca ficou credibilizada, em seu abono quando muito poderá perguntar-se quem é credível por cá. Mas isso não interessa, o PSD acabou mas muitos ainda não notaram.
“Ele diz em algum momento que a Ferreira Leite é um farol da ética?”
Já o disse, em vários posts. E agora, dizendo que esta escolha a “descredibiliza”, mostra outra vez que a tinha como alguém acima da ralé.
Não está nada acima. É do mesmíssimo molde. Ou acha que quem ascende ao topo de máfias o faz pelas suas qualidades humanas? Dentro da máfia ascendem os mafiosos.
Manela, o grande embuste para os bem-pensantes da “direita” portuguesa.
Ao contrário do que o Bruno pensa, a escolha de PSL é uma jogada de Mestre da MFL.
os motivos são estes:
http://planetaspolitik.blogspot.com/2008/10/o-sacrifcio.html
Já alguns meses que venho lendo este blog, e até tenho concordado com muito do que leio.
Contudo chegado este tema, sinceramente não me choca o que li, e explico porquê…
Nunca fui dado a “fofoquices” e “cusquices”, sejam elas as dos Bairros, sejam as das “altas esferas”.. e talvez daí o meu desconhecimento mas….
Que raio fez, ou quem incomoda tanto, o Dr. Pedro Santana Lopes?
Que gosta de show off? Que gosta de estar sempre nas ribaltas? É incomodo e muitas vezes politicamente incorrecto? Sem dúvida! Que gosta da noite e boémia? Consta que sim, embora eu nunca o tenha visto, btw, também nunca frequentei muito a noite lisboeta..
Agora, o que eu não posso deixar de estranhar, é este coro de vozes que se levanta, inclusive de gente de direita e de dentro do PPD/PSD, de gente “instalada”, dos políticos, analistas, etc, cada vez que aparece o Dr. Pedro Santana Lopes..
E cada vez mais me parece que em nada tem a ver com a competência do Sr. em questão, pois o que não faltou nos últimos anos foi a enxurrada de incompetentes que passaram pelas mais diversas áreas e cargos.. mas sim, porque este Sr. não compactua com alguns “poderes instalados”, “privilégios adquiridos”.. em toda a linha, da esquerda-à-direita..
O comentário do Alberto devia de ser emoldurado. Muito bem.
A mim, nunca me passaria, nem sequer em sonhos apoiar a Drª Manuela Ferreira Leite…
No entanto confesso que era das pessoas em quem depositava algumas capacidades de liderança e sobretudo capacidade para encabeçar uma oposição inexistente…
No princípio julguei que o silêncio seria uma arma a utilizar com a mestria que julgava que tinha… Mas agora este silêncio, mais me parece o silêncio dos inocentes!
Até agora, enquanto líder de uma oposição, não consegue posicionar-se como alternativa política, o que é pena!
Mais parece que os seus objectivos (do PSD) se confundem com os do governo e, que abrir a boca pode significar metralha nos pés!
Então meus caros, que de melhor podia fazer, senão desviar as atenções para o Dr. Pedro Santana Lopes!
Deste modo sempre podemos andar entretidos durante uns tempos com este “Artista da Corda” e, quem sabe, sempre pode ser a sua grande oportunidade de ter uma vitóriazita nos próximos tempos!
Eu pelo meu lado, que não gosto de me distrair tanto, sempre vou aguardando por dias melhores para esta oposição, não porque acredite nela, mas antes porque quero acreditar na DEMOCRACIA.
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