Bloqueados

O meu artigo no especial do Jornal Económico sobre um orçamento em que o governo se preocupa mais em angariar receitas que a prestar serviços. É tanta a necessidade de receita que onde quer que haja creatividade, lucro, riqueza, o Estado intervém. Explicando-se com  a distribuição de riqueza, justifica-se com a inveja que alimenta. Portugal é hoje um país bloqueado.

Bloqueados

Tanto o Conselho de Finanças Públicas como o FMI consideram que Portugal terá, em 2016, um défice orçamental superior ao da meta inicial de 2,2%. Algo natural quando a economia não cresceu como esperado porque o governo reverteu as principais reformas da anterior legislatura. Mesmo assim, Costa mantém uma meta ambiciosa para o défice do próximo ano: 1,6% do PIB. O objectivo é agradar a Bruxelas mesmo que ninguém acredite no feito. Na verdade, consegui-lo obriga a um esforço maior que o praticado em 2016. Improvável com políticas que punem que tem dinheiro, poupa, investe e cria riqueza.

É sabendo que o OE para 2016 falhou que devemos analisar o orçamento para 2017. Porquê? Porque a estratégia é a mesma: reduzir ligeiramente os impostos directos ao mesmo tempo que se aumentam os indirectos. No fundo, o Governo não só assume o enorme aumento de impostos de Vítor Gaspar, que não reverteu, como cria outros, como o ‘fat tax’ e novos impostos sobre o imobiliário. A necessidade urgente de receita vai levar o Estado a punir os que poupam e os que, em liberdade, decidem o que comer, se fazem ou não desporto e que cuidados têm com a sua saúde. A busca do homem perfeito pode ser a solução final do socialismo para o défice das contas públicas.

Aquando da crise 1983-85, o Bloco Central utilizou a inflação para se defender da dureza da austeridade: aumentavam-se os salários e as pessoas ficavam satisfeitas porque não se apercebiam que o aumento dos preços lhes retirava o que ganhavam a mais. Agora, como a inflação é baixa, o Governo sobe os rendimentos das pessoas enquanto aumenta os impostos indirectos, o preço dos bens, anulando o dinheiro a mais que lhes é creditado todos os meses no banco. O rendimento disponível será maior, mas serve para menos. Podemos chamar-lhe o que quisermos, mas não passa de hipocrisia.

Entretanto, o Governo volta a apostar no investimento público, um dos grandes motores da dívida. O objetivo é gerar um impulso automático em certas actividades próximas do Estado, mas que desincentiva outras mais independentes do poder, logo mais criativas e produtivas. Precisamente as que mais precisamos mas que não existirão em 2017. E sem este tipo de investimento privado o país não se desenvolve. A médio prazo a receita cai, a despesa sobe e, com esta, o défice e a dívida.

O país vive num bloqueio cada vez mais apertado, a que o Governo e a maioria que o sustenta se agarram com todas as suas forças. Mas, se economicamente as perspectivas são sombrias, politicamente são piores. O Governo tenta garantir votos com o dinheiro dos contribuintes e à custa de quem produz riqueza. Ao mesmo tempo ilude, com a devolução dos rendimentos, a maioria dos que o apoiam. Ora, se uma democracia não impede que a vontade da maioria se torne numa tirania, que futuro podemos esperar quando os cidadãos são convencidos, não através da verdade, mas de ilusões e de afectos?

5 pensamentos sobre “Bloqueados

  1. Mas sobe o rendimento de quem? O meu não é com certeza. Como reformado há 6 anos que não tenho um tostão de aumento e pago muito mais de IRS do que pagava em 2010 e 2011. O rendimento deve estar a subir é para xcostas e afins!

  2. Sim a tirania está na cabecinha de muita gente que governa neste momento e em particular em que os apoia. Se estivessemos na américa latrina, em África ou na ásia eram favas contados. A CE apoia este estado de coisas por agora. Eles sabem as linhas por onde se cozem e nos cozem. Depois da eleições na germânia lá mais para a frente são de esperar outro tipo de decisões. Até lá é fartar vilanagem, a menos que…

  3. Peço encarecidamente aos economistas que se interessam pelas contas do Estado Português que nos esclareçam acerca das percentagens do chamado défice orçamental.
    É assim, se chegarmos ao fim do ano com um défice se 2,5% isso quer dizer, que se em 2015 também tivessemos tido esses mesmo dois e meio por cento era a mesma coisa?
    Eu acho que não, derivado ao numero brutal de aumento que quer a receita e a despesa têm tido este ano.
    Quanto a mim a meta oficial do défice (a da Troika) devia ser revista e baixada para menos de 2%.
    Esta teoria está certa ou errada?
    Ou éba matemática que é cega?

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