Eu sei que ainda persiste a mania de que as doenças psicológicas são sintomas de fraqueza de gente de pouca qualidade; que a introspeção é para mulheres e sissies, nunca para homens de barba rija – que, como se sabe, não têm estados de alma; que as crianças não são hiperativas, são simplesmente mal educadas; que os suicídas não são doentes, são egoístas; que os depressivos são uns mandriões à procura de atenção alheia. No fundo não está muito distante do preconceito (e crueldade) que levava a que os militares com sintomas de trauma durante a primeira guerra mundial – com aquilo que então se chamava shell shock, por se supor ocorrer devido a alguma alteração fisiológica em quem esteve exposto de perto ao rebentamento de uma bomba – fossem muitas vezes fuzilados por cobardia. Passado quase um século depois da primeira teorização de Freud sobre trauma (em 1919), cheguei a uma criatura que escrevia sobre estes assuntos e dizia que trauma era algo que ocorria a gente impressionável de baixo QI. (Quando o meu palpite – por não ter qualquer fundamento em estudos existentes, tal como o palpite da dita criatura – vai no sentido contrário: se o QI influencia, provavelmente serão as pessoas de mais alto QI as mais suscetíveis, desde logo por perceberem melhor como o evento traumático é algo de fora do arco do que conseguimos saudavelmente integrar na nossa vida.)
Não sei se isto leva a que estes perigos psicológicos sejam descurados ainda hoje. Mas, se são, começamos a estar no campo da negligência – que nem se desculpa por causa do sacrossanto preconceito. Quando estava a fazer a licenciatura, na cadeira de Comportamento Organizacional recordo-me de ter estudado o caso dos operadores das gruas. Eram muito suscetíveis ao stress e a problemas daí recorrentes, devido a trabalharem isolados, num local alto e, sobretudo, por terem um trabalho que se mal executado podia acabar na morte de alguém. Os operadores das gruas. Certamente que haverá estudos semelhantes para outras profissões, incluindo os pilotos e co-pilotos de aviação comercial. Não entendo como os pilotos de avião não são psicologicamente avaliados com frequência e, se em risco, arredados dos comandos de um avião – e da vida de centenas de pessoas – até melhoria consolidada. E não são só os pilotos de aviões. Polícias (suicídios de polícias não são uma raridade) e juízes, por exemplo, também necessitam de avaliações psicológicas. Não podemos colocar a vida (e a liberdade) das pessoas nas mãos de quem está doente.
Maria João, concordo completamente consigo ( e como sabe é raro).
Lembremos que a principal causa de morte nos EUA com arma de fogo é a do suicidio de policias. O suicidio é , também, uma acção oportunistica…
O problema é definir com lucidez o ponto onde passamos de cautelosos a paranoides securitários. A paranóia securitária também é uma doença mental, e das piores, porque costuma ser doença de grupo…
Este comportamento é normal e acontece com qualquer pessoa e deve ser tratado mas é inevitável por vezes, o que era evitado era se depois do 11 de setembro nao se tivesse apertado de tal forma as regras de segurança que nem o piloto consegue ter acesso ao cockpit, se algo aqui está errado é este tipo de regulementação que tem de mudar e ser uniforme para todas as companhias aereas.
Sim, é perfeitamente normal um piloto de avião se fazer colidir com um avião cheio de pessoas contra uma montanha. Nem entendo como uma coisa tão normal e comum foi notícia. Claro que a culpa é de um procedimento de segurança perfeitamente sensato pós 11 de setembro.
Maria João Marques, sinceramente eu acho normal as pessoas terem problemas pessoais, isso é normal, não é por ser piloto que é diferente dos outros. Sim, tem responsabilidades que outros não tem, mas se alguém estiver com problemas psicológicos ninguém pode mudar a pessoa por dentro mas pode-se evitar que essa pessoa aga contra as outras pessoas. Por exemplo ter acesso ao cockpit todos os trabalhadores da companhia deviam ter, não é por questões de segurança que isso devia ser impossível, porque questões de segurança são feitos antes nas revisões aos passageiros antes de entrarem no avião. Todos podemos ter problemas psicológicos mas se houver possibilidade de outros as evitarem nada pode evitar isso, essas regras são o culpado desta e de outras tragédias semelhantes.
recomendo aos que pensam como o Pedro que vejam esta palestra do Robert Sapolsky sobre depressão