O país empobreceu com Salazar?

Diz o André a certa altura no seu artigo abaixo:

“Pobre, o país não se desenvolveu com Salazar, prejudicando as gerações futuras.”

Esta é uma das grandes falácias da história económica portuguesa que, de tão repetida, acabou aceite como verdadeira, mesmo entre os comentadores mais moderados. É evidente que Portugal era um país bem mais pobre do que é hoje no tempo do Estado Novo. Assim como o resto do Mundo. Quando quisermos comparar níveis de riqueza entre períodos de tempo, o mais correcto é analisar a situação em termos relativos, ou seja, quão mais pobres éramos em relação aos restantes países e como evoluiu essa diferença. Pedro Lains tem dedicado bastante tempo ao estudo da evolução do PIB per capita português em relação às economias mais avançadas. O gráfico abaixo foi retirado do seu paper “Catching up to the European core: Portuguese economic growth 1910, 1990” e ilustra a evolução do PIB per capita português em relação a nove economias avançadas (Alemanha, França, Reino Unido, Holanda, Itália, Noruega, Dinamarca, Suécia e Bélgica.

PIBpc

Como se pode verificar, o maior período de convergência (ou seja, enriquecimento relativo) no século XX aconteceu entre 1950 e 1973. Neste período, o país atingiu um PIB per capita equivalente a 60% das economias desenvolvidas, partindo de cerca de 38%. Nos anos 30 e 40, não existiu convergência, mas foi travado o percurso de divergência que vinha desde o início do século XIX. No século XX, existiu apenas um outro período, já em democracia em que a convergência foi tão forte: os anos seguintes à segunda intervenção do FMI e entrada na CEE. Essa convergência estagnou nos anos 90 e inverteu-se no século XXI (números ausentes do gráfico). Estamos hoje mais ou menos aos mesmos níveis em que estávamos em 1973 em relação às economias mais avançadas. A III República trouxe imensos benefícios, mas economicamente foi um fracasso, pelo menos até hoje (O IDH da ONU, que inclui indicadores de educação e esperança média de vida, conta uma história semelhante). O regime do Estado Novo pode ser acusado justamente de vários atentados à liberdade, é um regime politicamente indefensável, mas o que não pode ser acusado é de ter empobrecido o país.

86 pensamentos sobre “O país empobreceu com Salazar?

  1. Luís Lavoura

    Seria mais adequado escrever a história, não em termos de regimes políticos, mas em termos de emigração. Esse relato seria muito simplesmente assim: o país enriqueceu quando houve emigração, empobreceu quando houve imigração, e permaneceu mais ou menos na mesma quando não houve nem uma nem a outra.
    Ou seja, é muito simples: a emigração é o grande motor da economia portuguesa.
    Tempos de crescimento avizinham-se, portanto.

  2. António

    Caro Carlos Guimarães Pinto,
    «Permita-me que corrija um aspecto do que escreve. Refiro-me ao facto de enunciar o período histórico que vivemos, como a 3ª República.
    Isto denota uma de duas coisas, ignorância histórica ou a interpretação de que o Estado Novo se tratou de uma República na plenitude das características que uma República importa!
    Parto do princípio que é ignorância histórica e, que por preguiça retirou esse termo da wikipedia, onde aparece. Aconselho-o pois, a pesquisar História de Portugal de A. H. Oliveira Marques, vol III (Editorial Presença, 13ª ed., 1998, p. 603) para verificar que a designação correcta é 2ª República.»

    Sobre a pergunta que faz, a resposta foi dada no último partidário que assistimos, ou seja, o país está melhor e os portugueses pior. Para o período em análise, isto foi, como é óbvio hiperbolizado!

    Tendo em conta que fiz, quase este mesmo comentário a Miguel Botelho Moniz no seu último texto, sou levado a concluir que alguns ‘insurgentes’ têm um grave problema com a História.

  3. António

    Oops.

    «Sobre a pergunta que faz, a resposta foi dada no último CONGRESSO partidário que assistimos, ou seja, o país está melhor e os portugueses pior. Para o período em análise, isto foi, como é óbvio hiperbolizado!»

  4. Miguel Noronha

    “Ou seja, é muito simples: a emigração é o grande motor da economia portuguesa.
    Tempos de crescimento avizinham-se, portanto.”
    Acho que o Luís Lavoura descobriu o sucesso do crescimento económico. E parece ser bem simples.
    Infelizmente para ele, Pedro Lains aponta outras razões como a abertura económica (adesão à EFTA), liberalização económica (o condicionamento industrial afrouxou o já em muitos casos não passava de “letra morta” – veja o caso paradigmático de Américo Amorim) e a a progressiva acumulação de capital que possibilitou o investimento (sim, é necessário poupar para investir). A isto junta-se um quadro macroeconomico estável.

  5. Miguel Noronha

    “Não confio em comparações per capita.”

    Prefere em termos absolutos? Descobre-se que afinal somos mais ricos que o Luxemburgo.

  6. Luís Lavoura

    Acho que o Luís Lavoura descobriu o sucesso do crescimento económico. E parece ser bem simples.

    Não foi eu quem dexcobriu. Vem num livro já muito antigo, “A sociedade da pobreza”, do economista canadiano John Kenneth Galbraith. Ele examinou todas as causas do progresso económico de países pobres e descobriu uma que é infalível, uma que invariavelmente funciona: a emigração.

    Pedro Lains aponta outras razões como a abertura económica (adesão à EFTA), liberalização económica (o condicionamento industrial afrouxou o já em muitos casos não passava de “letra morta” – veja o caso paradigmático de Américo Amorim) e a a progressiva acumulação de capital que possibilitou o investimento (sim, é necessário poupar para investir).

    Pedro Lains tem as suas teorias. Eu tenho as minhas.

    A abertura e a liberalização económicas já desenvolveram muitos países, mas também empobreceram muitos outros. Não são causas infalíveis de desenvolvimento. A emigração, é.

  7. Fernando S

    Luis Lavoura : “A abertura e a liberalização económicas já desenvolveram muitos países, mas também empobreceram muitos outros.”

    Quais (empobreceram) ?

  8. Miguel Noronha

    O Galbraith é uma referência de “peso”. Não percebo como é que isso não funciona para o Haiti, Cuba ou outros países do género. Se calhar não leram o livro.

    “Pedro Lains tem as suas teorias. Eu tenho as minhas.”
    Isso é suposto ser um argumento a seu favor? Provavelmente “de autoridade”.

    “A abertura e a liberalização económicas já desenvolveram muitos países, mas também empobreceram muitos outros. ”
    Não sei qual o seu critério para dizer que para Portugal não o foi. Provavelmente poderá revelar onde tirou tal conclusão. Pode também aproveitar para dizer quais os casos negativos de liberalização que conhece.

  9. Finalmente um post esclarecedor e verdadeiro sobre a época do estado Novo aqui no Insurgente (só podia ser o Carlos).

    Ninguém quer fazer do Estado Novo um mar de rosas mas se alguma vez existiu capitalismo em Portugal apoiado com as melhores teorias econômicas esse período pertenceu ao Estado novo.

    Período esse onde surgiu o Portugal industrial que os socialistas desde 1974 até hoje têm tido todo o cuidado para destruí-lo.

    Alguns líricos consideram o movimento industrial do Estado Novo algo de falacioso apelidando-o de “corporativo” e assim massificar uma descarga de prosas negativas.

    Fica a pergunta, será que o o Portugal “corporativo” andou longe do ordo-liberalismo alemão?
    Alguém conhece (minimamente) a história da origem indústria alemã?

    Quando os empresários iam chorar ao Salazar ele mandava-os dar uma volta e produzir.

  10. O artigo não defende o regime de Salazar, até termina com essa ressalva, apenas corrige algo que é tido como verdade e que o autor evidencia não ser bem assim. Contudo o ataque à conclusão do artigo parece mais por razões de ser inaceitável reconhecer-se que um parâmetro possa ter sido positivo num regime que é dito como indefensável.. em vez de se procurar em democracia, um regime defensável, aprendermos a ter o mesmo efeito positivo…

  11. Ricardo Monteiro

    “Prefere em termos absolutos? Descobre-se que afinal somos mais ricos que o Luxemburgo.” Duvido da fiabilidade dos dados disponíveis dessa época. Tenha calma. Não estou a atacar ninguém.

  12. Miguel Noronha

    ” Duvido da fiabilidade dos dados disponíveis dessa época.”

    Independentemente dos problemas decorrentes da fiabilidade da medição (recordo que o PIB é um estimador da riqueza produzida) os dados já foram testados posteriormente e por diversas vezes. É um periodo relativamente próximo e há quem o faça para periodos mais antigos. A cliometria ou Nova História Económica (que valeu um Nobel a Douglass North) dedica-se precisamente a isso.

    Já agora, um estudo do António Barreto (está no livro “Tempo de Mudança”) evidencia precisamente a tremenda transformação nas décadas de 50/60 do sec XX.

  13. Vivendi

    A INDÚSTRIA ALEMÃ

    A indústria alemã é fortemente caracterizada por conglomerados, monopólios e oligopólios que são facilmente explicados pela política realizada pela Prússia Cameralista e também pelo I Reich (Império), de intervenção em prol de cartéis e de altas barreiras protecionistas.

    O processo de industrialização alemão foi um processo rápido e que foi impulsionado por objetivos específicos do Estado Alemão. Não sendo caracterizada pelo liberalismo econômico e sim pelo protecionismo estatal, permitiu a condução do processo no sentido de suprir interesses da nação alemã (representada no Reich). Somada a isso, ao entrar direto da chamada “segunda revolução industrial”, permite competir em condições iguais com seus principais concorrentes que também só estavam chegando naquele momento à indústria do aço, da eletricidade e da química.

    Com as derrotas nas duas Grandes Guerras, o Estado Alemão e sua indústria ficaram bastante enfraquecidas, no entanto a êxito da política industrial foi tamanho que permitiu o reerguimento da potência posteriormente. Hoje a Alemanha é a grande potência industrial da Europa, com vantagem sobre Ingleses, Franceses e Italianos, sendo o Vale do Ruhr o principal pólo industrial Europeu até os dias atuais.

    Isto é a história senhores.

  14. Reparem que de 85 a 93 o crescimento foi tão ou mais rápido que nos anos anteriores a 73, o máximo até então.

    Portugal PODE crescer em democracia. Portugal NÃO rescerá em demagogia.

    Luís Lavoura, o período que citei foi um período de IMIGRAÇÃO, não de EMIGRACÃO.

  15. k.

    – A economia cresceu muito durante o tempo de Salazar (e particularmente, no tempo de Marcelo Caetano), isso é inegável. Também cresceu muito durante o tempo de Pinochet. E já agora, cresceu muito durante o periodo de Estaline. E cresce muito agora no tempo do PCP Chinês, ou do José Eduardo dos Santos. Em si, crescimento económico não significa nada se não se traduzir em melhorias das condições de vida gerais da população.

    – O Estado Novo era Corporativista sempre se designou e comportou como tal. Dirigiu a economia através de cliques de “amigos” beneficiados em grandes grupos económicos, os Mellos, Champalimauds e Amorins desta vida; Proibiu sindicatos e afins.

    – Existe uma grande diferença entre afirmar que o “pais era pobre (um ponto no tempo), e que “empobreceu”, isto é que ficou numa trajetória de ser mais pobre a cada ano que passa. Obviamente isso não aconteceu no Estado Novo, aliás é uma raridade histórica que isso tenha acontecido.

    – Nem que os Portugueses estivessem tão ricos que pudessem comer bifes todos os dias, o facto da suas mais básica liberdades estarem sarceadas não justifica nem valida o Estado Novo.

  16. k.

    “Francisco Miguel Colaço em Março 19, 2014 às 13:05 disse: ”

    Acrescento para reforçar, que é muito mais fácil para o Estado Novo apresentar taxas de crescimento gigantes porque tinham uma base irrisória (do género, Moçambique também anda a crescer 10% ao ano..).

    O crescimento de 85 a 93 foi feito sobre uma base mais exigente.

  17. Quanto à evolução do PIB per capita, aqui está demonstrado em termos comparativos. Não podemos comparar o crescimento entre épocas. Na última década, porém, com uma Europa estagnada, em termos reais, ainda nos afastámos.

  18. Vivendi

    O crescimento de 85 a 93 foi feito sobre uma base mais exigente.

    É palpite ou verdade histórica?

    Vamos lá…

    m 1980
    Cavaco Silva, então ministro das Finanças, Sobe os gastos orçamentais, valoriza o escudo, dificulta as exportações, aumenta as importações. O défice das transacções correntes sobe de 5% do PIB em 1980 para 11,5% em 1981 e 13,2% em 1982. A dívida externa aumenta de 467 milhões de contos em 1980 para 1199 milhões em 1982. Perante o descalabro, em 1983, o novo governo da AD vê-se obrigado a subir as taxas de juro 4 pontos, e a vender 50 toneladas de ouro para financiar as contas externas. O desnorte é total.

    Na UE
    Desmantelamento do sector das pescas, silvicultura e da agricultura em Portugal, a troco de algumas ajudas financeiras da UE. A maioria dos agricultores e pescadores passaram a receber para não produzirem, arrancarem arvores (vinhas, oliveiras, etc) ou abandonaram a sua actividade piscatória, contribuindo desta forma para o aumento da dependência alimentar de Portugal de países como a Espanha e França.

    No Ouro
    A entrega de toneladas de ouro do Banco de Portugal a uma empresa norte-americana que terminou na falência, uma operação conduzida por Cavaco Silva e o ministro Tavares Moreira.

    No final do governo
    Cavaco deixa o governo, em 1995, numa altura que o desemprego começa a subir e se fazem sentir as deficiências estruturais de um Estado perdulário e numa crescente engorda, sendo denominado como “O pai do monstro”.

  19. k,

    Com as devidas cautelas estatísticas sublinho que Portugal cresce nos momentos em que está a diminuir a dívida externa líquida em percentagem do PIB: antes do Estado Novo e entre 85 a 93.

    Que diria o Keynes? Que diria o Krugman? «Oh, boy! This cannot be!»?

  20. Vivendi

    Cavaco é conhecido como Keynesianista não sei porquê tantas alohas ao período de 1985 a 1993.

    A UE inundou o país de dinheiro e destruiu-se o aparelho produtivo o estado e salários públicos engordaram.

    Ainda hoje a função pública vive acima da real produtividade do país.

  21. Vivendi,

    Imagino que não tenha quintas nem seja agricultor. A historieta mil vezes contada de que o Cavaco (ou o governo dele) arruinou a agricultura e pescas é simplesmente falsa. A autossuficiência alimentar antes do Cavaco era de cerca de 60%. Hoje, com população maior e mais gorda do que então, anda pelos 93%.

    O que aconteceu é que temos menos área cultivada, mas com muito maior produtividade agrária. Quem acabou com a agricultura pequena foi o hipermercado e quem lá compra.

    Havia e há ainda um subsídio de pousio, do qual já agora nunca beneficiei (nem desse nem doutros). Este foi bem pensado, mas foi aproveitado pelo agricultor que foi trabalhar na fábrica para ter uma renda adicional. Os barcos foram abatidos no fim de vida por pescadores cujos filhos trabalhavam na fábrica ou no ensino, e que não desejavam continuar a profissão, e que ficaram com uns trocos no bolso para a reforma. Hoje, com menos barcos, pesca-se tanto ou mais que no tempo do Cavaco, e apenas a escassez dos cardumes pela delapidação dos recursos impede mais pesca. No entanto, a aquicultura veio em defesa da produção e hoje produz-se MAIS peixe do que alguma vez foi pescado no tempo do Cavaco.

    Por favor, por uma vez deixe de papaguear o que comunistas (cuja agricultura era confrangente) e, sendo indubitavelmente inteligente, terá que me conceder razão à vista de:

    1) Possuir uma quinta, de onde aliás estou a escrever; e falo com os meus vizinhos.
    2) Ter nascido e crescido na Figueira da Foz, tendo muitos filhos de pescadores na minha turma, ouvia as histórias;
    3) Os números a que aludi estão publicados pelo INE.

    Não vejo muitos comunistas, que tanto se queixam do estado da agricultura nacional, pegar num tractor e arar uma terra. Mais, não os vejo a deixar de comprar no hipermercado. Pelo contrário, grandes arrufos da Raquel Varela (doutora em assuntos asininos) foram feitos, ora veja-se onde… em hipermercados.

  22. R.i.c.c.i.a.r.d.i.

    Carlos,

    Salazar governou desde 1933 a 1968 e é este periodo que deve ser considerado.

    De 1968 a 1974 foi Marcelo Caetano quem liderou a governação.

    Então, vejamos:

    1º Periodo Salazar:
    PiB per capita em 1933 – 40%
    PiB per capita em 1968 – 47%

    Aumento de 7% em TRINTA E CINCO anos.

    2ºPeriodo Marcelo Caetano:
    PiB per capita 1968 – 47%
    PiB per capita 1974 – 58%

    Aumento de 9% em SEIS ANOS.

    3º Periodo Democratico
    PiB percapita 1974 – 58%
    PiB percapita 2000 – 65%

    Aumento de 7% em VINTE E SEIS anos.
    .
    Conclusão:
    Convergência anual médio do PiB com a Europa desenvolvida:

    Periodo 1º – 0,20% ao ano
    Periodo 2º – 1,50% ao ano
    Periodo 3º – 0,27% ao ano

    O melhor periodo foi o de Marcelo Caetano. O segundo melhor periodo foi o Democratico. O Pior periodo foi o de Salazar.
    .
    No entanto, várias outros considerandos teriam de ser ditos:

    a) Salazar apanhou uma situação financeira gravissima em 1928 (ainda min das finanças).
    b) Salazar apanhou uma guerra mundial que beneficiou fortemente, mas pontualmente, a economia devido ao facto de Portugal fornecer produtos aos países em guerra.
    c) Salazar tinha boa noção de conceitos como patria, orgulho nacional e independencia face ao exterior:
    c.1) A divida pública foi reduzida fortemente no 1º periodo.
    c.2) As reservas sobre o exterior aumentaram fortemente.
    d) O crescimento no 3º periodo (democratico) foi sustentado por dinheiros externos e divida pública.
    .
    Ricciardi (Rb)

  23. Vivendi

    hehehe…

    A autossuficiência alimentar antes do Cavaco era de cerca de 60%. Hoje, com população maior e mais gorda do que então, anda pelos 93%. Isto é o que vale a pena reter. De resto é conversa para boi dormir.

    Quanto aos comunas sou a favor que eles criem as suas comunas no Alentejo para colocarem as suas teorias em prática.

  24. k.

    “Francisco Miguel Colaço em Março 19, 2014 às 13:29 disse: ”

    Diriam que em tempos de expansão económica, a economia deve ter um comportamento contraciclico – cortar nas despesas e criar excedentes em periodos de expansão, e o inverso em periodos de recessão.

    “Francisco Miguel Colaço em Março 19, 2014 às 13:41 disse: ”

    Veja lá não ofenda os tipos dos hipermercados, que são uns santos – ainda o chamam de socialista..

  25. Vivendi,

    «A autossuficiência alimentar antes do Cavaco era de cerca de 60%. Hoje, com população maior e mais gorda do que então, anda pelos 93%. Isto é o que vale a pena reter. De resto é conversa para boi dormir. »

    Então, que agricultura foi destruída? Que pescas foram dilaceradas? Quando uma estrutura produtiva é destruída produz menos, não mais.

    Durma com a conversa, se quiser. Tomará o pequeno almoço de amanhã provavelmente com mais e melhores produtos portugueses do que há trinta anos atrás teria em cima da mesa.

  26. Vivendi

    O seu professor de história mentiu para si…

    (mais verdade histórica)

    Como é sabido e por aqui tenho mostrado, a partir de 11 de Março de 1975, culminando os meses a seguir ao 25 de Abril de 1974 em que o PCP e os partidos compostos por doentes terminais afectados irremediavelmente pelo síndroma da doença infantil do comunismo ( designação de Lenine, adoptada sempre pelo PCP) , tomaram conta do destino político de Portugal, com apoio da tropa fandanga do MFA, integrando intelectuais tipo Melo Antunes e quejandos, o tecido industrial português e a maior parte da indústria, banca e seguros do país, foram nacionalizados e por isso mesmo passou tudo a ser “nosso”. Aparentemente, sendo nosso, seria melhor do que sendo “deles” dos capitalistas burgueses, não era assim? Era, era. Dali a um ano estávamos na bancarrota, com toda essa sorte de tudo o que era nosso…e uma coisa que então nos valeu foi o ouro amealhado por Salazar durante décadas ( mais de 800 mil toneladas de que restam nem sequer metade…).

    O PCP, com suprema nostalgia desse tempo, anda agora mesmo a colocar cartazes na rua, com dizeres muito simples e que se resumem a duas frases: ” o que é público é nosso; o que é privado é só de alguns”. Com esta verdade falaciosa conquistam adeptos que pensam com um neurónio e assim se vão mantendo na mentira permanente em que consiste a sua actividade política.

    Em Julho de 1974 a Esquerda ( PCP e PS, mais MFA) rejeitou a contribuição capitalista de alguns empresários nacionais que não tinham fugido para o estrangeiro ( e de alguns que apesar disso, continuavam a acreditar nas potencialidades económicas do país) que se propunha investir alguns milhões de contos em empreendimentos económicos nacionais. Portanto, patrióticos, sem dúvida alguma.

    O jornal Sempre Fixe pouco tempo antes de 25 de Abril de 1974 tinha elencado quem eram os maiores patrões nacionais. O objectivo, oculto, era simples: mostrar quem eram os “exploradores da burguesia capitalista”, porque era esse o entendimento atávico dessa esquerda.

    Depois de 11 de Março de 1975 e paulatinamente, tais empresários deixaram de contar como contribuintes para a riqueza nacional porque o país tinha mudado de paradigma político e até social.
    A Esquerda correu com eles quase todos. Actualmente, os mais ricos de Portugal, são os que ficaram, milagrosamente ( Alexandre Soares dos Santos), e os que vieram depois, arribando a pulso e de modo muito diverso dos anteriores ( Américo Amorim e Belmiro de Azevedo). Todos eles pagam um tributo revolucionário à Esquerda que ficou e se metamorfoseou, para não serem incomodados se calhar . Soares dos Santos, com a Fundação. Belmiro com o Público e Amorim…não sei bem, mas deve ser a mesma coisa. É o “pizzo” que se paga nesta democracia para prosperar…

    O capitalismo, como sistema de produção de bens e serviços, deixou de ser o modelo e tentou-se a adopção de outro modelo que apesar de não ter resultado em qualquer parte do mundo e ser um falhanço de tal ordem que conduziu, anos depois ( em 1989) à implosão do próprio sistema, foi sôfregamente adoptado por indivíduos ditos inteligentes e que se formaram em Economia e noutas áreas, constituindo uma elite que passou a mandar no país, politicamente.

    Como dá conta O Jornal de Maio de 1975, o Estado socialista a “caminho da sociedade sem classes”, controlava praticamente todos os sectores-chave da economia, a partir dessa altura.

    http://portadaloja.blogspot.com/2014/03/a-batalha-da-producao-de-1975.html

  27. Vivendi

    Então, que agricultura foi destruída? Que pescas foram dilaceradas? Quando uma estrutura produtiva é destruída produz menos, não mais.

    Hello!!! Avanço tecnológico… com a reconversão dos últimos tempos da estrutura produtiva. Cavaco como qualquer outro PM só atrapalharam este ajustamento.

  28. Rodrigo

    Para uma leitura mas completa (e complementar) ao post aconselho o livro “Economia Portuguesa, as últimas décadas” de Luciano Amaral. da FFMS. Só custa 3,5 Euros !

  29. Factos são factos. O regime de Salazar teve um melhor desempenho económico do que o regime democrático saído do 25 de Abril.

    Apesar de a economia ter crescido basicamente o mesmo durante os dois regimes, o primeiro pagou o endividamento da Primeira República e deixou reservas avultadas que o segundo gastou e ainda uma acumulou divida ao nível do final do século XIX apesar d ter recebido largos milhões de transferências financeiras da União Europeia.

    No entanto, como salientei no meu livro Repensar Portugal e neste post (http://marques-mendes.blogspot.com/2012/11/porque-repensar-portugal.html), ambos os estilos de capitalismo de estado tiveram um mau desempenho relativo quer quando comparados com os seus congéneres de Espanha e Grécia quer com as economias de mercado da Irlanda da Suiça, etc.

    Apesar de tudo, tendo vivido nos dois regimes, entre o mau e o péssimo prefiro o péssimo por ser democrático.

    Como já disse: “No entanto, tal discussão é inútil porque todos os seleccionadores foram maus. O que interessa é aproveitar o que cada um fez bem e seguir em frente. Mas para seguir em frente precisamos não apenas de melhores seleccionadores mas sobretudo de questionar o posicionamento da equipa em campo. É isso que o nosso livro procura fazer.

    Nos últimos 80 anos a estratégia de jogo assentou sempre num 4-4-2, isto é, 40% de estado, 40% de capitalismo de estado e apenas 20% de capitalismo de mercado. O que nós propomos é inverter esta estratégia para um 3-2-5, ou seja, 30% de estado, 20% de capitalismo de estado e de gestão e 50% de capitalismo de mercado.”

  30. Vivendi,

    «Hello!!! Avanço tecnológico… com a reconversão dos últimos tempos da estrutura produtiva. Cavaco como qualquer outro PM só atrapalharam este ajustamento.»

    Atrapalharam, estou de acordo, mas fez-se. Logo a destruição de agricultura e pescas é uma completa falácia.

  31. k.

    “Marques Mendes em Março 19, 2014 às 14:28 disse: ”

    Factos são factos mas a interpretação é subjectiva. A economia cresceu mais durante o tempo de Salazar porque a base era mais pequena.

    Por outras palavras, onde você prefere passar os proximos 10 anos – Em Portugal com rendimentos de um Português, que não vão crescer, ou em Moçambique, onde o seu rendimento de Moçambicano irá crescer 10% ao ano..?

  32. Marques Mendes,

    «Nos últimos 80 anos a estratégia de jogo assentou sempre num 4-4-2, isto é, 40% de estado, 40% de capitalismo de estado e apenas 20% de capitalismo de mercado. O que nós propomos é inverter esta estratégia para um 3-2-5, ou seja, 30% de estado, 20% de capitalismo de estado e de gestão e 50% de capitalismo de mercado.»

    Disse o que tem de ser dito, muito embora haja mais mercado do que apenas 20% e mais estado do que 40%. Estimo que esteja mais nos 5-2-3. 20% do PIB é cerca de 32 mil milhões de euros, perto do que fazem EDP, PT, PPP e associadas.

    O problema de Portugal está nos sectores estatais e para-estatais da economia, e a solução nos empresários de vão de escada (nas PME, portanto!)

  33. Carlos Guimarães Pinto

    Boa análise e bem complementada pelos considerandos. convém notar que neste momento (2014) o mesmo valor anda pela casa dos 58-59%, eliminando toda a convergência ocorrida nos anos 80 após a intervenção do FMI.

  34. Vivendi

    (mais verdade histórica)

    15% Estado (20% com Marcello Caetano – o criador do famigerado estado social)
    85% Privado

    E anda por aí mais um burburinho acima agora sobre o mito dos rendimentos.

    “No índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas, que mede a qualidade de vida dos países em 2011, figurávamos no 41.º lugar. Em 1975, um ano depois de Abril de 1974, estávamos em 24.º” (p. 30).

    Era só ter linkado o post do autor.
    http://oinsurgente.org/2012/12/28/sobre-as-contas-politicamente-incorrectas-de-ricardo-arroja/

    O que não falta neste debate é seres mitológicos a quererem passar por sábios.

  35. Vivendi

    Perante toda a verborreia que foi por aqui escrita fica a questão.
    As universidades portuguesas não ensinam a história económica com rigor e independência?

    Nem preciso da resposta.

  36. Vivendi,
    “Quanto aos comunas sou a favor que eles criem as suas comunas no Alentejo para colocarem as suas teorias em prática.”

    Cruz credo!
    Eu mandava-os para Cuba (a ilha, não a vila do Alentejo), já causaram mal q.b. a esta terra; o Alentejo merece melhor.

    Marques Mendes,
    E que tal 10% de Estado e 90% de capitalismo de mercado?
    Porquê 20% de capitalismo de Estado? Porque tem o Estado de competir com os privados aos quais saca impostos???

  37. Fernando S

    Relativamente ao peso da agricultura e da industria no Pib portugues, convém lembrar que a sua diminuição estrutural, a longo prazo, não foi um aspecto negativo, antes foi positivo.
    Esta evolução correspondeu a uma modernização da economia portuguesa, que se aproximou dos padrões das economias mais desenvolvidas. Portugal tinha anteriormente demasiados recursos, a começar pelos humanos, concentrados numa agricultura tradicional e numa industria artesanal ou de mão-de-obra intensiva, pouco produtivas. Faltava a Portugal um sector terciario mais alargado e desenvolvido que permitisse melhorar a produtividade do conjunto da economia, incluindo os sectores tradicionais.
    Este processo de modernização decorreu ao longo de décadas, desde logo durante o “Estado Novo”, sobretudo apartir dos anos 50/60, e, melhor ou pior, continuou nas décadas posteriores ao 25 de Abril. Em boa medida graças a ele a produtividade e o rendimento per capita dos portugueses aumentaram significativamente.
    A principal causa desta evolução foi uma progressiva, embora irregular e recheada de vicissitudes, liberalização interna e abertura ao exterior da economia e da sociedade portuguesas.
    A adesão à CEE e a entrada no Euro apenas reforçaram este processo. No bom sentido.
    Dito isto, é verdade que, sobretudo a partir dos anos 90 e continuando pelos anos 2000, se verificou uma certa degradação das condições de competitividade dos sectores ditos transaccionaveis, com destaque para a agricultura e para a industria.
    Ou seja, por razões que refiro a seguir, o sector terciario, em grande parte não transaccionavel, cresceu excessivamente e sobrecarregou os restantes sectores produtivos, em boa medida transaccionaveis, sobretudo a industria e a agricultura. Neste sentido é verdade que, de alguma modo, a industria e a agricultura foram “atrofiadas”. Esta evolução traduziu-se, nomeadamente, em desequilibrios entre sectores (sobretudo na relação não transaccionaveis / transaccionaveis e não tanto na terciario / primario + secundario) e nas contas externas.
    A razão principal para esta evolução foi … o aumento acentuado do peso do Estado na economia. Entre o fim do “Estado Novo” e o final da década de 2000, o peso do Estado na economia duplicou. O Estado é o maior e o mais importante sector terciario e não transaccionavel da economia. As despesas do Estado aumentaram regularmente e muito significativamente, muito para além daquilo que o nivel de produtividade global da economia exigia e, sobretudo, permitia. Este crescimento foi financiado por um agravamento da carga fiscal e por um endividamento publico crescente. Ao mesmo tempo, certas formas de intervencionismo publico excessivo impediram ou adulteraram ajustamentos necessarios nos principais mercados de factores, em particular no do trabalho, o que contribuiu para a degradação da competitividade global da economia.
    Esta evolução resulta principalmente de opções politicas internas e não da circunstancia de Portugal pertencer à União Europeia e fazer parte do Euro.

  38. Kubo

    > “O crescimento de 85 a 93 foi feito sobre uma base mais exigente.”
    Mais exigente… Deve-se estar a referir aos fundos sociais europeus que, diziam eles, era “a fundo perdido”…

  39. k.

    “Vivendi em Março 19, 2014 às 15:00 disse: ”

    A sério? Eu pensava que o HDI só tinha aparecido em 1990.
    Linke por favor a fonte do HDI para Portugal em 1974.

    “Kubo em Março 19, 2014 às 16:04 disse: ”

    Não, referia-me ao facto de à medida que as economias “avançam”, a taxa de crescimento tende a abrandar. Isto é, economias subdesenvolvidas tendem a crescer a dois digitos durante algum tempo, porque tendo um PIB reduzido, construir umas pontes rapidamente duplica o PIB. Quando um pais fica mais desenvolvido, torna-se mais dificil crescer.
    Dai a minha afirmação que a base de crescimento de 1983 é mais exigente; Nos tempos de Salazar, bastou um par de fábricas para duplicar o PIB, eramos bastante pobres. Nos tempos de Cavaco, apesar de relativamente mais pobres que os nossos congeneres Europeus, eramos já bastante mais desenvolvidos que nos anos 60.. logo, era mais dificil crescer.

  40. lucklucky

    “Dai a minha afirmação que a base de crescimento de 1983 é mais exigente.”

    Concordo com o raciocínio mas não tenho a certeza sobre o caso específico
    Isso depende se considerarmos que estávamos mais próximos da frente em 1983 ou em 1965.
    É preciso ver que de 1974 a 1985 estivemos estagnados pelas ideias totalitárias que apareceram com o 25 de Abril e que destruíram centenas de empresas, a que se deve adicionar a crise do petróleo.
    Só quando voltou nos anos 80 uma certa segurança sobre a propriedade é que se voltou a crescer.

  41. Vivendi

    Vivendi,
    “Quanto aos comunas sou a favor que eles criem as suas comunas no Alentejo para colocarem as suas teorias em prática.”

    Deixe-os criar. Mas primeiro vão ter de comprar os hectares e depois nacionalizam-se. Outra vantagem seria que os merdia já podiam andar entretidos a acompanhar a experiência da incubadora comuna invés de se limitarem as entrevistas de palavras cheias de vento.

  42. ocni

    O erro de Salazar terá sido não apostar mais no ensino.
    de qualquer modo quando Salazar chegou ao poder o atraso educacional dos portugueses era gigantesco em relação ao mundo desenvolvido (graças a vários desmandos que vinham desde o marques de pombal) e demoraria sempre mais de 30 anos a recuperar. a aposta foi nas colónias, mas o mundo andou noutra direção essa aposta perdeu-se até porque ficou a meio.
    portugal nunca teria condições para crescer como os países europeus devido a esse factor, esses países recuperaram para níveis anteriores à 2.ª guerra, acrescidos do crescimento que teriam tido se esta não tivesse ocorrido, o nível de instrução da população permitia esse crescimento, portugal mesmo injetando dinheiro em grandes doses nunca teria esse crescimento porque os seus níveis de instrução eram lamentáveis.

  43. “Portugal cresce nos momentos em que está a diminuir a dívida externa líquida em percentagem do PIB: antes do Estado Novo e entre 85 a 93.

    Que diria o Keynes? Que diria o Krugman?”

    Penso que é exactamente isso que os keynesianos costumam dizer, embora invertendo a relação causa-efeito

  44. “Como se pode verificar, o maior período de convergência (ou seja, enriquecimento relativo) no século XX aconteceu entre 1950 e 1973”

    Se entendermos “maior” no sentido de “mais prolongado”, sim. Mas, pelas contas do R.i.c.c.i.a.r.d.i., foi durante o governo de Salazar que o crescimento foi mais baixo.

    Na verdade, parece-me que o que o CGP demonstrou com este post foi que, sob Salazar o crescimento foi mais regular, não que se cresceu mais (isto é, a economia – em comparação com as outras – crescia pouco, mas como estava sempre a crescer, sem trambolhões, teve um período enorme de crescimento; em compensação, entre 74 e 2000, o crescimento relativo global foi mais rápido, mas como teve duas crises pelo meio, não tem um período tão prolongado de crescimento)

  45. Ainda a respeito da dívida externa líquida – na verdade, a teoria que os keynesianos costuma defender é que o crescimento faz diminuir a divida pública em % do PIB (a dívida externa é um assunto diferente da dívida pública; mas penso que o raciocinio seja semelhante

  46. Vivendi

    Lá tinha que vir o ensino á baila. Uma escola em cada aldeia (sem fazer festa) e um ensino técnico (o tal modelo de ensino que é considerado o diferencial para o sucesso da indústria alemã) e chegamos à conclusão que a educação no tempo de Salazar enfim não prestava.

    Um pormenor pouco falado no debate mas que faz toda a diferença quando se fala em crescimento diz respeito à inflação e mais uma vez Salazar se posiciona do lado certo. O que tornam as suas taxas de crescimento ainda mais espetaculares.

    Há muito mitos e desmitos para decompor sobre este assunto mas a ignorância que por aí anda é atroz e demonstra que a maioria das pessoas são desinformadas e desenquadradas da realidade histórica.

    Os socialistas conseguiram fazer uma boa lavagem cerebral e vai daí Portugal está condenado às bancarrotas. Tivesse continuado a seguir o mesmo modelo económico do passado e hoje Portugal estaria no mesmo patamar económico da Áustria.

  47. Ocni,

    Se ler o livro do Ricardo Paseo, saberá que o grande literador de Portugal foi Salazar. Encontrou Portugal com 25% de analfabetismo e morreu com ele a 75%. Uma completa inversão. O Salaza está acompanhado, nesta gesta educacional, de outros países recomendáveis como Cuba, a URSS, Espanha, a Europa de Leste e o Brasil da ditadura.

    Ele apostou no ensino…. no SEU ensino. As ditaduras não gostam de burros iliterados. Preferem literados formatados à medida.

  48. Vivendi

    ocni,

    A história é cheia de disparates mas os maiores disparates acontecem daqueles que falam e fazem as coisas sem ler primeiro a história.

  49. k.

    “Vivendi em Março 20, 2014 às 13:33 disse: ”

    Continuo à espera que me explique como é que Portugal estava em 24º no ranking de IDH das Nações Unidas em 1974, quando esse indice só foi desenvolvido nos anos 90.

    Pois, disparates…

  50. Miguel Noronha

    Realmente não consigo encontrar o IDH especificamente para 1974 mas acho estranho que se pense que é impossível calcular um indice restropectivamente. Ainda para mais tendo em conta os indicadores que constituem o IDH.

    Pode-se verificar o IDH para perios anteriores a 1990 aqui, aqui ou aqui.

    (de notar que existiu uma alteração de cálculo a partir de 2010 em que também se procedeu a um cálculo retrospectivo que é apresentado no 1º link, penso que os restantes ainda o sejam pelo método incial)

    De notar que segundo o 3º link de 1975 para 2000 somos ultrapassados por alguns países (casos de Singapura ou Coreia do Sul) e ultrapassamos outros (casos da Hungria ou Argentina).

  51. k.

    Portanto, não há HDI para Portugal para 1974.

    Mas obrigado pelos links, demonstram que a partir dos anos 80, o desenvolvimento humano dos paises saidos de ditaduras foi claramente positivo.

  52. Miguel Noronha

    Normalmente não suponho que o que eu não consigo encontrar não existe.
    E como disse, dada a facilidade de calculo é possível que existam series muito mais longas. Não consigo perceber porque achava que era impossível calcula-lo para periodos anteriores a 1990.

  53. ocni

    A questão é que Salazar melhorou significativamente o ensino, mas teria sido possivel fazer muito mais, a urss, no mesmo periodo fez melhor, assim como a irlanda.
    de qualquer modo, graças aos lastimáveis prestimos do marques de pombal, que nunca foram remediados até aí, estávamos numa situação catastrófica em termos educacionais.

  54. Ocni,

    Está a falar do Sebastião José de carvalho e Melo, daquele que reformou o ensino na Univesidade de Coimbra e a portou para a modernidade, do que criou escolas «menores» (de 1º ciclo) por todo o país e cuja acção na educação só foi claramente suplementada pelo Conde de Ferreira?

  55. Fernando S

    Esta ideia de que a educação é a chave do desenvolvimento economico é um dos grandes mitos dos nossos tempos.
    Ha muitos paises que teem excelentes indicadores desde ha muito tempo mas que são pouco desenvolvidos. É, por exemplo, o caso da maior parte dos paises comunistas e ex-comunistas.
    Mais do que uma causa, a melhoria do nivel de escolaridade da população é antes um efeito do proprio desenvolvimento économico.
    Este desenvolvimento é acompanhado pelo aumento das necessidades de qualificação dos recursos humanos e, assim sendo, quase que naturamente, incentiva as pessoas e as familias a procurarem responder as estas necessidades investindo na propria educação e formação e pressiona as entidades privadas e publicas a oferecer estes serviços a trabalhadores e cidadãos.
    Esta conomitancia entre o desenvolvimento da economia e o aumento do nivel de educação é ainda o que normalmente faz com que o tipo e a qualidade desta sejam os mais ajustados às necessidades daquela. A educação apenas é factor de desenvolvimento quando responde e corresponde, passo a passo, às necessidades da economia. O investimento publico numa educação prévia nunca deu verdadeiramente grandes resultados, foram quase sempre recursos mal e sub utilizados. O Cazaquistão tem 0% de analfabetos e uma das percentagens mais elevadas do mundo de licenciados do ensino superior (44%) mas não deixa por isso de ser um pais pouco desenvolvido.
    Em Portugal, o que mais limitou o progresso do nivel de escolarização e qualificação profissional foi o facto da economia ser principalmente rural e artesanal. Como foi aqui assinalado por outros comentadores, o “Estado Novo” até investiu no ensino, abrindo inclusivamente escolas nos cantos mais reconditos do pais. Mas a verdade é que a economia não tinha empregos para gente com mais estudos pelo que não havia então um real incentivo para que as familias mandassem os filhos para as escolas e investissem na respectiva educação. Era então mais util aumentar o numero de bracos a trabalhar no campo e nas manufacturas ou tentar a aventura da emigração.
    A grande questão a colocar é a de saber por que razão a economia portuguesa se manteve ainda durante muito tempo naquele estado “adormecido”.
    Acontece que, depois de um longo periodo de instabilidade politica e financeira, o regime saido do 28 de Maio de 1926, fundamentalmente “conservador” e “tradicionalista”, optou por manter o pais fechado ao exterior e por fortemente controlar e condicionar internamente o comportamento dos cidadãos. Em diversos planos, do politico ao economico passando pela moral publica. O que atrasou o desenvolvimento da economia portuguesa, que se demarcou das tendencias e dos processos então em curso noutros paises desenvolvidos, foi precisamente uma politica adversa à liberdade e à abertura ao exterior.
    Pelo menos numa primeira fase, de reacção e estabilização. Numa fase posterior, que começa a partir da segunda metade dos anos 50, quando a situação politica e financeira parecia mais controlada, verifica-se um lento mas progressivo processo de abertura e liberalização, que se acelera na segunda metade dos anos 60, e que determina significativos avanços em termos economicos e de niveis de desenvolvimento humano.
    A partir do final dos anos 60, tendo em conta as muitas mudanças ja em curso na sociedade portuguesa, inclusivé no plano da educação, o regime politico autoritario tornou-se cada vez mais anacronico e era praticamente inevitavel que acabasse por evoluir para uma democracia (como aconteceria em Espanha) ou por cair (como veio a acontecer a 25 de Abril de 1974).

  56. Continuo à espera que me explique como é que Portugal estava em 24º no ranking de IDH das Nações Unidas em 1974, quando esse indice só foi desenvolvido nos anos 90.

    Já deixei o link (o mesmo do post do autor) e foi retirado do livro do Ricardo Arroja.
    http://oinsurgente.org/2012/12/28/sobre-as-contas-politicamente-incorrectas-de-ricardo-arroja/

    “No índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas, que mede a qualidade de vida dos países em 2011, figurávamos no 41.º lugar. Em 1975, um ano depois de Abril de 1974, estávamos em 24.º” (p. 30).

    E quem quiser perceber como era o nível de vida em 1974…

  57. Vivendi

    Estou em acordo com o seu comentário Fernando S.

    Agora era escusado o inevitável ter acabado na tragi-comédia em que acabou.

  58. Vivendi

    Sebastião José de carvalho e Melo, o “iluminista”.

    Prefiro o pensamento escolástico (foi também a escolha de Salazar).

  59. ocni

    Francisco colaço, sim, o marques de pombal que destruiu o ensino em portugal, expulsou os jesuitas que tinham 20 dos 25 mil alunos do ensino básico em portugal (jesuitas que foram na sua maioria para a alemanha). Depois dele portugal só volta ter esse nº de alunos 150 anos depois com quando a população era 2 x maior.
    contratou professores por todo o pais, mas como pagava pouco e irregularmente os candidatos eram semianalfabetos.
    reformou o ensino em coimbra, mas pela desgraça da sua ação o nº de alunos universitarios em portugal despencou dos 4.500 para menos de mil.
    sim, esse, vejo que percebe muito disto.

    de qualquer forma salazar melhorou o ensino, mas de forma muito insuficiente, outros paises na mesma época fizeram mais e melhor. Demoraram décadas a sentir-se os efeitos economicos, mas chegaram. A educação não é o unico factor, mas é indispensável. Salazar tinha saudades de um portugal rural e para isso a escola primária chegava.

  60. Fernando S

    Vivendi,
    Efectivamente, “o inevitavel” podia ter seguido outros caminhos e acabado de outro modo.
    Podia ter evitado passar pelo “PREC” e pela “descolonização exemplar”.
    Podia ter evitado que em democracia os portugueses, uns mais do que outros, é certo, tivessem virado as costas ao rigor das contas publicas e à prevalencia da responsabilidade individual e colectiva (de paiis) e tivessem antes acreditado na mama do Estado Providencia e do endividamento que não é para pagar !
    Dito isto, a historia dos homens não acaba e nunca deixa de ser uma “tragi-comédia” !! 🙂

  61. ocni,

    A Wikipedia esá errada! É tendencioso quem fez o artigo sobre o Marquês de Pombal, e fede a revisionismo.

    O criador do ensino primário em Portugal foi o Marquês de Pombal. Este dizia que toda a gente deveria ter três anos de escolaridade, e muito fez para o fazer. Os jesuítas tinham cerca de 40 colégios em 1759 “no reino e seus domínios”. Um alvará de 28 de Junho de 1759 privou os jesuítas de ensinar. Este alvará criava, em cada bairro de Lisboa, uma aula com professor gratuita e livre. Na verdade, acabaram por ser criadas apenas oito classes devido aos percalços do pós terramoto.

    Em 6 de Novembro de 1772 foram criados lugares NO ENSINO SECUNDÁRIO para 358 escolas e no ensino primário para 479 mestres. Em boa verdade, houve em 1773 uma ampliação de escolas por pedido das autarquias.

    Por acaso estou muito bem informado sobre o período, para um romance que escrevi. Não pela Wikipedia. Não sou assim tão estúpido.

  62. povão

    Gostei e guardei .
    P.S.
    Em 1973 o rendimento médio dos portugueses era superior à média europeia (Alvaro Santos Pereira)

  63. ocni

    Não vi o que diz a wikipedia sobre o assunto, a minha informação depende do livro “Matemática, uma história de educação” de jorge Beuscu. Aí ele refere que realmente foram abertos 500 lugares para professores, mas como pagava pouco e mal, tanto que o responsável pela coisa só recebeu o 1º salário 6 anos depois, apareceram poucos candidatos válidos, vai daí toca a admitir mesmo os que tinham reprovado num exame de acesso. E assim ficamos com o ensino entregue a barbeiros, sapateiros, taberneiros, etc.
    Relatórios de inspetores do seculo 19 referem isso mesmo, a qualidade da maior parte dos professores na provincia era miserável.
    O livro de Jorge Beuscu refere também a formidável queda do nº de alunos na universidade, resultante da atrofia do ensino básico. Também refere qeu o marques modernizou o ensino na universidade, contratou professores estrangeiros notáveis, criou laboratorios, etc.
    mas se tiver fontes com a evolução dos nºs dos alunos do ensino básico ao longo desses tempos estou interessado em vê-los. No debate no rerum natura aquando do lançamento do livro ninguém contestou os dados apresentados no livro. pelo que tenho pesquisado sobre o assunto os dados são válidos.

  64. Fernando S

    povão : “Em 1973 o rendimento médio dos portugueses era superior à média europeia (Alvaro Santos Pereira)”

    Bom … trata-se certamente de uma confusão de leitura …
    O que Alvaro Santos Pereira escreve é que entre 1953 e 1973 o Pib per capita português cresceu a uma taxa anual média superior à média europeia durante o mesmo periodo.
    O que significa que durante aquele periodo o rendimento médio dos portugueses se aproximou da média europeia. O que é naturalmente positivo.
    Mas, mesmo assim, como mostra o grafico deste post aqui em cima, e como o proprio ASP refere no seu livro, o Pib per capita português em 1973 era ainda igual ou inferior (depende do critério) a 60% da média da UE.

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  68. ocni

    http://educar.no.sapo.pt/CRONOLS.htm

    1759:
    Em meados do século XVIII o número de alunos que frequentavam o ensino secundário, segundo alguns autores, rondaria os cerca de 25.000 alunos. Nos colégios jesuitas seriam 20 mil, e nos restantes nos colégios de outras ordens religiosas como os oratorianos.

    1850:
    – Os primeiros dados estatísticos credíveis sobre o ensino liceal público, confirmam a sua baixa frequência. No ano lectivo de 1849/1850, tinha apenas 2.780 alunos, sendo 1.357 dos liceus do continente, 1.078 das escolas anexas aos liceus e 346 das Ilhas.

    Ou seja quase 100 anos depois da destruição do ensino pelo Marquês de Pombal o número de alunos do ensino secundário estava reduzido a ~1/10 do que era antes.
    Não terá sido apenas o Marquês de Pombal a provocar tal destruição, em 1834 a extinção das ordens religiosas acabou de arrasar aquilo que o Marquês de Pombal deixou sobreviver.
    Está completado o quadro que provocou um inacreditável atraso do nível educacional de Portugal. Foi o “herói” nacional Marquês de Pombal que o provocou.

    entretanto vou encomendar isto (e lê-lo):

    História do Ensino em Portugal
    Desde a Fundação da Nacionalidade até ao fim do Regime de Salazar-Caetano
    de António Gedeão
    Edição/reimpressão: 2001
    Páginas: 962
    Editor: Fundação Calouste Gulbenkian
    ISBN: 9789723101737

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  70. João Martins

    Oh mentes iluminad..o IDH só começou a ser feito nos anos 90 certo..mas voces podem aplicar a formula para os indicadores dos anos 60 ou 70..hello?!?!?!?!?!??!?!?!

  71. Paulo

    Há que ter cuidado na análise deste tipo de gráficos sobretudo quando se compara com outros países.
    Há eventos importantes que não são comuns aos países em comparação e a Portugal, é perfeitamente visível os impactos da segunda grande guerra (na subida portuguesa) e do Marshall Plan (na redução portuguesa nos anos 50).
    Embora mais complicado, senão impossível, teria sido mais informativa a comparação com um país que não estivesse envolvido na segunda grande guerra nem na intervenção americana através do Marshall Plan.

  72. Carlos Guimarães Pinto..devia conseguir assimilar aquilo que lê. Pois o que eu escrevi foi que pode-se perfeitamente aplicar a formula para calcular o IDH criada nos anos 90, para outras décadas mais recuadas. Perdeu uma excelente oportunidade para me brindar com o seu silêncio.

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