Excerto de “Dias Contados” de Alberto Gonçalves (Diário de Notícias)
A verdade, escassamente lembrada, é que entre todos os críticos do Governo pouquíssimos estão preparados para assumir as críticas até às últimas consequências e lidar com um desagradável facto: ou sobem os impostos ou descem as prestações sociais e os empregos na administração pública. Dito de maneira diferente: ou há remendos ou há reformas. Ou ainda: ou há austeridade injusta ou há austeridade necessária. Mal por mal, eu preferiria a segunda hipótese. O Governo, inepto para abolir municípios, uma mera estação televisiva ou fundações e similares, prefere obviamente a primeira. E eis a escolha que temos. O resto, ou as exigências de “renegociação” (leia-se de anulação) da dívida, os gritinhos que reclamam a expulsão da troika e os palpites do dr. Soares, que anda por aí a propor a impressão de notas de banco, naturalmente não é para levar a sério.
Séria é a trapalhada a que chegamos, que uns abdicaram de resolver e os outros tentam empenhadamente agravar. Os cartazes que o PCP espalhou nas ruas pedem o fim do desastre. Supõe-se que para marcar a data do velório.
“O Governo, inepto para abolir municípios, uma mera estação televisiva ou fundações e similares, prefere obviamente a primeira”
AG sabe muito bem que essas medidas levam tempo, o que não temos, e mesmo assim representam uma gota de água no oceano da despesa pública. O governo bem tentou não subir impostos e foi direto ao âmago da despesa, que são os salários da FP, mas o TC não deixou. Não havia mais nenhuma alternativa com impato significativo e num período tão curto. Acho que o problema é que quando se vai aos bolsos das pessoas, elas não conseguem pensar direito.