Vazio partidário

Serviu a intervenção de Vítor Gaspar para ficarmos a saber…nada de novo. A maior novidade para o orçamento de 2013 já tinha sido aflorada nas declarações do Primeiro ministro Passos Coelho ao país.

Dizemos muitas vezes que é impossível chegar ao poder com mensagens liberais. Que para chegar ao poder os políticos têm de prometer benesses. Não foi o caso deste governo. O PSD ganhou as eleições com o discurso mais liberal desde sempre. Ainda hoje, e para fora do país, continua a ser usado esse discurso liberal. Passos Coelho ganhou o país e boa imprensa no exterior com este discurso. O discurso e as ideias liberais são populares. Talvez por razões práticas, talvez porque o Estado atingiu uma dimensão que sufoca a maioria das pessoas. As benesses já não compensam o que pagam directa e indirectamente. Independentemente das motivações o facto é ganharam as eleições com um programa que era explícito em relação ao aumento de impostos. Que era explícito sobre a orientação para a saída do Estado de vários sectores da Economia. Que era explícito sobre o remédio para o bizantinismo do Estado.

Um ano e meio de governação depois a lista de subidas de impostos é memorável. Não duvidaria que o mais liberal governo no discurso tivesses sido o que mais aumentou impostos. Isto demonstra que o liberalismo foi usado para ganhar eleições, que foi táctico e não convicto. Mostra também que se o discurso liberal ganha votos, não é simples de implementar em Portugal.

A minha interpretação das razões para termos chegado aqui é de que chegaram à conclusão que não poderiam implementar uma linha de redução real do peso do Estado sem afectarem demasiado clientelas, interesses e as estruturas do partido. Fizeram o fácil, vender activos com liquidez e reduzindo despesa em continuidade com o que tinha sido feito pelo PS anteriormente. Nas próximas eleições alguém vai acreditar na diferença entre PS e PSD? Da mesma forma que os portugueses mostraram maturidade ao apreciar um discurso liberal vão julgar esta coligação como não liberal.

As boas notícias são de que estão a criar um vazio partidário. Pode ser que seja o CDS a aproveitar-se desse vazio e o preencha, mas para isso terá de tomar posições firmes nesta altura, o que dado o famoso “interesse nacional” não parece provável. O surgimento de uma alternativa partidária liberal, para ter peso mediático dentro de 2 anos teria de aparecer já, o que também não parece provável. Fica um vazio partidário por preencher.

10 pensamentos sobre “Vazio partidário

  1. – “O discurso e as ideias liberais são populares”; não é verdade, pois o que é popular é apenas dizer que se não aumenta impostos: Quaisquer outras ideias liberais não são queridas pela população

    – “Mostra também que se o discurso liberal ganha votos, não é simples de implementar em Portugal”: o que ganha votos é ser oposição do Sócrates.

    -“Pode ser que seja o CDS a aproveitar-se desse vazio “: O CDS aproveita-se de todos os vazios e buracos em que puder entrar…

  2. XisPto

    Sem dúvida. O fim do estado empresário e dos interesses rendistas bem como a luta contra a corrupção generalizada são causas populares e sem disputa no mercado eleitoral, apesar de não ser difícil ver no espaço público actores que o capitalizam com sucessos esse vazio.

  3. Sinceramente, embora exista uma corrente liberal no seio do CDS-PP não qualificaria o CDS-PP, nem o seu líder, como liberais e julgo que a posição dúbia do CDS-PP radica fundamentalmente (exclusivamente) não em posições de princípio mas em preocupações de estratégicas (demarcar-se do PSD evitando o esmagamento do CDS em futuras eleições legislatiavas) e taticas (ganhar tempo e obter em sede de preparação do OE para 2013 algumas vantagens que permitam de algum modo salvar a posição em que se colocou ao declarar de forma tão prematura quanto incisiva a sua oposição a um novo agravamento da carag fiscal).

  4. Alexandre Gonçalves

    No nosso espectro político existe mesmo este vazio partidário.
    Eu sugeria um governo composto pelo colectivo Insurgente.

  5. paam

    Não sei se a criação de um vazio partidário é uma boa notícia. Nem considero que haja um vazio partidário mas sim um vazio político. Na 1ª República também se formou um vazio politico/partidário e este foi preenchido por uma longa ditadura. Esta nossa 2ª Republica está a seguir os mesmos passos e, se a situação não se alterar, sairá pela mesma porta. As semelhanças:

    – Crise económica e financeira: Check
    – Aumento do custo de vida: Check
    – Baixos salários: Check
    – Desemprego elevado: Check
    – Greves e manifestações: Check
    – Degradação dos serviços: Check
    – Instabilidade política: Check

    Se a situação se deteriorar seguir-se-ão:

    – Movimentos revolucionários, golpes de Estado e atentados à bomba:

  6. Ricardo G. Francisco

    André,

    Não se trata exactamente de esperança. Apenas a constatação de que é uma opção que têm e que existem pessoas no CDS que podiam levantar essa bandeira. O CDS tem a vantagem, por comparação com um partido novo, de não precisarem de se colocar já como os “mais liberais”.

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