No Fio da Navalha

O meu artigo para o jornal i de hoje.

Cultura de estado

A edição de Agosto da revista “GEO” tem uma reportagem sobre as cópias que os chineses fizeram de algumas cidades europeias e respectivos monumentos. Há povoações na China que se assemelham a Paris, outras a uma qualquer localidade na Holanda; ruas que podiam ser londrinas e até um centro comercial que se quis igual a Veneza. Porquê?

A primeira explicação estará no valor que na China se atribui à cópia. Ao contrário do que sucede no Ocidente, onde se premeia a originalidade, para os chineses é um feito conseguir igualar a obra de arte de um mestre. Mas há mais: De acordo com Zhu Yimin, um professor de Arquitectura de uma universidade chinesa, a culpa principal reside na Revolução Cultural de Mao. Esta, tentando apagar o passado, esvaziou os chineses do seu sentido crítico, retirando-lhes as referências. Por isso copiam estrangeiros e não os seus antepassados.

A situação é de tal forma espantosa que, e de acordo com o mesmo professor, os arquitectos não acreditam no quer que seja. Não têm uma linha de pensamento, um ponto de vista para mostrar. Quando comecei a ler a reportagem, temi que se reduzisse a mais uma tentativa barata de nos fazer crer que a China, à semelhança de Roma com a cultura grega, estaria a sugar a criatividade europeia. Felizmente, não. Ao que parece, da mesma maneira que a China reproduz o que o capitalismo tem de pior, as novas cidades chinesas, além de desocupadas, são mais uma ilustração do vazio que a cultura estatal consegue impor.

Um pensamento sobre “No Fio da Navalha

  1. O autor do artigo nunca deve ter estado na China e o seu conhecimento sobre o Império do Meio resume-se à loja de artigos chineses que há na sua vizinhança.
    Talvez a Revolução Cultural tenha tentado apagar o passado, do que duvido, mas se o tentou fazer falhou redondamente.
    Uma visita a Xian e aos seus guerreiros de terracota, a Beijing e à cidade proibida, a Lhasa e ao Potala ou mesmo, mais recente, ao Bund de Xangai que nos mostram o que era o capitalismo triunfante do Século XIX e inícios do XX, com uma colecção de edifícios espantosos e todos extremamente bem preservados ou ainda a Qingdao, a Hong Kong chinesa onde a herança arquitectónica alemã foi conservada e mantida, mostra-nos que a China cuida bem do seu passado. Ahh! E isto já sem falar em Macau.
    Aliás, basta ir ao site da Unesco e ver a quantidade de World Heritage sites que a China tem!

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