Público: “Crise na construção ameaça levar desemprego para os 20%”
Um keynesiano defenderá a intervenção estatal neste sector, numa linha de pensamento semelhante à seguinte:
“As medidas anti-cíclicas numa economia em recessão aproveitam o facto do desemprego ser alto e a capacidade industrial estar [subaproveitada] para repor a economia mais perto [do] seu potencial.”
Sem, no entanto, perguntar-se se existe mesmo esse potencial…
É que a alta taxa de desemprego não é indicativo de “capacidade industrial subaproveitada” mas, pelo contrário, aponta para uma má alocação de recursos. Considerem um simples exemplo: quando, muitas décadas atrás, o desemprego cresceu nas profissões ligadas à construção de carros-de-bois, qualquer defesa de “medidas anti-cíclicas” neste sector não seriam levadas a sério!
Por outras palavras, só existe “potencial” se houver procura no mercado que ainda não está a ser servida. A acontecer, certamente que, mais cedo ou mais tarde, haverá empresas privadas a fornecer esses potenciais consumidores. Ora, no sector da construção, tal como em muitos outros sectores, a procura foi, durante as últimas décadas, artificialmente empolada pelo Estado português (inúmeros “investimentos” públicos) e pelo Banco Central Europeu (baixas taxas de juro). Agora, não havendo suficiente procura neste sector, os recursos alocados a este (trabalhadores e empresas) terão de reconverter-se a novos mercados, processo que levará algum tempo. Este é, afinal, o propósito de uma recessão.
No artigo acima, o presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário, Reis Campos, “alerta” para que projectos de reabilitação urbana têm de arrancar brevemente para evitar o crescimento do desemprego no sector. Claro que a cada vez menor procura por imóveis não é facto que lhe interessa referir…
Um keynesiano, como aliás os consumidores e produtores associados de uma economia socializada e planificada, procurariam saber em que sectores poderia ser empregue essa mão-de-obra, começando por requalificar as pessoas, eventualmente com tentativas e erro do género Novas Oportunidades pelo caminho. Fazendo estudos de mercado pelo caminho, como qualquer empresa que se preze na ordem capitalista. E não deixando que os 1% continuassem a açambarcar a riqueza toda de uma sociedade que está desenhada para lhes continuar a dar o bolo todo. Entende?
«Público: “Crise na construção ameaça levar desemprego para os 20%”
Um keynesiano defenderá a intervenção estatal neste sector»
Pelo que eu sei da teoria keynesiana, diria que… não
(o keynesianismo não me parece muito adepto de apoiar “sectores”, já que a posição deles é que o desemprego é provocado por uma crise geral da procura, não por crises especificas de sectores especificos; a posição keynesiana é mais “atirar dinheiro para a economia de qualquer maneira – baixando impostos, aumentando subsídios, escondendo dinheiro em descampados onde brincam crianças, tanto faz – e esperar que o mercado faça esse dinheiro chegar aos sectores em crise”)
miguelmadeira : “o keynesianismo não me parece muito adepto de apoiar “sectores,…a posição keynesiana é mais “atirar dinheiro para a economia de qualquer maneira ;.. ”
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Mas também é tipicamente keynesiana a ideia de « atirar o dinheiro » preferencialmente para despesas que tenham um efeito multiplicador do investimento mais elevado e o sector da construção / obras públicas é precisamente recomendado por isso.
Os “projectos de reabilitação urbana”, pedidos pelo sector da construção, e a serem necessáriamente substancialmente co-financiados pelo Estado, respondem perfeitamente a este tipo de critério.
Fernando S,
confesso que não vejo como é que a construção civil tenha “um efeito multiplicador do investimento mais elevado”.
O dinheiro gasto em construção civil esvai-se em boa parte em materiais importados e em salários de trabalhadores muito pouco qualificados, que gastam aquilo que ganham em cervejas e pouco mais. Não vejo grande efeito multiplicador nisso.
Aliás, Portugal nos últimos anos fartou-se de investir em construção civil, e o efeito multiplicador disso está à vista: os imigrantes voltaram para as terras deles e pouco ficou.
Eu diria que efeito multiplicador elevado está em aciarias, estaleiros navais, produção de automóveis, e noutras produções industriais de elevado valor acrescentado e nível tecnológico. Não em construção civil.
Um Keynesiano que perceba minimamente de economia nunca teria aprovado a entrada no Euro e muito menos a uma taxa de cambio muito sobrevalorisada.
Mas depois da asneira feita o que faria um Keynesiano seria reduzir os impostos às empresas de bens transacionaveis, direcionar o credito publico para as empresas de bens transacionaveis, e no caso da construção civil apoiar investimentos no turismo ou nos transportes ferroviários, mas sempre numa perspectiva de equilibrar o mais rapido possivel a BTC.
No limite um Keynesiano preso neste Euro fantasista aumanteria os impostos nas importações, como por exemplo automoveis e petroleo, por conta da baixa nos custos do trabalho.
Uma outra opção inovadora pós-keynesiana seria emitir divida publica com uma clausula adicional, garantindo em caso de incumprimento que o valor nominal da divida seria sempre aceite para pagar impostos , cirando uma quase-moeda interna de forma a baixar os juros de refinanciamento .
Keynes implica uma economia auto-sustentável.
Nota : no caso de uma economia com moeda propria a taxa de câmbio variável equilibra a economia muito antes do que aconteceu em Portugal, impedindo desiquilibrios na BTC durante tanto tempo.
Luís Lavoura,
Sopunha ser claro que quem sustenta esta tese é o keynesianismo e não eu… Se não foi o caso fica aqui o esclarecimento.
A ideia dos keynesianos é a de que as despesas na construção teem um efeito maior, directamente sobre o emprego e indirectamente sobre as propenções ao consumo e ao investimento (menos poupança retida temporariamente fora do circuito do consumo). No final o aumento directo do emprego e o estimulo na procura efectiva agregada deve ser superior ao que aconteceria se as despesas se dirigissem directamente para o consumo ou para outros sectores.
Tudo isto é naturalmente discutivel mas não me compete fazer a defesa das teses keynesianas.
O que é certo é que, com maior ou menor efeito multiplicador, as despesas publicas financiadas com déficit e divida podem até aumentar o emprego e a produção a curto prazo mas acabam por ter efeitos nefastos a mais longo prazo.
De qualquer modo, eu concordo com o Bz quanto ao facto de o investimento no sector da construção nas ultimas décadas ter resultado em parte de uma politica de tipo keynesiano que empolou artificial da respectiva procura por parte do Estado e se traduziu numa deficiente alocação de recursos no conjunto da economia.
Penso que o entusiasmo keynesiano pelas obras públicas não tem propriamente a ver com isso, mas mais com uma atitude de “temos que gastar dinheiro de qualquer maneira; portanto, mais vale gastar o dinheiro em obras públicas do que distribuindo às crianças nos parques infantis, porque assim, além de todo o papel de estimulo à economia ainda ficamos com o bónus de mais umas pontes e estradas (matamos dois coelhos de uma cajadada)”
A questão é como o #8 a põe, dado que os keynesianos, sendo progressistas, podem usar um sistema de impostos progressivos taxando os ricos para criar mais propriedade a deixar mãos do Estado. Deixar dinheiro nos parques infantis iria invariavelmente transferir a maior parte desse dinheiro para mãos privadas dado que iriam provavelmente ser gastos em bens consumíveis. É uma espécie de comunismo com pezinhos de lã, que a burguesia que continua a mandar no Estado não deixa acontecer, com raras excepções como o grupo espírito santo que vai abocanhando o sistema nacional de saúde.
9 – acho que há aí uma certa confusão entre o keynesianismo e outras ideias que costumam ser defendidas pelas mesmas pessoas que defendem o keynesianismo mas sem uma grande ligação lógica directa.
Keynesianismo signifca na sua essência aumentare a eficácia do sistema capitalista para o máximo possivel, usando a tecnologia e os conhecimentos existentes.
É o que eu chamo de capitalismo racional ou capitalismo rico, onde todos podem aspirar a ser ricos.
Os pobres não consumem, por isso não são uteis ao capitalismo racional e o melhor é tranformá-los em classe média.
miguelmadeira : #8. “Penso que o entusiasmo keynesiano pelas obras públicas não tem propriamente a ver com isso, mas mais com uma atitude de “temos que gastar dinheiro de qualquer maneira; portanto, mais vale gastar o dinheiro em obras públicas do que distribuindo às crianças nos parques infantis, porque assim, além de todo o papel de estimulo à economia ainda ficamos com o bónus de mais umas pontes e estradas”
Bom, nesta frase há no minimo uma contradição lógica entre dizer que “temos que gastar dinheiro de qualquer maneira” e dizer que “mais vale gastar o dinheiro em obras públicas do que distribuindo às crianças nos parques infantis” !… Afinal não é “de qualquer maneira”. Mas deixemos a lógica de lado.
O que importa é perceber como é que os keynesianos vêm a relação entre mais despesa publica financiada por divida e o estimulo à economia.
Desde logo, o aumento da despesa alimenta directamente a procura efectiva. Deste único ponto de vista, tanto faria onde é gasto o dinheiro. É o “gastar de qualquer maneira” invocado pelo Miguel.
Mas a verdade é que os keynesianos se preocupam também com a eficiência final das despesas públicas e por isso não é indiferente saber onde o dinheiro é gasto.
Não me parece que “o bónus de mais umas pontes e estradas” a que se refere o Miguel seja uma verdadeira preocupação dos keynesianos. Outro tipo de despesas, inclusivé de consumo, teriam outros “bónus”, mesmo “sociais”, que poderiam ser igualmente justificados.
O que mais importa é que aquilo que se faça tenha uma maior eficiência em termos do estimulo da economia.
E é aqui que entram os diferentes multiplicadores (consumo, investimento, etc) que são inseparáveis das análises e das receitas de política económica keynesianas.
As politicas de tipo keynesiano são diversas (monetária, orçamental, fiscal, etc). Não se podem naturalmente resumir ao mero investimento em obras publicas.
Mas a verdade é que esta componente é central e específica do keynesianismo precisamente por se considerar que este tipo de despesas tem um efeito mais imediato e mais multiplicador na procura efectiva.
O próprio Keynes chegou a escrever (cito de memória e não me lembro onde foi mas as palavras são certamente quase as mesmas) : “Num periodo de desemprego elevado, as obras públicas, mesmo que tenham uma utilidade duvidosa, podem render muitas e muitas vezes aquilo que custam.” O que, do seu ponto de vista, não se verifica com muitos dos outros tipos de despesas.
Neste aspecto há efectivamente uma diferença entre Keynes e muitos outros keynesianos, sobretudo da corrente mais intervencionista que foi dominante durante as primeiras décadas do pós 2a Guerra Mundial.
Keynes considerava que as o investimento do Estado em obras públicas deveria ser limitado na dimensão e no tempo e não deveria ser uma substituição do investimento privado no sector. O objectivo era o de lançar um primeiro sinal de um futuro relance da procura e correspondente aumento de preços favorecendo assim as antecipações dos investidores privados. No fim de contas, o efeito multiplicador agiria exclusivamente através do investimento privado. De resto, Keynes era particularmente contrário a investimentos estritamente públicos de rentabilidade duvidosa a longo prazo.
Este tipo de abordagem voltou a ganhar mais peso na fase dos post-keynesianos dos anos 70 e 80 do século passado, que de algum modo, em confronto com a macro-economia dos “novos clássicos”, procuraram suprir a falta de fundamentos micro-económicos nas análises de inspiração keynesiana.
Mas os “velhos” keynesianos mais intervencionistas não desapareceram e recuperaram até algum ânimo e influência com a crise que rebentou em 2008.
“efeito multiplicador ” no sentido Keynesiano é uma baboseira.
12 – “Bom, nesta frase há no minimo uma contradição lógica entre dizer que “temos que gastar dinheiro de qualquer maneira” e dizer que “mais vale gastar o dinheiro em obras públicas do que distribuindo às crianças nos parques infantis” !… Afinal não é “de qualquer maneira”. Mas deixemos a lógica de lado.”
Acho que não há contradição – pode-se achar que temos que gastar 300.000 euros em qualquer coisa (seja lá o que for) para estimular a economia, e, ao mesmo tempo, achar que se essa qualquer coisa for algo com utilidade intrinseca (p.ex., arranjar estradas em vez de pagar subsidios de desemprego) ganha-se pelos dois lados (no primeiro caso temos uma economia estimulada, e no segundo uma economia estimulada e estradas boas)
Carlos Novais,
O efeito multiplicador é simplesmente o facto de que o investimento publico é pago ao sector privado (empreiteiros) que por sua vez pagam aos seus empregados, que por sua vez vão comprar produtos e serviços ao sector privado, aumentando assim o rendimento do sector privado.
Num regime de moeda-fiat não existem restrições financeiras ao estado, apenas restriçoes reais que são demonstradas ou por uma inflação elevada ou por um deficit corrente.
Os Keynesianos que percebem o que estão a fazer são contra inflações elevadas ou deficits correntes elevados durante periodos prolongados (vários ano).
Mesmo num regime de moeda fixa, como é o Euro em grande parte, pode ser necessário investimento publico (deficit publico) que compense uma excessiva poupança.
Aliás os neotontos que criaram este Euro fantasista previam 3% de deficit máximo , que é precisamente o valor médio do crescimento económico nas ultimas décadas. Ou seja o deficit de 3% criaria a massa monetária para acomodar esse crescimento
“O efeito multiplicador é simplesmente o facto de que o investimento publico é pago ao sector privado (empreiteiros) que por sua vez”
Ah, e uma qualquer despesa privada não tem efeito “multiplicador”?
«Ah, e uma qualquer despesa privada não tem efeito “multiplicador”?»
Em principio, terá.
Quero dizer, se a despesa pública tiver “efeito multiplicador”, a privada também o terá (já que o mecanismo teórico é exactamente o mesmo).
«Aliás os neotontos que criaram este Euro fantasista previam 3% de deficit máximo , que é precisamente o valor médio do crescimento económico nas ultimas décadas. Ou seja o deficit de 3% criaria a massa monetária para acomodar esse crescimento»
Só seria assim se a quantida de notas em circulação fosse aproximadamente igual ao produto anual (da última vez que olhei para estatisticas dessas, era para aí 5%, pelo que um deficit de 3%, se fosse todo financiado com emissão de moeda, levaria a um crescimento anual da massa monetária de 60% ao ano; com um crescimento económico de 3% ao ano, teriamos uns 55% de taxa de inflação).
Carlos Novais,
Numa economia em recessão o sector privado em geral contrai o consumo e o investimento por precaução, ou seja aumenta a poupança.
repare que em r«geral na UE tem existido deficits publicos ao longo de décadas, o que manteve o consumo sempre elevado.
Poderá se dar o caso que, caso os privados em grande parte tenham uma riqueza acumulada consideravel ou uma divida privada reduzida, uma descida significativa da taxa de juro seja suficiente para retomar o crescimento do consumo. É o tal caso de 1921.
Miguel madeira,
Um crescimento do PIB de 3% exige no minimo 3% de crescimento da base monetária , mas a base monetária inclui notas e reservas .
As notas são reservas “levantadas” do sistema bancário. A quantidade de notas em circulação é muito inferior á base monetária, normalmente é de 3 a 5%. Mas a base monetária depende da taxa de juro de referencia praticada pelo banco central.
Na verdade um crescimento de 3% deve requerer um deficit superior a 3% porque a propensão para o consumo normalmente reduz-se com o aumento do rendimento.
Não sei se conhece o mecanismo monetário moderno :
a) estado gasta 100 milhões a comprar ouro (arranque do sistema) ao sector privado e emite 100 milhões de moeda
b) estado emite divida de 90 milhões o que faz subir os juros . Ficam 10 milhões em moeda (os famosos 10% para iniciar o processo bancário).
c) Banco central compra divida até ajustar os juros ao pretendido. base monetária aumenta por exemplo para 15 milhões.
d) estado gasta os 90 milhões gradualmente o que faz descer os juros. Estado cobra impostos de 85 milhões o que faz subir os juros.
e) estado emite divida de 95 milhões gradualmente e os juros sobem. Banco Central compra divida para ajustar os juros.
f) ciclo infinito , com o banco central a criar moeda (base monetária) para acomodar deficit à taxa de juro predeterminada.
Miguel Madeira,
O esclarecimento adicional que dá aqui em cima confirma que eu até tinha percebido bem o que quiz dizer com a sua frase.
Mas continuo a ver uma contradição entre dizer que se tem de gastar dinheiro de qualquer maneira (quer dizer que não interessa onde se gasta) e dizer depois que é preferivel gastar numa coisa em vez de gastar noutra (quer dizer que já não é de qualquer maneira, há uma maneira que é melhor do que outra).
Mas, como já referi, esta questão da “contradição” não é em si relevante para a discussão.
Retenho sobretudo que o Miguel reconheçe que os keynesianos preferem gastar mais em obras públicas do que noutras coisas (como seja distribuir dinheiro ou bens às crianças nos parques infantis ; mas suponho que se referia igualmente a outras aplicações).
Acho que tem razão mas não concordo é com a sua ideia de que para os keynesianos a razão para preferirem gastar mais em obras publicas em de vez de em outros fins tem sobretudo a ver com um suposto maior valor de uso dos bens assim produzidos.
Repare que não pretendo sequer aqui discutir se para os keynesianos, e para outros, o Miguel e eu incluidos, esses bens podem ter ou não um valor de uso mais elevado do que o valor de uso dos bens que seriam comprados e consumidos pelas crianças nos parques infantis (embora esta comparação me pareça algo forçada).
O que penso é que não é essa a razão principal pela qual os keynesianos preferem gastar em obras publicas ; é antes, e precisamente, o facto de estas despesas terem um efeito mais eficiente do que outras no estimulo da economia.
Repito que, dizendo isto, não estou de maneira nenhuma a defender esta tese keynesiana. Já o disse aqui em cima, se é que alguém ainda tinha alguma dúvida…
Apenas me parece que é importante não caricaturar em demasia o keynesianismo.
Mesmo para melhor o criticar.
“Um crescimento do PIB de 3% exige no minimo 3% de crescimento da base monetária ”
Nenhum crescimento real precisa de crescimento da quantidade de moeda. A quantidade de moeda poderia até ser fixa. Os preços nominais baixariam como descem de resto em termos reais e dcomo se pode observar empiricamente em períodos de grande crescimento e estabilidade monetária quantitativa.
carlos novais,
se a base monetária não crescer com o PIB os preços descem mas os salários tendem a ser mais rigidos, o que vai aumentar o desemprego e por consequência o PIB futuro.
Além disso as dividas e outros contratos são em valor nominal , o que prejudicaria os empreendedores e outros devedores que passariam a ter uma divida real superior.
Não existem nenhum periodo de tempo relevante com base monetária fixa e com crescimento económico significativo que não trouxesse em seguida recessões profundas e desempego elevado. No Sec. XIX e inicio do sec. XX a base monetária cresceu com o aumento da produção do ouro e prata e com o FRB.
Só os puritanos podem defender um sistema monetário que prejudica o capitalismo e o progresso da humanidade.
E a recuperação do degradado parque habitacional não é uma variavel a incluir na equação ?
“o keynesianismo não me parece muito adepto de apoiar “sectores” (…)”
Miguel Madeira, não parece ter sido essa a opinião do “keynesiano” Paul Krugman para fazer face à crise bolsista do início do século, quando defendeu a redução das taxas de juro (pelo FED) para incentivar o mercado imobiliário. O que veio a acontecer…
“Uma outra opção inovadora pós-keynesiana seria emitir divida publica com uma clausula adicional, garantindo em caso de incumprimento que o valor nominal da divida seria sempre aceite para pagar impostos , cirando uma quase-moeda interna de forma a baixar os juros de refinanciamento .”
Paulo Pereira, então quando um Estado não conseguisse reembolsar essa dívida pública, aceitava, como pagamento de imposto, um título sem valor, agravando ainda mais o orçamento estatal, via redução da receitas??! Inovador, sim… Mas opção realista, não!
“no caso de uma economia com moeda propria a taxa de câmbio variável equilibra a economia muito antes do que aconteceu em Portugal, impedindo desiquilibrios na BTC durante tanto tempo.”
Paulo Pereira, para uma situação deficitária das contas do Estado isso traduz-se no seguinte: a classe política pode “taxar” os seus cidadãos via desvalorização da moeda (inflacionando a massa monetária) ao invés de reduzir despesa e/ou aumentar receita (via orçamental, a que agora Portugal está obrigado). É, politicamente, mais fácil de implementar. Mas os efeitos sobre o valor real do património dos cidadãos são equivalentes.
“E a recuperação do degradado parque habitacional não é uma variavel a incluir na equação ?”
eborense, como tentei explicar no post, actualmente não existe procura suficiente no mercado imobiliário (se houvesse, muitos privados estariam aí a investir). O Estado financiar esse aumento do parque habitacional teria como consequência a depreciação, ainda maior, do valor das casas já à venda no mercado.
“Miguel Madeira, não parece ter sido essa a opinião do “keynesiano” Paul Krugman para fazer face à crise bolsista do início do século, quando defendeu a redução das taxas de juro (pelo FED) para incentivar o mercado imobiliário. “
Pelo pelo que leio aqui, dá-me a ideia que o argumento dele não era tanto “precisamos de uma bolha imobiliárias para estimular o sector da construção” mas sim mais algo como “precisamos de uma bolha imobiliárias para as famílias, vendo a sua riqueza aumentar devido à valorização das casas, porem-se a fazer despesas e assim aumentar a procura global” (não é muito claro qual das posições é, mas, pelo contexto da conversa, parece-me mais a segunda).
Miguel Madeira, uma bolha imobiliária deriva de um aumento da procura de casas que, se não for temporária, implicará sempre uma resposta do lado da oferta, beneficiando portanto o sector da construção. 😉