À crise económica que vivemos há mais de dez anos, juntou-se a crise política dos últimos dois meses. É da máxima importância não esquecermos esta última, o quanto ela nos assustou, mesmo que das próximas eleições saia uma maioria de governo. Quer queiramos quer não, o sistema de governo não respondeu positivamente à crise económica, pois que a queda do governo, foi o único modo que encontrámos para buscar soluções diversas daquelas que estavam a ser por ele seguidas.
A leitura deste artigo no WSJ, sobre o referendo que teve lugar há semanas no Reino Unido, leva-nos a concluir um ponto indispensável: é a confiança no funcionamento da democracia britânica que impede a degradação de uma crise financeira já de si grave. É um Parlamento forte, com deputados directamente escolhidos pelos eleitores, a escrutinar as políticas de um governo, que o torna estável durante quatro anos. Mesmo quando em coligação; mesmo quando os dois partidos que formam essa coligação apoiam votações diferentes num referendo. É a legitimidade dos deputados que faz as maiorias e sustenta uma coligação como a actual que governa o Reino Unido.
Não quer isto dizer que tenhamos de escolher um sistema parlamentar para conseguirmos estabilidade política. Teremos, isso sim, e o quanto antes, de tirar ilações da experiência que estamos a viver e que nos impediu fiscalizar, controlar e, em última instância, mudar a orientação errada de um governo, sem recurso a ajuda externa e consequente queda desse mesmo governo. Nos forçou à realização de novas eleições a meio de uma legislatura. É, pois, indispensável que a mudança que devemos assistir nos próximos anos, não seja apenas económica, mas também política.
Os países desenvolvidos não têm solução na actual lógica económica Mundial.
A democracia já não conduz ao crescimento e o crescimento passou a ser uma ilusão nestes países.
A mudança terá de ser tão substancial que não sei se iremos lá por nós próprios.
Provavelmente apenas depois da rotura. Pura e dura…
Umas notas:
DEMOCRACIA
http://existenciasustentada.blogspot.com/2011/01/17-democracia.html?utm_source=BP_recent
DESENVOLVIMENTO
http://existenciasustentada.blogspot.com/2010/11/6-desenvolvimento.html?utm_source=BP_recent
Um convite à calmaria e á poesia
http://lmmgarcia.wordpress.com/2011/05/25/madrugada/
Será que Portugal já tem massa crítica para ter um sistema parlamentar como o do Reino Unido? Para que esse sistema resulte é preciso que os deputados tenham qualidade. Para isso os partido têm de ter uma base militante com quadros de qualidade técnica e intelectual suficiente e que tenham a sua vida profissional fora e independente do Estado.
Por exemplo, a militância do partido Conservador é constituída pela burguesia. Os membros do governo britânico são aristocratas (como David Cameron e George Osborne) ou homens e mulheres que enriqueceram fora da política. Assim é “fácil” aos “Tories” defenderem um política de cortes na despesa do Estado. Como também não dependem do partido ou do Estado, os deputados conservadores apoiam também naturalmente tal política (já os trabalhistas não, porque são essencialmente um partido de sindicalistas e funcionários públicos).
Algum partido reúne condições tais em Portugal? Talvez só o CDS, mas tem pouca implantação nacional por comporação com PSD e PS e, de qualquer modo, a adesão aos partidos em Portugal não se faz pelas mesmas razões que no Reino Unido. Faz-se para obter contratos ou empregos no Estado, por isso um partido que não tem isso para “distribuir” é pouco atractivo.
AAA- Apoiado. “… e que nos impediu fiscalizar, controlar e, em última instância, mudar a orientação errada de um governo …”.
Se não se corregir este sistema (muito pouco) democrático, nada impede que este desatre torne a acontecer, assim que saírem de cá os fiscais da “troika”. 5 anos?.