Centralização: o preço europeu para a resolução da crise

A incapacidade de um estado soberano, como é o caso do grego (e quem sabe também do português), de lidar com as suas contas públicas de forma conveniente, ao ponto de necessitar de planos de salvação da UE e do FMI, pode traduzir-se em mais um sério golpe no conceito de soberania dos estados. Há já quem fale em atribuir mais poderes a Bruxelas e na criação de um governo de carácter económico para que se evitem novos sustos. Junte-se ao falatório a força dos factos e recordemos ter sido Sarkozy quem pressionou Sócrates a adiar os investimentos públicos. Na verdade, tudo tem um preço. Um preço alto que não visa apenas evitar défices futuros. O que esta crise demonstra à exaustão é o quanto a Europa mudou nos últimos anos. Não é apenas o cepticismo da Sra. Merkel em emprestar dinheiro à Grécia, mas o facto de ter consigo grande parte dos alemães e ser a Alemanha o país com mais reservas nesta matéria. A Alemanha ‘motor do projecto europeu’ já era. É coisa do passado, não mais do presente, menos ainda algo com que se possa contar no século XXI.

Acrescente-se a sempre importante divergência cultural entre os vários países europeus que, não é que se tenha acentuado, mas que passou a ser encarada de outra forma. Hoje, o que fere os alemães (e demais povos nórdicos) não é a catita desorganização dos povos do sul. O problema é que a Alemanha está escandalizada com a forma displicente com que os países mediterrânicos lidam com o dinheiro. Como o gastam, o não respeitam, não cuidam dele, não lhe atribuem valor. Basta lermos a ‘A ética protestante e o espírito do capitalismo’ de Max Weber para percebermos o fosso que nos marca e esforço que temos de fazer para que não nos divida ainda mais. De agora em diante já não lidamos com pequenas crises, ligeiras diferenças, que se apagam com regulamentos. A factura quando chegar não terá apenas muitos zeros. Vai ser também política.

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