Socialist delusion

kafka

Escreve o Joaquim Couto no Portugal Contemporâneo

O capitalismo moderno, assente na propriedade privada, na livre-iniciativa, nos mercados, na concorrência e num sector financeiro independente, não funciona em Portugal. Era bonito o sonho, pá! Mas acabou-se, acordamos e constatamos a realidade.

 

O que às vezes entristece é ver liberais (ou os que dizem que o são) adoptar a retórica e a linguagem socialista. A ver: capitalismo, desde pelo menos Marx que o inventou, não é assente em nada disso, capitalismo é só a propriedade privada dos meios de produção, mais nada. O resto é mercado livre. E sendo assim, onde tem andado o mercado livre em Portugal? É que eu não dou por ele. O que existe é o que os americanos chamam crony-capitalism, um sistema em que os meios de produção sendo nominalmente privados são na realidade condicionados, decididos e orientados pelo Estado e por quem o gere episodicamente. Mercados? Quais mercados? Os dos preços administrativamente fixados (ver Bancos) ou quando não o são, via concessões e protecção a interesses especiais como é o caso da GALP ou da EDP? Qual concorrência? A que põe a ASAE, o Fisco e todo o poder do estado em cima das PME impedindo-as de crescer e combater os instalados? Qual sector financeiro independente? O que há décadas vive de legislação até fiscal que o favorece, o que financia Partidos e interesses espúrios ligados à captura do estado? Um bom exemplo é o BCP. De um Banco revolucionário e que modernizou sozinho todo o sistema financeiro, tornou-se propriedade partidária de facto à custa da única vez que se deitou na cama com o Governo e fez um favor a Guterres, Sousa Franco e Vítor Constâncio, sabe-se lá em troca de quê.

O envolvimento patético dos “capitalistas” na ruína do País, a falência das grandes empresas e o compadrio descarado, assim como o desrespeito total pelos pequenos acionistas e pela poupança privada, demonstram o óbvio: o capitalismo não cai bem connosco.

Qual envolvimento patético? Há 390 mil empresas em Portugal, 390 mil proprietários de meios de produção. É capaz de afirmar quantos destes 390 mil estão envolvidos na ruína do país? Veja lá bem quem são, onde, como e quando esses seus “capitalistas” se envolveram na ruína do país e quem é o Deus Ex-Machina deles todos. E quando o perceber, falaremos então de capitalismo, mercado livre e Portugal.

Para já fico por aqui e quanto à conclusão do Professor Pedro Arroja (por quem tenho grande apreço e respeito) vale o que vale e é muito pouco nesta altura, holismos não costumam dar grande resultado e normalmente dão em tragédias. Continuo a considerar que ele está a percorrer um círculo e há-de voltar ao sítio de onde partiu, é uma questão de tempo.

5 pensamentos sobre “Socialist delusion

  1. LV

    Socialist Delusion, indeed! Profundamente enraizado no aparato intelectual e político. E não só por cá.
    Daí os círculos e mais círculos. Tantos quantos forem necessários para fazer esquecer as premissas erradas de que se partiu. E, assim como assim, ninguém repara neles.

    LV

  2. vortex

    depois do bpn e do bes quem é o ‘freguês que se segue’.

    ‘a ordem é rica e os frades são poucos’

  3. lucklucky

    É injusto que a RTP não convide agora Salgado para opinar sobre o sistema bancário quando contratou Sócrates para falar de política.

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