Multa: a continuação da política fiscal por outros meios

O pacato cidadão que circule de carro numa cidade portuguesa por estes dias depara-se com um espectáculo notável: récuas de agentes da autoridade, em cada esquina (normalmente vias de grande circulação), incomodam uma multidão de pacatos cidadãos pacatamente dirigindo-se de carro para o emprego. É provável que quanto mais caiam as receitas fiscais mais se multipliquem estas operações stop, na esperança de umas migalhas para o saco roto do Orçamento.

A balbúrdia no trânsito que provocam, o tempo que fazem perder devem colocá-las na mesma política de estímulo à produtividade em que se incluíram a supressão de feriados e da tolerância de ponto do carnaval. Deve ser isto a opção estratégica de apoio ao sector dos bens transaccionáveis.

14 pensamentos sobre “Multa: a continuação da política fiscal por outros meios

  1. Ricardo Arroja

    Pois é Luciano….aqui no Porto estão permanentemente nas rotundas do Castelo do Queijo e da Praça do Império à caça da multa, precisamente, onde sabem que existe poder económico para as pagar. Enfim, correr atrás dos ladrões é que dá muito trabalho e não dá dinheirinho.

    Um abraço

  2. Luís Lavoura

    É… os agentes da autoridade só deveriam incomodar os pacatos cidadãos que, aos fins de semana, se dirigem pacatamente para os seus locais de descanso, que circulam pacatamente pelas estradas do Alentejo, etc. Os cidadãos que habitam Lisboa e o Porto e que utilizam o carro durante a semana deveriam ser eximidos desses controles. Ficariam imunes.
    Se a situação fosse como o Luciano gostaria que ela fosse, um criminoso já saberia como fazer: posso conduzir sem carta, desde que seja só à hora de ponta; posso transportar droga no carro, desde que seja em Lisboa ou no Porto; posso conduzir com os pneus carecas, desde que seja a ir para o trabalho; etc.

  3. Luís Lavoura

    Se a multa é uma forma de política fiscal, então temos que reconhecer que, em Portugal, os impostos são extremamente leves: em Portugal a quantidade total de multas de trânsito é minúscula comparada com países como Espanha, Itália, etc.

    Só na cidade de Madrid paga-se muito mais multas de trânsito do que em Portugal inteiro.

    (Dados concretos no blogue A Nossa Terrinha, numn post recente.)

  4. António Ferreira

    Pior que isso é virem atrás do salário. Este mês já pago mais 0,5% de IRS e fiquei a saber hoje que depois de preencher a declaração de IRS, provavelmente vou ter que lhes dar mais uns trocos. Tudo porque no ano que passou fui um menino bem-comportado e recebi mais de 2 salários de prémio pelo meu bom-desempenho. O mais escandaloso disto tudo é que no ano que passou, nunca estive doente, não comprei nenhum medicamento e as únicos serviços públicos que usei foram as estradas e a iluminação pública. Já agora, o meu salário é de 750 euros Brutos (uma ninharia) e mesmo assim, num ano de trabalho dei ao Estado mais de dois salários, não contando com os descontos feitos pela entidade patronal. Começo-me a fartar deste Estado de merda que só me rouba e não me deixa viver a minha vida em paz!

  5. Luís Lavoura

    Já se deu ao trabalho de reparar quem é que essas brigadas de cobradores de impostos privilegiam?
    São apenas e quase exclusivamente viaturas comerciais, cujos condutores são multados pelos motivos mais absurdos que se possa imaginar.
    Como por exemplo, faltar a guia de remessa de materiais sobrantes duma instalação elétrica…
    Facto que duas empresas que colaboram comigo passaram a resolver de modo diferenciado:
    -Uma deita tudo para o caixote de lixo mais próximo do local da obra.
    -Outra já tem uma lista feita, com a descrição dos materiais transportados, o mais ridícula possível, e tudo cotado por mais ou menos 50 cêntimos.
    E não é que deixaram de apanhar multas por esse motivo ?…
    E nunca testemunhei nenhuma operação em Lisboa a horas de ponta ou depois das 18h.
    Mas posso estar enganado…
    .

  6. “Só na cidade de Madrid paga-se muito mais multas de trânsito do que em Portugal inteiro…”

    De trânsito, certo?
    E quantos habitantes é que tem Madrid?
    .

  7. Luís Lavoura
    Você é curioso
    Até com este Governo (que não é da sua cor), você aprecia a intervenção autoritária do Estado na vida das pessoas?
    Eu não me dei ao trabalho (porque também não tive tempo) de ir verificar o OGE de 2012.
    Mas num dos OGE de Sócrates, descobri que consideravam como receitas do OGE, o montante previsional de multas de trânsito, num capítulo de receitas extraordinárias.
    Expressei a minha estupefação a quem de direito, mas não consegui uma resposta coerente.
    É que na minha vida profissional, nos reorçamentos das obras, nunca me passaria pela ideia, de prever lucros com trabalhos extraordinários.
    Aliás, nem me deixavam considerar previsíveis ganhos, com o processo de erros e omissões.
    Agora um Orçamento de Estado pode prever, como receita, as multas que se vão aplicar aos Cidadãos?
    Então de repente não podemos passar a ser todos muito bem comportados e não praticarmos nenhuma infração de trânsito ?
    Se o Gasparzinho fez isso, baixa já 95% da simpatia que sinto por ele…
    .

  8. Marco

    Não sei porque carga d’água meteram essa imagem.

    Quanto às actividades das autoridades é o sinónimo de uma autoridade em decadência cada vez maior e mais corrupta. Vê-se bastante nos países africanos … estes postos de controle.

  9. Luís Lavoura

    Mentat,

    “você aprecia a intervenção autoritária do Estado na vida das pessoas?”

    Claro que não. Mas aprecio que condutores com os pneus carecas, os farois avariados, ou sem carta, sejam identificados e detidos, quer estejam a conduzir na cidade à hora de ponta, quer estejam a conduzir num descampado ao fim-de-semana.

  10. Luís Lavoura

    Mentat,

    Madrid tem um terço dos habitantes de Portugal. Na estatística que eu vi, se bem me lembro, são cobradas em Madrid multas de tráfego em valor para aí duas vezes superior a Portugal inteiro.

    E isto, note-se, é num país com uma cultura similar à nossa. Não é numa Alemanha nem numa Suécia, onde a polícia é, calculo eu, bem mais estrita.

  11. Luís Lavoura,

    “Claro que não. Mas aprecio que condutores com os pneus carecas, os farois avariados, ou sem carta, sejam identificados e detidos, quer estejam a conduzir na cidade à hora de ponta, quer estejam a conduzir num descampado ao fim-de-semana.”
    Sabe bem de mais que esses nem são parados. Quem é parado é quem tem aspecto de ter dinheiro para pagar multas. É cada vez mais uma caça à multa/carteira. Pelo menos aqui no Porto.
    Já estive mais longe de esbofetear um polícia ou um qualquer estadistazeco que me venha aos bolsos.

  12. Nuno B. M. Lumbrales

    É verdade qua a caça à multa anda aí, e em força.
    Mas pelo menos, sempre cobrirá parte dos custos das polícias, e isso é menos pressão sobre as receitas ordinárias do Estado.
    Grão a grão, enche o Orçamento o papo…
    E o resultado desta «tática» não deve ser assim tão negligenciável quanto isso, pelo menos à escala das contas da PSP e da GNR.
    Com sorte, talvez a BT passe a dar lucro!!!

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