Ainda sobre o jornalismo e o mundo que temos

Nordine Amrani e Gianluca Casseri trouxeram morte, caos, terror e destruição de vidas. Acabaram por escolher a morte como destino idêntico para si próprios.  A avaliar, pelas duplicidades no tratamento jornalístico, as semelhanças acabaram na morte dos facínoras. Mas não estão sozinhas. As autoridades belgas, apressaram-se a confirmar o acto isolado de Amrani. E por essa razão, justificam,  não se tratou de um acto terrorista ou sequer de um atentado. Os três mortos e os 121 feridos da conta de Amrani não contam para este balanço. São colocados noutra coluna do balanço. Como sintetiza David Levy, “em Florença o assassino é branco e europeu, em Liège o assassino atacante é magrebino. Em Florença a culpa é do assassino branco de extrema-direita, em Liège a culpa é de quem não tratou do foro psiquiátrico do magrebino. E assim sucessivamente.” Os jornais  pouco mais são que o reflexo e o produto do mundo em que vivemos.

13 pensamentos sobre “Ainda sobre o jornalismo e o mundo que temos

  1. João Branco

    Existe o pequeno pormenor de que num caso há escolha explicita de vitimas e exposição publica de motivações políticas, mas claro que isso não conta para nada, não é? A única diferença deve ser mesmo a vontade do tratamento diferenciado por parte dos jornalistas…

  2. ruicarmo

    Entramos no reino do fantástico. Quando um facínora faz explodir um autocarro em Londres, destroi parte do aeroporto de Madrid e um outro ataca uma escola para meninas no Afeganistão, qual é o grau da escolha de vítimas?

  3. João Branco

    Vamos a ver: num caso há alguém que explicitamente ESCOLHE quem deve ser atacado por razões politicas/raciais (e de acordo com uma ideologia que defendeu publicamente), e no outro caso temos alguém que mata indiscriminadamente, sem qualquer justificação politica/racial prévia ou posterior. Será que sou só eu que estou no reino do fantástico ao sugerir que se calhar as duas coisas são diferentes?

  4. ruicarmo

    Uff que susto. Por momentos pensei que o cavalheiro que não escolheu quem matar, não matou, feriu ou sequer aterrorizou.

  5. João Branco

    Claro que matou, feriu e aterrorizou (e se tivesse sobrevivido deveria ter sido punido por isso). Mas talvez possa ser uma surpresa considerar que nem todos os actos que correspondem a estas acções se possam classificar como “acto terrorista” ou “atentado”. Na definição destes termos a motivação conta.

  6. ruicarmo

    A ver se compreeendo o seu ponto: reconhece que Nordine Amran “matou, feriu e aterrorizou (e se tivesse sobrevivido deveria ter sido punido por isso)”. Porém, defende que Nordine Amran não pode ser classificado como terrorista e que não praticou nenhum atentado.

  7. joao carlos

    ó Joao B, o que se critica aqui é a rapidez com que os media e as autoridades belgas se apressaram 2 ou 3 horas após a tragédia em apresentar o assassino como um louco tresloucado que actuou isoladamente. No minimo justificava-se um inquérito das autoridades, que passaria pela revista do seu apartamento, ouvir as pessoas da sua familia e amigos etc para descobrir as motivações do crime. Mas não foi isto que aconteceu.Nada como o politicamnete correcto para acalmar as nossas consciências, não é verdade ?

  8. lucklucky

    Boa a chamada de atenção para a diferença de assassino para atacante. É quase como o Fidel Castro “Líder” e o Pinochet “Ditador”.

  9. Trinta minutos depois do atentado o ministro belga veio dizer que não se tratava de um atentado. Foi um acto de revolta contra o sistema judicial, mas não foram atacados representantes desse sistema. Na mesma semana foi apreendida uma ak-47 em casa de um membro do grupo sharia4belgium (incrível como um grupo destes é permitido), mas não foi culpa do ambiente multiculturalista nem do extremismo islâmico (ao qual, possivelmente, o fulano tinha ligações) nem de qualquer coisa que possa ir contra a cartilha dominante. A culpa, neste caso, foi do sistema, da sociedade e de todos nós. A TVI chegou ao cúmulo do desplante ao dizer que o homem tinha ligações à extrema-direita (provavelmente cruzou-se na rua com algum membro do Nation). No segundo caso não há dúvidas (e o Correio da Manhã até noticiou logo que um “racista mata em Itália” – o outro que disparou contra belgas não era nada disso). Foi um italiano branco e xenófobo. Tinha diabetes e estava deprimido? não interessa. Isso só seria atenuante e garantiria inimputabilidade se ele fosse africano ou muçulmano e tivesse alvejado italianos. Porque aí a culpa do seu estado depressivo era da sociedade racista e com vestígios mussolinianos. E assim vai caindo a Europa.

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