O surreal plano B de Varoufakis

O meu plano B está aqui, na algibeira.
O meu plano B está aqui, na algibeira.

Paira um estranho silêncio sobre Varoufakis. Não do próprio, embevecido pelo mediatismo que circunda a nova referência intelectual da esquerda antiga, mas dos media, em particular dos portugueses, sobre o seu plano B, assumido pelo próprio e confirmado por Ambrose Evans-Pritchard, do Telegraph:

E que plano B era esse? Consistia em desenvolver, à margem da lei, da Troika e do conhecimento público, um sistema bancário paralelo que permitisse um sistema de pagamentos entre contribuintes. O número fiscal serviria de identificador, análogo ao número do cartão de crédito, e, quando o sistema fosse activado, os contribuintes receberiam um PIN para validar as transacções. O sistema era vis-à-vis com o Euro até ao momento em que, palavras do próprio Varoufakis, fosse necessário converter em drachmas, algo que poderia ser feito numa noite. Mais grave ainda, Varoufakis convidou um amigo, professor na Universidade de Columbia, para entrar de forma ilícita no sistema do IRS, o que configura terrorismo de Estado.

Demasiado surreal para ser verdade? Existem transcrições verbatim do plano de Varoufakis. Sendo verdade, e tudo parece indicar que é, Schauble sai reforçado — não há espaço no Euro para a Grécia.

Adenda: foram publicadas as gravações.

A Grécia não é a Albânia

Foi a Albânia senhores, foi a Albânia. Helena Matos no Observador:

Uma coisa é ser demagogo, fazer bluff, levar o povo para aventuras desastrosas. Tudo isso Tsipras fez mas cedeu quando percebeu que, se não assinasse um acordo com os credores, só lhe restava ver a Grécia transformada no próximo parque temático dos esquerdistas europeus. E esse destino os gregos conhecem-no bem pois têm-no ali mesmo ao lado, na Albânia.

A Albânia que não cedeu ao capitalismo, a Albânia que lutou contra o revisionismo. A Albânia que estava contra os grandes blocos. A Albânia que disse não. A Albânia que acabou tão irrelevante e tão pobre que os albaneses nem têm direito a que se fale da sua crise humanitária, pois a miséria que na Grécia comove, na Albânia chama-se qualidade de vida. Traço pitoresco nas notas dos viajantes, relato de jornalistas em busca do “autêntico”.

E o leitor, quando foi a última vez que ouviu falar nesse paraíso que é a Albânia?

Tirana - Albania

Insultos aos salvadores do governo grego

Greek politics 2015
Pequeno carro da oposição ajuda governo a passar medidas anti-populares do governo do Syriza. Enquanto isso, o Syriza continua a insultar a oposição com insultos como colaboracionistas ou nazis.

Em Portugal também acontece este nível de insultos a quem, mal ou bem, está a salvar o país da bancarrota. Mas na Grécia neste momento ainda é mais evidente: a direita grega apoia o governo do Syriza, sem o qual aquele nem andava, e ainda é “nazi”.

PS: Nazi quer dizer, literalmente, nacional socialista. O que ainda consegue adicionar mais um nível de ironia neste episódio.

 

Uma Tragédia Grega

TsiprasAo fim de mais de quatro meses de governação e após as inúmeras reuniões e negociações com os parceiros e credores, o discurso do Alexis Tsipras ontem no parlamento Grego pode ser resumido em cinco pontos:

  1. A Grécia não irá ceder ao FMI, ao BCE e à União Europeia, mesmo que o tempo seja cada vez mais escasso para alcançar um acordo antes que o programa de ajustamento expire no dia 30 de Junho.
  2. A Grécia mantém as suas “linhas vermelhas” e quer um acordo que inclua alívio da dívida; saldos primários baixos; protecção dos pensionistas; o retorno da negociação colectiva; e a redistribuição do rendimento dos ricos para os pobres.
  3. Apesar desta posição firme, um acordo está iminente – para que tal aconteça, alguém tem que ceder, e não será a Grécia.
  4. A Grécia irá permanecer no Euro, mas os credores têm que chegar a um compromisso de modo a que os receios de um Grexit terminem.
  5. Todos os partidos da oposição são desafiados a suportar os esforços do governo do Syriza.

Por seu lado, as propostas dos credores são “absurdas” e a única proposta credível é a da Grécia. Boa Sorte lá com isso, Tsipras!