Quem nos salva de quem nos quer salvar?

«O que o senhor João e a dona Virgínia querem é ter acesso aos melhores cuidados de saúde, sejam ricos ou sejam pobres, seja num hospital público ou privado, sem que tenham de esperar mais de um ano por uma consulta de especialidade. Esses são os princípios constitucionais do nosso sistema de saúde e são também as preocupações, arriscaria dizer, de grande maioria dos portugueses. E se 2 milhões e 500 mil portugueses optam por ter um seguro de saúde ou ADSE, despesa que acresce ao que já contribuem para o SNS, é porque algo não está a ser satisfeito.»

E se pais tivessem ADSE?

É hoje destaque no Jornal de Notícias caso de negligência médica no Hospital Padre Américo, em Penafiel. Ou uma série de erros humanos (sim, médicos não são perfeitos!).

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Durante 3 anos (entre 2010 e 2013) os pais de uma jovem levaram-na às urgências do hospital em 11 (onze!!!) ocasiões. Apesar de recorrentes queixas de dor de cabeça, sete diferentes médicos diagnosticaram ansiedade, nervos ou falsa gravidez, nunca tendo acedido aos pedidos da mãe para realização de exames adicionais, como TAC/RM ao cérebro. Sara faleceu de um tumor na cabeça a 10 de Janeiro de 2013, aos 19 anos de idade.

Fica aqui a questão que já nada resolve neste caso, mas pode ajudar muitos outros portugueses: e se os pais da Sara tivessem a liberdade de escolha permitida pela ADSE?

É urgente rever o acesso às urgências

Minudência nesta época épica, mas ainda assim importante abordar.

Recorro, ou socorro-me, de uma lapalissada para contextualizar o problema. A urgência hospitalar tem um propósito claro, que hoje poucos saberiam identificar: tratar casos urgentes. Se agora é mais difícil perceber o verdadeiro intento das urgências hospitalares, não o era na 1ª Grande Guerra, quando o serviço se generalizou — o seu propósito era tratar feridos de guerra, casos de vida ou de morte que requeriam tratamento imediato. O que naturalmente exclui gripes ou dores de cabeça.

O resto está no Observador.

Acerca da greve dos médicos e da “terceirização” nos serviços do estado

Olga Ferreira não vê motivos para negar o protesto. “Antes não tivéssemos de a fazer”, desabafa. Os concursos que abrem a porta dos hospitais às empresas de prestação de serviços são o principal alvo das críticas. Uma medida que, acredita, vai colocar em causa a qualidade da prestação de cuidados de saúde e que “é uma ofensa ao Serviço Nacional de Saúde [SNS]”. A bandeira que Olga levanta é essa: “A defesa do SNS de qualidade”.

Talvez não seja claro para toda a gente. A “terceirização” no SNS assim como noutros serviços do estado é uma forma engenhosa que os pol´ticos arranjaram para contornar os encargos da legislaçãoaque eles próprios criaram e os “direitos adquiridos” que não tem coragem de retirar. Evitam ter de assumir publicamente que criaram um monstro financeiramente insustentável e continuar com a fantasia que o estado pode dar tudo a todos apenas porque assim está consagrado na lei.

Para terminar queria referir que, contrariamente ao Ricardo, não acho que a greve dos médicos seja comparável à dos controladores aeros pelo que neste caso o estado não se deve imiscuir no direito a greve. Eu é que não devia obrigado a pagar por algo com este tipo de quebras no serviço.

Acerca do racionamento no SNS

Pedro Pita Barros vêm lançar um pouco de lucidez na polémica do racionamento no Serviço Nacional de Saúde

[p]ra além da argumentação e contra-argumentação, o que chama a atenção é saber se existe ou não racionamento na saúde. Na verdade, sempre existiu e vai existir. Não é possível nem útil, por exemplo, ter hospitais com todas a alta tecnologia existente localizados de 5 em 5 km, ou de 10 em 10 km. E já hoje existem mecanismos de racionamento explícito – quando se considera que um novo medicamento não traz vantagem terapêutica adicional que justifique pagar mais por ele. Aliás, para evitar a carga emocional negativa da ideia de racionamento, o termo habitual que surge é estabelecimento de prioridades, e em contextos de fortes limitações orçamentais, o recurso à expressão inglesa “value for money”.

Para a análise económica, como os recursos são sempre limitados e podem frequentemente ter utilizações alternativas, racionamento existe sempre – o que dou a um, deixo de dar a outro – pelo que o relevante é saber qual o “instrumento” de racionamento usado e com que princípios se estabelece.

LEITURA COMPLEMENTAR: Sempre em grande