O Euro, a Grécia e a campanha eleitoral em Portugal

Cataventos

Ricardo_campelo_MagalhaesO meu artigo de ontem no Diário Económico:

“A democracia matou o padrão ouro”. Charles Rist referia-se ao aumento da pressão por programas de redistribuição que obrigam governos a obedecer ou a sair na próxima eleição. A situação do euro prova mais uma vez como esta frase foi profética.

O povo não compreende as vantagens de uma moeda forte,as elites políticas acreditam que compensa retirar um euro a dez milhões para dar um milhão a dez apoiantes, e quem devia explicar a falácia da composição prefere tentar beneficiar do sistema, empurrando o problema para a frente.

Assim, o sistema gera políticos como António Costa: no verbo, solidário com todos e disponível para todos os esquemas redistributivos; na ação, focado na sua sobrevivência a qualquer preço e nos que lha possam proporcionar. Logo, ora o Syriza é a esperança da Europa quando ele ganha, ora se distancia quando aquele leva a Grécia ao abismo; ora promete mais despesa do Estado, ora afirma a sua fé no euro para todos.

Nos próximos meses, o PSD será o oposto da Grécia, o PS será o seu reflexo: um partido que defende tudo e o seu contrário, cheio de conflitos e contradições, incapaz de tomar posições firmes, e em que a única certeza é que vai navegar para onde sopre o vento.

Condições Gregas para Portugal?

O meu artigo de hoje no Diário Económico.

Benefício?

Primeiro, a questão de fundo: toda esta “austeridade” é simplesmente uma contenção do défice – ou seja, do ritmo de crescimento da dívida – estando Portugal ainda muito longe de começar a pagar 1 Euro que seja. Convém sublinhar ainda que muito desse dinheiro que nos é emprestado é depois gasto de forma não produtiva. Por exemplo, Portugal continua a gastar mais de 2% do PIB nas forças armadas – e enquanto Espanha gasta 1% do PIB, Portugal em 2013 tem orçamentados mais 19% para a Defesa. Portugal pede emprestado para pagar inúmeras despesas sem qualquer retorno e demonstra uma incapacidade preocupante de cortar 5% (ou 4.000 milhões) que seja no Orçamento.

E qual é a solução da Europa? Permitir a Portugal fazê-lo durante mais tempo. Adiar a maturidade dos empréstimos 15 anos e adiar o pagamento de juros por 10 anos. Condenar Portugal a viver neste sufoco financeiro não 3 anos mas antes 18. Incapaz de impor a Portugal reduções do défice e tendo em vista os ganhos financeiros que consequentemente t
eria, os líderes Europeus oferecem o “benefício” de podermos pagar num prazo mais dilatado. Ou seja, de andarmos a trabalhar para os credores mais tempo.

A isto eu digo não. Não podemos continuar a taxar o sector privado de todos os recursos necessários ao seu crescimento. Não podemos continuar a perpetuar a lógica dos direitos adquiridos, efectivamente convidando à emigração a “geração mais bem preparada de sempre”. Temos sim que cortar na despesa estrutural, obter superávites e começar a pagar o que devemos. Pois como conclui o relatório do FMI “Successful Austerity in the United States, Europe and Japan”, a melhor forma de reduzir o rácio Despesa/PIB é um ajustamento fiscal gradual.

Relativamente à redução de 10 pontos base das comissões pelos empréstimos do FEEF – uma poupança de mais de 300 milhões para Portugal – creio que Portugal a mereceu e gostaria que a Europa a concedesse. Era uma questão de igualdade de oportunidades, mas o meu realismo leva-me a duvidar dessa hipótese.

Ricardo Campelo de Magalhães, Consultor Financeiro

Qual é a solução da Europa? Portugal trabalhar para os credores mais tempo. A isto eu digo não. Temos sim que cortar na despesa estrutural.

– Anexo –

Successful Austerity in the United States, Europe and Japan, Conclusão na pág 32:
Thus, a gradual fiscal adjustment, with a balanced composition of cuts to expenditure and tax increases boosts the chances that the consolidation will successfully (and rapidly) translate into lower debt-to-GDP ratios. Monetary policy can likely help alleviate further the pain of fiscal withdrawal if it is used proactively via reduction in the real interest rate.

Leituras complementares: João Galamba escolhe a sua cerejaA cereja de Galamba.